O que eu não conto a você. escrita por Bunnymoon


Capítulo 3
II. A mais desagradável das verdades.


Notas iniciais do capítulo

* Recomendo que leiam este capítulo escutando essa música que no mesmo é citada: https://youtu.be/HOvZnRoWgtk
* As partes em itálico são sonhos e pensamentos do fofo do mestiço ♥ Algumas vezes, podendo ser de um outro alguém que ainda há de aparecer, prestem atenção.

Perdão pela demora, eu tinha perdido este capítulo e dei muito a louca quando percebi. Relevem os erros e boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/704425/chapter/3

Não estava aguentando mais escutar todos aqueles gritos, ardentes, cortantes, que pareciam rasgar a garganta das almas que os proferiam. Era doloroso, saber que essa era sua essência. Que no fim de tudo, estaria as fazendo companhia naquele vácuo de sofrimento eterno.

De repente, tudo havia se silenciado.

 A escuridão tomou sua visão

Sua hora favorita havia chegado.

 

 

 

A voz que cantava para acalmar seu coração estava prestes a iniciar sua performance.

 

 

 

 

 

日々つたなくも はきだす歌
    A música que eu desajeitadamente cantei dia a dia.

いつかみたような夢
   O sonho que eu vi há algum tempo atrás.

長く深い夜をこえるよ
    Eu atravesso as longas, noites profundas.

君にあえるように
    Para me encontrar com você.

 

 

 

 

 

 

 

Finalmente havia acordado.

A voz cantava tão suave e serena como nunca. Aquela canção desconhecida era estranha, de certa forma, ela parecia explicar o que se sucedia em sua cabeça com palavras tão simples. Como se quisesse esculpir a memória de um momento em seu coração. Memórias que não o pertenciam, mas que pareciam ser importantes para alguém. Nunca entendera aquilo, mas de uma coisa tinha certeza: a mais pura desolação era o que sentia naquele momento, quando ela acabava.

Piscou os olhos. Sentou-se na cama com as costas encostadas na cabeceira. Sentiu uma dor forte em seu corpo, principalmente em seu abdômen, porém, agora desperto, se via em meio a um fato que lhe preocupava mais do que suas dores musculares: estava em um lugar totalmente desconhecido.

 

Um cubículo um tanto pequeno. As paredes e o teto eram completamente brancos, tão brancos como se alguém viesse, todos os dias, para pintá-los novamente. O teto era bem alto e as paredes pareciam grossas. O piso era de um porcelanato tão liso e polido que chegava a brilhar ante a iluminação porca provinda da janela. Havia uma porta a sua frente, uma madeira escura. A cama, onde se localizava, estava encostada na parede esquerda e, fora esses detalhes, não havia mais nada naquele quarto a não ser monotonia.

 

 

A música que o perseguia ainda entoava em sua cabeça, como se estivesse no repeat.

Toda vez que acordava, em sua cabeça, ouvia uma mulher cantar. Sempre era assim, desde que se lembrava e isso havia se tornado seu segredo mais precioso. Todas as vezes que estava preso em um de seus pesadelos (nunca havia sequer tido um sonho bom, que infortuno!), uma voz feminina desconhecida o acordava de seu sofrimento. Era estranho, mas pelo menos era uma coisa boa.

Isso o confundia tanto. Tinha vezes que até se embolava em pensar numa teoria para quem estava por trás de tal canção, mas no final sempre chegava à mesma conclusão simplista: talvez fosse errado fazer suposições.  

Olhou ao redor mais uma vez, se perguntava o que havia acontecido para vir parar naquele lugar. Se esforçando bem, podia escutar alguns passos em outros cômodos. Mentalmente, ansiou que não estivesse em uma enrascada.

 

Seu olhar então fora fisgado pela luz que vinha da janela na parede do lado direito. Estava um tanto ensolarado, diria que já estava na metade do dia. Estava em um prédio. Pode constatar pelos prédios vizinhos, ditos arranha-céus amedrontadores de tão grandes. Pelo jeito, sem fugas pela janela dessa vez. 

