AMORES VIRTUAIS escrita por Projeto Literário ColetâneaS, Georgeane Braga, Maxine Sinclair, Hanna Martins, Piper Palace, Sr Devaneio, itsmemare, arizonas, Serena Bin, Amauri Filho, Sabrina Azzar, Leeh, Natasha Alves


Capítulo 12
Conto 12 - Inevitável Paixão


Notas iniciais do capítulo

Olá, sou Sabrina Azzar e estarei postando esse conto hoje junto com a minha amiga Karen Dorothy. =)

Queria dizer primeiramente que AMEI escrever esse conto, o casal Nando e Sam é super fofo e eu fiquei completamente apaixonada enquanto eles me contavam sua história.
Queria agradecer à Karen por ter aceitado escrever comigo e à Georgeane pela oportunidade de estar participando de um projeto tão bacana quanto esse!
Espero que vocês gostem do nosso conto e do nosso casal super fofo e fora do comum! ;D

***

Olá, sou a Karen Dorothy e faço das palavras da Sabrina, minhas. Eu amei escrever o Fernando ( a Sá escreveu a Sam) foi muito gratificante e senti que cresci junto com ele hehehe. Espero que, quem ler consiga captar essa mensagem bonita que ele nos passa: Devemos viver para superar somente AS NOSSAS PRÓPRIAS expectativas.
Mais uma vez meu muito obrigada à você Gê, pela oportunidade de estar participando desse projeto tão lindo.
E a você leitor que sempre nos agracia nos acompanhando nessa jornada ♥

***

Sinopse do Conto:
"Fernando Corrêa fora adotado quando ainda pequeno e sempre achou que deveria viver conforme as expectativas dos outros para não decepcionar seus pais; o que o torna um adolescente completamente introvertido.
Essa sua personalidade nunca foi um problema para ele, até ele conhecer Samantha Goulart.
Ela era totalmente oposta a tudo que se relacionava a ele, mas era exatamente isso que o encantava.
Só foi uma pena, ele perceber tarde demais que a amava. Ou não...
Com medo iminente da perda batendo à sua porta, Fernando toma uma atitude que coloca em risco não só seu coração como também a amizade valiosa que ele tinha com Sam.
Só nos resta acompanhar essa trama e torcer para que, no fim, tudo dê certo..."

Música tema: Superman - Joe Brooks

Classificação: Livre



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Sam

Para de graça, garoto, vamos estudar porque a prova já é semana que vem! — Dei um pequeno soco em seu ombro. Eu e Fernando estávamos deitados em sua cama, estudando para a prova final de química, mas o palhaço não parava de fazer gracinhas.

— Estou cansado de estudar... — Bufou e fechou o notebook. — Vamos assistir filme! — Revirei os olhos.

— Larga a mão de ser preguiçoso. — Empurrei-o com os pés para fora da cama, fazendo-o cair. — Se você não quer entrar para a faculdade, eu quero!

— Samantha Goulart... — começou, apoiando o queixo na cama. — Você é tão delicada.

— Tão delicada quanto um soco na sua cara bonitinha. — Sorri cinicamente. — Agora sobe logo nessa merda de cama e vem estudar, antes que eu me estresse!

— Está bem, me deixa só ir ao banheiro antes — falou se levantando do chão e indo em direção ao banheiro. Revirei os olhos e abri o seu notebook, para voltarmos a estudar.

Vi que o seu Facebook estava aberto e não contive a curiosidade, precisei clicar na aba de sua rede social e fuçar um pouquinho antes que ele voltasse. Mas não era o perfil dele que estava conectado, era o de Caio. Mas como? Abri as mensagens para ter certeza de que era o Caio que eu conhecia, e acabei tirando a prova. Era ele mesmo.

Fernando apontou na porta, gritando que eu teria que assistir a um filme com ele depois de terminarmos de estudar, mas me viu mexendo em seu notebook e parou, me encarando assustado.

— Você nunca me disse que conhecia o Caio pessoalmente... — comecei. — Ele frequenta sua casa? — O moreno não respondeu, ficou apenas parado na porta, me encarando. — Fernando, estou falando com você!

— Hãn... Eu... O que você disse? — gaguejou e ficou estacado na porta do banheiro, me encarando com os olhos arregalados.

— Perguntei se você conhece o Caio. — Sua expressão de paisagem estava começando a me irritar, mas me controlei.

— Não, de onde tirou essa ideia de que eu conheço seu melhor amigo virtual? — Tentou zombar com a situação, mas levou a mão esquerda para a nuca e a coçou.

E ele só fazia isso quando estava mentindo. Respirei fundo, minha calma indo para o espaço.

— Então, como você me explica o fato de o Facebook do Caio estar aberto em seu notebook? — Em apenas um passo Fernando se aproximou da cama e, com brutalidade arrancou das minhas mãos, seu note. Mas continuou em silêncio.

A expressão de susto ainda continuava em seu rosto, então eu olhei para suas mãos e elas seguravam com força o aparelho, como se escondesse um segredo... Foi então, olhando fundo nos olhos de Fernando, que eu percebi que Caio nunca existiu.

As lágrimas pinicaram meus olhos, mas as segurei, eu não choraria. Não na frente dele. Levantei-me com raiva e parei em sua frente.

— Era você o tempo todo, não era? — Ele não respondeu. — Me responde, Fernando! — gritei. — Era você a porra do tempo todo, não era? O que você tem na merda da sua cabeça? Se diz meu melhor amigo e me engana desse jeito? Puta que me pariu, Fernando!

Ele não falava nada e aquilo só me deixava ainda mais puta da vida, antes que eu socasse sua cara, saí de sua casa...

 

Inverno de 2011

 

Era aula de história, professora Adelaide. Eu gostava dela, até o momento em que ela anunciou um trabalho em dupla, em que ela sortearia os alunos. Droga! Eu sempre me dava mal nesses malditos sorteios.

— Samantha com... — Gelei quando ela falou meu nome, e a minha expectativa apenas crescia enquanto ela pegava outro papelzinho no pote. — Fernando! — Ah, sim! Ótimo! O filho esnobe do prefeito!

Revirei os meus olhos e deitei com a cabeça na carteira, me xingando mentalmente por ter uma sorte tão ferrada. Depois de sortear todas as duplas, ela pediu para que nos juntássemos a fim de discutir o tema do trabalho. A morte era uma opção? Acabei descobrindo que não, então acabamos juntando nossas carteiras e ficamos em silêncio olhando para o nada durante alguns minutos.

