O que eu não conto a você. escrita por Bunnymoon


Capítulo 2
I. Os olhos que ele preferia não ter.


Notas iniciais do capítulo

Desculpa pela demora, estava ocupada resolvendo umas coisas na minha vida. Espero que gostem! Boa leitura!



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No jornal que havia assistido pela manhã, a moça sorridente na frente do chroma key havia dito com uma feição de suavidade o quão quente aquele dia de verão seria, porém não tinha achado que ficaria tão quente assim –  o problema, enfim, era que o que ela havia dito tinha se comprovado ao longo do entardecer. Estava tão quente que lhe fazia repensar na sugestão de seu vizinho que sempre lhe dizia, todas as vezes que se encontravam no elevador, um: “Vá cortar o seu cabelo, jovem. Deixe-o crescer um pouco mais e a policia irá lhe parar, achando que é um Punk!”

 

Rodou na cadeira giratória, apertando a ponta da caneta e parando perto da janela no canto direito da sala. O calor do verão poderia muito bem derretê-lo ao ponto de não precisar mais contemplar o que sua vista amaldiçoada lhe obrigava. Era meio irônico, observando o que havia se tornado, apesar de tudo. Chegava a ser hilário.

 Continuou com a visão presa ao tráfego de Ikebukuro, o sinal havia trocado e as linhas brancas lá embaixo lotaram-se como usual. Tantas pessoas, reunidas e espremidas daquele jeito, pareciam formigas.

 

“Hideki...” A voz que veio por entre as frestas da porta lhe fez suspirar e repousar a bochecha na mão, a caneta rodando por entre seus dedos sobre a mesa. A porta abriu e a assistiu fechar atrás da mulher com os braços cruzados tão firmemente que mais parecia brava com tudo e com todos, o tempo todo. O que não duvidava, vindo de tal pessoa. “Os pacientes das cinco, cinco e meia e seis horas provavelmente fizeram um complô e remarcaram as consultas para outros dias. A demanda do equipamento que você pediu chegará terça-feira, pela manhã e o colírio que havia acabado chegou hoje e só falta desembalar.”

 A mulher deslizou a ponta dos dedos nos cabelos negros e longos, os encaixando atrás da orelha. O fitando séria com seus olhos de linha, batendo o salto cor pastel no piso de madeira.

 “Tudo bem, Naomi.” Abriu os olhos e relaxou a postura, o polegar voltando a pressionar a ponta da caneta. “Isso é tudo?”

 Relaxando os ombros, ela esboçou um sorriso. Os braços se descruzaram, a postura tornando-se um pouco mais curva e hesitante.

 “Minha irmã está surtando lá em casa. Posso ir embora mais cedo?”

 

 

Sabia que ouviria algo como aquilo. Havia contratado Naomi pela sua praticidade. Apesar do gene de sua secretária ser forte e intimidante – totalmente oposto a sua própria personalidade calma e estável – a mesma demonstrava bastante força de vontade e mesmo que fosse um martírio ter que ouvi-la reclamar na maior parte do tempo, era bom ouvir outra coisa além de seus pensamentos, fazia o lugar se tornar um tanto mais vivo, por assim dizer.

 É claro que em meio a essas reclamações, chegaram aos seus ouvidos alguns fragmentos da vida da mesma, como o fato de sua irmã mais nova ser esquizofrênica, a condição pobre da família que resultou no abandono da menor, o homem casado com qual havia saído semana retrasada.

 Coisas do cotidiano. Algo básico, como saber que está trabalhando com uma pessoa comum e não com uma assassina. Era desconfiado de tudo.

 

“Venha mais cedo Segunda-feira.” Suspirou e cruzou os braços sobre a mesa. Naomi sorriu de leve e concordou em silêncio, virando-se para deixar a sala.

 Mas não sem antes fazer suas provocações dignas de uma colegial imatura.

 “Para alguém que age como um robô na maior parte do tempo, você é bastante gentil.” Não seria Naomi sem uma provocação.

 O sorrisinho leve que surgiu em seus lábios após a porta novamente ser fechada fora apenas uma forma de concordar. Não completamente, só em partes.

