Coração de Lata escrita por Lady Padackles


Capítulo 4
Um ombro amigo de lata


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora! Não tive tempo de postar na semana passada... Espero que gostem do capítulo novo.



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Dean desligou o telefone, ainda sem acreditar no que acabara de ouvir. Então Sam iria trocar seu aniversário de namoro e a casa do lago por uma reunião com um grupo de japoneses que apareceu assim, do nada? Que ódio! Que raiva! Dean sentiu seu coração palpitar e um calor intenso subir até o seu rosto, roborizando-o.

Poucos minutos atrás, quando atendera o telefonema, o louro era pura alegria. Havia deixado Castiel assistindo vídeos no youtube, enquanto preparava coisas para levar na viagem. Já tinha inclusive avisado ao robô que ele e Sam precisariam se ausentar por uns dias, mas que ele poderia ficar por ali a vontade, mexendo no computador e na televisão, e se energizando com o sol que batia no jardim.

Castiel não compreendeu a princípio porque não poderia ir também. "É que nós somos casados... E aniversário de casamento é algo muito especial, para se passar a dois..." - foi a explicação que ouviu de seu dono. Depois disso, pareceu se conformar.

Dean foi fazer as malas, enquanto o robô teve que se contentar em se distrair na internet. Mas não demorou muito para que o moreno percebesse que algo parecia não estar indo conforme o planejado. Dean largara a mala aberta, de qualquer jeito, e, com uma expressão assustadora, se preparava para ir embora dali pela janela.

— O que você está fazendo? - perguntou o robozinho, se aproximando apressado.

— Vou dar uma saída. - respondeu o louro - Estou cansado de ficar aqui dentro... - respondeu Campbell enquanto analisava a parede do lado de fora, olhando pela janela. Era alto, mas com cuidado ele poderia arranjar onde apoiar os pés na descida.

Castiel olhou para o homem, reticente.

— Não seria mais fácil sair pela porta?

— Não! Eu não posso sair pela porta! - vociferou o louro, sem paciência. Tudo o que ele queria era se mandar dali o mais depressa possível para sentir o ar fresco e espairecer um pouco. Não estava a fim de dar explicações para Castiel, e muito menos para Sebastian ou Sam. Fugir pela janela parecia a melhor opção. Voltaria antes do marido. Ninguém perceberia sua saída... Sam nem mesmo perceberia o quanto ele ficara magoado.

O androide virou a cabeça ligeiramente, como se com o movimento pudesse raciocinar melhor.

— Você não pode sair por que? Está no seu manual?

Manual? A pergunta conseguiu arrancar um sorriso de Dean. Castiel era engraçado...

— Eu não tenho manual, Castiel. - respondeu o homem. - Só me espera aqui, quietinho, ok? E não conte pra ninguém que eu saí. Se o Sebastian bater na porta com comida você coloca pra dentro e diz que eu estou no banheiro.

— Você quer que eu MINTA pro Sebastian!? - O robô olhou para Campbell como se aquilo fosse um grande pecado. - Mas por que!?

— Porque sim! - disse o louro, sem se importar com o tom horrorizado do outro - Porque eu estou de saco cheio de ser prisioneiro e não quero ninguém me enchendo o saco! - E dizendo isso o rapaz escorregou janela abaixo, arranjando onde apoiar pés e mãos, e chegou são e salvo até o lado de fora.

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Seu coração batia freneticamente. Dean não sabia se era pelo fato de estar tão chateado com o marido, ou algum tipo de ataque de pânico, por estar saindo pela primeira vez sozinho depois de uma eternidade... Em geral ficava em casa, e quando saía, era com no mínimo um segurança de cada lado. Dean então lembrou-se que eles deveriam estar por perto, e pôs-se a correr em direção à rua principal do bairro chique onde morava.

O louro pensou em pegar um táxi, mas não tinha uma quantia muito grande em dinheiro. E se precisasse gastar com alguma emergência? Usar o cartão de crédito estava fora de questão. Melhor pegar um ônibus mesmo... Sem muita certeza de que direção tomar, o rapaz seguiu aleatoriamente para um dos lados e deu sorte de avistar um ponto. Ofegante, sentou-se no banco, ao lado de outras pessoas que esperavam a condução.

— Para onde estamos indo?

Dean pulou do assento, tremendo o susto que levou. Olhou para o lado arregalado. Era Castiel.

— O que você está fazendo aqui!? - perguntou o louro, alarmado.

— Eu ia pedir pra vir com você... Mas você saiu tão depressa, que não deu tempo...

Campbell respirou fundo. Tudo bem... Não era o fim do mundo. Muitas vezes ele não atendia o chamado de Sabastian a porta. Ou porque estava dormindo, ou tomando banho, ou até mesmo por falta de apetite e vontade de olhar a cara de tacho do empregado. O mordomo não insistia. Levava a comida de volta para a cozinha e esperava que o patrão avisasse quando estivesse com fome. Ninguém perceberia o seu sumiço ou o de Castiel...

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Dean e Castiel pegaram o primeiro ônibus que levava para a área central da cidade. A viagem demorou cerca de trinta minutos.
— Olha, que lindo! Que legal! O que é aquilo!? - exclamava e perguntava Castiel, super entusiasmado. Era a primeira vez que via o mundo do lado de fora, e o dia estava lindo.

Dean até esqueceu um pouco a tristeza. Sair com aquele robozinho maluco seria uma aventura interessante. Eles só não podiam chamar muita atenção...

