Coração de Lata escrita por Lady Padackles


Capítulo 11
Enquanto ele escolhia frango ou massa




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Dean saiu de dentro da sapataria. Sentou no meio fio e cobriu o rosto com as mãos. Ele não chorou. Já tinha gastado todas as suas lágrimas... Mas, de repente, o caminho de onde estavam até o ponto de ônibus pareceu longo demais. Estava um dia atipicamente quente para o outono, e o rapaz sentia-se esgotado, sem energia nenhuma. Conversar com Sam era a única coisa que poderia tranquilizar seu coração. Agora, nem mesmo sabia quando teria essa oportunidade. Seriam dias infinitos de agonia.

— Você está bem? - Castiel perguntou assim que saiu da loja, reencontrando seu dono.

— Estou cansado... E com calor... Só isso... - o louro respondeu, visivelmente abatido. - nós andamos demais... - completou, forçando um meio sorriso.

Castiel pareceu preocupado. Olhou em volta e então seu olhar se iluminou. De repente ele apontou para o hotel, que avistou do outro lado da rua. Dean nem tinha reparado nele antes, mas estavam a apenas poucos metros de distância.

— Você tem como pagar? - o robozinho perguntou esperançoso. - Podíamos descansar ali um pouco, antes de voltar pra casa, se você quiser...

Campbell concordou sem pensar duas vezes. Parecia uma excelente ideia. No hotel poderia tomar um banho, se refrescar e tentar relaxar um pouco. Ainda era cedo. Teriam tempo de sobra para descansar e voltar para casa a tempo da janta - quando sua ausência poderia ser percebida por Sebastian.

Castiel segurou na mão do louro, ajudando-o a se levantar, e, em seguida, andaram em direção ao tal hotel – que tinha o mesmo nome da rua: South Congress.

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— Identificação, por favor. - Pediu Miss Brook, a recepcionista.

Dean entregou sua carteira de motorista.

— O senhor também, por favor. - ela pediu, dirigindo-se a Castiel.

— Ahh, ele não tem... - Dean foi tratando de avisar. - É que... - O rapaz coçou a cabeça. O que ele ia dizer iria soar estranho demais.

— Eu sou um robô! – o androide foi logo avisando, com um enorme sorriso no rosto.

— Como!? - a moça achou que estivessem brincando.

— É... - Dean repetiu em voz baixa. - Eu sei que não parece... Mas... Castiel é um androide e...

A recepcionista estava boquiaberta. Se aqueles dois achavam que ela ia cair naquela história, estavam muito enganados. Ela não era nenhuma idiota... Aquele rapaz moreno que estava diante dela era tão humano quanto o outro. Tão humano quanto ela mesma...

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— Não foi engraçada a cara da mulher quando mostrei que meu pulso, por baixo da pele, era de metal? - o androide perguntou divertido.

Dean assentiu. Teria achado graça no espanto e horror que se estamparam na cara da pobre Miss Brook, caso estivesse de melhor humor. Naquele momento, entretanto, tudo o que o louro queria era se enfiar debaixo da água fresca do chuveiro e esquecer um pouco de que ele não sabia mais o que fazer da sua vida. Sua cabeça agora latejava – talvez castigo por ter fingido uma dor de cabeça na noite anterior.

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Dean estava deitado, de olhos fechados, quando começou a sentir seus cabelos serem tocados de forma cuidadosa.

— Está tudo bem com você? - Castiel perguntou baixinho, enquanto prosseguia com o cafuné.

— Eu estou com dor de cabeça, mas já vai passar.

— Está doendo aqui? - o androide perguntou então, tocando o cocuruto do rapaz.

— Não, Cas... Aqui... - o outro disse, achando um pouco de graça, e apontando para suas têmporas.

O robozinho não disse mais nada. Começou a massagear o local dolorido com imensa habilidade, passando dali para a nuca e o couro cabeludo. E não é que estava aliviando a dor? Aquele androide era mil e uma utilidades...

Dean fechou os olhos novamente e deixou que o outro prosseguisse com a massagem. Finalmente estava conseguindo relaxar. Estava muito tenso desde a noite anterior... Depois veio a constatação de que precisava conversar urgentemente com o marido, e o balde de água fria que recebera com a notícia de que Sam ia para Moscou.

