Blindspot escrita por Princesa Leia


Capítulo 3
Reflexos no Espelho


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem :)



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Phasma rolou os olhos, irritada. Nunca conseguiu resolver uma situação com Hux e Ren sem se estressar. Quando não estavam brigando como cão e gato, partilhavam da mesma opinião e se uniam contra ela. Hoje era um desses raros dias em que os dois entravam em acordo. E, mesmo em acordo sobre o destino da garota, eles ainda encontravam motivos para discutir. A Capitã observou os dois homens discutindo sobre o nome da jovem mulher, cansada da idiotice de ambos e tentando ser sensata. Já que aparentemente o compactador de lixo não era uma opção, aproximou-se da jovem e perguntou baixo, diante dos gritos de Kylo e Hux.

— Devemos te chamar de Via, agora?

A mulher assentiu com a cabeça. Via. Gostava do nome, era simples, sem muita informação, assim como ela. Phasma concordou com a cabeça.

— Entendido, Via.

As duas ficaram em silêncio, assistindo a discussão acalorada entre Kylo e Hux. O ruivo apontava o dedo no rosto de Ren, dizendo que a garota não pertencia a ele, e sim a Primeira Ordem. Kylo, por sua vez, mandou o general ir se danar e cuidar do seu trabalho, já que a Resistência estava acostumada a chutar a bunda dele.

— Vou levar a convidada de volta para seus aposentos, visto que os dois votam em mantê-la aqui — Phasma anunciou. Os homens param de falar no mesmo segundo.

— Não, Capitã — Ren interferiu. A mão esticada, impedindo Hux de falar. — Eu cuido disso, afinal, Via é meu brinquedinho, certo, Phasma?

Kylo afastou-se de Hux e indicou a saída para Via, que caminhou atrás dele sem dizer nenhuma palavra. Foram para o quarto dela. Eles não se falavam há três dias e a moça estava com medo de Kylo ter, na verdade, aprovado a ideia do compactador de lixo e ter se esquecido de mencionar para os colegas. A porta do dormitório fechou-se atrás deles e Via se assustou quando Ren a virou de costas sem delicadeza alguma e arrancou as algemas de seu pulso. Ela passou a mão no local, estava um pouco dolorido.

— A partir de hoje, não permita que ninguém coloque isto em você — ele levantou as algemas no ar, mostrando para a mulher. — Você não é uma prisioneira.

Ela assentiu, olhando para os pés.

— Não vai me dizer o que achou do nome que escolhi para você? — Kylo perguntou.

— Por que você nunca tira essa máscara? — Via respondeu com outra pergunta. Queria poder saber mais sobre o homem que cuida para que ela não seja descartada no compactador de lixo, pelo menos por enquanto ele parecia ser essa pessoa.

— O que você espera ver se eu tirar? —Ren disse calmamente e percebeu que ela não esperava que a conversa tomasse esse rumo. Via não tinha resposta para essa pergunta. — Você não quer me ver sem máscara, não de verdade. Você é curiosa.

— Tente entender, Mestre Ren, o único rosto que eu me lembro de ter visto é o do General Hux — ela suplicou. O rosto do ruivo muitas vezes assombrava seus pensamentos durante a noite. — Todos aqui usam armaduras ou máscaras. Eu sequer vi meu próprio rosto, não há espelhos por aqui.

— Você quer ver o seu rosto? — A pergunta soou como uma oferta aos ouvidos de Via, que concordou com a cabeça. Kylo foi ao banheiro do quarto da mulher e percebeu que não havia espelho ali, como ela havia dito. — Tenho um espelho no meu banheiro. Deixarei que você se olhe, desde que me diga o que achou do seu nome.

Negociação parecia a melhor maneira de lidar com a situação. Ren não podia nem imaginar o que era não saber nada sobre si mesmo e, apesar de evitar olhar seu reflexo no espelho, era bom saber que, se tirasse o capacete, poderia encontrar seu ponto de equilíbrio nos olhos escuros que o encarariam de volta.

— Eu gostei, senhor — Via murmurou. — É simples e fácil. É perfeito.

