Blindspot escrita por Princesa Leia


Capítulo 2
Starkiller


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem :)



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A jovem espiou por cima do ombro enquanto Kylo Ren falava pelo comunicador da nave. Prendeu a respiração para ouvir a conversa e percebeu que ele pedia para que abrissem a área de pouso. Ficou tensa ao ver o tamanho do local que estavam prestes a entrar. Escondeu-se mais no casaco, pensando que talvez ele pudesse esquecer que ela estava ali. Mal ela sabia como sua presença era fortemente sentia por Ren, que tentava se concentrar em realizar um pouso perfeito sob os olhares de General Hux, Capitã Phasma e duas dezenas de Stormtroopers.

Levantou-se do banco do piloto e parou em frente a mulher, que ergueu os olhos hesitantes para encontrar a máscara olhando de volta para ela.

— Onde estamos? — Perguntou com a voz fraca.

—Starkiller — respondeu rapidamente e puxou a jovem, fazendo-a ficar em pé. Ela segurou o casaco com força em torno de seu corpo. — Vou precisar do meu casaco.

Kylo não queria o casaco de volta, na verdade. Parte dele se odiou por dizer aquelas palavras e essa mesma parte se estapeou mentalmente ao ver a mulher vagarosamente tirando a peça dos ombros e a esticando para ele. Era visível que ela se encolheu, mesmo que inconscientemente, se sentindo exposta e envergonhada. A outra parte de Kylo deu de ombros e vestiu o casaco, pois sabia muito bem que compaixão não deveria estar entre as qualidades do grande líder que se esforçava para ser.

— A Capitã Phasma está esperando por você. Ela a levará até a enfermaria e cuidará para que receba algumas roupas apropriadas — informou enquanto a porta da nave de abria.

A jovem sentiu-se tonta com todas as pessoas olhando para ela. Instintivamente, ela procurou se esconder atrás de Kylo, que ignorou o ato e caminhou pela rampa até o chão da Starkiller. Cumprimentou Phasma e indicou a mulher em seu encalço. A Capitã, por sua vez, fez sinal para que dois Stormtroopers carregassem a recém-chegada para dento da Base, sumindo de vista. Ren dirigiu-se a Hux e congelou ao ter um vislumbre dos pensamentos sujos e repulsivos do General.

— Tem um momento para conversarmos, General Hux? —Perguntou já indicando o caminho para o homem ruivo, que o acompanhou em silêncio. Assim que viraram no primeiro corredor, Kylo jogou Hux contra a parede, segurando seu pescoço com uma das mãos. — A mulher pertence a mim.

— Jesus, Ren! — Hux rolou os olhos. — Todos nós os que estavam ali têm olhos. Tenho certeza que não fui o único a pensar. Não é todos os dias que temos o prazer de receber uma bela mulher a bordo da Starkiller, ainda mais... Nua.

— Você deveria estar descobrindo os planos da Resistência e não fantasiando coisas sobre a minha... Convidada — Kylo retrucou com o rosto queimando por baixo da máscara.

— Acredito que ela seja bem mais que uma mera convidada. Ela tem seu nome marcado na pele! — O ruivo falou exasperado. Ele e Ren pareciam viver em uma eterna disputa de quem conseguia ser mais irritante.

— Fale baixo — Ren sussurrou urgente, olhando ao redor para verificar se alguém pudesse ter escutado. — Ben Solo é e deve permanecer um segredo.

— Pode ser meio difícil conseguir isso quando o nome está exposto abaixo dos seios de uma mulher que está andando nua por toda a Base — Hux deu de ombros, entediado com a conversa.

Kylo ficou em silêncio por alguns segundos, arrependido de ter pegado seu casaco de volta. Imaginou que se demonstrasse compaixão, perderia o respeito de seus subordinados, quando na verdade, estaria protegendo sua verdadeira identidade. Bufou e começou a se afastar de Hux, não sem antes murmurar:

— Nossa conversa não terminou.

[...]

Capitã Phasma guiou a mulher recém-chegada rapidamente pelos corredores até a enfermaria. Indicou para que entrasse e se sentasse, enquanto os responsáveis pela área eram chamados. Um médico alto, de pele azul e com uma máscara branca que só deixava os olhos aparecendo entrou na sala poucos minutos depois, com um olhar preocupado. Acenou com a cabeça para Phasma, que se retirou, e depositou o olhar na jovem deitada na maca. Aproximou-se e colocou uma mão em seu ombro, fazendo com que ela se sentasse rapidamente.

