AMORES VIRTUAIS escrita por Projeto Literário ColetâneaS, Georgeane Braga, Maxine Sinclair, Hanna Martins, Piper Palace, Sr Devaneio, itsmemare, arizonas, Serena Bin, Amauri Filho, Sabrina Azzar, Leeh, Natasha Alves


Capítulo 13
Conto 13 - Made In Korea


Notas iniciais do capítulo

Olá, me chamo Nicoly Simarque (Nick) e quero primeiro pedir minhas desculpas pois sou péssima em apresentações, mas faço o possível.
Tenho uma divida com a Georgeane por ter me aceito no projeto e só tenho agradecer, pois fui muito bem recebida por todos, até me encanto em ver o quanto todos compartilharam suas ideias, seus pensamentos e aprendemos muito uns com os outros. É uma união que deixa tudo melhor.
E estou tão feliz por estar aqui finalmente contando a vida Emma e tudo o que ela passou e triste por ter acabado, foi muito bom escrever sobre Emma, eu estou muito satisfeita com o que eu escrevi e espero realmente que vocês sintam o mesmo que eu senti ao escrevê-la.

Sinopse:
Após perder o noivo em um acidente, Emma entra em um estado depressivo, tudo muda, seu jeito, sua família e seu emprego, até que decide fugir do mundo atual entrando em um curso virtual, achando que aprender um idioma difícil ajudaria a esquecer de seus problemas familiares, até que conhece Kim Hyung, um jovem professor coreano e descobrem ter os mesmos interesses, em meio as conversas, eles se apaixonam e começam a travar um conflito de famílias e ai surge um amor impossível.

Trilha Sonora: Mirrors (Justin Timberlake)



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 Um ~ O Ultimo Beijo

“Nós manteríamos todas as nossas promessas
Seriamos nós contra o mundo
Em uma outra vida, faria você ficar
Então, não teria que dizer que você foi
Aquele que se foi...”

Katy Perry~The one that got away

            Eu estava noiva, era o dia mais feliz da minha vida, meus pais estavam orgulhosos de mim pela primeira vez em vinte anos, Ivo era o homem que eu passaria                                                                                        o resto da minha vida e lá estava eu, me preparando para fazer os últimos ajustes do vestido.

            – Como vai a noiva mais linda desse mundo? – Ivo pergunta surgindo atrás de mim.

            – Feliz por ter o mais maravilhoso dos noivos. – Sorri olhando para o reflexo no espelho da penteadeira.

            Me levantei e ele me abraçou.

            – Queria poder ir com você.

            – Dá azar ver o vestido antes do casamento. – Entrelacei meus braços em volta de seu pescoço.

            – Então quero um beijo da minha noiva.

            – Vocês me dão borboletas no estomago – disse Beatrice, minha melhor amiga – e beijo também dá azar, então vai ter que esperar até a cerimônia.

            – Não vou aguentar até a noite.

            – Para de drama, vocês vão ter a vida inteira para poderem dar mais do que beijos, como se não já fizessem isso antes. – Ela sorriu e completou: – Vão se enjoar um do outro com o passar dos anos e terão filhos.

            – Nossa, você tem uma visão linda de casamento, Bea, porém meu casamento será perfeito, vamos acordar s sete, tomaremos café juntos, vou deixá-la na editora e vamos viver a cada dia sendo felizes.

            – Se está dizendo, eu só te digo uma coisa... – Ela chegou perto, apontou o dedo para ele e continuou: – Se você magoá-la, eu arranco seu precioso.

            Ela sorriu e andou até perto da porta, cheia de si.

            – Por mais que você queira fazer isso, eu amo a Emma e nunca vou te dar esse gostinho.

            Ele me beijou intensamente, foi tão profundo que pude sentir nossos corações nas mesmas batidas e em um mesmo ritmo, ali nossas almas estavam conectadas, o nosso amor era daqueles que só vivia uma vez.

            – Nunca se esqueça, Emma... Eu te amo.

            Pude sentir lágrimas se formando e ele me deu um último beijo na testa, colocou algo em meu pescoço, era a nossa aliança em uma corrente, sorri e sai com Bea. Chegando ao local da prova, quando coloquei aquele vestido perfeito branco, com um detalhe prateado na cintura como um cinto delicado, parecia que tinha algumas pérolas da cintura até o fim e no busto era justo, era tão perfeito, parecia da realeza.

