Coração de Lata escrita por Lady Padackles


Capítulo 3
O início de uma amizade, e de um amor.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/697697/chapter/3

O dia amanheceu fechado, e chovia do lado de fora. Dean passou a manhã toda assistindo seriados na televisão, com Castiel calado ao seu lado. De vez em quando o robô perguntava uma coisinha ou outra, relacionada ao que se passava na TV.

Dean respondia com educação e tentava não se incomodar com a presença do androide. Lá pelas tantas, entretanto, o olhar fixo do moreno começou novamente a perturbá-lo. Quem sabe se ele não poderia acabar logo com aquele desconforto, desligando o robô? Depois, se Sam quisesse brincar com ele, haveria de ser fácil ligá-lo novamente... Feliz com a ótima ideia que tivera, o louro procurou o manual de Castiel dentro da caixa em que ele chegara. Feliz da vida, achou um grosso caderninho explicando tudo a respeito de seu funcionamento.

—---------------------------------------------------------------

— O que você está fazendo?

Dean foi pego de surpresa, e, vendo o rosto de Castiel surgir de repente a trinta centímetros do seu, deu um pulinho para trás.

— Lendo... - Gaguejou ele. - O manual era grosso, e até então Dean não localizara a informação que queria.

— Lendo o que?

Que androide mais curioso... Dean olhou para ele desconcertado. Sentia-se como se tivesse sido pego fazendo uma coisa errada.

— O seu manual... - disse por fim. Em seguida não pôde deixar de se maldizer por não ter pensado mais rápido e inventado uma mentira qualquer.

— Meu manual? Por que? - quis saber Castiel, exibindo um olhar cada vez mais curioso.

Dean engoliu em seco. Sabia que Castiel era só um robô... Mesmo assim não tinha coragem de dizer na cara dele que tinha a intenção de desligá-lo.

— Para saber melhor o que você pode e não pode fazer... - respondeu depressa. Dessa fez ele conseguiu pensar antes de falar o que não queria.

— Tipo ir a piscina!!?? Eu posso ir à piscina!!?? - o androide abriu um enorme e entusiasmado sorriso, fazendo com que o louro se sentisse o mais cruel dos mortais. Tadinho do Castiel... Não se esquecera ainda daquele negócio de piscina. O pobre mal começara a viver e ter experiências e Dean já estava pensando em se livrar dele...

Em pouco tempo Campbell já havia localizado a parte que falava em contato com água, e comemorou com sinceridade quando leu a boa notícia.

— Sim, você pode! - exclamou feliz, percebendo o quanto Castiel parecia ansioso, esperando pela a resposta.

— Então eu posso ir agora!?

Dean riu-se por dentro. Ele não sabia que robôs podiam sentir vontade, mas, pelo jeito, Castiel não era uma máquina qualquer. E a sua inocência era um tanto comovente...

— Agora está chovendo... Quando fizer sol eu te levo, Castiel. Ninguém vai à piscina com chuva...

O androide era obediente, e não insistiu. Sentou-se ao lado do dono, que desistira de vez em tentar desligá-lo. Primeiro porque não teria coragem de pesquisar sobre como fazer isso com Castiel ali, do lado dele... Depois porque agora o louro sentia uma pontinha de pena. Talvez pudesse mesmo dar uma chance ao coitado.

Depois de algum tempo calados, Dean teve uma ideia. - Você quer jogar xbox comigo? - perguntou.

Castiel não sabia o que era xbox, mas aquilo pouco parecia importar. Ele aceitou prontamente.

Aquela tarde, o tempo pareceu passar mais depressa. Castiel aprendeu a manusear o controle rapidamente, e Dean passou horas ensinando diferentes jogos pra ele. Precisou explicar todas as regras do basquete e do futebol, por exemplo, para que o robô pudesse entender os esportes.

—---------------------------------------------------------------

Castiel pareceu decepcionado quando Dean falou em desligar o jogo.

— É que o Sam já deve estar chegando daqui a pouco... - justificou-se Dean. Fazia parte de seu ritual diário tomar um longo banho, e esperar o marido bem cheiroso. - mas se você quiser, pode ficar jogando sozinho. - completou.

