Coração de Lata escrita por Lady Padackles


Capítulo 10
Cansados demais




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Dean não conseguiu dormir a noite. Ficou um pouco mais tranquilo depois de perceber que Castiel, apesar de não ter exatamente apreciado a experiência, não parecia ter percebido a extensão da violência que havia sofrido. Ele, Dean, estava chocado, e não conseguia esquecer o que acontecera.

Após muito refletir, o louro não podia mais imaginar como havia conseguido se omitir. O que Sam fez à Castiel era inaceitável e ele precisava ter uma conversa séria com o marido. Mesmo que Winchester o considerasse um maluco, ele não iria mais se calar. Ou enfrentava o moreno, ou teria que vê-lo estuprando o androide todas as vezes que tivesse vontade, e sempre que Campbell não estivesse a fim de transar. Ele simplesmente não podia admitir que Winchester continuasse tratando Castiel como se fosse um objeto qualquer. O louro acreditava que ele tinha sentimentos sim, e estes, deviam ser respeitados.

Ora chorava, ainda abalado com o ato que presenciara, ora imaginava como haveria de ser a conversa com o moreno. Dean só conseguiu pregar o olho quase ao amanhecer. Por estar tão cansado acabou não acordando quando Sam se levantou para trabalhar.

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Winchester acordou cedo e se arrumou com pressa. Olhou na penumbra seu marido dormindo, e achou que tinha um aspecto abatido. Dean pelo jeito devia ter mesmo pego uma gripe daquelas. Pobrezinho... O moreno deu um beijo de leve na testa do outro, que se remexeu sonolento na cama. Em seguida, suspirou pesadamente. Mais um terrível dia de trabalho esperava por ele...

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Quando Dean acordou, viu que Sam não estava mais por ali, e ficou bastante frustrado. Ele devia ter colocado o despertador! Precisava tanto conversar com o marido... O louro levantou-se com o rosto ainda muito inchado pelo tanto que chorou durante a noite. Assim que saiu do quarto, deu de cara com Castiel.

— Bom dia. - exclamou o robozinho sem muita animação.

Dean sentiu seu coração apertar. Queria ver o androide de bom humor, e não com aquela carinha triste. Faria o que fosse preciso... Sentia-se culpado por não ter interferido na noite anterior.

— O que você quer fazer hoje? - perguntou então, tentando animar o amigo.

O robô pareceu pensativo. - Eu quero sair de casa... - finalmente respondeu, colocando um sorriso no rosto.

Dean, apesar de exausto, teria aceitado sem pestanejar. Faria qualquer coisa por Castiel naquele momento. Mas ainda não sabia como fugir da mansão onde moravam...

— Mas eu sei! - exclamou o androide, quando Dean expôs o problema. - Ontem, estudando os seguranças, cheguei a algumas conclusões.

Campbell ficou boquiaberto quando Castiel começou a explicar um plano de fuga que envolvia um monte de variáveis correlacionadas e muito complexas. A hora em que um empregado ia ao banheiro, a hora que iam se alimentar, o momento de flerte entre dois grandões que Castiel jurava serem amantes. Para o louro, o plano do androide parecia a loucura mais complicada do universo. Mas Castiel lhe garantiu que funcionaria, e o rapaz achou que ele merecia uma chance de provar que estava certo. Para voltar ao casarão, outro plano tão ou mais estapafúrdio...

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Enquanto isso, Sam estava vivendo, provavelmente, seu pior dia desde que assumira a empresa do pai. Ele não conseguira o investimento que precisava, e cortes eram necessários. Sem escolha, junto com Oliver e outros assessores, o rapaz se sentou para decidir quantos e quais funcionários seriam demitidos.

Aquela era uma tarefa muito difícil. Sam era um patrão descontraído. Brincava com todo mundo. Gostava de todo mundo... Conhecia muitos funcionários pelo nome, até mesmo os mais humildes. Mas os cortes precisavam ser feitos de maneira estratégica. Alguns eram mais importantes que outros para o funcionamento da empresa. Os supérfluos seriam cortados.

— Mas o Sr Smith trabalha aqui desde que eu me entendo por gente... Ele não! Ele eu não corto! - Sam estava inflexível.