            – Você... está... perfeita – Bea disse parecendo estar sem palavras.

            – Nem acredito que depois de cinco anos vamos nos casar.

            – Ele só esperou você conseguir o estágio.

            – Sim, logo acabo a faculdade e começo a trabalhar lá mesmo.

            – Eu achei tão bonito o que ele fez, em todos os anos namorando, sempre planejando o futuro e sempre te colocava nesses planos, fizeram a casa aos poucos e agora o casamento.

            – Sim, está saindo exatamente do jeito que planejamos, às vezes acho que estou em um sonho.

            – Você merece, já passou por muita coisa.

            Olho-me novamente no espelho e dou um leve sorriso.

            – Sente-se aqui, para podermos te deixar mais linda do que é, e você também, madrinha – Lucia, a dona do espaço de noivas, de noiva disse.

            Passamos horas ali, fizemos unhas, cabelos, maquiagens e tudo, deram as últimas ajeitadas no vestido e começamos a nos vestir, dei uma última olhada no espelho e algo em mim parecia estar errado e em minha face transbordava isso.

            – O que foi? – Bea perguntou.

            – Nada, só me veio um sentimento ruim.

            – Calma, é ansiedade, apenas isso.

            – Deve ser.

            Nos levantamos e fizemos os últimos retoques, saí e o dia que estava lindo parecia querer mudar, as nuvens pareciam avisar. Olhei e vi uma limusine e, entramos.

            – Ele só está ganhando ponto comigo e por ter me deixado levar a aliança então.

            – Ele disse que seria legal e diferenciado você levando.

            Eu estava completamente feliz, mesmo com um pressentimento ruim, eu o amava mais do que qualquer coisa, ele era a luz que clareou a minha vida desde meus nove anos, ele era a pessoa que me apoiava e sempre estava ali quando eu precisava, além de namorado, ele era amigo e agora estávamos prestes a ser marido e mulher, a nossa casa ele deixou do jeito que queríamos, eu não tinha nada a reclamar e só agradecer, olhando para a janela vi umas gotas de chuva começar a cair, o pequeno trajeto até a igreja estava devagar, estávamos em um engarrafamento.

             Vi um monte de gente correndo, havia algo mais a frente, abri a porta e olhei fixamente para aquele carro virado e a pessoa deitada no chão, meu coração gelou, era Ivo ou eu estava vendo coisas, saí da limusine e fui correndo, ouvi Bea me chamar, mas ignorei, eu entrei em pânico, parecia que iria começar a chover, as pessoas me olhavam enquanto eu corria perplexas. Tudo ao meu redor parecia sumir e eu só via Ivo naquele estado, quando cheguei até a ele, com aquela blusa social branca suja o vermelho de seu sangue, abaixei e nem pensei naquele momento, peguei com cuidado sua cabeça em volta de meus braços, meus olhos se encheram d’água, ele abriu seus olhos e sorriu.

            – Emma – disse cuspindo sangue.

            – Fica quieto, amor, não faça esforço. – Eu não sabia o que fazer e comecei a gritar pedindo ajuda. – Alguém chamou a ambulância, chamem logo, pelo amor de Deus.

            – Você está tão linda. – Todos estavam ligando pedindo socorro.

            – Não se esforce, eu lhe imploro.

            – Eu disse que queria te ver antes e consegui, você é a noiva mais linda que já existiu. – Sua voz estava falha e quando mais ele falava, mais cuspia sangue.

            – E você é o noivo mais lindo e perfeito que alguém poderia ter.

            – Emma, você me promete que vai continuar e nunca vai desistir dos sonhos que construímos juntos? Que mesmo sozinha, vai continuar?

            – Do que está falando? Vamos realizar tudo juntos assim como me prometeu quando tínhamos quinze anos e assim como vem fazendo em todos esses anos.

            – Emma, sabemos que não vou... Você sabe.

            – Não sei, só sei que vou te levar para o hospital.