— Não... Sozinho não tem graça. - respondeu o robozinho, e Dean jurou que ele parecia um pouco emburrado. Mas fazer o que? Tudo o que ele não precisava agora era de um androide ciumento... Castiel precisava aprender que os momentos dele com Sam eram preciosos demais, e o louro não os trocava por nada.

Campbell acabou por colocar Castiel diante da TV e insistiu para que assistisse uma sequência de filmes. Assim ele ficaria entretido bastante tempo e poderia deixar os “adultos” brincarem em paz.

—---------------------------------------------------------------

Quando Sam chegou em casa, ficou feliz ao ver que seu amado parecia estar deixando a implicância de lado. Castiel estava quietinho vendo TV, e Dean contou ao marido sobre a tarde jogando xbox com o androide.

— Eu sempre soube que o Castiel seria uma boa companhia pra você! - comemorou o moreno. - O fabricante me garantiu que ele era capaz de fazer qualquer pessoa feliz. Só precisava mesmo de tempo para se adaptar ao novo dono...

— Acho que ele está com ciúmes de você agora... - Dean riu, achando divertido. Mas Sam não pareceu concordar com ele.

— Que bobagem, Dean... Castiel é só um robô...

— Tem razão... - concordou Dean. As vezes era difícil para o louro se lembrar disso. Castiel era mesmo apenas um robô. Mas é que realmente, ele não parecia...

—---------------------------------------------------------------

Aquela noite, Dean e Sam namoraram pouco na cama. Winchester estava cansado, e não custou a adormecer. Mas dessa vez, Dean não se importou. Estava ansioso para que chegasse o dia seguinte, a bendita sexta-feira! É que ele e Sam fariam quatro anos de casados naquele final de semana e o moreno prometera desmarcar todos os compromissos para que pudessem viajar e comemorar na sua bela casa do lago.

Dean aconchegou Sam, que dormia pesadamente, em seu peito. Suspirou, enquanto acariciava os cabelos de seu amado. Campbell estava com muitas saudades daquele cantinho pitoresco. O lugar onde conhecera seu marido e se apaixonara por ele, perdidamente...

O louro fechou os olhos e tentou dormir, mas seus pensamentos o levaram ao passado, o impedindo de relaxar completamente. Lembrou-se da bela manhã de verão, há pouco mais de seis anos, quando fora chamado para consertar o carro de um ricaço, que havia enguiçado em um local próximo à oficina onde trabalhava. Ou pelo menos foi o que lhe disseram.

Dean discordou. De próximo aquele local não tinha nada... Ou, pensou ele, talvez estivesse perdido... Foram quilômetros e quilômetros sem nenhuma civilização até que em um momento da estrada foi interceptado por um enorme grupo de seguranças. O louro, assustado, deixou-se revistar. Só estava ali para prestar um serviço!

— Você é o mecânico? Muito bem, o Senhor Smith está esperando. O carro do patrão está com problemas.

Os homens então, armados até os dentes, abriram caminho e deixaram que o jovem prosseguisse até seu destino final. Uma deslumbrante casa no lago, com um carrão preto parado na frente. Ao seu lado, um homem bem vestido, que Dean acertadamente pensou ser o Sr. Smith.

Logo Dean descobriu que o Sr. Smith não era o patrão, entretanto, e sim o chofer do poderosíssimo Sr. Winchester. O louro olhou o carro com cuidado.

— O que está acontecendo de errado com ele?

— Ele funciona bem. Depois, do nada, morre.

Dean suspirou alto. Não seria uma tarefa simples descobrir o problema do veículo. Teria que fazer diversos testes. O ideal seria levar até a oficina, onde ele poderia fazer seu trabalho com calma.

— Não! - protestou o motorista. - O Sr. Winchester é muito preocupado com questão de segurança. O carro não pode sair de sua propriedade.

— Ué, por que? Ele acha que vão colocar uma bomba no veículo? - Dean perguntou, sorrindo. Mas logo voltou a ficar sério ao ver que o Sr. Smith não pareceu achar graça nenhuma de seu comentário. Pelo jeito o tal Winchester era mesmo um homem paranoico...