— Presta atenção, não quero estar aqui, assim como você, mas precisamos fazer esse trabalho. Então você pode, por favor, abrir a boca e dizer alguma coisa? — O filho do prefeito me encarou assustado, mas acabou assentindo.

— Tá... Ok... Claro. Qual será o tema? Já pensou em alguma coisa?

— Na verdade não pensei em nada, e você? — Ele apenas fez que não com a cabeça.

No fim, acabou que passamos a semana inteira juntos, nos dedicando ao trabalho da professora Adelaide. Confesso que antes eu o achava esnobe porque nunca falava com ninguém, então, nunca tive vontade de saber mais sobre ele, mas naquela semana, descobri que tínhamos algumas coisas em comum, inclusive a paixão por HQs.

Aquele garoto esnobe e mimado que eu sempre via quando o encarava nas aulas, simplesmente não existia. Fernando era totalmente o contrário do que eu imaginava, e sem que eu pudesse evitar, acabamos nos tornando melhores amigos.

 

Nando

Já era a quarta vez que eu ligava e nada de ela atender.

Eu não me arrependia totalmente do que havia feito. A parte do novo Fernando que foi liberto pelo perfil falso no Facebook se sentia leve, mas a parte do antigo Fernando que sentia que havia acabado de perder a garota que ama, me esmurrava a cara sem dó nem piedade.

Ainda com o celular em mãos e sabendo que ela não me atenderia, calcei meus tênis e sai de casa. Minha mãe lia algo na sala e me interceptou antes que eu alcançasse a porta:

— O que houve lá em cima que fez a Samantha sair daqui correndo e chorando daquele jeito, filho? — Obrigado, mãe, por me fazer sentir o maior estúpido da história.

Agora, as duas metades de um Fernando que não sabia o que fazer, me espancavam.

— Não foi nada, mãe. Estou saindo.

Eu costumava correr na esteira da academia que minha mãe tem em casa por não gostar de me expor tanto correndo pelas ruas do bairro, mas naquele instante tudo o que eu queria era somente extravasar toda o nervosismo que consumia minha mente de alguma forma. Então eu corri os dez minutos que me separava da casa da Sam.

Já na portaria do condomínio do prédio dela, apoiei as mãos no joelho para recuperar o folego enquanto era saudado por Aroldo, o porteiro.

— Boa tarde, garoto. Está treinando para correr a maratona esse ano, é? — Sorrio, sem muito ânimo para ele. Aroldo é um senhor de uns 60 anos, muito gente boa.

— Boa tarde, Aroldo. E não, só estava de cabeça quente e precisava me movimentar.

— Shiii, cabeça quente, tão novinho? Que é isso, filho, vai ter cabelos brancos antes dos 25 desse jeito. — Ele riu e em seguida liberou minha entrada no condomínio.

Andei, ainda esbaforido, os poucos metros até a entrada do apartamento que minha melhor amiga morava. Assim que parei na porta do 405, respirei fundo algumas vezes, sabendo que teria que enfrentar a fúria em forma humana que é Samantha Goulart.

Apertei a campainha e esperei, logo a porta foi aberta por Simone, a mãe de Sam. Ela me olhou desconfiada e eu soltei um palavrão, mentalmente. Claro.

— A Sam está em casa? — Seus olhos se estreitaram e se o tal olhar fatal que os livros tanto falam realmente existisse, seria o que estava estampado nos olhos dela naquele momento.

— No quarto, me deu ordens expressas de que não era para eu permitir a sua entrada. — Sua expressão suavizou e ela sorriu. — Mas, como estou de saída, finge que encontrou a porta aberta. Só, por favor, se acertem de uma vez. — Senti meu rosto pegar fogo.

Será que estava tão na cara assim o que eu sentia por Samantha? Pelo visto, sim. Simone saiu, deixando a porta aberta para que eu entrasse. Caminhei receoso até a porta branca com uma enorme caveira roxa colada acima do nome dela e bati.

— Me deixa em paz, mãe.

Abri a porta, não ia adiantar eu falar que era eu e não sua mãe. Ela só me ignoraria.

— Se tem amor por suas bolas, vai virar as costas agora e ir para casa — falou depois de apenas me ver pelo canto do olho, ela estava de costas para mim, sentada na cadeira de sua escrivaninha. Nem sequer se deu ao trabalho de me olhar direito.

— Me escuta, Sam. Por favor. Me deixa explicar tudo.

— Te escutar? Vá à merda, Fernando. Vá. À Merda!

Me sentei em sua cama, sinceramente com medo de chegar muito perto dela naquele momento.

— Me perdoa, vai. Sei que fiz merda, mas me perdoa. Eu... eu fiquei com medo de perder você quando começou a sair com o Leo. Foi uma ideia que na hora me pareceu boa, mas aí as coisas foram progredindo entre você e o Caio e eu não sabia como sumir de repente com o perfil. Pela primeira vez na minha vida, eu conseguia ser como eu gostaria. Mesmo que ninguém soubesse que era eu atrás daquele perfil. — As palavras iam saindo sem controle e eu nem sabia se estava sendo coerente.

Só tentava a todo custo, não fazer a declaração.

— Passei os últimos anos da minha vida confiando em você, Nando. E é assim que você retribuiu, me fazendo apaixonar por alguém que nem sequer existe. Isso não é atitude de amigo. — Puta merda! Ela tinha mesmo acabado de falar que estava apaixonada por mim? Quer dizer, pelo Caio?

— Eu também estou...

— Não sei se um dia serei capaz de perdoar você. Nem se aparecesse pelado e pintado de azul, vermelho e branco com o escudo do Capitão América na frente da escola toda. É esse o nível da minha magoa por você, então, é bom que apenas saia da minha casa e se esqueça que um dia fomos algo além de colegas de sala.

6 meses antes

 

Acordo abruptamente da leitura do novo HQ que estava lendo, quando uma chamada no Skype emite seu som no meu notebook. Sorrio antes de atender ao ver que é Sam.

— Boa Noite, Nando — cumprimenta sorrindo, estranho ao vê-la toda arrumada como se fosse sair.

— Boa noite, Samantha! — Sabia o quanto ela odiava que a chamassem assim e só o fazia para sempre ver seus olhos arregalarem um pouco e um rubor agradável corar suas bochechas. Ela revirou os imensos olhos verdes e me olhou irritada, e eu, sorri.