Kylo assentiu e indicou a porta para a jovem, que o seguiu até os seus aposentos. Para a surpresa de Via, o quarto dele ficava no mesmo corredor que o seu. Ela achou que talvez estivesse isolada por ser uma ameaça, mas ele tinha escolhido mantê-la por perto, para ficar de olho em tudo o que acontecesse. Ren abriu a porta e deixou que Via entrasse primeiro. Os olhos dela correram o local escuro, nem conseguir enxergar nada de especial. Ele a puxou pelo braço até o banheiro. As luzes estavam apagadas, então ela não podia enxergar nada.

— Vou acender as luzes — Kylo avisou.

Via estava parada em frente a pia, olhando para frente, esperando enxergar seu reflexo no segundo em que o cômodo fosse iluminado. Ao invés disso, ela não conseguiu olhar para si mesma, pois estava olhando para o outro rosto refletido no espelho. Kylo estava parado atrás dela e, como era mais alto, seu rosto não ficava escondido pela cabeça de Via. Ele olhava fundo em seus próprios olhos, enquanto ela olhava boquiaberta para o reflexo dele. Sua pele branca era convidativa, sem nenhuma imperfeição. Seu nariz, na visão de Via, ornava perfeitamente com seus lábios. Seus cabelos pareciam macios caindo ao redor e dando forma ao seu rosto e pescoço. Entretanto, o que mais tinha fascinado a moça eram os olhos. Escuros. Sombrios. Vivos.

— Era isso que esperava ver? — Ele perguntou, com o olhar fixo no reflexo dos olhos dela.

Sua voz era forte, marcante e grave. Não era necessário o sintetizador da máscara quando se tinha uma voz dessas, pensou Via. Ela não sabia o que tinha esperado ver. Olhou para si, uma figura normal, e para Kylo, sua exuberância refletida no espelho fazia quase impossível desviar o olhar. Tudo o que ela estava vendo e ouvindo era novo. Nunca tinha sentido a presença de Kylo tão forte como agora. Era como se estivesse lidando com uma pedra bruta, em seu mais natural e belo estado.

Era isso.

Via concluiu que via beleza em Kylo sem a máscara.

— Seus olhos são tão vivos — ela sussurrou, incerta de como agir. Não era como se tivesse se apaixonado por ele, não. Ela apenas estava chocada de como a máscara fazia uma enorme diferença na maneira em que ela sentia presença de Kylo e Via apreciava que ele resolveu se mostrar a ela.

— Eu estava perguntando sobre o seu reflexo — Ren quase sorriu com a expressão de Via, mas reprimiu, lembrando-se que estava sem sua usual proteção.

— É normal — Via disse, dando de ombros.

Normal.

Kylo balançou a cabeça negativamente. O rosto de Via era, realmente, normal. Porém, ele percebeu que ela estava entediada com a própria aparência. Ren discordava disso. O rosto de Via era o único que ele conseguia lembrar com detalhes quando fechava os olhos. Os traços simples de seus lábios traziam certa paz para seu coração inquieto. Ninguém normal conseguiria fazer isso. Se pudesse descrever o rosto de Via com apenas uma palavra seria angelical. Percebeu que ela olhou mais para o reflexo dele que para o dela, mas não falou nada. O rosto de Hux perderia seu espaço para o de Kylo nas lembranças de Via.

— Vou mandar colocar um espelho no seu dormitório — Ren falou e se afastou. O reflexo de seu rosto sumiu do espelho quando ele caminhou para fora do banheiro.

Via tocou seu nariz e bochecha para ter certeza de que era real antes de segui-lo. Quando ela voltou a encontrar o olhar de Kylo, ele já estava com sua máscara. Ela suspirou, tentando disfarçar a frustração. Ele caminhou com Via até a porta do quarto dela. Dessa vez, não iria entrar.

— Obrigada, Mestre Ren — ela agradeceu e Kylo assentiu, podendo sentir a verdade naquelas palavras. — Boa noite, senhor.

Via entrou e deixou a porta bater atrás dela. Kylo estava sozinho novamente. Sempre estivera. Olhou ao redor antes de sussurrar “boa noite, Via” para a porta do quarto e voltar rapidamente para os seus aposentos.