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Falando eu Moscou, Sam não estava nem um pouco satisfeito com a viagem que estava prestes a fazer. A reação de Dean ao telefone só servira para fazê-lo se sentir ainda mais culpado. Não bastava ter sido responsável pela demissão de vários funcionários - gente que tinha família, e que precisava do emprego... Agora sentia-se culpado também por deixar seu marido sozinho mais uma vez. Era evidente na voz do louro o quanto a notícia de sua viagem o abalara.

Talvez Oliver estivesse certo. Contar dos problemas que enfrentava na empresa para Dean poderia torná-lo mais compreensivo em relação às viagens de última hora, e horas extra no escritório. Por outro lado, se ele conseguisse o investimento de que tanto precisava, reergueria a empresa, e teria evitado que seu marido passasse por um estresse desnecessário. Afinal quando Winchester insistiu que Campbell deixasse de trabalhar, era sob a garantia de que ficariam bem. A falência de sua empresa, algo que agora tanto preocupava o moreno, na época era totalmente impensável.

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Dean só se lembrava de estar deitado, recebendo uma massagem na cabeça. Quando deu por si, o rosto de Castiel estava muito próximo ao seu. Seus lábios, praticamente se tocavam. Campbell abriu os olhos ainda muito sonolento, sem saber se estava sonhando.

— Castiel... - ele balbuciou com a voz fraca. Sabia que o certo era se afastar, mas seu corpo pedia por mais contato. Dean simplesmente não conseguiu se mover.

O robô então abraçou o homem com força, com uma das mãos. Com a outra, apoiou a cabeça de Dean, e aproximou-se com cautela, finalmente tocando os lábios do dono com os seus.

Campbell prendeu a respiração. Seu coração parecia que ia sair pela boca. As mãos de Castiel em contato com seu corpo o arrepiavam dos pés à cabeça. Instintivamente o rapaz envolveu o corpo do robozinho em um abraço.

O beijo suave, logo se tornou urgente. A língua de um invadia a boca do outro com todo o desespero de quem esperou por tempo demais. Dean comprimiu o corpo de Castiel contra o seu. Suas ereções se tocaram. Sim, Castiel também parecia excitado com a esfregação...

Naquele momento era impossível para Dean lembrar que aquele não era um homem como qualquer outro. Aliás, não como outro qualquer... Ele não se apaixonava por qualquer um. A sensação que tinha era de estar tocando uma pele humana, suave, cobrindo músculos rijos. E seu beijo era quente, molhado... Simplesmente delicioso!

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— Meu Deus, como vou viajar nesse espaço minúsculo? Como vou conseguir dormir desse jeito?

Sam reclamava e se lamentava com Oliver, que ouvia a tudo calado. era a primeira vez que seu patrão viajava na classe turística. Winchester era um homem acostumado ao luxo e a todas as regalias e conforto que o dinheiro podia comprar. Mas não daquela vez... Já que estavam cortando gastos, precisava cortá-los de todo jeito.

Oliver olhou Winchester e ficou com pena. Viajar daquele jeito haveria de ser uma tortura para ele, principalmente em se tratando de um homem de quase dois metros de altura.

— Vai dar tudo certo... Estou com esperança de que dessa vez vamos conseguir o investimento. - Queen disse então, tentando animar o amigo, apesar dele mesmo não estar bem certo se acreditava nas próprias palavras.

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Castiel arrancou sua camisa, e ajudou Dean a se despir da sua também, fazendo o louro se deliciar com o contato de pele com pele. Mas, apesar da vontade de ir até o fim ser gigantesca, Dean ainda tentava evitar.

Ele já estava decidido a conversar com Sam sobre os fortes sentimentos que tinha por Castiel. Isso por si só, já era ruim o suficiente. Agora teria que incluir que em um momento de fraqueza se beijaram... Se abraçaram... Mas, pelo menos, tinha se controlado para não ir mais além.