 Não era sua culpa se simplesmente não via necessidade de sair por aí e ser lido como um livro. Não via motivo para ser cheio de emoções, de se expressar demais, até porque a lógica que seguia se tratava de simplesmente ser o mais indiferente possível. Se não se importava com o que as pessoas estavam passando, por que deveria fazer com que elas se importassem com o que acontecia consigo?

 Poderia estar parecendo um tolo, mas era no que acreditava.

 Seu avô o havia criado assim. O único que sabia da maldição por trás de seus olhos azuis, os mesmos que ao mesmo tempo que eram uma desgraça, causavam admiração em grande parte das pessoas que o conheciam – além de que um asiático de olhos claros não é algo que você vê todo dia. Depois da tragédia que acontecera em seu nono ano de vida, seu avô que havia lhe acolhido e transformado no que era hoje.

 Num robô, segundo Naomi.

 

O relógio de pêndulo que havia trazido da casa do velho após a morte do mesmo fazia um tique calmante, fixado lá, acima da porta de madeira, indicava naquele momento que quase eram seis horas da tarde. Pensou em ir embora.

 Já havia dispensado Naomi, fazia pouco tempo que havia terminado seu estágio na instituição onde trabalhava e agora havia montado seu próprio consultório, não era muito famoso, mas não deixava de ser requisitado. Não teria problema em simplesmente sair e ir embora, se sentia, de certa forma, exausto e um tanto quanto indisposto.

 Sexta-Feira também era um dia de pouco movimento. Pensou um pouco. Guardou a caneta no bolso.

 

 Ergueu-se da cadeira giratória e recolheu os papéis que estava lendo, realocando o telefone onde passou grande parte da tarde conversando com uma ótica que queria fazer parceria. Desligou o computador e saiu da sala, caminhou em direção aos armários, parando e guardando os papéis numa pasta acima da mesa de Naomi e a enfiando numa gaveta no canto inferior. Caminhou até o armário e retirou seu jaleco, o dobrando e o deixando lá. Pegou sua mochila, retirando o celular do bolso pequeno. 18h02.

 Colocou a mochila nas costas, arrumou a roupa e apagou as luzes, fechando o lugar com duas voltas na chave da fechadura.

 Enquanto esperava o elevador deixá-lo no hall de entrada, olhou-se no espelho atrás de si, seus cabelos estavam grandes, não estava tendo muito tempo livre e o tempo que tinha simplesmente era ocupado em fazer qualquer outra coisa mais prestativa. Talvez devesse cortá-los, segunda era um dia bom, se atendesse os pacientes a tempo, sobraria um tempo suficiente para dar um jeito naquela bagunça de fios e voltar. As pontas dos fios espetavam os olhos.

 Bem que podiam furá-los.

 

Detestava os olhos que foram concebidos desde que nascera. Não por uma questão de estética, até porque sequer se importava se eram azuis, verdes, pretos, âmbar, tanto faz. O problema era o que esses olhos malditos lhe forçavam a ver. A desgraça da vida que apenas seus olhos podiam enxergar.

 O elevador parou calmo e Hideki virou-se para a porta que se abriu. Caminhou para fora, checando as horas no relógio de pulso, tinha que pegar o metrô.

 

“Izuo.” Cumprimentou a advogada do terceiro andar, passando ao seu lado, indo em direção ao elevador.

 

“Shizukawa.” Direcionou um aceno sem sequer olhar para a mulher que passou como uma bala.

 Saindo do prédio, parou no meio fio observando aquele momento do entardecer onde todos voltavam para suas casas. O céu alaranjado nos cantos, amarelado em seu centro e rosado em certas partes era belo, porém não o suficiente para fazê-lo tirar os olhos deles. Respirou fundo. Já havia se acostumado com eles há muito tempo, só porque havia muitos naquela hora, não significava que iria surtar. Seria ridículo.

 Firmou o passo e se juntou a multidão de colegiais, homens de ternos com cabelos lambidos para o lado, esperando o sinal abrir para cruzar a linha de pedestre – estava observando o tráfego há pouco, agora faria parte do formigueiro.

 

Eles estavam lhe rodeando. Se continuasse fingido não os ver, como o usual, não passaria pelo enxame de vozes na cabeça novamente, então estava tranquilo. Ao seu lado, havia um enorme. Pendurado no ombro de uma colegial estranha, com um band-aid em sua bochecha.