Pelo o que percebeu, não tinha muitas opções. O quarto estava em uma tranquilidade bestial, por assim dizer, talvez não tivesse nada para se preocupar, porém já tinha há muito tempo aprendido que o mal tinha como habilidade indispensável se fantasiar de bem e, por isso mesmo, deveria manter-se cauteloso.

Sentou-se na beirada da cama, sentindo novamente aquela dor na parte inferior do abdômen. Levantou o moletom branco que utilizava e se deparou com gazes enroladas em seu corpo, levemente ardendo ao tocá-las. Mordeu o lábio. A cabeça doía e ao forçar-se a lembrar do que tinha acontecido, parecia prestes a estourar. Tinha que descobrir o que havia acontecido. As pontas dos pés encostaram-se ao chão frio e ao se erguer com uma dificuldade que achou ridícula, caminhou até a porta e encostou a mão na maçaneta com cuidado, como se ao tocar nela talvez algo pudesse acontecer.

 

E realmente existia essa possibilidade, ali era um território desconhecido, de qualquer forma.

Encostou a orelha na porta, escutou algumas vozes, como se tivesse uma televisão ligada do outro lado. Afastou-se da madeira e decidiu que iria logo abrir a porta e lidar com a burrada que havia feito.

No entanto, antes mesmo de girar a maçaneta, a porta abriu do outro lado, o assustando de leve e o fazendo soltar a mesma na hora. Deu dois passos para trás, enquanto observava a porta abrir.

 

Revelou-se então um homem um pouco mais alto que si, suporia uns seis centímetros a mais na estatura do mesmo. Tinha cabelos de um preto anormal, quase como um buraco negro. Como se sugasse toda a luz e, por isso mesmo, os fios bagunçados não tinham brilho, caindo sobre o rosto do homem e ficando apenas um pouco acima dos olhos. Sua pele era oliva, um pouco mais escura.  

Estava vestido com uma camiseta preta e uma calça de moletom branca, roupa típica de pessoa pronta para fazer nada. Mas os olhos é que haviam lhe deixado petrificado.

Eram tão azuis e frios que pareciam de mentira. Um milagre da genética, por assim dizer.

Engoliu a seco.

 

“Se sente bem?” O homem perguntou estendendo a mão em sua direção.

 

Recuou e agiu em automático.

Agarrou o braço do homem com força e o puxou. O moreno parecia surpreso, então deduziu que, mesmo se ele reagisse, não conseguiria lhe parar, então era melhor que continuasse antes que ele se desse conta e tentasse revidar. O corpo do maior veio de encontro ao do menor e quando estava próximo o suficiente, o mais baixo o atingiu com o joelho no estômago. Aproveitando da desorientação do moreno com o golpe, ele o virou e jogou seu peso até que o fizesse deitar com um baque, por fim o imobilizado no chão de maneira que o mesmo não conseguisse sair, mesmo que o moreno aparentasse ser mais forte.

 

“Quem é você? Responda rápido.” Intimou.

 

Retorcendo-se um pouco em dor, a bochecha apoiada no chão branco e polido da casa, o homem dos olhos cerúleo murmurou com a voz abafada.

 

“Hideki...” A sua frente, no cômodo que parecia ser o mesclado da sala com a cozinha, a televisão continuava um tanto alta, exibindo um jornal local.

 

Retirou um pouco do peso de cima do homem, talvez estivesse o machucando demais. Olhou para baixo.

 

“Onde eu estou e por que estou aqui?”

 

Demorando um pouco mais dessa vez para responder, o mais alto tossiu e virou o rosto para lhe encarar.

 

“...Você está na minha casa e está aqui porque eu achei que seria bom te trazer para cá antes que morresse. Alias, ‘de nada’. Ficar cuidando de você por sete dias sequer me deu trabalho, eu até estava esperando uma surra como agradecimento mesmo.”