— Meu nome é Pollux, sou o médico-chefe da Starkiller — informou-a com os lábios franzidos. A situação da mulher não parecia nada promissora. — Qual seu nome?

Ela balançou a cabeça, negativamente. Não sabia seu nome

— Vou chamá-la de... Ava, que tal? É o nome da minha mãe — Pollux sugeriu com um sorriso fraco por baixo da máscara cirúrgica. A jovem concordou. — Vamos fazer alguns exames para eu poder saber exatamente qual a sua situação, Ava. Depois, faremos todos os tratamentos e, se tudo correr bem, você vai estar em boas condições em menos de uma semana.

Ela assentiu. Sua pele queimada pelo frio latejava de dor, assim como todos os seus músculos. Lembrou-se de ter desejado morrer segundos antes de Kylo Ren a encontrar.

— Vou te dar uma anestesia, você não vai sentir nada — o médico avisou.

Uma picada forte em seu braço e não ela abriu os olhos pelos próximos dois dias.

[...]

Kylo Ren entrou na enfermaria como um furacão. Tinha cansado de esperar notícias que nunca chegavam sobre a mulher de Hoth. Pollux, que estava debruçado sobre uma maca medicando a paciente, assustou-se com o barulho da chegada de Ren. Cumprimentou o líder e, como sabia sobre o que a visita se tratava, foi logo passando um relatório sobre os últimos dois dias na enfermaria.

— Mestre Ren, Ava está se curando com uma rapidez excepcional. Em três ou quatro dias, já estará liberada para realizar quaisquer atividades que requeiram sua presença.

Quem é Ava? — A voz robótica fez os pelos da nuca do médico se arrepiarem.

— A mulher de Hoth, senhor — ele já não tinha mais o tom confiante de anteriormente. Agora, estava arrependido de ter dado um nome a jovem. — Tomei a liberdade de dar a ela um nome, senhor.

— Você sabia, Pollux, que dizem que se você da nome a algo, essa coisa passa a lhe pertencer? — O tom ameaçador de Kylo fez com que o médico andasse dois passos para trás. — A mulher não lhe pertence. Ela pertence somente a mim. O nome dela não é Ava. Ela não tem um nome. Se eu, o homem que a encontrou, não a batizei, por que diabos você pensou que estava em posição de dar o nome medíocre de sua mãe a ela? Saía daqui, quero ficar sozinho com a mulher.

Pollux engoliu em seco e saiu da enfermaria, puxando a máscara do rosto para tentar respirar melhor, com o corpo todo tremendo, sem acreditar que conseguiu sair da sala com vida. Kylo ignorou a maneira medrosa com que o médico tinha saído da sala e aproximou-se da maca, encontrando a mulher com os olhos fechados.

— Eu consigo sentir a sua mente trabalhando, não adianta fingir — ele disse, o tom bem mais suave que o anterior.

— Por que fez aquilo? — Ela perguntou, segundos antes de abrir os olhos e encontrar a máscara de Ren olhando para ela. — Pollux cuidou muito bem de mim nos últimos dias.

— Ele fez o trabalho que é pago para realizar — Kylo falou dando de ombros. — Como está se sentindo?

— Melhor — respondeu seca, desviando o olhar. Queria gritar que ela merecia um nome, que ela queria ter uma história, que ela não pertencia a ele e que ela iria embora dali assim que estivesse melhor. Entretanto, não falou nada por uma única razão: medo.

Ela tinha medo de Kylo, medo até de estar em sua presença. Não tinha sentido tanto medo da primeira vez que o viu ao longe em Hoth, mas o sentimento cresceu quando olhou para a máscara que ele usava e não pôde ver seus olhos. O medo tomou conta dela quando o brilho vermelho do sabre de luz o transformou em uma forma diferente. Sentiu-se coagida por ele quando ele fez com que ficasse nua na frente de desconhecidos. Ela não sabia nada sobre si ou sobre o mundo, mas ela sabia que Kylo não era um homem bom.

— Vou levá-la até seu dormitório — Ren anunciou e tirou todos os fios e tubos que prendiam a mulher nas máquinas. Ela suspirou, sentando-se na cama. — Venha.

A mulher seguiu Kylo pela Starkiller. A base era gigantesca, não demorou muito para que ela perdesse a noção de sua localização. Minutos depois, pararam em frente a uma maciça porta de ferro, que Kylo abriu com um aceno de mão. Dentro do cômodo havia uma cama grande com lençóis pretos, um closet e um pequeno banheiro. A mulher olhou para tudo, curiosa.