— Como você é insuportável, Nando, mas, e aí? Estudou para a prova de matemática de amanhã? Último ano e a Zulmira está mais chata do que todos esses cinco anos que ela leciona pra gente. — Ela usava um negócio comprido que parecia uma caneta, mas com cerdas nas pontas e espalhava alguma coisa sobre seus longos cílios.

— É, dei uma olhada no material. Ei, você vai sair? — Não resisti à pergunta. Ela arregalou os olhos me encarando e logo um enorme sorriso tomou conta do seu rosto.

— Eu não te contei, Nando? O Leo me convidou para ir ao cinema hoje! — Ela bate as mãos animada um par de vezes e um soco no meu estomago teria tido um impacto menos doloroso do que aquelas palavras. Quais eram minhas chances contra o maldito Leo Ferreira? O cantorzinho de garagem que deixava as garotas do colégio inteiro babando quando passava gingando com suas calças caídas pelos corredores da escola?

De onde infernos saíram todos aqueles pensamentos?

Mãe, marque uma consulta urgente com um terapeuta, pelo amor de Deus!

Quase gritei para o andar de baixo, mas parei para pensar por um instante e senti o ar fugir dos meus pulmões.

Eu estava apaixonado pela minha melhor amiga. Puta que pariu! Era isso então, aquela necessidade estranha de sempre tê-la por perto. O impulso de sempre ser para ela que eu contava cada novidade sobre a faculdade ou os acontecimentos da minha casa. A vontade que eu tinha muitas vezes de beijar a boca dela... Quando foi que isso aconteceu? Não faço a mínima ideia, mas agora isso nem tinha importância porque Leo Ferreira estava na jogada e, com ele eu não tinha chance.

— Nando? — Sam chamou minha atenção e me lembrei que ela havia feito alguma pergunta. Disfarcei meu nervosismo com a recente descoberta e meio que sorri para ela:

— Não, ou contou, não me lembro... — Deixei o resto no ar. Havia tanto agora, que eu queria perguntar e falar, por exemplo: Olha, Sam, esquece esse cara e sai comigo, ele nem ao menos sabe que você fala fluentemente inglês e que adora rock clássico, que você ama a cor verde e que é fã de HQs! E aliás, sou louco por você e nem sei desde quando, caramba!

— Então, estou contando agora. Mas me ajuda, Nando, essa roupa está boa? — ela ficou de pé e se afastou da mesinha do computador para que eu tivesse uma visão melhor do seu corpo todo.

Ela usava a mesma calça jeans que muitas vezes usou quando íamos ao shopping, no cinema ou no encontro da nossa comunidade de HQ’s. Aquela calça moldava tão perfeitamente seu corpo que eu evitava ficar olhando para suas pernas para não passar vergonha de ficar excitado por apenas olhá-la. Sua blusa cinza de mangas curtas e com estampa de caveira em strass era típico de sua personalidade e eu amava todas suas coisas de caveiras. Inclusive sua interminável coleção de mochilas com a mesma estampa. Seus cabelos estavam soltos e as pontas tinham um encaracolado diferente do liso habitual. Ela estava...

— Você está linda, Sam! — Ela corou com o elogio e eu, bom, eu também, porque saiu sem que eu me controlasse. Nunca havia sito tão sincero com ela como naquele momento.

— Obrigada, Nando, nem sei o que seria de mim sem você — dramatizou e riu alto, se sentando novamente.

Vi naquele momento de súbita sinceridade, a oportunidade perfeita de começar a trabalhar na remoção do meu casulo.

— Passou aquele creme de cheiro sedutor que tem aí? — Vi ela corar mais ainda e percorrer os olhos pela sua penteadeira. Meu rosto queimava também, mas eu ignorava aquela sensação de agir diferente do que ela esperava e tentava pensar somente em surpreendê-la ao mostrar a ela meu verdadeiro eu, aquele que eu sempre tentava ser.

E nossa, eu adorava aquele creme com cheiro de morango e champanhe que ela nunca usava, mas quando usava me fazia ter muitos pensamentos pecaminosos com ela...

— Mas será que é uma boa ideia? E se o Leo achar o cheiro muito enjoativo? — Segurei as pontas do ciúme e revirei os olhos.

— Claro que ele vai gostar, é um ótimo cheiro. — Pisquei para ela e a vi franzir a testa e me olhar desconfiada.

— Quem é você, e o que fez com meu melhor amigo? — Apenas dei de ombros e a vi espalhar o creme pelos braços e colo. — Droga, já estou em cima da hora, obrigada pela ajuda Nando, te adoro. Beijos.

Ela jogou um beijo no ar para mim e eu apenas sorri de novo para ela, antes de encerrar a chamada.

Sentindo o ar aos poucos abandonar meus pulmões, mais uma vez naquela noite, me aconcheguei em minha cama, na esperança de conseguir ler alguma coisa até o sono aparecer.

Troquei de HQ cinco vezes, tentei ver um filme na TV, revi, de novo, o conteúdo da prova de amanhã e nada de sono. Já era quase dez da noite quando chegou uma mensagem no meu celular.

 

De Sam:

Ai. Meu. Deus.

Acho que estou apaixonada!!

Ele é um fofo, Nando! Foi incrível o encontro,

E vc acertou mesmo, o Leo adorou meu cheiro!

 

 

Quase quebrei o celular, tamanha a força que o apertei entre meus dedos. Bufei, me odiando, se eu não fosse tão introvertido, Samantha era minha namorada e não estaria suspirando por aí por outro cara. Que inferno. Sem muita vontade, digitei minha resposta:

De Nando:

Fico feliz por vc!

Vou dormir, tô cansado!  Beijos

De Sam:

OK,  

Boa noite.

Beijos

 

Senti em sua resposta que ficou intrigada por eu ter sido rude e não perguntado mais nada sobre o tal encontro, mas como eu poderia, se a única coisa que eu queria naquele instante era ser o maldito Leo?

Ainda deitado em minha cama, me peguei pensando que o caminho até que eu conseguisse ser com Samantha o cara que desejo ser, vai ser longo e não temos muito mais tempo, logo o ano termina e sei que ela irá para outra cidade cursar a faculdade, então, minha mente de repente dá um estalo e decido abrir um perfil falso no Facebook. Pego meu notebook e minha mente trabalha rápida na criação do mesmo. Na foto de perfil, coloquei uma imagem da luta do Capitão América com o Homem de Ferro, do filme Capitão América – Guerra Civil. Fomos assistir ao filme juntos na estreia e Sam havia me segredado que aquela fora sua parte preferida.