            – Fica quieta e me escute, não vou chegar até lá e eu quero que saiba que eu te amo mais do que tudo nesse mundo, você é a razão de tudo e prefiro morrer sabendo  que você está bem, me prometa que vai continuar.

            – Ivo, eu te amo e não posso te perder, sem você eu não sou nada, eu não posso e não quero uma vida sem você, tudo o que eu planejei foi com você, nossos filhos, nossa rede, por favor, não me deixe.

            Ele sorriu.

            – Eu nunca vou te deixar, não importa onde... eu nunca deixarei você, sempre estarei em seu coração quando sentir sozinha...– Ele tossia muito e tinha muita dificuldade para falar mais nenhuma dificuldade o parava – não vai estar, estarei contigo sempre, você não vai me perder, Emma, nunca vai, saiba que sempre foi amada, nunca fiz nada para magoá-la e espero que você siga em frente... mesmo sem mim.

            – Não me peça isso, não posso ficar melhor sendo que já tive o melhor... que sempre será você.

            – Você vai, me prometa que ficará bem, para que eu possa partir feliz, por favor, Emma.

            Meus olhos não aguentaram, lágrimas desciam assim como a chuva começava a cair intensamente, espalhando o sangue pelo chão.

            – Prometo, eu prometo nunca te esquecer, realizar tudo o que queríamos.

            Em seu rosto, sua expressão era terna, sua mão tocou meu rosto o aproximou do seu, nos beijamos mesmo com toda aquela chuva e mesmo com toda a esperança que ainda tinha, no fundo sabia que aquele era o nosso ùlyimo beijo.

            – Emma... Eu te amo, nunca se esqueça.

            – Eu também te amo e nunca vou te esquecer.

            Ele olhou para o colar que ele havia me dado mais cedo e sorriu novamente e aos poucos seus olhos foram fechando, sua expressão era tranquila, e então deu seu último suspiro. O meu desespero tomou conta, olhei para a minha frente e Bea me olhava chorando e negando com a cabeça, a ambulância tinha chegado e eles estavam correndo e eu o abraçava, eu me recusava deixá-lo, um dos socorristas me segurou e o tiraram de meus braços, eu sabia que era tarde demais, mas eles o levaram para o pronto socorro mais próximo.

            Chegando ao pronto, eu estava encharcada, o vestido branco com uma cor intensa do sangue em algumas partes e o preto do asfalto estavam em uma mistura, minha maquiagem já estava borrada de tanto chorar, meus cabelos embolados estavam um desastre por causa da chuva, enquanto eles estavam o levando para uma sala, eu ia atrás, e fecharam a porta para que eu não entrasse.

            – Sinto muito, senhorita, a área é restrita – a enfermeira de roupa verde dizia com uma expressão triste.

            – É meu noivo, eu preciso ficar com ele, eu preciso...

            – Eu sei e não há nada que possa fazer, eles vão fazer o possível, eu prometo – disse me abraçando e me tirando de lá.

            Ela me levou para o sofá que ficava ao lado daquela sala, me sentei em choque, eu fixei em um ponto e cantarolava a canção que ele dizia ser nossa canção, All Of Me do John Legend, eu não respondia ninguém, apenas chorava e cantarolava. Bea, poucos minutos depois, chegava junto com o resto da família e amigos próximos, todos ao meu redor e ela ao meu lado, colocando as mãos em meu ombro.

            – Vai ficar tudo bem. – Eu não a respondi depois de ela dizer isso, eu continuava olhando para um ponto imaginário e cantarolando aquela música. – Emma, está me ouvindo?

            Ainda sem resposta, ela olhava para eles e fazia sinal de negativo, eu podia ouvir os comentários “tadinha, logo no dia de seu casamento” “ você sabe se foi grave?” “ela está em estado de choque” coisas tão óbvias e eles ainda comentavam, um médico aparentando ter seus quarenta anos saiu da sala e eu o olhei, fui em direção a ele e logo ele fez que “não” com a cabeça.

            – Ele... ele não... reagiu.

            Faltavam palavras em sua boca, sua voz era trêmula, acho que pelo fato de ser seu filho e saber nossa história, todos a conhecem e, no dia mais esperado, esse acidente ter acontecido afetava não só a mim, mas a todos que conviveram conosco.