 

Encarou com os olhos reprimidos e as sobrancelhas turvas. Haviam se passado sete dias? O que havia acontecido? Mal parecia que havia estado desacordado por tanto tempo. Estalou a língua e forçou mais.

 

“Não minta.”

 

Do jornal, começou a passar um comercial.

 

“Não estou. Não lembra do que houve? Aquela coisa quase te partiu a meio.”

 

A expressão do menor transpirava ceticismo. Aquilo realmente era verdade? Não havia gostado do tom com qual aquilo havia sido dito – sentiu-se meio constrangido, por assim dizer –, mas relevou.

Pigarreou, fechando os olhos e relaxando um pouco o aperto no braço do homem.

 

“Como posso saber se isso é verdade?” Seu ar de intimidação havia se desmanchado quando sua voz saiu chiada, seu corpo ainda estava dolorido. “Onde estão minhas coisas? Me diga agora.”

 

“Se você me soltasse eu meio que poderia te dizer.”

 

“Pare de brincadeiras, eu estou falando sério.”

 

O homem sorriu.

 

“Acha mesmo que eu vou te fazer alguma coisa? O que você é agora? Uma versão baixinha do James Bond?”

 

Ele nunca havia parado para pensar, mas naquele momento, percebeu que sarcasmo lhe irritava demais. Mordeu o lábio com raiva e levantou-se de cima do homem soltando um resmungo alto e correu até a cozinha, abrindo uma das gavetas. Pegou uma faca e voltou para perto de Hideki que agora se erguia do chão, apontando o objeto para o mesmo em posição de defesa.

 

“Estou falando sério.” O tal de Hideki lhe encarou com uma irritante feição de indiferença. “Eu não sei quem você é, mas está me irritando. O que você quer comigo? Quero saber onde estão minhas coisas.” E o homem ficou em silêncio. Trocando olhares vazios que estavam irritando-o cada vez mais. “Ei, me respond-”

 

“Coisas como isso não me assustam.” Ele se aproximou e segurou na lamina da faca. O menor arregalou os olhos. “Me matar seria um favor.” Caminhando para dentro do quarto, o homem parou no batente da porta. “Se responder minhas perguntas, eu te digo onde estão suas coisas. Uma troca justa, que tal?”

 

“... Por que eu confiaria em você?”

 

O moreno virou na direção do garoto.

 

“Por que acha que eu ganharei alguma coisa te prejudicando?” Cruzando os braços, ele suspirou e estalou a língua. “Eu apenas quero conversar.” Virando-se de novo, antes de entrar no quarto, Hideki disse tão firme que as mãos na faca fraquejaram-se em um instante. “Entre quanto estiver calmo.”

 

 

Zoe engoliu a seco enquanto abaixava a faca.

O olhar azul daquele homem, jurava já tê-lo visto em algum lugar.

 

 

 

 

 

 

 

 

( 君にあえるように )
        (Para me encontrar com você.)

 

 

 

 

 

 

Ao entrar de volta no quarto, o loiro deu de cara com aquele par de olhos azuis o encarando fixamente, lhe acompanhando enquanto se sentava na cama. Sentou numa distância que considerou razoável do tal homem. Hideki simplesmente soltou um suspiro e os braços se cruzaram como de súbito.

 

“Como é o seu nome?” Ele perguntou. O olhou como se dissesse ‘por que eu deveria te dizer?’ e Hideki voltou a suspirar, estalando a língua e percebendo que aquela seria uma longa conversa. “Eu já não te disse para se acalmar? O que eu saber seu nome irá lhe prejudicar...”

 

Olhando para o nada, o mestiço recolheu as pernas para cima da cama, as abraçando e encostando a bochecha no joelho. Pensou bem. Já estivera em situações piores. A faca ainda estava escondida na manga de seu moletom. Apesar de ter se amaldiçoado milhares de vezes mentalmente por ter adentrado naquele tipo de situação, não custaria nada cooperar até constatar se era realmente seguro estar ali com aquele homem estranho. “Zoe Hasegawa.” Falou baixo, o encarando.

 

 “Alguém finalmente está começado a cooperar.” O mais alto murmurou enquanto estalava os dedos.