Caio Costa seria tudo aquilo que Fernando Corrêa não conseguia ser. E, depois que eu conseguisse tirar Leo da jogada, fazendo-a se apaixonar por mim, quer dizer, pelo Caio, com certeza eu já terei obtido meu êxito quanto ao meu jeito introvertido. Então, eu contarei a Sam sobre o perfil, direi que a amo, que só criei aquele perfil como forma de prepará-la para mim, ou me preparar para ela, ainda não sei, e depois poderemos ficar juntos. Mal enviei a solicitação de amizade e logo o notebook emitiu um som de notificação que fez minha respiração acelerar.

 

Sam Goulart aceitou sua solicitação de amizade. Escreva na linha do tempo de Sam.

 

Sam

Já fazia quase duas semanas desde a minha briga com Fernando. Não vou mentir, eu sentia muito a falta dele, mas estava magoada demais para perdoá-lo. O que ele fez foi errado, foi estúpido! Que merda o garoto tinha na cabeça para me fazer de idiota daquele jeito? E eu que pensei que éramos amigos... Droga!

Confiei em Fernando, ele sabia tudo sobre mim! Sabia dos meus medos, das minhas fraquezas... Por que raios resolveu criar uma porcaria de perfil falso no Facebook? Por que diabos ele me fez ficar apaixonada por um cara que sequer existe?

Não percebi que já estava chorando outra vez, e eu odiava chorar. Passei rápido as mangas do meu casaco no rosto e retoquei o lápis preto em meu olho em frente ao espelho. Já estava atrasada para o colégio.

Peguei minha mochila no armário e saí do quarto a fim de pegar uma maçã para comer no caminho, mas acabei dando de cara com o pateta do meu irmão.

— E aí, maninha, como vai o seu amiguinho, o Nando? Faz tempo que eu não o vejo por aqui... — Revirei os olhos e respirei fundo, para me controlar.

— Vê se me erra, Samuel. — Meus pais estavam tomando café na mesa, então botei um sorriso no rosto e desejei “Bom dia.” Em seguida peguei a maçã na fruteira e disse que estava atrasada.

Eu não queria ir para o colégio, não queria olhar para a cara do Fernando, mas eu precisava ir, estávamos tendo as provas finais e eu não podia perder nenhuma delas.

Assim que passei pelos portões, vi o filho do prefeito sentado em uma das muretas que rodeavam o pátio, lendo uma HQ. Eu estava louca atrás daquela maldita revista por semanas, e tive que me controlar para não sentar ao seu lado e arrancá-la de suas mãos como sempre fazia. Droga, Nando, por que você tinha que estragar tudo?

Vendo-o daquele jeito, sozinho, me fez lembrar a época em que ainda não éramos amigos e eu o achava esnobe por não falar com ninguém. Mal sabia eu que o filho do prefeito não tinha nada de esnobe, muito pelo contrário, era o garoto mais doce que já conheci.

Não entendia como nos dávamos tão bem, sendo completamente opostos.

Caramba, como eu sentia sua falta. Sentia falta das nossas conversas na madrugada, das nossas noites de filmes e dos nossos encontros na comunidade de HQs. Sentia falta de como a sua calmaria entendia tão bem a tempestade que havia dentro de mim, sentia falta até da sua mania besta de me provocar chamando-me pelo nome inteiro.

Antes que as lágrimas voltassem a molhar meu rosto, virei-me na direção contrária e andei em direção a sala de aula. O sinal já estava para soar. Não demorou muito para que a sala ficasse cheia, e Fernando, ao invés de se sentar no fundo como vinha fazendo nos últimos dias, se sentou ao meu lado. Tive vontade de chutá-lo dali mas respirei fundo e fingi que nem o tinha visto. Eu precisava manter o controle.

— Sam... — Ouvi um sussurro. — Sam, olha aqui... — Revirei os olhos e me virei para o lado que vinha o sussurro.

— Me deixa em paz! — sussurrei.

— Só queria dizer... Ah, lê isso aí, vai... — E jogou um papel na minha mesa.

Sempre conversávamos assim durante as aulas, já que os celulares tinham que ser desligados. Peguei o papel e o abri.

 

Caramba, você não vai me perdoar mesmo?

Acredite em mim, tive um bom motivo para fazer tudo... Talvez o método não tenha sido o mais inteligente, mas você sabe que a inteligente aqui é você, e não eu.

Nando

 

Abri meu estojo e peguei uma caneta vermelha.

Então tá, me explica o seu GRANDE motivo, Fernando!

 

Dobrei o papel e sem que a professora visse, coloquei em cima de sua mesa. Não demorou muito para ele responder.

Não posso... Não agora pelo menos, e nem desse jeito.

Bufei e amassei o papel em uma bolinha, tacando em sua cara em seguida.

— Então vai à merda! — Acabei perdendo o controle e gritei. Assim que percebi a merda que tinha feito, abaixei a cabeça na carteira.

— Samantha? — Droga, ela ouviu.

— Falou comigo, senhora Mercedes? — perguntei, tentando passar inocência.

— A senhorita me mandou ir aonde?

— Ah, isso... Não falei com a senhora, não...

— E falou com quem? — Eu dava graças a Deus por estar nos últimos dias do ensino médio. Não aguentaria mais essa professora chata!

— Com ninguém! Estava só me lembrando de uma coisa e acabei pensando alto.

— Faça silêncio, por favor! — pediu, se virando para continuar escrevendo algo no quadro negro.

Fernando me olhou, como se pedisse desculpas, e eu virei para o outro lado a fim de continuar o ignorando. Minha cabeça estava um caos, mas meu coração implorava para que eu o perdoasse...

Dessa vez não, coração! Você me já me fez sofrer o suficiente para uma vida inteira...

4 meses antes

 

Já fazia dois meses que eu e Léo estávamos saindo, não era nada sério, mas estávamos nos entendendo bem... Não estávamos namorando, mas tínhamos um relacionamento não-rotulado em que éramos exclusivos um do outro. Eu estava curtindo isso. Ele sempre me levava para assistir aos ensaios da banda e disse até que estava compondo uma música inspirada em mim na última vez que nos falamos.

