Capítulo VIII - Crise

3 days for wendding.

Sabe aquela manhã em que você acorda tendo a nítida sensação de que algo vai dar muito errado? Aquele momento em que tudo que você mais quer é ficar na sua cama e voltar a dormir debaixo de seu cobertor quentinho e acordar somente no ano que vem?

Pois bem, foi assim que o dia amanheceu. Uma manhã fria e cinzenta de quinta feira.

Ukyo abriu os olhos, mas não quis se levantar. Ficou ali, deitado na cama com os braços atrás da cabeça, encarando o teto branco e sem graça do quarto que residia. Pelo canto do olho podia ver as pesadas cortinas se moverem com a brisa fria daquela manhã cinzenta, mas sua mente não se encontrava naquele quarto e sim divagava nos acontecimentos da noite anterior.

Deus!

Onde é que estava com a cabeça?!

No lugar onde deveria estar é que não estava!

Aquilo o estava enlouquecendo! E ela também não colaborava, provocava e exibia aqueles sorrisos misteriosos de quem tinha um segredo e não tinha intenções de dividir com ninguém.

Ukyo, estava curioso. E sua curiosidade o levou até aquele ponto.

De longe pode ouvir portas se abrindo e passos suaves no assoalho. A casa estava acordando e ele já deveria estar de pé, vestindo seu velho avental, pondo o café na mesa para seus irmãos e desempenhando a função de mãe da casa... “Ukyo-mama”... Como odiava que o chamassem assim! Era desconcertante!

Mas bem lá no fundo, ele sabia que gostava... porque se sentia util.

Mas agora já não precisava se levantar cedo e realizar as tarefas domésticas que lhe eram incumbidas. Tinham agora treze preciosas ‘irmãs’ que cuidavam disso.

Frustrado, Ukyo ergueu seu pesado corpo para fora da cama, vestindo-se como normalmente fazia e saiu para o corredor e acidentalmente trombando com Mitsuki.

A tímida morena lhe dirigiu um pequeno sorriso e um afetuoso bom dia.

— Bom dia - falou sem muita emoção.

— Está tudo bem, Ukyo-san? - Mitsuki lhe dirigiu um olhar preocupado.

— Está tudo bem - mentiu - Estou apenas preocupado com o trabalho.

— Ah! - Tsuki ficou vermelha - Não se esforce muito...

— Não vou - Ukyo disse, percebendo o quão péssimo estava sendo. Sorriu e piscou para a mais nova a deixando ainda mais vermelha.

♢ ♢ ♢ ♢

Esta manhã Maiko ajudou os adultos a pôr a mesa para o café. Não podia sair para pedalar com fazia de costume com a garoa que molhava o gramado. Mesmo que quisesse muito sair e exibir a nova capa de chuva que havia ganho de Yosei, que a mesma havia feito com muito esmero para a irmãzinha e as novas galochas que ganhou do pai, mas só sairia de casa quando fosse para a escola.

Impacientemente a pequena criança balançava os pés, enquanto comia as panquecas americanas que lhe foram servidas.

Tudo ia bem, quando Hanabi entrou na sala jantar bastante aflita. Seus olhos azuis brilhavam com lágrimas contidas e bastou apenas um olhar para que o recado fosse compreendido.

Holly.

— O que houve? - Ukyo quebrou o silêncio, arrastando a cadeira para se levantar. Hanabi não respondeu, apertou os lábios indecisa, mexia as mãos nervosamente.

— Hana... - A voz tranquila de Yosei tirou Hanabi do torpor indeciso - Está tudo bem...

— Holly... - A loira murmurou num fio de voz quase inaudível, mas foi o suficiente para que a escutassem e ao mesmo tempo um clima tenso se instalasse na mesa.

Miranda pousou os talheres na mesa calmamente e ameaçou se levantar, mas foi impedida por Yosei.

— O que está acontecendo - Masaomi, assim como o resto dos rapazes não estava entendendo nada. Procurando uma resposta, o mais velho dirigiu seu olhar para Yukino que desviou o olhar.

— Acho que vou levar o Wataru e a Maiko para a escola - Ayame proferiu com um sorriso constrangido.

— Acho que nós vamos indo também - Mitsuki afastou o prato comido pela metade.

— Será que podem explicar o que está acontecendo ao invés de fugirem? - Kaname bateu as mãos na mesa. Miranda o fuzilou com olhar.

— Muy bien - disse Mira com sotaque - Mas é melhor todos estarem aqui.

— Mas... - Haruka tentou intervir, lançando um olhar nervoso para as duas crianças presentes.