Naquela noite, o rosto de Hux não assombrou os pensamentos de Via. Pelo contrário, ela teve uma sensação boa quando conseguiu se lembrar de cada detalhe do rosto de Kylo. Agora ela conhecia três rostos: o de General Hux, Kylo e o seu próprio. Por um segundo, imaginou ter se lembrado de outro rosto, sorrindo calorosamente para ela, mas afastou o pensamento. Via precisava focar em aprender tudo o que podia para poder descobrir quem ela era e por que o nome de Ben Solo estava gravado em sua pele.

[...]

Enquanto para Kylo a solidão era algo bom, que o fortalecia, Via se sentia abandonada em seu quarto. O mais perto de qualquer interação humana que teve desde a última vez que esteve com Ren era as duas vezes por dia que um Stormtrooper abria a porta de seus aposentos e jogava uma bandeja de comida para ela. Kylo havia dito que ela não era prisioneira, mas os dois guardas em sua porta passavam a impressão contrária. Os dias se passaram e Via se viu mergulhada em pensamentos e escuridão.

Como não conhecia muita coisa para poder pensar, na maioria das vezes, ela pensava sobre Kylo Ren. Imaginava milhares de possibilidades. Quem enviou a ele o sinal de sua localização? Por que ele? Quem era Ben Solo? Ele realmente morreu? Por que Phasma e Hux agiam como se seu nome fosse uma ofensa? Eram tantas perguntas sem resposta e a solidão só agravava a situação da mente de Via. Às vezes, durante a noite, ela se olhava no espelho do banheiro e se perguntava se estava ficando louca, se aquilo tudo era real ou se a qualquer momento ela acordaria em um mundo completamente diferente daquele, com sua família e amigos.

Os dias de Via saíram da rotina quase um mês depois, no dia em que Hux foi o responsável por trazer a alimentação dela. O ruivo entrou devagar no quarto e viu Via sentada na beira da cama, espantado com o caos em que o quarto se encontrava. Seus olhos se encontraram e Hux manteve uma expressão firme ao perceber que ela estava chorando. Hux deixou de lado a cara feia e sua rixa com Kylo Ren e se aproximou da mulher, colocando a bandeja de comida ao seu lado na cama. Ela não lhes traria benefício nenhum naquele estado.

— Precisa de alguma coisa? — Ele perguntou, fazendo o seu melhor para soar educado.

Ele não esperava que ela respondesse, e ela não fez. Apenas negou com a cabeça, limpando uma lágrima que insistia em cair.

— Peço desculpa por meu comportamento anteriormente. Eu estava sendo um idiota para provocar Kylo Ren, quando eu deveria tentar fazer com que você se sentisse em casa na Starkiller — o ruivo disse sincero. Era comum Hux atravessar a linha do bom senso, já que não haviam muitas pessoas para enfrentá-lo. — Sinto muito por ter te tocado em sua permissão, foi um ato lamentável da minha parte. Conversei com o Supremo Líder Snoke e ele me deu instruções de como lidar com você.

Era verdade. Hux tinha comparecido a várias reuniões com Snoke e tinha levado puxões de orelha por seu comportamento. Em primeiro momento, o ruivo não aceitou muito bem a história de Via ter que ser tratada bem, mas, depois de diversas explicações e termos, ele entendeu. Kylo acreditava que Via pudesse ser sensível a Força, e seria ótimo para a Primeira Ordem possuir outro usuário da Força ao seu lado. Via não era inimiga da Primeira Ordem, ela foi enviada de presente para Kylo Ren e, enquanto não tinham pistas de quem tinha feito isso, Via poderia ser uma aliada valiosa.

Snoke? — Ela perguntou baixinho, olhando curiosa para Hux.

— Sim, ele é quem realmente manda aqui — Hux explicou. — Ele diz que você não é nossa inimiga. Ele acredita que você possa ser uma grande aliada da Primeira Ordem. Então pediu que parássemos de te tratar como uma espiã e te déssemos espaço para descobrir quais funções você gostaria de realizar dentro da Starkiller.

