O que eu não conto a você. escrita por Bunnymoon


Capítulo 1
Aquilo que aparece em seus sonhos e que você se esquece.




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As chamas do fogo há tempos não incomodavam mais, apesar de não me lembrar de quando é que elas passaram a incomodar ou se pelo menos chegaram alguma vez a me aborrecer mais do que naquela em que vi meu filho na miragem do vale das chamas. Não me arrependo, de qualquer forma.

 

 

Os tempos haviam passado e mesmo que eu ansiasse o regresso – não mentirei, em certa parte de mim, eu realmente cogitava às vezes um final diferente; se eu tivesse feito algo a mais anteriormente me pergunto se poderia ter mudado alguma coisa e se então, talvez, eu ainda estivesse vivendo minha vida perfeitamente imperfeita, com minhas falhas e minhas glórias – em suma eu sabia que já era tarde para desculpas chulas.

 

 

No entanto meu sacrifício tampouco fora em vão. É só olhar para aquela criança agora. O cínico pensou que chegaria a enganar-me, mas, no fim, eu consegui pelo menos salvar minha prole. E é do que mais me orgulho.

 

 

 

 

Vez em quando, me pergunto se ele alguma vez me odiou em segredo. Eu não tenho motivos para supor tal coisa, obviamente, talvez eu esteja enlouquecendo e isso não seria absurdo levando em conta o que tenho que ver aqui neste lugar.

 

Em todo inicio do outono eu recebo minhas dálias, impecáveis, sempre tão belas e encharcadas da essência que amo – uma das poucas coisas que acalenta meu coração em meio a esse inferno. Sinto saudades da época em que a minha alma pertencia só a mim e a mais ninguém. No entanto, um porém cujo nem eu mesma consigo explicar, essa pitada de indignação me avassala. Afinal é por minha culpa que metade da alma de minha criança é corrompida e é propriedade do maligno do orgulho.

 

 

O fato de seu destino ser imutável, sem ser lhe dado algum meio de escolher seria um motivo bastante sólido para odiar-me. Eu entenderia de qualquer formar. No entanto, fascino-me ao ver como minha criança está levando as coisas. Sinto-me orgulhosa, para falar a verdade.

 

Ele está fazendo a coisa certa e tem plena consciência para recusar o caminho que era esperado seguir.

 

 

 

 

Mas, enfim, faz dias que venho pensando em parar de recitar esta canção maldita, mas realmente, de forma peculiar, assumo, sinto que se eu parar de entoá-la, minha criança se afetará.

 

“Acha que ele escuta o que canto somente para ele?”

 

 

Pergunto futilmente ao maligno. Recostado no chão, olhando-me de maneira fria, o ser cínico com o canivete rodando por entre os dedos longos de sua forma humana e enganadora, sorriu com deboche e lambeu os dentes afiados como os de um tubarão – ou ainda mais afiados que os mesmos, quem sabe.

Dando-me um olhar de sarcasmo, ergueu-se e caminhou até a mesa onde eu estava, arrumando as peças do xadrez novamente para logo depois sentar-se na cadeira à minha frente.

 

“Duvido que sua canção chula com sua entonação fraca alcance-o mais do que os clamores dos pecadores desse inferno.”

 

Suspirei. Eu já esperava esse tipo de resposta.

 

 

Movendo o peão para a casa a frente, ele começou um novo jogo sem ao menos considerar perder.


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Notas finais do capítulo

Prólogo bem básico. Fará sentindo quando chegarmos ao final.










Muito obrigada por ler. あなたは優しい。



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