Enquanto isso, a minha amizade com Caio apenas evoluía, eu gostava de conversar com ele, a sensação era de estar falando com um Fernando mais solto. Caio era engraçado, vivia me pedindo ajuda com algumas matérias em que tinha dificuldade depois que soltei sem querer que ajudava Fernando quando ele tinha dificuldades. Ele alegava que já que eu ajudava o Nando, teria que ajudá-lo também.

Estranho como as coisas entre nós fluíam rápido, apenas dois meses de amizade e eu sentia como se já nos conhecêssemos há anos. Sentia um carinho muito grande pelo garoto que nunca tinha visto.

 

De Leo:

Oi gatinha, estou com saudades.

Topa vir aqui para casa hoje?

Tenho uma surpresa! =)

 

Eu odiava admitir, mas achava tão fofo quando ele me chamava de gatinha. Sorri e respondi sua mensagem. Fazia dois dias que não nos víamos.

 

De Sam:

Oieee, também estou com saudades.

E que surpresa é essa? Fiquei curiosa kkk

 

De Leo:

O nome já diz, é uma surpresa!

Mas tem algo a ver com a gente...

Você vem?

 

De Sam:

Agora que me deixou curiosa... kkkkk

Que horas tenho que estar aí?

 

De Leo:

Às oito!

Vou ficar te esperando ;)

Um beijo, gatinha.

 

Não senti necessidade de te responder, até porque eu não era a pessoa mais romântica do mundo e ele sabia disso. Todo mundo sabia disso.

Passei a tarde toda daquele domingo com Fernando, em sua casa. Eu estava devendo uma tarde de filmes com meu melhor amigo e decidi que pagá-lo naquele momento era a melhor coisa a se fazer. Ele manteria minha mente ocupada para que eu não ficasse pensando na surpresa que Leo estava preparando para aquela noite.

— Já está ficando tarde... — falei assim que olhei a hora no celular. — Preciso me arrumar. — Nando, que estava sentado na cama ao meu lado se virou para mim, dando pause no filme.

— Não dá nem para esperar o filme acabar? Falta só um pouquinho.

— Foi mal, Nando, combinei com o Leo às oito. — O moreno revirou os olhos e jogou o controle sobre a cama. — Não fica assim — pedi, enquanto me sentava.

— Não estou “assim” — disse, fazendo aspas com os dedos. — Pode ir, outro dia a gente termina o filme.

— Você promete? — Pisquei os olhos diversas vezes, tentando fazê-lo sorrir e acabei conseguindo. Ele abriu um sorriso bonito e assentiu.

— Prometo. — Levantei e calcei os tênis, em seguida guardei o celular no bolso da calça e fui até onde meu melhor amigo estava, dando a volta na cama.

— Te amo. — Dei-lhe um beijo na bochecha e sorri. — Agora seja um cavalheiro e me leve até a porta. — Fernando riu e se levantou, calçando os chinelos. Entrelacei meu braço ao seu e lhe puxei para o andar de baixo.

— Tchau, Sam... — falou abrindo a porta para mim. — Boa noite pra você e pro... — Fingiu que vomitava, ironizando. — Leo.

— Larga de ser tonto. — Empurrei-o pelo ombro. — Boa noite para você também. Qualquer coisa que precisar, me liga, mas espero que não precise de nada, enjoei da sua cara por hoje. — Mandei um beijinho no ar e saí, indo em direção aos portões.

***

Eu havia chegado à casa de Leo às oito em ponto, e fiquei me perguntando se eu não estava demonstrando nervosismo demais com aquele gesto. Logo que apertei a campainha, o loiro abriu a porta e me recebeu com um imenso sorriso no rosto.

— Oi, gatinha.

— Oi. — Sorri nervosa.

— Você está linda, vem, entra aqui. — Entrelaçou seus dedos aos meus e me puxou para dentro. A casa estava vazia. — A minha surpresa está na garagem.

— Na garagem? — perguntei confusa.

A garagem era o lugar em que a banda sempre ensaiava, onde ficavam todos os instrumentos e não era um lugar muito romântico para uma surpresa. Leo não respondeu apenas me levou até lá e assim que chegamos, ele me colocou sentada em uma cadeira, e puxou a outra para ficar sentado em minha frente. O loiro sorriu e puxou a guitarra e o tripé com microfone.

— Não sei se você lembra, mas eu disse a você há algum tempo que estava compondo uma música inspirada em você. Bom, eu terminei e quero que seja a primeira a ouvir. — Ele sorriu e eu engoli em seco, tremendo pela expectativa.

Um solo rápido de guitarra começou a ser tocado por ele e logo sua voz se misturou aos acordes.

 

Sei que vão dizer que não adianta olhar

Pois acabou de passar dos 16

Mas olha só o jeito dela dançar

Seu tênis preto All-Star

 

Sem nem ligar se vão notar

Sorria e fecha os olhos, sabe que

É musa soberana nesse bar

Mas se você quer ser feliz

 

Confia em mim, me deixa te mostrar

Que de todas é a matriz

Menina singular

Capaz de transformar meu desenho em arte final

 

Olha só o seu perfume no ar

Maquiada com ar de quem sofreu;

Por amor e não quer mais se entregar

Espera o tempo passar

 

E até já dizem por aí

Que ninguém vai conseguir se aproximar

Que o lápis no seu olho é pra afastar

Quem não quiser te ver feliz

Não há ninguém assim, que faça prometer:

Você vai ser a mais feliz

Se confiar em mim

Deixar eu te mostrar

Que eu não sei viver sem você

 

Vou ficar até a festa acabar

Só pra ver se ela vai

Olhar pra mim...

 

Caramba! Eu não esperava por aquilo. Quando Leo me disse que estava compondo uma música inspirada em mim, não pensei mesmo que ele fosse fazer. Não tão rápido. Não tão cheia de significado como aquela.

— E então, você gostou, gatinha? — Engoli em seco sem saber o que dizer.

— Eu... Han... Claro, eu... Amei, ficou linda. — Sorri meio sem jeito.

— Espera só um pouquinho... Isso no seu rosto... Você está envergonhada? — Leo chegou perto, deixando a guitarra de lado e colocou uma de suas mãos em meu rosto. — Eu fiz Samantha Goulart corar?