—---------------------------------------------------------------

Dean trabalhou até tarde aquele dia. A noite, foi convidado a jantar por ali, junto com os seguranças, e dormir em um dos pequenos chalés que rodeavam a casa principal. Ele avisou ao patrão que ficaria por lá, a serviço, até conseguir resolver o problema. O ricaço estava pagando bem...

Foi no dia seguinte de manhã que o louro finalmente conheceu aquele que seria o grande amor da sua vida. Sam apareceu de mansinho, sem dizer palavra, e Dean até se assustou ao avistar um rapaz tão lindo, entretido a observá-lo trabalhar.

O moreno caiu na gargalhada ao ver o louro arregalar os olhos e dar um pulinho pra trás de susto.

— Desculpa se eu te assustei. É que você estava tão compenetrado... Eu não queria te atrapalhar.

Dean sorriu sem graça. Que rapaz lindo! Que sorriso lindo! Foi tudo em que pôde pensar...

— Você não me atrapalha... - gaguejou em resposta.

O moreno pareceu satisfeito. - Tem certeza!? Então vou ficar aqui te olhando, tá? E se eu estiver falando demais você me avisa. Dizem que as vezes eu falo demais...

Dean não estava se importando nem um pouco com a companhia do garoto. Muito pelo contrário. Em pouco tempo já estavam conversando animadamente, mas Campbell só se tocou que aquele era o filho do patrão quando chamaram-no para almoçar.

Sam voltou mais tarde. E depois, no dia seguinte também. Ele e Dean, apesar de serem de classes sociais tão diferentes, tinham algumas coisas em comum. Gostavam do mesmo tipo de música, eram ligados na natureza, e amantes do esporte. Torciam, inclusive, para os mesmo times de Basebol e Futebol americano.

—---------------------------------------------------------------

— Está tão quente! Não sei como você aguenta trabalhar nesse calor!

Dean afastou o suor da testa e olhou para trás. Era Samuel Winchester de novo. Seu coração bateu mais forte, e Dean repreendeu-o em pensamento. Não podia se apaixonar por aquele garoto milionário. Aquele história nunca daria certo...

Mas o coração de Dean não queria nem saber. Não aceitava conselhos. O moreno, lindo de morrer, estava sorrindo, e exibindo as covinhas. Ele batia acelerado sim, e com toda razão!

O louro apenas engoliu em seco e não disse nada.

— Você não quer descansar um pouquinho e ir nadar no lago comigo?

— Não posso... Eu tenho que trabalhar... - murmurou o louro, sem graça.

— Então vamos mais tarde? É muito chato ter que fazer tudo sozinho... Meu pai fica lá dentro o tempo todo. Ele trabalha até quando está de férias...

— Tudo bem então... - concordou Campbell.

—---------------------------------------------------------------

Mais tarde Dean e Sam se encontraram. O louro não perguntou nada, mas sabia que o garoto tinha saído escondido, pois nenhum segurança apareceu para vigiá-lo, como era de costume.

— Vamos ver quem nada mais depressa até ali! - desafiou Winchester, sorrindo. Apesar da escuridão, Dean podia ver o brilho que irradiava de seus olhos.

O louro nadou o mais depressa que pode. Quase conseguiu ganhar a corrida...

— Ganhei! - comemorou o moreno, como uma criança animada.

— Meus parabéns, falou Dean estendendo a mão ao mais jovem. Winchester ainda estava sorrindo quando apertou a mão do louro. Mas logo o sorriso cessou. O aperto de mão se afrouxou, mas eles não se largaram. Os olhos de um já estavam vidrados nos olhos do outro. A boca de um já se aproximava da boca do outro, trêmulas de desejo. E antes que percebessem os dois rapazes se beijavam. Era o início de uma linda história de amor...

—---------------------------------------------------------------

Dean sentiu seus olhos umedecerem. Fazia tanto tempo... Sam agora vivia sempre ocupado. Mas no dia seguinte se sentiria como o garoto de anos atrás: com o coração vibrando de alegria. Ao lado do meu amor. É... E ele não conseguiria mesmo dormir. Dean deixou Sam na cama, com cuidado, e foi se sentar com Castiel em frente à TV.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!