            – Obrigado, Gabriel.

            – Eu tentei... eu juro que tentei, tentaram me tirar de lá, mas eu não podia deixá-lo, tinha que me certificar que estavam fazendo de tudo, mas ele não reagia, sinto muito, Emma.

            – Eu sei, sei o quanto o amava.

            Ele me abraçou fortemente e desabou em lágrimas, Ivo e seu pai não tinham convivência desde que ele nasceu, porém, há uns dois anos, Gabriel fazia de tudo para estar ao seu lado e orientar, tudo o que ele não fez antes, procurava fazer naqueles anos com o reencontro. Assinei todos os documentos, eu resolvi tudo sobre o velório, não conversava com ninguém, apenas procurava ajeitar tudo da forma que ele merecia, o velório e o enterro foi um dos mais lindos que havia visto, todas as homenagens e músicas tocadas.

Haviam se passado semanas e eu ia para a faculdade, trabalho e voltava direto para casa, não saia, não comia não fazia nada, todas as ligações eu não atendia, até que entrei em um site, um curso na verdade, de coreano, um idioma que sempre achei exótico e sempre tive curiosidade de aprender, eu precisava me ocupar com algo difícil, com algo que me faria sair desse mundo sem ele, não que eu fosse tirá-lo da mente, eu não queria e nunca poderia deixá-lo, mas ele me pediu para que eu seguisse em frente, mas como seguir?

Entrei no site e a página era bem chamativa, muitos comentários bons sobre os professores e sobre o curso, me cadastrei e logo chegaria a mensalidade, depois do cadastro, uma página abriu.

Bem-Vinda ao Conexão Coreia, sou Kim Hyung, seu assistente e professor, qualquer dúvida só entrar em contato pelo e-mail.

Não aparecia nenhuma imagem desse tal professor, apenas uma mensagem de boas-vindas, não sabia se iria me adaptar a esse curso ou o porquê de começar a fazer, mas eu tinha algo em meu coração e doía.

No início, eu não queria fazer nada, ficava olhando do meu quarto para as estrelas, como se quisesse que ele me respondesse por elas, a maioria das pessoas comentavam, diziam que eu estava ficando louca, por semanas e meses, eu não consegui depois voltar à casa que construímos juntos, era complicado e tudo que tinha lá me trazia lembranças. Eu chorei noites e noites, a saudade que sentia dele era cruel, enquanto muitos casamentos ou namoro acabavam em traição, o meu acabou por morte.

            Eu não entendia o fato de uma história tão promissora pudesse acabar com aquela tragédia. Por mais que eu tentasse, eu não aceitava o fato. Eu queria tê-lo de volta!

 

Dois ~ Além de Nós.

"Se você um dia se sentir sozinha e
A luz intensa tornar difícil me encontrar
Saiba apenas que eu estou sempre
Paralelamente do outro lado..."

Mirrors~ Justin Timberlake

─ Está pronta? ─ Bea, melhor amiga de Emma, perguntou ao telefone.

─ Acho que não, eu me sinto nervosa ─ Emma respondeu olhando da janela do apartamento que havia alugado na Coreia. ─ Me sinto estranha.

─ Não começa, Emma.

─ Com o quê?

─ A se autossabotar, poxa, ele é um cara legal, te ajudou quando mais precisou e passou por muitas coisas e você sabe o quanto foi difícil para ele, e nunca desistiu de você.

Emma encarou seus pés ao se lembrar e um sentimento estranho surgiu em seu coração.

─ Você lembra das caixas? Até hoje eu acho engraçado o modo como ele achava que você tinha que fazer o curso.

─ Está tudo guardado em casa, esse método me ajudou a entrar na casa que era para ser minha após o casamento.

Emma não havia conseguido entrar na casa que construiu com Ivo após a morte dele, tudo lá o lembrava, cada pequeno detalhe havia algo dele: Piso, parede, os quadros... Tudo feito com muita atenção por ele e carinho. Após ter iniciado o curso, Emma não conseguia se concentrar, sempre que ligava seu computador lembrava de Ivo e começava a chorar, era como uma represa, que estava disposta e jorrar, como se tivesse juntado todas as lágrimas que nunca ousaram cair.

