Velhas estradas, novos caminhos escrita por Lady Salieri


Capítulo 7
Capítulo 7: A granada de cor e vida


Notas iniciais do capítulo

Chegamos ao capítulo final. Um beijo, minha amiga secreta linda !



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/719304/chapter/7

A última vez que vi Alícia foi no dia do resultado das eleições. Imaginando que ela não suportaria a vitória do Collor, corri até sua casa, contra a maré de carros em passeatas e contra os fogos de artifício.

Ao chegar lá, sua mãe disse que ela não estava e que se preocupava por onde devia estar. Não tive dúvidas. Corri para a filial da rede globo da nossa cidade para encontrá-la jogando pedras e tentando romper as vidraças do local.

Segurei-a com os dois braços, abraçando-a por trás:

— Alícia, para! Você pode ir presa! Vamos sair daqui!

— Me solta, Adônis, me solta!

Levei-a como pude até um local mais tranquilo. Ela se desvencilhou de mim com calma e sentou-se na beirada da calçada, incapaz de conter as lágrimas:

— O que as pessoas querem, Adônis? O que as pessoas REALMENTE querem?

— Serem felizes, eu acho.

— Sério? E como elas querem isso?

Sentei-me ao lado dela:

— Eu não sei...

— Você escuta os fogos? Escuta a marcha de carros comemorando isso? É como cantar correndo para o abismo. É isso que estamos programados para fazer para sempre e sempre?

— Mas o Collor poderá ser um bom presidente... Como vamos saber?

— Estudando história, eu acho...

— A história mostra também que o socialismo não deu certo.

— E que o povo nunca deu conta efetivamente de revolucionar nada...

Ela deitou a cabeça no meu ombro.

— Talvez um dia você viva num mundo que você não entenda e sinta o que estou sentindo agora...

Eu acariciava seu cabelo quando disse:

— A única coisa que eu sei agora é que sinto alguma coisa por você que não entendo.

E foi o passo de ela levantar a cabeça e me olhar que cedi ao ímpeto de colar meus lábios aos seus.

Além da estranheza do ato, certeza de que eu era o primeiro garoto que a beijava, alguma coisa explodiu na minha alma, como uma granada de cor e vida que me assustou mais do que nunca. E eu tinha medo de tentar investigar isso a mais a fundo, descobrir o inevitável, então fiz a coisa mais humana que um ser humano podia fazer: deixei-a em casa como um perfeito cavalheiro, dei-lhe um beijo de despedida e fugi. Tão logo pude, fui para a capital estudar e nunca mais retornei àquela cidadezinha onde passei a minha infância.

No mito de Adônis, ele, tendo seduzido Afrodite e Penélope, ele escolheu Afrodite. Eu escolhi a mim mesmo.

E o gosto amargo fica na boca às vezes, o gosto da covardia, do medo, daquele "e o que poderia ter sido..."

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Quero incluir muita coisa nessa história pra uma versão final, especialmente no que diz respeito às eleições de 1989, fatos históricos e essas coisas. Mas por enquanto fica aqui a espinha dorsal que é bem essa mesma.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Velhas estradas, novos caminhos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.