— Para com isso... — Tirei sua mão do meu rosto e me virei. — Não estou corada, eu só... — Droga! Eu nunca ficava corada.

— Ei para com isso, vai... Você fica linda quando corada. — O loiro segurou meu ombro e me fez ficar de frente para ele outra vez. — Posso te fazer uma pergunta? — Assenti. — Quer namorar comigo? — Então eu simplesmente me afoguei em minha própria saliva. Se eu queria o que?

Comecei a tossir descontroladamente e Leo se assustou. Ficou me olhando sem saber o que fazer.

— Você está bem?

— Eu... Acho que sim. — Bati em meu próprio peito. — Foi só um susto. — Respirei fundo algumas vezes e encarei seus olhos. — O que você tinha me perguntado? — Ele sorriu e pegou uma de minhas mãos.

— Sam, você quer namorar comigo?

Porra, eu não tinha ouvido errado. Leo estava me pedindo em namoro e eu não sabia se estava pronta para algo tão sério assim. Em alguns meses, eu me mudaria de cidade para fazer faculdade, tudo que eu menos queria era engajar em um namoro a distância enquanto tento entender as leis que regem nosso país. Eu não sabia o que fazer.

— Eu... Droga... Não sei se estou pronta para dar esse passo.

— Você está dizendo não?

— Não estou dizendo não, mas... Também não estou dizendo que sim. — Suspirei. — Não me entenda mal, eu gosto de você, mas para mim namoro é algo sério, e não sei se estou pronta para ter um relacionamento sério agora. Daqui a alguns meses estaremos indo para a faculdade, você para um lado e eu para outro... Namoro à distância não é uma coisa muito legal.

— Eu entendo você, mas pensei que pudéssemos enfrentar isso junto. — O loiro coçou a nuca. — Caramba, eu gosto mesmo de você, Sam.

— Também gosto de você. — Sorri. — Só me dê um tempo para pensar direito, tá? — Ele sorriu e puxou meu rosto, me dando um selinho.

— O tempo que você precisar.

 

Nando

Eu nem conseguia acreditar que tinha acabado de vencer a última semana de aula.

Samantha me fazia tanta falta, que, durante esse último mês, cheguei mesmo ir à terapia. Mesmo que meu terapeuta fosse apenas meu irmão, formado em economia.

­— Você precisa jogar um pouco dessas revistinhas bestas fora. —  Otávio, meu irmão/terapeuta reclama das minhas HQs, pela enésima vez desde que começou a me ajudar a empacotar minhas coisas para a faculdade.

Eu já sabia o que iria fazer com elas, e não era jogar fora.

— Você é um bosta como terapeuta, Távinho. — Ele gargalha enquanto se esparrama pela minha cama. Olhando-o agora, ele nem parece ter 30 anos e pai de dois filhos.

— É sério, se isso te faz lembrar ainda mais da Sam, livre-se delas.

— Apenas enfie as roupas na caixa e cale a boca. — Joguei mais alguns moletons sobre ele que rosnou feito um cachorro.

Eu amava meus irmãos, mas entre Otávio e Bruno, eu me entendia melhor com Otávio. Resmungando como uma criança birrenta, ele me ajudou a enfiar o resto das coisas nas devidas caixas, sendo estapeado por mim a cada vez que tentava encostar nas HQs que eu organizadamente empilhava sobre a escrivaninha para depois colocar em uma caixa personalizada, que eu ainda iria comprar.

Estávamos terminando de guardar os tênis quando mamãe bateu na porta nos chamando para o almoço. Assim que viu meu quarto de pernas para o ar e as coisas substanciais que eu levaria embora comigo organizadas nas caixas, seus olhos encheram-se de lágrimas.

— Meu último passarinho está prestes a deixar o ninho. — Entrou no quarto, tomando a mim e meu irmão em um abraço apertado.

— A faculdade fica há apenas duas horas daqui, mãe. Não é como se eu estivesse mudando de país.  — Retribuí o abraço enxugando as lágrimas que escorreram pelo rosto bonito dela.

Dona Tereza, apesar de seus cinquenta e três anos, era bem cuidada. Toda vaidosa e eu a admirava por isso. Beijei seu rosto, nos desvencilhando de Otávio, e seguindo abraçado somente a ela para a cozinha.

— Só não acredito que seja certo você ir e não se acertar com a Sam. Sempre achei a amizade de vocês tão linda, meu filho. — Chegamos à cozinha e eu me sentei no meu lugar, meu pai já estava em seu lugar, na cabeceira da mesa e meu irmão veio logo em seguida.

— Não existe nada que eu já não tenha feito para que ela me desculpasse, mãe. Mas a Sam é a Sam, e isso nunca vai acontecer — Depois da merda jogada no ventilador aquela tarde quando Sam descobriu sobre o perfil falso, eu liguei meu foda-se, então toda a minha família já estava por dentro do meu drama.

Joguei fora toda aquela metade de Fernando que eu era, aquele introvertido que sempre apenas concordava com um aceno de cabeça com receio até mesmo de abrir a boca para falar um sim ou não. Aprendi, à duras penas, perdendo a garota que amo que, se eu continuasse sendo aquele mesmo cara, eu não chegaria a merda de lugar nenhum. O foda era que nem mesmo essa mudança foi capaz de fazer com que Sam me perdoasse.

Caramba! Ela deveria se orgulhar de me ver agora, quase uma versão masculina dela.

— Você só não fez uma coisa.... — Otávio sibilou, só para me importunar, deixando a frase no ar.

— Esquece.

Meu pai, que sabia exatamente ao que meu irmão se referia, caiu na gargalhada e eu ainda estava me acostumando aquele seu novo jeito tão aberto comigo. Parece que ele estava apenas esperando que eu removesse meu casulo para que nosso relacionamento mudasse. Mas confesso que gostava mais agora. Era tudo muito mais fácil do que quando eu me via apenas como o menino negro que fora adotado pelo prefeito. Com toda essa mudança percebi que era eu mesmo quem me rotulava, mais ninguém me via daquela forma.

— Não tem graça, pai!

— Ora, mas é claro que tem, meu filho. Imagina só se não. — E gargalhou um pouco mais, chegando a ter lágrimas nos olhos.