─  Mas fica tranquila, Emma, vai dar tudo certo, hoje que é o encontro?

─ Sim, daqui a pouco... Eu acho.

─ Então, relaxa, admira a paisagem e descansa, está bem? Eu estou torcendo daqui por você. Te Amo e pelo menos tente. ─ Logo as duas se despediram e desligaram a ligação.

Emma se sentia ansiosa e nervosa ao mesmo tempo, mas estava feliz pela primeira vez desde a morte de seu noivo Ivo. Seis meses foi o tempo em que Kim Hyung levou para se tornar inesquecível e em sua vida.

“Espero que tenha chagado bem, estou a caminho”

Ela olhou para a mensagem e seu coração acelerou e um sorriso simpático surgiu. Então se lembrou de quando eles se falaram pela primeira vez por vídeo, ele ligou para ela no Skype quinze vezes até ela atender e quando atendeu, viu alguém completamente diferente do que ela imaginava.

Um rapaz de olhos puxados e de cabelos tão negros quanto a noite com um sorriso tão perfeito. Se vestia perfeitamente bem e muito descontraído, com piadas que tiravam alguns sorrisos dela, eram poucos, mas era o suficiente para deixa-lo satisfeito. A missão dele se tornou fazê-la sorrir por mais difícil que fosse, e cada dia era uma fase a ser cumprida até que isso acontecesse.

Emma ligou a TV e um noticiário estava passando, ela não entendia nada, mas ficava olhando as imagens em busca de alguma palavra que ela fosse entender, até que em poucos minutos depois ela viu um acidente que acabava de acontecer. Seus olhos cravaram naquelas imagens, por mais que odiasse ver acidentes e uma palavra ela reconheceu, um nome na verdade “Kim Hyung” seus olhos não saiam da TV.

Não pode ser, deve ser apenas uma coincidência, existem vários Kim Hyungs aqui, soltou um suspiro, mas seu alivio passou rápido demais ao aparecer a foto do seu querido e amado. Ela pegou um papel correndo e anotou o nome do hospital, o mais parecido com o que estava escrito na TV para facilitar no diálogo com algum taxista. Pegou sua bolsa correndo e com as lágrimas querendo desabar, alguns minutos depois quase entrou na frente de um taxi no desespero, ela apresentou o papel e o senhor com cabelos grisalhos e olhos puxados percebeu o desespero e a levou imediatamente para o local desejado.

Ela foi até a recepção na frustrada tentativa de alguém lhe entender, até que um homem bem vestido a atendeu.

— Você é da família? – Ela o olhou feliz por saber que falava seu idioma.

— Sim... Quero dizer, não, eu sou alguém... – Ela tentava procurar palavras para descrever o que ela era para ele, até porque ele foi o único que se declarou e não obteve uma resposta exata.

— Namorada?

— Mais ou menos, eu vim do Brasil para conhecê-lo e ele me ajudou muito e se tornou mais do que especial. – As lágrimas estavam descendo aos poucos. – Eu vim com o intuito de conhecer meu salvador e dizer o que ele esperava ouvir há um bom tempo.

O homem sorriu e ela continuou.

— Mas ele sofreu o acidente indo me ver.

— Olha, ele está em cirurgia e aqui o hospital só tolera os familiares.

Ela abaixou a cabeça.

— Mas vou tentar te ajudar. – A moça de cabelos castanhos abriu um sorriso. – Só não conte a ninguém.

Assentiu.

— Fique aqui na sala de espera, é mais confortável.

Ele logo sumiu de vista, aquele homem misterioso e elegante lembrava muito Kim Hyung, só que mais velho. Logo seu choro veio à tona Não posso perdê-lo, não posso perder mais alguém, não iria suportar a dor. Enquanto chorava ouviu, uma música que trouxe uma lembrança de seu primeiro mês, quando Emma estava tentando estudar no seu notebook, mas o choro a preencheu e debruçou em cima do notebook, ligando para Kim.

*****

Emma?

Me desculpa, te liguei sem querer.

O que aconteceu?

Nada disse secando as lágrimas.

Então quer dizer que chora à toa — Deu um sorriso.

Não perturba, eu só preciso sumir.

— Emma.