 

“Cale a boca antes que eu o faça beijar o chão de novo.” Zoe respondeu rapidamente.

 

O homem o olhou surpreso por alguns instantes e depois soltou um risinho fraco, que o loiro, por algum motivo, não soube diferir se ele estava lhe provocando ou simplesmente achando engraçado mesmo.

A única coisa que Hideki conseguia pensar diante do menor era como a Síndrome de Napoleão* se mostrava forte. Ele parecia totalmente mais jovem sem o sobretudo e o cabelo escorrido pra baixo e isso apenas o deixava mais engraçado. Soltou outro riso fraco, descruzando os braços e relaxando na posição. Deveria arrancar as respostas que estava querendo o mais rápido possível.

Havia cuidado dele por causa disso, no fim das contas. O mestiço havia surgido em uma boa hora e agora se via no momento que mais ansiava nesses últimos anos: estava sentado com alguém que poderia saciar suas dúvidas. Por isso mesmo, mal sabia o que perguntar primeiro.

Zoe soltou um grunhindo.

 

“Está com fome?”

 

“Só faça logo suas perguntas.” Apressou o menor o encarando fixo.

 

Hideki concordou.

 

“O que era aquilo?” Soltou apreensivo, coçando o pescoço.

 

“Aquilo o quê?” Zoe mexia distraidamente nos fios do próprio cabelo, parecia um tanto diferente da pessoa que havia lhe imobilizado antes, mas sabia que ele ainda estava em alerta.

 

“Você realmente não se lembra do que aconteceu?” Hideki voltou-se ao menor. “Aquela criatura que quase abriu uma cratera no seu abdômen, você estava lutando com ela.”

 

Zoe pareceu pensar por um momento. Forçou a cabeça, a enxaqueca que estava sentido parecia se intensificar ao poucos, porém, no fim, se lembrou de pelo menos um fragmento do que havia acontecido. Ao dar se conta sobre o que Hideki estava falando, foi impossível não demonstrar sua descrença. Seus olhos estavam arregalados e sua boca em um “o” perfeito, o moreno encarando totalmente perdido. Havia dito algo demais?

Logo o menor se desfez daquela posição encolhida na cama e se aproximou do mais alto de maneira avida.

 

“Você consegue ver?!” Perguntou o mestiço, atônito, encarando-o nos olhos, tão de perto que Hideki recuou um pouco. “ Eu sabia que esse seus olhos estranhos não estavam aí de enfeite! Você REALMENTE conseguiu ver aquilo?!”

 

A reação do homem fora um tanto quanto curiosa.

 

Recuando o olhar, ele apenas respondeu baixo, enquanto apoiava o cotovelo nos joelhos, em uma posição pensativa.

 

“Infelizmente.”

 

E novamente, aquele quarto níveo tornou-se silencioso, como quando Zoe ainda estava dormindo e ansiando por ouvir mais da canção que lhe assombrava. Era algo estanho de se dizer, mas o loiro sentiu uma coisa estranha. Algo parecido com um calafrio, no entanto, um pouco mais esquisito, mais forte, mais tenebroso. Não entendeu o arrepio em sua pele. Hideki permaneceu em silêncio por certo tempo. Estava um tanto quanto hesitante, talvez pelo fato de nunca ter dito o que via para outra pessoa a não ser seu avô.

 

A cabeça de Zoe latejou. Não desviou o olhar do Hideki.

 

“Demônios.” Murmurou e o moreno virou o rosto de súbito.

 

“Que?”

 

“Sombras em breu, em cima das pessoas, sussurrando em seus ouvidos, é isso que você vê, não é?” O loiro virou o rosto em direção à janela, estava entardecendo e o os raios alaranjados do sol entravam. Prosseguiu brincando com a luz em seus dedos. “Eles são de um tipo mais fraco. Chamamos de “Condutores”, pois são eles que induzem as pessoas às más ações. São incapazes de criar mal físico, apenas psicológico e ainda assim, apenas em pessoas suscetíveis a influencia. Cabe a pessoa escolher se quer escutá-los ou não. Eu diria que são os mais ‘gentis’ em comparação aos outros tipos de entidade. São demônios que vampirizam pessoas.”