Via entendeu. Eles não a matariam, pelo menos não agora, porque ela era útil. Ou eles acreditavam que ela poderia ser. Parte dela ficou feliz em ser vista como aliada, afinal, ela não tinha controle sobre o que aconteceu em seu passado, mas poderia fazer algo sobre o seu futuro. Entretanto, a outra parte de Via ficou com medo. Medo de Hux, de Snoke, de Kylo e das tais funções que ela executaria. Não se lembrava de quem era, porém sabia que não era uma pessoa má e a Primeira Ordem não parecia ser muito gentil.

— Quer dar um passeio pela Base? — O ruivo ofereceu. Queria se aproximar de Via, se ela era importante para Snoke, era importante para ele também e para seu crescimento no conceito do grande líder.

Ela não teve tempo de responder. A porta do quarto foi aberta por um furioso Kylo Ren, que jogou Hux contra a parede com o auxilio da Força.

— Por que ela está chorando? — O mascarado perguntou, sem paciência para os joguinhos do ruivo. — O que você fez a ela?!

— Nada, Ren! Pergunte a ela! — Hux respondeu com dificuldade. Kylo olhou para Via, esperando uma resposta.

— Estávamos apenas conversando — Via disse tremendo. Algum dia poderia ser ela no lugar de Hux e seu peito doía só com a possibilidade.

Kylo soltou o aperto em torno do pescoço de Hux.

— Onde estão os guardas? — Ren quis saber.

— Eu os dispensei. Snoke não quer Via como prisioneira, mas como aliada — saberia disso se estivesse nas reuniões, completou mentalmente.

— Eles não estavam aqui para impedir que ela saísse, imbecil! —Kylo gritou com raiva. — Estavam para impedir que alguém entrasse.

— Talvez você devesse ter informado a Via que ela era livre para sair do quarto, porque ela está aqui dentro há um mês e você não fez nada sobre isso! — Hux não chegou a gritar, porém usou um tom alto e autoritário.

— Saía daqui, General. Quero falar com Via. Sozinho — ele tentou controlar a altura da voz, sentindo seu rosto vermelho de raiva por baixo da máscara.

— Peço desculpas, Mestre Ren, mas Via e eu... Nós já temos planos — o ruivo provocou. Ele estava tentando cumprir suas funções e Kylo se acha no direito de gritar com ele daquela maneira e, ainda por cima, o expulsar do quarto. — E eu agradeceria se parasse de utilizar a Força contra mim, guarde seus poderes mágicos para a Resistência.

— Saía logo, Hux — Kylo ordenou com a porta já aberta. — E eu agradeceria se você não voltasse a incomodar Via com suas conversas entediantes e guarde seu papinho para alguém que tenha interesse. Sua mãe, por exemplo.

— Quer mesmo falar sobre família, princesa? — Hux ameaçou, entretanto achou que era o suficiente. — Até breve, Via.

O ruivo saiu do quarto e bateu a porta.

— Qual a razão do seu choro? — Kylo perguntou. Via limpou o rosto com a camisa que vestia e negou com a cabeça. — Não vai me contar? Eu posso descobrir, se eu quiser.

Ela se encolheu. Odiava ameaças e odiava sentir medo. Kylo percebeu o que tinha feito, mas não voltou a trás.

— Eu estava me sentindo sozinha — Via contou, encarando os pés. — Acho que eu gosto de companhia.

— Por isso que estava conversando com Hux? — Questionou. Não confiava em Hux perto dela.

— Não, ele que começou a conversar comigo.

Via fechou os olhos. Sentiu-se extremamente cansada, apesar de não ter feito nada durante o dia todo.

— Não quero que fique perto dele, Via — Kylo disse como uma ordem. — Você não está autorizada a falar com ninguém além de mim.

— Mestre Ren, Hux disse... — Via pensou em argumentar, porém percebeu que não chegaria a lugar nenhum. Ela era propriedade de Kylo para todos da Starkiller, e ninguém iria desobedecer a uma ordem dele. — Nada.

— Ótimo — Ren assentiu satisfeito. — Me encontre na sala de treinamento amanhã bem cedo. Iremos descobrir o quanto da Força você domina.


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Notas finais do capítulo

Se você puder, deixe um comentário para eu saber o que você achou do capítulo!