— Mas, Sr Winchester. Nós temos que cortar pelo menos trinta por cento do pessoal. O Sr. Smith já está velho, e ganha mais do que devia. Ele não vai fazer muita falta... - ponderou uma das assessoras.

O Sr Smith faria diferença sim... Ele era simpático, e sempre lhe cumprimentava sorrindo. Sam pediu licença para ir ao banheiro, e enfiou a cabeça debaixo da pia. Estava com calor, apesar do ar condicionado forte da sala de reuniões. Tudo o que ele queria naquele momento era poder sumir daquele lugar. Estava cansado. Cansado demais...

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Algum tempo depois, após colocarem o plano de Castiel em ação, homem e robô viram-se livres, do lado de fora.

— Você é um gênio! - o louro exclamou, elogiando o amigo.

Castiel sorriu de uma orelha a outra. Parecia agora muito contente. Decidiram explorar Austin mesmo, ao invés de ir para algum lugar mais distante, como fizeram da outra vez, indo para San Antonio.

Dean, que já planejava fugir há algum tempo, tinha saído com antecedência, cercado por seguranças, e pego uma boa quantia em dinheiro. Achava arriscado usar o cartão de crédito, já que estava se aventurando contra a vontade de Sam.

Os dois amigos pegaram um ônibus. Castiel, parecendo feliz da vida, apreciava e elogiava qualquer coisa que visse da janela.

O louro, ao contrário, sentia-se mais cansado do que nunca agora. Não conseguia parar de pensar em como sua vida havia se tornado complicada... Sentia um enorme aperto no peito, não só pelo que acontecera na noite anterior. Aquilo havia sido apenas a ponta do iceberg. Algo que precisou acontecer para que ele finalmente parasse para refletir...

Ele estava dentro de um ônibus, fugindo de casa com seu robô de estimação. Ele, um homem de mais de trinta anos de idade. Fugindo de casa... Após chorar a noite toda, porque seu marido havia estuprado do tal do robô. Um robô que ocupava um espaço cada vez maior no seu coração... Isso era coisa de doido. Coisa que só acontecia em novela. Mas agora, estava acontecendo com ele...

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— Onde vamos saltar?

A pergunta de Castiel cortou os pensamentos do dono. Dean nem tinha certeza. Iam em direção ao centro, e era só isso que sabia.

— Não sei, Cas. quando chegarmos a algum lugar interessante, a gente desce...

O robozinho olhou confuso. - mas aqui é interessante! - exclamou.

Dean sorriu sem muita vontade. Haviam acabado de sair da Mopac Expressway. Estavam ainda longe de qualquer coisa bacana.

— Daqui a pouquinho, Castiel...

O robô então calou-se e voltou a prestar atenção no que via do lado de fora.

Dean recostou a cabeça no banco. Talvez o único jeito fosse mesmo desabafar com Sam. Devia contar ao marido que estava gostando do androide mais do que deveria. Não gostava de mentiras... Setia-se péssimo pelo que estava acontecendo. Se o moreno quisesse enviá-lo a um psicólogo, ou fazer terapia de casais, ele nem se oporia. Acharia ótimo. Afinal, talvez, ele estivesse mesmo ficando maluco...

Olhou em seguida para Castiel, encantado com a movimentação sem graça das ruas. O robô era como uma criança grande... Dean sorriu com ternura. A única coisa que não permitiria era que seu marido se voltasse contra ser tão doce e inocente. Já que o tinham levado para casa, deveriam se responsabilizar por ele. Manter o robozinho feliz...

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— Sam, se você não consegue decidir, vou ter que decidir por você. Assim não é possível. Se você não quer demitir ninguém, essa empresa não tem mais jeito... - Oliver Queen bufava. Estava cansado daquela reunião que não parecia ir a lugar algum.

Sam baixou a cabeça.

— Tudo bem. Faz o que você quiser... - admitiu por fim, para surpresa se todos. Ele não estava mesmo conseguindo selecionar nomes sem se sentir extremamente triste e culpado. - Dou carta branca a você, Oliver, Decida por mim.