 Suspirou e andou quando o sinal trocou para verde.  Não era de sua conta os sussurros que o ser maligno falava no ouvido da garota. De pouco lhe importava o que provavelmente viria acontecer com ela por conta de tudo aquilo.

 A entrada para o metrô estava perto, no entanto, assim que chegou ao outro lado da rua, sentiu um aperto no peito. Ultimamente vinha sentido bastante coisas desse tipo, deja vú, pressentimento, algo assim. Chegava a dar certa vertigem, imaginar um reboliço em seu cotidiano traçado a caneta. Virou-se, a colegial aproximava-se devagar do meio fio.

Nas costas dela, uma enorme sombra agarrada em sua nuca e pescoço. Uma cena que Hideki havia se acostumado a ver.

 Seguiu em frente, apesar de tudo. Tomou um desvio para outra rua, o metrô, pelo o que via na distância, estava lotado de várias outras sombras. Não igual aos outros dias, hoje, por algum motivo, havia mais delas. O suficiente para torna-se mais sufocante do que o habitual. Por hora, iria mudar de caminho.

 O único que sabia das sombras era seu avô. Era algo que havia o acompanhado desde que se lembrava. Era um amaldiçoado desde que nascera. Os olhos turquesa que lhe foram petulantemente dados eram o mais puro portal para o inferno. O permitiam ver as sombras que murmuravam, agarradas as pessoas, as definhando até elas perderem para o monstro que há dentro de cada um. Já vira o que elas podiam fazer uma vez, e certamente não precisava ver mais uma para certifica-se de que eram perigosas ao ponto de ser necessário manter distancia.

 E ainda lembrava-se da vez em que tentara confrontá-las e várias, milhares por assim dizer, juntaram-se como abelhas em sua cabeça. No fim, aprender a ser um robô com seu avô havia lhe dado algumas vantagens, apesar de não saber direito se seu avô realmente acreditava no que dizia.

 

O desvio que havia tomado era um pouco mais longo até sua casa. Era um tanto quanto mais deserto do que as outras ruas, demoraria mais até chegar a casa, mas pelo menos poderia cansar-se durante a caminhada e somente despencar em sua cama e dormir o que não havia dormido por três dias. Os mesclados de cores do céu haviam se dizimado no azul cobalto da noite, às vezes algum carro ou outro passava, iluminando com seus faróis, algumas pessoas também surgiam, só para desaparecer depois.

 Continuou caminhando até que se percebeu totalmente sozinho. A rua encontrava-se em um breu, havia pouco movimento e, como não conhecia aquele caminho muito bem, presumiu que era apenas pouco frequentada por ser um desvio um tanto quanto longo e com poucos comércios. Retirou o celular do bolso e checou as mensagens no celular.

 

“Quero falar com você.” Suspirou em silêncio e continuou a andar.

 

“Você poderia retornar pelo menos esta mensagem? Sua tia realmente se arrepende do que fez.” O olhar seco que lançou iluminado pela tela do celular, dissipou-se no vazio.

 O vento gélido de uma noite de verão bateu tão rápido que seu cabelo por cortar, acabara por atrapalhar-lhe a vista, embaralhando-se em frente aos seus olhos.  Enquanto estava arrumando aquele reboliço com as pontas dos dedos, sentiu um impacto forte, mal tendo tempo de processar o que havia acontecido, apenas sentindo seu corpo indo em direção ao chão. Quando suas costas bateram no asfalto, soltou um palavrão alto e sentou-se, girando a cabeça para trás apenas para xingar o apressadinho estúpido que apenas seguiu o caminho correndo, como se tivesse apenas derrubado um saco de batatas e não uma pessoa.

 “Ei, você!” Hideki exclamou alto, suas costas estavam doendo e seu celular havia rachado.

 O desgraçado que estava correndo já se encontrava perto de virar a rua, sem parar de correr, ele virou a cabeça para a direção de Hideki e, naquele momento, os olhos azul turquesa vacilaram de maneira súbita.

 Os olhos.

 

Havia poucas coisas que o faziam regressar à noite maldita, aquela que reduziu sua vida a uma existência insignificante. Poucas também eram as coisas que lhe davam medo. E agora simplesmente estava petrificado por um simples olhar do ser que corria mais a frente. Ele já havia desaparecido para outra rua.