— Sim?

— Já são duas da manhã, vai deitar e leva o note junto ou o telefone, mas não sai da chamada.

Ela conectou-se no celular e desligou o note, levou o fone no ouvido e ele podia ouvir seus paços delicados até a cama, se cobriu, com seus olhos vermelhos, ela continuava chorar, mesmo não querendo se debruçar em lágrimas na frente dele;  a cena doía no coração de Kim.

“Mun bakkeun eonjena
Buranhan sangcheoman namgo
Apeumeul gyondyeoya nal suga isso”

            Emma parou o choro para ouvir a bela voz de Kim Hyung cantando algo em coreano que ela nunca tinha escutado.

            — Não sabia que você cantava.

            – Você não sabe de muita coisa sobre mim, senhorita Emma.

            — E o que significa?

“A única coisa deixada fora da porta
É uma cicatriz inquietante
Eu sei que eu só poderei voar se eu vencer essa dor...”

            Ela adormeceu.

*****

            Ao se lembrar, ela acabou sorrindo, Kim para Emma significava aconchego, lar.

            – Ele está em coma, como posso ficar bem?

            Emma observou uma mulher com uma idade um pouco avançada entrando e muito preocupada com uma mais jovem muito bonita e as duas quando se depararam com ela sentada, a olharam como se já soubessem quem ela era.

            – Quem é você? – a mais velha perguntou.

            Emma logo se levantou esticando sua delicada mão.

            – Sou Emma.

            A mulher apenas olhou para sua mão e ignorou o ato da jovem.

            – A brasileira – disse como se fosse um xingamento. – Eu sou a mãe de Kim Hyung, e essa é a noiva dele, Ailee.

            Emma ficou com o coração na mão, Kim havia lhe informado sobre o tal noivado arranjado que ele fez questão de cancelar poucas semanas e foi o estopim para que Emma largasse tudo para conhecer o seu amado.

            – Noiva? – perguntou sem maldade e sem intenção de provocar.

            – Sim, noiva.

            Emma abaixou a cabeça e a mulher sorriu.

            – Espera um minuto, a estrangeira está interessada no meu filho? – debochou.

            Emma era calma até certo ponto e estava tentando não o ultrapassar, então apenas se sentou.

            Passava alguns dias e Emma não saia do hospital.

            – Você não dorme? – o homem que disse que a ajudaria perguntou, se sentando.

            – Não sinto sono – ela respondeu cabisbaixa, olhando para suas mãos que segurava um medalhão prata.

            Ele olhou para aquele medalhão e perguntou.

            – Que medalhão bonito, deve ser algo importante.

            Ela sorriu.

            – Foi Kim que me deu, ele disse que não era nada demais na carta, mas é importante para mim, por mais que não tenha valor.

            O olhar do senhor foi em direção à aliança pendurada por uma fina corrente de prata.

            – A senhorita já foi casada?

            – O quê?– Ele apontou para o pescoço. – Ah, quase.

            Em sua expressão, dava para ver que não havia entendido.

            – Meu noivo morreu no dia do casamento em um acidente, ele foi muito importante para mim e ainda é.

            – Sinto muito pela perda.

            – Perdê-lo foi como perder uma grande parte de mim, como se um vazio me preenchesse a cada dia... Kim não somente me preencheu, ele transbordou e me fez sentir muito mais que amor, sem perder a essência de Ivo.

            Ela arregalou os olhos após ouvir o que tinha acabado de dizer pela primeira vez e o senhor sorriu admirado.

            – É a primeira vez que diz que ama alguém além do seu ex-noivo?

            – Sim, eu nunca consegui dizer isso para Kim, tinha medo.

            – Você vai conseguir dizer, eu tenho certeza.

            – O senhor é muito otimista.

            – Tenho que ser. – Ele se levantou. – Bom, vou pegar um café para nós dois, não vou te deixar sozinha, se eu demorar, é porque fui resolver alguma coisa, mas eu volto com o café, pode ser?

            Ela assentiu e continuou a pensar.

            Em sua mente, havia memórias todas vindo como um dilúvio, como se fosse várias fotografias jogadas pelo chão e ela pegasse uma por uma e vivenciasse cada uma delas.