— Se precisar de alguma coisa, pode procurar os dois guardas que ficaram ao lado de fora — Ren disse enquanto observava a mulher andando de um lado para o outro. — Você vai ficar aqui por tempo indefinido.

Kylo começou a caminhar para a saída, mas a jovem foi mais rápida e segurou seu braço. Ele se afastou dela violentamente, surpreendendo-a com sua reação e ela tentou se desculpar. Ambos ficaram em silêncio, e Kylo conseguia ouvir o coração dela batendo forte.

— Mestre Ren, eu... — estava indecisa se deveria dizer a ele ou não. Não queria ficar trancafiada no quarto, queria explorar o local e ser útil em alguma atividade, já que estava detida naquele lugar.

— Não iriei permitir que você participe de quaisquer atividades dentro da Base — Ren sentia o descontentamento da jovem. — Tenho minhas razões para acreditar que você é digna de muito mais. Você ainda não sabe, mas eu sinto que você é sensível a Força. Como eu.

— Senhor, eu não faço ideia do que está falando — respondeu honestamente, olhando para os pés.

— Se minhas suspeitas se confirmarem, você receberá treinamento para ser uma usuária da Força e tudo será explicado — ele disse de maneira paciente, algumas memórias de sua família tentando invadir sua mente. — Enquanto isso, eu preciso descobrir quem enviou você para mim e como essa pessoa sabe sobre Ben Solo.

A mulher assentiu com a cabeça e observou enquanto Kylo saia do quarto. Ficou parada, os olhos fixos no local em que poucos segundos atrás ele se encontrava e suspirou. A Força. Desejou com todo o seu ser possuir a tal Força de que Kylo falava. Não queria ficar presa nesse quarto pelo resto de seus dias. Precisava descobrir quem era, da onde veio, quem era sua família e acreditava que Ben Solo teria as respostas para todas essas perguntas, afinal, seu nome estava marcado na pele dela como quem assina uma obra de arte antes de vendê-la para uma galeria. Mas, pensou, por que diabos Ben Solo a entregaria nas mãos de Kylo Ren?

[...]

Três dias se passaram e Kylo estava cada vez mais irritado com a falta de informações e a dificuldade de encontrar qualquer rastro sobre quem lhe enviou a mulher de Hoth. Estava tendo o cuidado de mantê-la viva porque precisava da mente dela. Se encontrasse uma forma de desbloquear suas memórias, tudo seria respondido. Passou as mãos pelo cabelo, entediado, enquanto Phasma falava sobre o próximo recrutamento de jovens para a função de Stormtrooper. Kylo estava cansado. Não tinha uma noite de sono decente desde que a Força mandou que fosse resgatar a mulher. Ao invés disso, passava todo o seu tempo livre assistindo ao que a jovem estava fazendo através das câmeras da Base. Isso estava se tornando um hábito perigoso. No começo, assistia para garantir que ela não era uma espiã, entretanto, começou apreciar o tempo gasto diante dos monitores de segurança.

— E você, Mestre Ren, o que acha da nova proposta? — Hux disse alto, atraindo a atenção de Kylo, que o xingou mentalmente. — Eu sei que ter uma mulher é uma situação nova para você, Ren, porém estamos em uma importante reunião do conselho. Seria útil se você conseguisse ao menos prestar atenção nas propostas de Phasma, pelo bem da Primeira Ordem.

O rosto de Kylo enrubesceu por baixo da máscara enquanto os demais presentes soltavam risadinhas baixas. Limpou a garganta e pensou se deveria assassinar Hux, que mantinha uma expressão vitoriosa. Ren ergueu o braço em direção ao ruivo, que sentiu um aperto em volta do pescoço. O General se desesperou, não conseguia respirar. Os outros membros do conselho apenas olhavam, com medo de tomar qualquer atitude. Kylo sabia que estava desligado de suas funções desde a chegada da mulher, mas era inadmissível que seus colegas achassem que era aceitável fazer piadinhas com ele. Afinal, ele era Kylo Ren, o único usuário da Força a bordo da Starkiller e um dos únicos em toda a galáxia.

Todos pularam de suas cadeiras quando a porta foi escancarada por um par de Stormtroopers que traziam a mulher de Hoth algemada. Kylo abaixou seu braço repentinamente, voltando a sentar em seu lugar, enquanto Hux acariciava seu pescoço, irritado. Phasma colocou-se em pé e foi até os Stormproopers para pegar a garota.