Quando finalmente chegaram ao centro, Dean segurou o androide pelo braço e conduziu-o até o chamado "caminho do rio". Fazia muito tempo que não passeava por ali, e foi difícil não se emocionar com a beleza da paisagem. O belíssimo rio San Antonio, rodeado de pequenos e aconchegantes restaurantes e flores... Patos... Patinhos recém saídos do ovo nadando atrás da mamãe. Tudo muito lindo e encantador.

— Meu Deus! - exclamou Castiel, parecendo maravilhado. - Por que não viemos aqui antes!?

Dean quase sorriu. Deu de ombros.

— Não sei... - respondeu. E realmente não fazia sentido. Era ridículo que vivesse confinado em uma prisão domiciliar tendo um mundo lindo daqueles a ser explorado do lado de fora. Tudo porque Sam era paranoico... Mas se o marido não fazia o enorme sacrifício de deixar o trabalho de lado para comemorar seu aniversário de casamento, porque ele haveria de se sacrificar só para satisfazê-lo?

Dean tratou de afastar Winchester se seus pensamentos. Queria esquecer um pouco. Ser livre, como costumava ser há tempos atrás.

— Vamos passear de barco? Pode!?? - pediu Castiel.

— Vamos. - respondeu Dean. - O rapaz e seu androide então entraram em um dos barquinhos de turismo e foram conduzidos a um passeio ao longo do Rio, ouvindo a história da cidade. Sorte que não tinha gasto todo o seu dinheiro em um táxi!

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Depois de passear de barco, Dean e Castiel andaram bastante ao longo do rio. O louro almoçou em um restaurante simples e aconchegante, ao lado do androide, que, apesar de não comer, lhe fez companhia. Agora, descansava sentado na grama, curtindo o calorzinho gostoso do sol. Campbell estava cansado, mas o robô, cheio de energia, corria de um lado para o outro, vigiando os patinhos que nadavam no rio e as borboletas que voejavam por entre as flores.

Era bom estar com Castiel por perto. Ele lhe dava mais atenção do que Sam, mesmo sendo só um robô... Dean sentiu uma pontinha de dor no coração. Lá estava ele pensando em Sam de novo.

Como Sam podia achar que seu trabalho era mais importante que qualquer coisa na vida? O moreno nem sequer escondera o contentamento que sentia, quando lhe dera a notícia mais cedo, por telefone... Um grupo de japoneses, querendo fechar um grande negócio. Uma oportunidade imperdível... E eles poderiam comemorar o aniversário em qualquer outro momento.

Dean não protestou. Claro, poderiam comemorar em outro momento... Desligou o telefone furioso, mas não deixou transparecer. O ódio que sentira horas atrás, entretanto, agora se dissipara. Seus olhos se enxeram de lágrimas, o peito encheu-se de angústia e a garganta fechou-se em um nó. Antes que pudesse evitar, Dean estava chorando. As lágrimas desciam vagarosas em seu rosto, e ali, no meio de tantas famílias que passeavam juntas, felizes, ele sentiu-se o mais solitário de todos os mortais.

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Campbell, que estava com a cabeça baixa, nem percebeu Castiel se aproximar. Foi com delicadeza que o robô tocou o rosto do dono com a ponta dos dedos, limpando as lágrimas que lhe escorriam no rosto.

Dean espantou-se, e ao levantar o olhar, deparou-se com Castiel a observá-lo.

— Não chore. - disse o robozinho com uma expressão tão triste que fez o humano estremecer. - Assim você parte o meu coração...

E mais uma vez o androide dizia uma coisa engraçada. Estava assistindo a filmes demais... Desde quando robôs tem sentimentos? O que Castiel sabia sobre corações partidos? Mas Dean, dessa vez, não pôde sorrir, e continuou a chorar.

— Por que você está tão triste? - insistiu o moreno.

— É bobeira minha... Deixa pra lá. Eu queria viajar com o Sam, mas ele tem que trabalhar... - respondeu o louro, limpando o rosto, e respirando fundo para conter o pranto.

— Eu estou aqui com você... Pra te fazer companhia! Pra te fazer feliz... - explicou Castiel, em seguida. Mas aquelas palavras fizeram com que o louro chorasse ainda mais. E ele nem mesmo entendia porque. Talvez porque fosse comovente um robozinho sentir afeto por ele. Ou talvez porque o único que se importasse com ele de verdade, no mundo inteiro, fosse o tal robozinho...

Os pais de Dean não quiseram mais contato com o filho depois que se assumiu gay. Seus amigos, estavam todos afastados. Sam gostava mais do trabalho do que dele... Quando Castiel ofereceu um abraço, o louro não pensou duas vezes. Foi em seus braços, de metal, que sentiu-se reconfortar. Foi em seus ombros de lata que chorou, até aliviar a tristeza.

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Dean e Castiel chegaram em casa sem serem percebidos, como planejado. Quando Sam chegou, o louro estava recomposto e conversou com o marido como se nada de errado tivesse acontecido. Ouviu Winchester falar empolgado sobre o incrível negócio que estava fechando com os japoneses. E nem reclamou...

Aquela noite Dean, mais uma vez, teve dificuldade para dormir. Deixou o marido na cama e foi se juntar a Castiel na sala de televisão.

— Você está bem? - perguntou o androide, ao que Dean respondeu afirmativamente com um aceno de cabeça.

Sem dizer nada, o louro sentou ao lado do outro no sofá. Depois daquele dia de aventuras, Dean enxergava o moreno de olhos azuis de outra forma. Ele podia ser um robô, mas acima de tudo, tornava-se um grande amigo.


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