Emburrando, como um menino que teve a sobremesa negada, terminei minha refeição logo para me trancar no meu quarto mais uma vez, como tem sido minhas noites durante todo esse mês longe de Samantha. Mas, antes que eu pudesse me levantar da mesa, meu pai voltou a falar:

— Sabe, filho, quando eu conheci a sua mãe, os pais dela não queriam que a gente namorasse. Eu era filho de vendedor e sua mãe, filha de Empresário. Nunca tive que aparecer pelado na frente de ninguém e nem usar escudo de super-herói, mas ralei muito até conseguir convencer seus avós de que eu amava de verdade a sua mãe. E não foi nem só uma nem duas vezes que tive que provar algo para eles não, filho. Mas eu amava tanto essa mulher que faria tudo por ela, tudo que tive que fazer, valeu totalmente a pena. Então, se a menina Sam é mesmo o amor da sua vida, vista uma cueca, porque é claro que não te quero pelado na frente de uma multidão, e dê um jeito de conseguir o tal escudo, e apareça amanhã no baile, não foi a isso que ela te desafiou? Então, faça. Diga a ela na frente daquele mundo de gente o que você sente, o por que agiu feito um babaca. Eu costumo não me enganar, e o que sempre vi nos olhos daquela menina quando ela encarava você, não é nada parecido com amizade.

Continuei em silêncio, apenas observando minha família em volta da mesa. Meu irmão que, com certeza já deveria estar em casa com a esposa, foi logo se intrometendo, decidindo por mim:

— Fechado, conheço um cara que faz umas pinturas corporais bem bacana. Escudo bosta de Capitão América você tem no seu quarto, só falta uma cuequinha branca. — e sem que eu pudesse responder ele logo me arrastou pelo braço até meu quarto, já ligando para o tal cara da pintura e marcando um horário para amanhã às 17h.

Quando fui retrucar, vi o olhar orgulhoso dos meus pais e desisti. O “Não” da Sam eu já tinha, agora era hora de correr atrás do meu Sim.

Sam

6 meses antes

 

Eu tinha acabado de fechar a porta do quarto quando uma mensagem apitou no Skype.

 

De Caio:

Boa noite, linda.

 

Respondi com uma carinha triste, não era a minha cara, mas eu era dramática e estava chateada. Minha resposta mal foi visualizada quando recebi uma nova mensagem.

 

De Caio:

O que houve?

Brigou com o cantorzinho?

 

Nem o corrigi por chamar Leo daquela forma como seu sempre corrigia. Eu estava mesmo muito chateada, o Leo é um fofo e eu não entendia porque meu coração havia me impedido de dizer sim. Ou o porquê de eu ser tão encucada com essa coisa de futuro e namoros online. Contei em detalhes para o Caio sobre o fatídico encontro.

De Caio:

Uau.

 

Não foi a melhor resposta, mas eu nem liguei, só queria desabafar, então continuei:

 

De Sam:

Mas então, a música era perfeita

Só que eu não me sinto pronta

Para namoro sério, sabe?

Vou para a faculdade e

Não acredito em namoros a distância.

 

Dessa vez, a resposta demorou, aparecia que ele estava digitando algo, mas nunca que mandava, irritada fui escovar os dentes. Talvez quando eu terminar, Caio já terá terminado de escrever seu monólogo e o enviado. Sem pressa, fiz o ritual noturno de todos os dias e assim que me joguei na cama, já de pijama, o celular apitou.

 

De Caio:

Se vc não se sente pronta então fez a escolha certa e não tem que ficar chateada por ter dito não. Ninguém controla a sua vida a não ser vc mesma, Sam. Vc é uma garota linda, esperta e muito, muito inteligente mesmo. Não deixe que esse namorico de nada que vc teve com esse cantorzinho te faça ficar pra baixo. Se o seu coração sentisse que ele era o cara certo para vc, vc teria dito sim, alegre-se por ter um coração tão mais inteligente quanto essa sua cabeçona. hehe Eu adoro vc e estou torcendo aqui, para a sua felicidade, seja ela comigo ou não hahahaha

 

O texto nem era tão grande como a demora me fez pensar, mas, me deixou intrigada. Caio tinha a mania irritante de sempre dizer que era melhor que o Leo e que me faria mais feliz que ele, mas eu sempre levei tudo na brincadeira, porém, naquele momento eu sentia um peso diferente naquelas palavras. Reli a mensagem duas vezes e, na terceira, senti o coração bater acelerado e a boca ficar seca.

Eu não havia dito não ao Leo por aversão a relacionamento a distância ou por minha fixação com futuro. Eu disse não ao Leo porque eu estou, – meu Deus como não percebi antes? – apaixonada pelo Caio.

Sem ter a mínima noção de como agir com a minha descoberta, apenas respondi à sua mensagem com a única coisa que me veio no momento:

 

De Sam:

Tbm adoro vc!

Dias Atuais

Era o dia do baile, e sinceramente? Não estava nem um pouco a fim de ir. Leo me convidou para ir com ele, mesmo que não estivéssemos mais juntos, mas eu não aceitei. Não queria ficar alimentando esperanças de que talvez pudéssemos voltar. A verdade mesmo era que, no fundo, eu queria ir com Nando, eu tinha certeza que ficaríamos zoando as pessoas e rindo bastante a noite toda. Mas isso não ia acontecer, nossa amizade já era. Não tinha mais volta.

— Filha, é o dia do seu baile, sua despedida do ensino médio, a despedida dos seus amigos...

— Que amigos, mãe? — Me girei na cadeira do computador. — Eu só tinha um amigo, e ele me decepcionou.

— Já parou para ouvir os motivos dele?

— Por favor, mãe, não torne as coisas ainda mais difíceis.

— Mas você precisa ir a esse baile, precisa se despedir do ensino médio. — Eu odiava quando a minha mãe tentava me convencer de algo, porque ela sempre conseguia.

— Eu nem tenho um vestido. — Suspirei.

— Quem disse que não? — Ela sorriu e saiu do quarto, em seguida voltou com um cabide segurando um lindo vestido preto, que com certeza ficaria curto demais devido as minhas pernas longas. Mas eu não podia negar que ele era lindo. — O que você achou?

— É lindo, mãe. — Sorri e me levantei da cadeira, fui até ela e a abracei. — Obrigada.

Já estava meio em cima da hora, não daria tempo de me arrumar demais, então minha mãe me ajudou com o cabelo e eu fiz a maquiagem habitual de sempre. Dona Simone ainda tentou me empurrar um par de saltos preto, mas acabou não dando muito certo, então optei por usar o que eu sabia que não me deixaria na mão. Meus tênis All Star.