 Virou a cabeça de volta ao lugar e a abaixou, a mão direita navegando ante sua testa, massageando as têmporas. Estava em choque. Nunca mais esqueceria os olhos daquele que havia o derrubado.

 Os olhos do ser que o derrubara no chão eram como a crosta terrestre sendo rompidas pelas chamas do inferno. Clamores de pecadores escorriam pelos olhos da besta em forma humana que correra desesperada daquele lugar.

 Nenhum dos seres que havia visto antes era daquele jeito. Nenhum deles havia lhe encostado em sequer um fio de cabelo em qualquer outra vez.

 Há tempos não sentia alguma coisa, mas, naquele momento, estava realmente com medo.

 

Ao ponto de querer arrancar seus olhos com as pontas das unhas.

 

“Eh...” Ergueu a cabeça veloz, com uma expressão estranha, não estava sabendo lidar com aquele choque de informações e tudo se tornou ainda mais confuso depois de sua vista cruzar com um jovem-adulto vestido com um sobretudo bege parado a sua frente. Seu cérebro literalmente entrou em pane. “Você está bem? Desculpe sobre isso, mesmo! Sou um pouco desastrado.”

 

O homem a sua frente tinha traços caucasianos misturados com japoneses. Uma pinta na maça esquerda e cabelos de um castanho puxado para o loiro. Usava uma mascara cirúrgica e luvas descartáveis.

 Estranho demais que mantivesse uma expressão pura por baixo da franja curta.

 “O que está dizendo? Quem me derrubou foi-” Falou baixo. O jovem a frente olhou para a direção onde o ser havia corrido, parecendo indeciso e com pressa.

 “Deixe-me te ajudar...” O loiro ajudou-o a se erguer rapidamente, enfiou a mão num bolso enorme no sobretudo e o olhou nos olhos com uma firmeza um tanto quanto vacilante. “Desculpe mesmo por isso, tenho que ir.”

 

 

 

E simplesmente saiu correndo como um louco.

 

Hideki raciocinou rápido. Ou pelo menos tentou digerir aquilo tudo que havia acontecido antes mesmo das sete horas da noite.

Havia esbarrando numa das várias outras bestas que sua vista lhe permitia ver. O jovem-adulto que surgira depois e seu jeito estranho de agir, a confusão parecia ser imensa, tão estranho, que chegou a se perguntar se estava realmente acontecendo ou se apenas estava tendo um surto fora da realidade. Chuviscos de verão começaram a cair tão finamente que sequer importou-se com as gotículas frias se chocando contra sua pele.

 As peças mal haviam se conectado em sua cabeça, mas, quando se viu, já havia virado os tornozelos há tempos e encontrava-se a correr na direção aonde a besta e o mestiço haviam ido.

 Correu fugaz, estava pensando em tantas coisas ao mesmo tempo, que poderia se considerar insano; virou a esquina anterior na qual havia passado e questionou a si mesmo se aquela correria valia a pena – e se havia perdido o mestiço.

 Caminhou ofegante, olhou no relógio de pulso, às sete horas quase estavam chegando, com a mão livre empurrou os cabelos da franja para trás a fim de aliviar o calor. Provavelmente havia o perdido de vista, pensou. Procurou com a vista um pouco mais, porém, quando escutou uma algazarra vinda de uma das ruelas escuras e suspeitas do lugar, teve certeza que havia encontrado o que estava procurando.

 Agarrando na alça de sua mochila, Hideki entrou com calma, pé após pé, deslizando lento até se deparar com a cena que fizera seus pelos se arrepiarem de súbito e seus olhos importunos cintilarem. Mesmo o que já vira antes sendo algo com que se acostumara, sua ideologia de vida que se resumia em ser, praticamente, um robô – como Naomi dizia – não seria posta em pratica naquele tipo de situação.

 

 A sua frente, o jovem-adulto mestiço trajado no sobretudo estava com uma pistola calibre 380, conhecia muito bem aquele modelo, seu pai costumava ter uma. No entanto, de dentro do cano da arma na mão coberta pela luva do mestiço, escorria um liquido transparente, tão estranho. Na frente do loiro, havia algo horrendo. Algo que mesmo com a desgraça em seus olhos, nunca pensou que chegaria a ver em sua vida.