            Até do dia que ele planejou um piquenique virtual.

*****

            — O que você quer? Eu já disse que não aguento mais olhar para esse seu rosto fofo? – Emma disse ironizando.

            – Olha, estou avançando, já disse que sou fofo.

            – Vocês, coreanos, parecem serem feitos em laboratórios, isso é uma injustiça – ela disse enquanto bebericava seu café.

            – Uau, não sabia que pensava assim, deve ser um elogio... Então, obrigado.

            Ela ergueu a sobrancelha enquanto continuava a apreciar seu café.

            – O que tem planejado para hoje? – ele perguntou enquanto ela arrumava seu coque quase desfeito.

            – Beber café, chá, depois mais café... Sentar na rede com uma xícara de chá e ler um bom livro com uma história clichê.

            – Bem, tenho algo a lhe propor.

            – O quê?

            – Um encontro – disse convicto.

            – Um encontro? – Quase cuspiu o café que estava bebendo na tela do notebook. – Me desculpe, gênio, mas você está muito longe daqui e a menos que você tenha uma lareira e pó magico que nem a de Harry Potter, seria algo impossível.

            – Não existe nada impossível, senhorita Emma. –Sua voz soava com bastante ego.

            Ela ouviu a campainha.

            – Já volto, vou atender a porta.

            Quando abriu, tinha um homem com uma cesta.

            – O que é isso? – a jovem perguntou.

            – Mandaram entregar aqui.

            – Deve ser um engano.

            – Não, senhorita, o senhor Kim Hyung até pagou e disse para não aceitar devolução.

            Deixou a cesta no chão e saiu sem olhar para trás, ela voltou para a cozinha deixando a cesta em cima do balcão ao lado do notebook.

            – E agora? Vai se teletransportar, Harry? – debochou.

            – Pegue o notebook e a cesta e segue esse mapa que mandei no chat.

            Ela, curiosa, fez o que ele falou e seguiu. Chegando o local, eles leram seu nome e ela entrou, era uma estufa completamente linda, parecia um jardim de palácios antigos e estava com o caminho formados por réplicas de velas, que deixava o local muito romântico; ela abriu o pano no meio de um coração formado por velas decorativas e arrumou tudo e ligou o Skype.

            – Bem vinda de volta – ele disse com um sorriso.

            – Porquê essa estufa parece com o lugar onde você está?

            – Porque a estufa onde você está é minha, eu comprei e fiz uma réplica da que eu tenho aqui.

            – Você então gosta de estufas?

            – E de flores. – Sorriu. – Eu fiz essa porque aqui é meu refúgio dos problemas que tenho com minha família e queria que você tivesse um.

            Os olhos dela brilharam ao ouvi-lo dizer aquilo.

            – Você é como uma flor, Emma, que está desabrochando, e eu tenho que cuidar para que as cicatrizes do tempo não a façam perder todo o seu encanto.

            – Obrigado por tentar tanto cuidar de mim.

            – Emma, eu amo você.

            As palavras saíram e a pegaram desprevenida e ele apenas sorriu.

            – Eu só queria que você soubesse antes que eu cometa o maior erro da minha vida.

            – Do que está falando?

            – Eu já falei como meus pais são complicados, minha mãe quer que eu tenha um casamento arranjado, aqueles casamentos para unir empresas. Ailee foi prometida a mim quando eu tinha dezesseis anos e fiquei sabendo aos dezoito, por isso não me dou bem com minha mãe. – Ele respirou fundo. – E ontem ela veio me falar da data do casamento, mas se você me disse que me dá uma chance, um dia comigo aqui na coreia, só para conversarmos e decidirmos o que fazer em relação a nós dois, eu desisto de tudo... E luto por você.

*****

            O médico entrou na sala de espera.

            – Eu já posso vê-lo? – ela disse se levantando e cheia de esperança.

            – Me desculpa, mas a mãe do paciente não quer que você o veja.

            – Desde que ele saiu da cirurgia, elas ficam lá e eu não posso entrar? Eu estou aqui há semanas, isso é injusto.

            – Injusto é a senhorita vir do Brasil para atrapalhar um noivado tão lindo.

            – Não vim atrapalhar nada, senhora Hyung, ele me pediu para vir.