Winchester se retirou cabisbaixo. O pior é que nem com todas aquelas demissões estariam em situação confortável. Ele precisava de mais investimento, e precisava tentar a sorte em outros lugares. Seria um longo dia ao lado do telefone.

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Quando chegaram a South Congress, Dean finalmente achou que estava em um bom momento de descer. Era uma rua comprida, muito movimentada e cheia de lojas e restaurantes moderninhos. Poderiam caminhar por ali e olhar as vitrines.

Castiel gostou das lojas. Queria parar em cada uma delas para apreciar as mercadorias.

— Você quer alguma coisa? Eu compro pra você... É só não contar pro Sam. - Dean perguntou. Estava ali para agradá-lo afinal.

Mas Castiel nem mesmo sabia do que gostava. Eram tantas coisas diferentes... Ele contentava-se apenas em olhar os produtos, admirado.

Campbell gostava de ver a animação do amigo. Apesar disso, rezava para o tempo passar depressa. Acabava de concluir que seu coração só se tranquilizaria quando chegasse em casa e finalmente tivesse uma conversa franca com Sam. Ele precisava colocar suas angústias pra fora. Quem sabe não conseguisse convencer o marido a deixar o trabalho um pouco de lado para passarem alguns dias na casa do lago... Talvez precisassem mesmo de um tempo a sós. Pensaria em alguma coisa para entreter Castiel enquanto estivessem fora...

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Horas mais tarde, Sam já havia ligado para meio mundo. Oliver estava ao seu lado, ajudando nessa tarefa também. A listinha com os nomes dos demitidos estava pronta, e de cima da mesa, encarava Winchester desafiadora.

O moreno suspirou. - Vou tentar aquele grupo da Rússia de novo... - disse para Queen, discando o número que antes caíra na caixa postal.

Dessa vez Winchester obteve resposta. Ficou quase meia hora falando com os caras, e ao final, uma pontinha de esperança iluminou seu coração. Eles estavam dispostos a negociar. Mas tinha que ser pessoalmente...

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— O quê? Moscow!? - Dean achou que fosse enfartar. Estava com Castiel olhando botas de Cowboy em uma loja de calçados country quando seu celular tocou. Agora recebia a horrível notícia de que Sam iria viajar de novo. E dali a poucos minutos...

— Desculpa, meu amor. É assunto importante da empresa. Vou levar umas roupas que guardo de emergência aqui no escritório. Nem vou poder passar em casa pra me despedir de você...

Por isso, Dean deu graças a Deus. Seria uma tragédia se o marido chegasse em casa e ele estivesse na rua, fugido. Mas por que Winchester tinha que sair assim, sem mais nem menos? Ele era dono ou escravo daquela porra de empresa? O louro sentiu seus olhos marejarem. Logo naquele dia, que ele precisava desesperadamente conversar com o moreno...

— Sammy, não vai... Por favor... - o louro implorou. - Eu mal te vi ontem a noite... Não pode pelo menos adiar alguns dias?

— Não! Os voos de amanhã já estão lotados. Dei sorte de conseguir esse hoje. Eu preciso ir, Dean! - respondeu enfático.

Campbell sentiu que não adiantaria mesmo insistir. O rapaz sentiu suas pernas bambearem, e o ar faltar em seus pulmões. Despediu-se do marido desejando-lhe boa viagem, e fez sinal para Castiel, que passeava pela loja experimentando uma bota bicuda de cano muito alto. Esperaria pelo robozinho do lado de fora...

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— Sam, porque você não conta logo pro seu marido? O Dean deve estar puto com todas essas viagens... Assim parece que você não está nem aí pra ele...

Winchester olhou para Oliver sem muito entusiasmo. Não tinha pedido sua opinião... Dean era um homem sensível. Não queria despejar sobre ele problemas que estavam fora de seu alcance. O faria sofrer a toa...

— Não quero que ele se preocupe sem motivo. Nós vamos sair dessa crise, e o Dean nem vai ficar sabendo...
Oliver deu de ombros.

— Bem, você que sabe... A Cassandra está muito mais compreensiva sabendo sobre o que estamos passando. Não fosse por isso ela já teria surtado com essa viagem de última hora...


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