 O ser em forma humana que antes havia lhe empurrado, agora havia mostrado sua verdadeira imagem. Perante aquilo, os olhos repletos de almas sujas pareciam um grande nada.

 

 A besta era uma grande sombra em um breu mais escuro que a noite. Os olhos infernais permaneciam lá, fitando-o. A boca era algo digno de filme hollywoodiano. Partida ao meio, os dentes pingando um liquido amarelado com cheiro de urina, carne podre escorrendo pelas vielas dos dentes e se esforçasse, era até possível ver gordura humana e dejetos em seu esôfago. Hideki sentiu o estomago embrulhar, mas fez o máximo para manter-se imparcial.

 No fim das contas, o que havia raciocinado era que: se o mestiço estava combatendo aquele ser, era porque ele podia vê-lo. E se ele podia vê-lo, ele era amaldiçoado igual a si.

 E se ele estava o combatendo, era porque podia dar as respostas que queria.

 O loiro então guardou a arma e retirou de dentro de um dos bolsos do sobretudo uma katana ainda na bainha. Ele então a desembainhou lentamente, Hideki não se surpreendeu em ver mais daquele liquido transparente escorrendo pela mesma. Observou um pouco mais atento, ousando até a aproximar um passo.

 "Água?" Não havia percebido que aquilo tinha soado alto demais.

"HÃ?" O mestiço virou-se com a face vermelha, os olhos esbugalhados e os ombros trêmulos. “O que está fazendo aqui?!”

 Hideki abriu os lábios para falar qualquer coisa que viesse a sua mente, porém seus olhos se guiaram logo para a besta atrás do jovem, que apenas se aproximou sorrateira e com um pulo rápido, deu o bote.

 "CUIDADO!" – mas, apesar disso, era tarde demais.

 

 

 

 

A cena a sua frente era horrenda demais para manter a compostura. Suas costas já estavam quase deslizando pela parede, enquanto observava a cena do monstro trajado em breu enfiando seus dentes podres na carne do abdômen do jovem mestiço que debatia-se em dor no chão. A fera gritava com prazer enquanto loiro esparramado no chão daquele lugar imundo se debatia e tentava arrumar algum meio de fugir por meio de seus gritos. Hideki era impotente. Era apenas um amaldiçoado que presenciara a morte mais vezes do que queria.

 Estava em choque e pensando se aquele seria mais um trauma para a coleção.

 

 

 

 

"Por que as desgraças sempre vêm para aqueles que não a clamam?"

 

 

 

 

 

A mão coberta pela luva se moveu até debaixo do próprio corpo. Estava doendo, mas metade de sua alma havia lhe acostumado a dores piores. Hideki, na parede, mantinha sua mão esquerda tampando a boca enquanto observava tudo a sua frente com uma feição de choque.

 O mestiço havia parado de se mexer e aquilo lhe fez estremecer. Uma culpa avassaladora começou a corroer sua cabeça, até que então uma lamina prateada viu-se atravessar no peito da besta demoníaca.

 De baixo, para cima.

 

Uma mão com a luva suja e rasgada surgiu do lado do monstro apunhalado e empurrou o corpo da fera para longe de si.

 Estava machucado, mas estava vivo. O mestiço.

 "Que deus interceda pela sua alma.” As palavras saíram tremuladas, o sotaque havia se tornado forte no final de cada uma.

 

Deitado todo sujo de sangue, o mestiço jogou o punhal para longe enquanto sua visão tornava-se cada vez mais turva, os membros se tornando moles e a respiração enfraquecendo até que tudo se dissolveu no breu daquela noite de verão.

 Hideki se afastou da parede e caminhou até o loiro desacordado e ensanguentado.

 

 

 

 

A maldição de seus olhos havia o levado para dias de verão onde nada parecia estar fazendo sentido.


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Notas finais do capítulo

Primeiro capítulo, um tanto longo... Mas um capítulo!
Demorei um pouquinho para postá-lo, essa semana foi corrida e eu tenho pernas curtas, rs.

Relevem os erros, estou postando após a minha oitava caneca de café e estou me sentindo meio grogue.

Boa noite! Aos que estão lendo na hora que eu postei (rs).

Obrigada por estarem lendo e acompanhando!


Até o próximo capítulo.



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