 

“Espere um segundo.” Hideki se ergueu rápido, com uma feição um tanto confusa, as sobrancelhas curvas. Caminhou de um lado para o outro. Zoe o observou com uma cara de tédio. “Demônios?”

 

“É.”

 

“Está brincando? Isso não existe.”

 

“O que você acha que eles são, então?” O loiro indagou voltando a abraçar as pernas. Hideki o encarou. “Procurar razão no desconhecido é a maior estupidez do ser humano. Você os vê. Isso, no que acreditam os tolos, é prova o suficiente de que existem, não acha?”

 

Encararam-se por um tempo em silêncio, o moreno logo então voltou a se sentar. Pensou por um pouco e fez uma careta estanha.

 

“Como pode dizer essas coisas assim, tão calmo? Você não é um desses malucos, não é?” indagou.

 

Zoe sorriu compreensivo, sem sequer perceber.

 

“Quando você se acostuma com as coisas, elas se tornam banais. É sempre assim.”

 

Pensativo por um momento, o maior voltou a permanecer em silêncio. Zoe encontrava-se ainda um tanto surpreso. É claro que já havia se acostumado com o que fazia, já havia encontrado de tudo, mas nunca alguém que conseguia ver demônios assim, a olho nu. Era algo que deveria relatar a Lea, sem dúvidas, pensou consigo mesmo, mal percebendo que havia assentido para o nada.

 

Olhou para o moreno que parecia refletir sobre algo.

 

“Isso me lembra de uma coisa. O que você é? O que estava fazendo, lutando com aquilo?”

 

Ele estava ultrapassando certo limite. O loiro pensou bem e deu carta branca, aquele homem era curioso no fim das contas e, ao saber do que ele via, estava interessado em prosseguir com a conversa. Respondeu com firmeza.

 

 

 

“Sabe, como eu estava dizendo, demônios não podem interferir diretamente na vida dos humanos. Há poucos que sim, mas estes quase não são vistos. Apesar de não poderem interferir fisicamente na alma humana, o estrago continua sendo grande e de vez em quando, a quantidade de vidas destruídas fazem os mais fracos tornarem-se em monstros horrendos. E quando chegam a esse ponto, precisam ser eliminados. Eu sou um exorcista, por assim dizer. De uma categoria um tanto diferente, para falar a verdade.” Parou e lambeu os lábios. “Os exorcistas completos são aqueles que fazem aquilo que você vê em filmes, gritam em latim, recebem banhos de vômitos, essas coisas. Eles que cuidam das entidades que conseguem ferir fisicamente na maioria das vezes, já que a grande maioria delas, apesar de terem poder o suficiente para atacar fisicamente, preferem possuir humanos e destruí-los por dentro.” Hideki o encarava muito fixo, chegava a ser constrangedor. “Exorcistas como eu, incompletos, tem de peregrinar e pegar no pesado, cuidar das exceções que aparecem e provocam catástrofes.”

 

"..."

 

"O que foi? Não está acreditando?

 

“... Daria um bom filme.” O moreno murmurou.

 

“Não é tão fantasioso como parece ser.”

 

 Um sorriso de ambas as partes.

 

“É meio difícil de acreditar nessa história.”

 

“Qualquer um diria que eu sou um esquizofrênico, acredite, você não é o primeiro a ficar assim.” Zoe olhou pela janela. Uma brisa fraca entrou e sentiu seu estômago roncar. “Mas, sabe, é realmente estranho que você consiga os ver assim, a olho nu.” Pensou alto. “A maioria das pessoas só sabem da existência deles quando se suicidam por causa dos mesmos, já que eles induzem a autodestruição.”

 

Hideki arqueou a sobrancelha. O loiro só percebeu que havia errado em tocar no assunto quando o mais alto soltou de supetão:

 

“Mas você também não os vê a olho nu?” Bingo.