Engraçado que o próprio Sam transara com o androide na noite anterior. E na frente dele... Engraçado como ele não se sentia traído, pois o marido via o robô como um simples objeto. Os beijos que ele, Dean, dera em Castiel, tinham sido traição muito maior. Se chegasse a transar com o androide então...

— A gente... Devia ir pra casa... - Campbell então falou com a voz entrecortada, enquanto o androide prosseguia com as carícias. Se continuassem com toda aquela deliciosa esfregação ele não conseguiria mais responder por si.

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— Frango ou massa?

Sam olhou estupefato para a aeromoça. Estava sentado desconfortavelmente, com as pernas encolhidas, torcendo pela hora do jantar. Não era fã de comidas de avião, mas estava faminto, e esperava pelo menos por algo decente.

— Não tem um cardápio?

— Não senhor. Por favor, é frango ou massa?

— Sam, escolhe alguma coisa... Aqui não tem cardápio! - Oliver pediu um tanto envergonhado enquanto a aeromoça olhava com cara de pouco amigos.

Winchester então pediu frango. Também não serviam champanhe... De alcoólico, apenas um vinho barato que ele mal conseguiu beber.

— Essa gogoroba está horrível... E eu nem consigo sentir mais as minhas pernas nessa lata de sardinha! Que merda! - Sam voltou a reclamar. Ele agora se sentia no porão do Titanic, viajando com Jack e os ratos...

Oliver suspirou. Não tinha mais o que falar... Só torcia para aquela viagem terminar logo.

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O louro pagou o exorbitante preço da diária da suíte que utilizaram por pouco mais de três horas. Pelo menos tinha pego dinheiro de sobra. Sam nunca perguntava com o que ele gastava, e isso era bom. Não que Dean fosse gastador, mas principalmente agora que pretendia passear mais com Castiel, ter dinheiro para fazer o que quisesse era bom.

Logo Dean e Castiel já estavam dentro do ônibus, voltando pra casa. O louro reparou, entretanto, que o robozinho estava quieto. Todo o entusiasmo que apresentara no inicio do dia parecia ter se esvaído por completo. Se ele fosse humano, imaginaria que estava apenas cansado. Mas androides não se cansam...

— Está tudo bem com você, Cas?

O robô então encarou o seu dono. Fitou-o durante alguns segundos antes de responder, como se estivesse escolhendo as palavras.

— Dean... Você sabe que eu gosto de você... Gosto muito de você... Na verdade... - ele suspirou - eu amo você, Dean...

O louro arregalou os olhos. Aquelas palavras mexeram imensamente com ele, e Campbell sentiu um enorme frio da barriga. Ele também gostava de Castiel. Talvez até o amasse também...

— Eu sei, Cas... Eu também gosto de você... - a voz do homem saiu quase apologética.

— Você acredita no meu amor, Dean? Acredita mesmo? Mesmo eu sendo um robô?

Dean estremeceu. Há tempos atrás, duvidara que um robô pudesse ter sentimentos. Sam então, tinha certeza disso até hoje... Mas não. Castiel o convencera do contrário. Em vários momentos ele foi capaz de perceber que o androide podia sentir tanto quanto qualquer ser humano.

— Eu acredito sim, Castiel. Mesmo você sendo um robô... - o rapaz se limitou a responder.

O robozinho fez mais uma pausa, provavelmente para reflexão.

— Eu queria te perguntar... Queria saber... - Castiel abaixou o rosto, como se pudesse estar envergonhado com que estava prestes a dizer.

— O quê? Pode falar...

— Se eu fosse humano... As coisas seriam diferentes, né? Eu ia comer no restaurante com você... Ia dormir no mesmo horário que você... Ia sentir calor, e ia sentir frio... Aí, Dean... Se eu fosse humano... Você acha que poderia me amar também?

O coração de Dean palpitava com a expectativa do que estava por vir. A pergunta final, pegou-o desprevinido. O rapaz sentiu seus olhos marejarem.

— Cas, nada disso importa. Eu não gosto menos de você porque é um robô... Por favor, não pense assim... Se eu não fosse casado... As coisas poderiam ser diferentes, sabe?

Castiel fez uma carinha inocente.

— Casais podem se separar... - disse então baixinho, quase para si mesmo.
 
    


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