Não sei o que havia acontecido com meu irmão, mas ele insistiu em me levar ao baile em seu carro novo e até disse que eu estava linda. Quase me belisquei para ter certeza de que não estava sonhando.

— Tenha uma boa noite, maninha. — Samuel jogou uma piscadela assim que eu desci do carro.

— Obrigada... Eu acho. — Dei de ombros e fechei a porta.

Encarei aquele imenso salão e as garotas entrando acompanhadas de seus pares. Senti falta de Nando naquele momento, mas suspirei fundo e entrei. O salão já estava bem cheio, mas ainda bem que consegui achar uma mesa mais reservada, bem no fundo, onde me sentei e fiquei observando os casais dançarem na pista. Já estava em um nível de tédio bem alto, quando a música parou de repente e uma luz foi direcionada ao palco. Eu estava longe então precisei espremer os olhos para ter certeza do que estava vendo. Aquele era o... Nando?

— Boa noite, pessoal! — A voz do moreno ecoou pelo salão.

Curiosa, me levantei da cadeira e fui andando até perto do palco, onde muitos se espremiam e gargalhavam da cena bizarra, que eu ainda não acreditava estar vendo.

Nando

Minhas mãos estavam tão suadas que eu temia estarem caindo em bicas pelo chão e eu acabar escorregando em suor. Mas eu não pararia agora. De jeito algum, encarei a multidão novamente, dessa vez procurando algum ponto preto pelo salão. Se eu bem conhecia Sam, ela estaria de preto. Quando meus olhos a encontraram, eu quase chorei de vergonha perante sua cara de incredulidade. Respirei fundo e soltei a voz:

— Você me desafiou, Samantha, e aqui estou eu. — Vi ela revirando os olhos por eu tê-la chamado pelo nome e acabei sorrindo. Era um leve indicio da minha antiga Sam. — Eu não queria estar aqui seminu e todo pintado de Capitão América, acredite, essa não era a melhor opção de traje para o baile — o pessoal da escola que ainda gargalhava esporadicamente à minha custa, riram ainda mais; Sam ainda estava séria, mas eu via que escondia a boca com a mão direita. Tentando não rir. Tomei mais um folego e continuei:

“Mas quando a gente faz algumas escolhas erradas, temos que saber lidar com as consequências delas, e essa — apontei o dedo para todo meu corpo — É a consequência da minha cagada. Há um mês, eu fui um cara bem babaca e acabei perdendo a garota que eu amo por puro medo de ser eu mesmo. Isso mesmo, Sam, eu amo você. Amo a forma como você sempre usa preto, como borra todo seu olho com essa merda preta e ainda assim continua linda. Amo seus olhos enormes que muitas vezes me deixam sem jeito quando você me encara demais. Amo muito mesmo a forma completamente maluca de como você às vezes divaga sobre como seria o mundo se os Super Heróis dos HQs que lemos fossem mesmo reais, é cada teoria que sinceramente não sei como eu te tolero, mas eu amo escutar quando você começa a falar sobre isso e não para. Só percebi que era louco por você quando me senti ameaçado pelo Leo. — Senti meu rosto pegar fogo em admitir que me senti ameaçado por aquele carinha idiota, mas a partir de agora seria completamente sincero com a Samantha. — Esse foi o grande motivo de eu ter feito tudo o que eu fiz. Tentei te contar isso diversas vezes, mas você nunca quis me escutar, nunca me dava uma chance e ainda disse que nem se eu aparecesse nu na frente da escola pintado de azul, vermelho e branco e com o escudo do Capitão América, me perdoaria. Eu já estava ferrado mesmo sem você, não tinha mais nada a perder e a única coisa que me restava tentar era essa sua ideia maluca para ver no que ia dar. Então... — Dei de ombros, ela agora limpava o canto dos olhos e me encarava com um sorriso enfeitando os lábios.

— Você é louco, cara! — gritou e veio andando para ainda mais perto do palco. — É louco, mas, droga, Nando. Eu te perdoo, seu idiota.

Não era a declaração que eu esperava, mas, abandonei o microfone e caminhei até ela, encontrando-a perto da escada que dava no palco. Nem falei nada, joguei de lado o escudo idiota que tampava a frente do meu corpo e a agarrei, matando a vontade insana que eu tinha de provar aqueles lábios lindos dela. A beijei até ficar sem folego e quando nos separamos, segurei-a pelo ombro, olhando-a no fundo dos olhos.

— Namora comigo, Sam. Sei sobre sua aversão a namoro a distância, mas a gente consegue fazer dar certo. — Dei um selinho leve em sua boca e esperei ansioso pela resposta.

— Minha aversão era a um namoro a distância que não fosse com você. Então sim, Fernando, eu aceito.

Naquele momento eu não me importava em estar com mais da metade da escola olhando a minha bunda, tudo o que mais me importava era a garota que eu tinha nos braços.

A minha garota.

Sam

7 meses depois

Acordei pela manhã com o barulho do celular apitando, avisando que havia chegado uma mensagem. Ainda sonolenta, eu puxei o aparelho debaixo do travesseiro e o desbloqueei. Sorri ao ver que era uma mensagem do meu namorado.

 

Bom dia, linda! Acordei pensando em você.

Estou contando as horas para te ver, passar essas duas semanas de férias ao seu lado é tudo o que mais quero.

Eu te amo, tenha um bom dia.

Beijos ♥

 

Sorri, sentindo uma lágrima solitária escorrer pelo meu rosto. Fazia muito tempo que não nos víamos devido ao fato de estarmos morando em cidades diferentes e o tempo ser corrido por conta da faculdade. Eu estava morta de saudades de Nando e só Deus sabia o quanto aquilo me machucava, mas ao mesmo tempo não podia estar mais feliz. Não sei como demorei tanto a me tocar acerca dos meus sentimentos pelo meu melhor amigo.

 

Bom dia, Nando!

Estou morrendo de saudades de você.

Graças a Deus que as férias começam amanhã.

Eu te amo, tenha um ótimo dia.

Beijos ♥


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Digam para nós nos comentários, vamos adorar saber a opinião de vocês e responderemos tudo com muito carinho!
Obrigada a todos que estão acompanhando esse projeto maravilhoso, cada um de nós está se esforçando bastante para trazer somente o melhor para vocês! Beijinhus! :* ;D



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