— Senhores, a reunião está encerrada — a Capitã anunciou e observou todos os Generais saírem da sala, sobrando apenas Kylo e Hux. Ela virou-se para os Stormtroopers e ordenou que saíssem.

Kylo não disfarçou seu descontentamento com a presença da mulher na sala.

— O que ela está fazendo aqui? — Hux foi o primeiro a perguntar.

— Não sei quanto aos senhores, mas eu acredito que devemos resolver a situação dessa jovem — Phasma explicou e puxou a mulher pelo braço, para que ela se sentasse ao lado de Hux e de frente para Kylo. — Não podemos mantê-la aqui indefinidamente. Estamos em uma base militar, estamos em combate com a Resistência, e não temos tempo para ficar de babá. Essa garota não possui nenhuma informação relevante, por que não descartá-la?

— Por causa disso — Hux respondeu, abrindo abruptamente o robe da mulher e expondo as palavras marcadas a ferro em sua pele, ainda sem cicatrização. — Você, honestamente, não tinha visto?

— Ben Solo. E daí? Isso não acrescenta em nada ao caso. Essas palavras não nos aproximam de saber quem fez isso e o que querem com Ren — a Capitã foi firme em sua opinião. — O que você acha, Kylo? Você é o maior interessado nessa história toda.

Kylo estava olhando para Hux desde a hora em que o General achou que era uma boa ideia expor o corpo da mulher de Hoth.

— Arrume as vestes dela — ele ordenou sério, os olhos perfurando a alma de Hux. O ruivo obedeceu, não sem desafiar Ren ao passar as mãos indiscriminadamente pela pele exposta da jovem. Kylo sentia a repulsa da mulher por Hux e, sendo do Lado Negro ou não, não podia permitir que o ruivo a tocasse. Ela lhe pertencia. Estava fora de cogitação.

— Ela sabe falar? — Phasma perguntou para Ren, tentando dar continuidade a conversa antes que os dois homens se matassem. — Nunca ouvi uma palavra.

— Sabe — Kylo respondeu. A maneira como ele evitava olhar para a jovem a irritava profundamente, mais ainda do que os três conversando seu destino como se ela não estivesse ali.

— Então por que você não fala, bonitinha? — Hux questionou.

A jovem não queria falar com ele, nem com Phasma. A única pessoa com quem tinha falado era Kylo. Tinha medo dele, porém, ao mesmo tempo, sentia que ele era a única pessoa que realmente se importava com o que aconteceria com ela, já que ele acreditava que ela tinha sido enviada para ele. Kylo sabia que a jovem tinha conhecimento disso, e sabia que ela não gostava de Hux. E ele não a culpava. O ruivo era, naturalmente, insuportável.

— Ela não vai falar — Ren disse, os olhos pela primeira vez encontraram o da mulher em sua frente. — E ela não precisa falar.

Kylo jurou ter visto um rápido e pequeno sorriso nos lábios da mulher. Ele a defendia porque precisava de seu verdadeiro nome a salvo e, para isso, ela precisava estar ao seu lado, protegida.

— Ótimo, Ren! Fique mimando seu brinquedinho. Só não venha com seus ataques de raiva quando Snoke se cansar dessa besteira — Phasma exclamou, irritada. Não queria aquela mulher em sua Base. Ela era uma completa estranha. — Só eu vejo que não podemos confiar nela? Vocês são como todos os homens! Olham para ela e não enxergam uma ameaça em potencial, só conseguem ver um par de seios. Estou preocupada com a segurança de minhas tropas, senhores.

— Capitã, é um belo par de seios — Hux contra-argumentou com um sorriso cínico. — Não fique com ciúmes, Phasma. Você sempre será a única mulher no coração de suas tropas.

— Cale a boca, Hux — a Capitã mandou, estava cansada das brincadeirinhas do ruivo. — Temos, então, um voto a favor de jogar a mulher de Hoth no compactador de lixo e um voto a favor de manter os seios.

— Ren, a última palavra é sua — Hux concluiu, olhando nervosamente para Phasma. Vote a favor dos seios, o general suplicou mentalmente.

Kylo ponderou, encarando a mulher. Ela o encarava de volta, mesmo sem conseguir enxergar seus olhos atrás da máscara. Ele teve um estalo mental antes de decidir o destino da jovem.

Via.

— Ela não se chama “mulher de Hoth” — ele disse, quase sorrindo. Sabia que ninguém podia ver seu rosto.

Todos olharam para, curiosos, esperando que Ren pronunciasse o novo nome da jovem.

— Via.


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Notas finais do capítulo

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