            – Ele só está usando você, querida, Ailee é com quem ele vai casar, ela é uma mulher com muito mais classe que você. – Olhou para Emma como se ela fosse um lixo.

            Se a intenção dela era irritar Emma, tinha acabado de conseguir.

            – Eu posso não ter o dinheiro que a senhora ou ela tem, mas tenho uma coisa que ele nunca conseguiu.

            – E o que seria?

            – O amor dele, a confiança.

            – Ele vai casar com Ailee, é inevitável, a senhorita não sabe com quem está mexendo.

            – Qual é o prazer de ser rejeitada pelo próprio filho? Não sei qual o problema de ele não querer casar com ela.

            – Você não vai entrar lá, o primeiro rosto será o dela e você vai sumir da vida dele se não...

            – Se não o quê?

            O homem misterioso que estava com o café na mão como prometido perguntou sério.

            – Ela quer entrar e ver o Kim.

            – Deixe-a.

            – O quê? – ela perguntou surpresa.

            – O que você precisa para se convencer que ele não quer esse casamento? O acidente já foi um aviso e não quero que algo pior aconteça para que você se convença.

            – Mas...

            – Eu amo meu filho, prefiro vê-lo vivo e feliz ao lado de quem o mereça e ele estava desistindo de sua herança e tudo que ele tem por ela. – Ele apontou para Emma.

            – Seu filho? – Emma perguntou.

            – Me desculpe por não me apresentar direito, sou Joon Hyung, pai de Kim – sorriu.

            – Joon, não faça isso.

            – Quando foi que você perdeu sua essência? Lembra de quando você falava sobre o amor para ele e deu um medalhão para ele dar para quem ele amasse puramente e de verdade?

            – O que tem?

            – Ele deu a ela e ela guardou, sem se importar com o valor daquilo.

            Ela olhou para Emma e em seus olhos caiam lágrimas.

            – Pode entrar, senhorita Emma – ela disse como quase um sussurro.

            E Emma o fez.

            Vê-lo daquele jeito era difícil, mas pela primeira vez, ela estava ao lado dele pessoalmente, o homem gentil e perfeito era de verdade. Emma se sentou na beirada da cama e o admirou enquanto parecia dormir e se emocionou ao tocar em suas gélidas mãos.

            – Anyoung! – Soltou um riso no meio do choro ao tentar soltar um oi em seu idioma. – Aqui é a Emma, a sua flor, e eu preciso dizer algo importante, pode não ser nada para muitos, mas para mim significa muito e você sabe o quanto.

            Ela desabava em choros.

            – Eu preciso de você aqui comigo, Kim, eu não posso te perder, então, pelo amor de Deus... – Todos no recinto se emocionavam enquanto Emma estava em agonia e como ela realmente o amava. – Acorda e volta para mim, vamos ter aquele encontro de verdade, não àqueles fajutos que você fazia. Vamos tomar meu café amargo ou um chá durante a tarde.

            – Eu amo você.

            Quando ela ia levantar, sentiu a mão que ela segurava, pressionar a dela impedindo que ela levantasse.

            – Emma! – Ela voltou a se sentar e todos estavam aflitos e impressionados. – Você disse, você realmente disse. – Abrindo os olhos e vendo a sua bela dama pela primeira vez.

            – É claro que eu disse, gênio – brincou, limpando as lágrimas que não a deixavam.

            Ele sorriu e tentou se levantar com muita dificuldade e sua mão alisava o rosto de Emma.

            – Você é tão linda. – Colou sua testa na dele. – Que bom que esteja aqui.

            Ele a beijou com doçura, delicadeza e paixão, o primeiro beijo marcado por cicatrizes e amor.

            – Pode dizer mais uma vez?

            – Eu amo você, Kim Hyung.

            – Eu também te amo, Emma.

Fim


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Notas finais do capítulo

Eu só gostaria de agradecer a todos que nos tem ajudado, comentando ou até mesmo pela presença, vocês estão sendo incríveis e realmente não tenho palavras por todo o apoio que vocês tem dado a esse Projeto.
Espero que tenham gostado desse pequeno conto e que continuem acompanhando..
Beijos.
Nick



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