— Todos - Miranda não deixou escolhas, Haru apenas suspirou derrotada.

Novamente o silêncio reinou na mesa, deixando a atmosfera tensa, quase palpável. Devagar e muito calmamente Miranda começou a explicar o problema de Holly. Enquanto falava era possível ver o choque dos garotos e o quão tensas suas irmãs estavam diante aquele assunto em especial.

Normalmente não falavam muito sobre aquilo, preferiam deixar Holly no canto dela. Mas isso não queria dizer que elas não se preocupavam. É claro que se preocupavam, mas nada podiam fazer sem deixar Holly com raiva e piorar tudo, mas estavam sempre alertas.

Durante as explicações, Haruka saiu da mesa voltando logo em seguida carregando uma bandeja que entregou a Maiko. A menor compreendeu instantaneamente e sorriu na tentativa de tranquilizar a mais velha.

Com a bandeja nas mãos, Mai saiu da sala de jantar.

♢ ♢ ♢ ♢

Dentro de seu quarto, agora totalmente submerso na escuridão, Holly podia ouvir toda a movimentação no corredor. Ouviu Hana sair de seu quarto e vir chamá-la e se arrependia de ter gritado com a mais nova.

E o silêncio que agora reinava era bom para poder refletir, mas também para se martirizar. Quando não se consegue esvaziar a cabeça com os milhões de pensamentos fervilhantes, acaba-se por se afundar neles.

— Que merda eu fiz? - resmungou curvando-se ainda mais em posição fetal, revivendo as memórias da noite anterior.

Sua cabeça doía por conta do álcool que ingeriu em excesso. Mas o motivo de estar ali trancada se remoendo. Aquela época estava chegando e um outro fator havia contribuído para esse confinamento. Fator esse que era loiro, alto e usava óculos.

— Holly-nee... - A vozinha fina e hesitante de Maiko a tirou de suas lamúrias.

—...

— Eu... eu trouxe o café para você - Maiko dizia cada vez mais baixo, era visível o medo que sua voz trespassava. Que droga de irmã mais velha ela era? Que assustava sua irmãzinha? - Vou deixar aqui... ok? também vou deixar o Kuro longe...

— O que ela tem? - Holly ouviu Wataru perguntar, mas não ouviu a resposta, provavelmente Maiko estava cabisbaixa e saber disso fez Holly se sentir péssima - Mai...

— Não fale alto - Maiko pediu - Wataru, a Onee-chan está triste...

— Não sei... Mas a Onee-chan, está quase sempre triste - Maiko murmura - A Nina-nee diz que temos que cuidar dela e deixá-la feliz - explica - mas nós não podemos deixá-la nervosa - as palavras de Mai fizeram Holly sorrir.

— Certo - Holly ouviu Wataru concordar - Mas, não é ruim deixá-la sozinha? - Holly não ouviu Mai responder - Porque não contamos para ela sobre nosso dia, quando voltarmos da escola?

— Hummm... Ok...

♢ ♢ ♢ ♢

Na sala de jantar o clima estava tenso, depois que Miranda terminou de explicar , todos começaram a falar ao mesmo tempo, dando palpite e discutindo o melhor a ser feito.

Ukyo, Masaomi e Azusa eram de opinião de que deveriam levar Holly ao médico. Tsubaki, Fuuto e Hikaru, queriam tentar convencê-la a sair do quarto e conversar. Louis e Yusuke não falavam nada, apenas Iori apoiava a ideia de deixá-la sozinha, opinião compartilhada pelas garotas.

Aoi, já cansada de toda aquela conversa assobiou alto o suficiente para que todos calassem a boca.

— Já chega! - Gritou vermelha - Continuar a discutir assim, não vai levar a lugar nenhum - disse soprando a franja - A Holly vai ficar bem.

— Como pode ter tanta certeza? - Fuuto indagava nem um pouco satisfeito.

— Eu quero acreditar nisso - Aoi sussurrou com os olhos baixos, mas só Ayame e Asuka à ouviram. Erguendo o olhar para Fuuto ela disse: - Se você for lá incomodar, vai piorar tudo - Aoi se lembrava com clareza dos gritos de Holly - E se fizer isso... eu vou matá-lo... - A ameaça foi o suficiente para fazer Fuuto ficar quieto.

Suspirando, Aoi se levantou da cadeira, cogitava seriamente faltar aula aquele dia, mas então se lembrou que as duas loucas que chamava de tia, viriam e entra a escola e as loucas, Aoi ficava com a escola.

♢ ♢ ♢ ♢