 

Zoe sentiu seu coração falhar uma batida. Droga. Agora era a hora de parar.

 

“Eu...” Desviou o olhar, havia falado demais de novo. “Já te disse coisas demais, não acha? Olhe, já está quase anoitecendo.”

 

O mais alto olhou para janela. Não estava tão escuro, mas se encaminhava para o breu. Olhou para Zoe que permanecia com a cabeça baixa, desviou para seu relógio e soltou um suspiro.

 

“... Sinto muito, mas acho que não vai dar para cumprir o que eu te disse.” Hideki levantou com um pulo e caminhou para a porta. “Se eu te der suas coisas agora, você irá embora no mesmo instante, não é? Tenho mais perguntas para te fazer.”

 

Zoe mordeu o lábio, parecendo pensativo. Aquele homem era um caso que nunca havia constatado antes. Os olhos dele já exalavam certo tipo de excentricidade e agora, ao saber o que eles conseguiam ver por natureza própria, talvez o moreno fosse um amaldiçoado que nem si.

Poderia ser de utilidade, deixar aquilo passar seria uma perda terrível, talvez.

“Por incrível que pareça, acho que ficarei mais um pouco.” Hideki pareceu surpreso, o mestiço simplesmente tratou de erguer o moletom branco que usava somente até onde estavam as gazes. “Está doendo muito.”

 

Hideki bufou em desaprovação, estalando a língua e caminhado até a frente de Zoe.

 

“Devem ter abrido quando você me atacou.”

 

“... Desculpe por isso.”

 

Outra surpresa.

 

“Você varia bastante, não é?” Abaixou-se até ficar na altura correta e encarou as gazes, estavam voltando a se sujar de sangue. O maior forçou a mente para lembrar onde havia guardado o resto.

 

“Ei.” O menor chamou e Hideki ergueu a cabeça. “Pode ser que você apenas esteja curioso sobre o que consegue ver, mas tem algo estranho em você. Posso te perguntar uma coisa?”

 

Apesar de hesitar um pouco, o maior concordou com a cabeça.

 

“Agora que sabe o que eles são, o que irá fazer?”

 

De alguma forma, Hideki Izuo já esperava por aquele tipo de pergunta. Levantou-se com um sorriso ladino, os olhos fechados. Tranquilamente caminhou até a porta novamente, dessa vez a abrindo com calma. Virou-se ao loiro na cama que o encarava ansiando uma resposta.

 

“Zoe.” Chamou firme. “Há um ditado popular na qual eu gosto bastante, não sei se conhece, talvez saiba do que me refiro.” A televisão continuava a tagarelar no outro cômodo.

 

“Ditados? Não estou há muito tempo na região, para falar a verdade, meu japonês ainda é um pouco estranho.”

 

“Não faz mal. Da onde veio?”

 

“Itália.”

 

Encarando o loiro, no rosto de Hideki, surgiu um sorriso suspeito. “O ditado que me refiro vem da Escócia.”

 

O menor franziu as sobrancelhas, estranhando aquela conversa.

 

“O que isso tem a ver com o que te perguntei?” Zoe ergueu-se devagar. “Vá direto ao ponto.”

 

Nemo me impune lacessit, sabe o que significa?”

 

 “Não.” Inconscientemente, fez bico. “Claro que não.”

 

Hideki deu outro sorriso, este fez Zoe engolir a seco.

 

Ninguém me fere impunemente.”

 

A porta fechou e agora era Zoe que precisava de respostas. Escondeu a faca em baixo do colchão, talvez estivesse cedo demais para confiar, no homem de olhos frios como a Morte.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não revisei pois estou morta com farofa. Irei corrigir amanhã.

Se estiver confuso, o que provavelmente está, peço mais um tantinho de paciência, com o decorrer de cada capítulo as coisas começaram a se encaixar, prometo!


Aceito críticas! Muito obrigada a todos que estão lendo!
Até o próximo cap.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O que eu não conto a você." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.