30 motivos para odiar Benjamin Lacerda escrita por Huntress


Capítulo 20
04 de julho (domingo) – 20º Defeito


Notas iniciais do capítulo

Olha eu atrasada de novo! Vida de estudante não é fácil, né? Mas, felizmente, esse feriado veio para me ajudar com uma brecha, então cá estou eu, trazendo o VIGÉSIMO DEFEITO ♥

Porém, já deu pra perceber que eu não consigo mais fazer capítulos com menos de quatro mil palavras, né? Por isso, tentei tirar umas partes que achei que não iam fazer muita diferença e decidi não revisar muito esse aqui porque eu podia me animar e colocar mais umas duas mil palavras. Espero que esteja bom ;)

GENTE, 30MPOBL GANHOU MAIS DUAS RECOMENDAÇÕES ♥ Ai, assim meu coração não aguenta!

— Jade anne, que já me deixava os melhore reviews, ainda decidiu me dar esse super presente. Caramba, não sei nem como agradecer esse maravilhoso gesto de carinho pela fic! Obrigada de coração ♥

— Avalon, minha parceira do Dreamcast, que além de mandar as melhores MPs, me divertir com seus comentários e ainda assistir Quantico, me deixa uma recomendação linda ♥ Sério, to indo aí te abraçar!

Lerdapqsiim, Capricu, Capitu, Giovanna, Mia, QUEEN, MayPotter, Dorothy of Oz, karolayne, Giulianna Valadares, Arabella Cobain, Unbroken, Avalon, Jade anne, Izzy, Eduarda Rocha, Amanda, Tatá Ribeiro, Olívie Halkins, May Winsleston, Sweet A e Blue Moon Rising, obrigada pelos reviews maravilhosos ♥

Boa leitura ♥



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04 de julho (domingo) – 20º Defeito

Acordei hoje com uma animada Carla puxando meus pés para que levantasse, dizendo que dali a pouco já estaria dando a hora de almoçar. Franzi o cenho ao escutar a última parte e olhei para meu relógio de cabeceira, vendo que, pela primeira vez em muito tempo, eu havia acordado depois das 11h.

Tudo bem que a festa acabou bem tarde (ou cedo, porque o sol já iria nascer), mas você viu minha explicação sobre como funciona meu sono, então aquilo só poderia ser um milagre. Ou um sinal de que meu dia iria ser muito cansativo.

Decidi almoçar direto em vez de tomar café, subindo depois de comer para verificar minha mala e checar se esqueci algo. Vendo então que só faltava meu travesseiro e a escova de dentes, usei esta e a guardei enquanto separava o travesseiro que usaria. Vesti então um short jeans e uma blusa básica preta, colocando meu moletom azul escuro da Gap ao ver que estava chovendo forte, e comecei a esperar.

Recebi então uma mensagem e peguei meu celular. Sorri ao ver que era Daniel.

Daniel: É bom levar um fone de ouvidos que preste para me emprestar, porque preciso de música para suportar ficar do seu lado durante cinco horas.

Eu: Me destrata e ainda espera alguma coisa em troca? Por mim você nem ia na viagem.

Daniel: Mentirosa. Está louca para me ver.

Eu: Pobre iludido.

Daniel: Ah, é? Pode deixar. Não olha na minha cara então.

Ainda rindo, não respondi mais e comecei a checar tudo como passatempo enquanto esperava a hora de ir. Quando escutei a campainha, soube que era hora de descer. Peguei então minha mala, o travesseiro e o celular e arrastei-me escada abaixo. Provavelmente pelo barulho que causava na escada, meu pai apareceu, assustado.

— Está de mudança, Lívia?

— Muito engraçado, pai – respondi.

— Para que tanta roupa?

— São cinco dias de viagem.

— Então por que você parece estar carregando roupas para o mês inteiro? – perguntou assim que cheguei no térreo.

— Porque eu preciso de opções — expliquei. – Sabe como foi difícil escolher combinações para cada dia?

Eduardo não rebateu mais. Balançou a cabeça.

— Eu nunca vou entender... – deixou escapar enquanto me ajudava com as coisas.

Despedi-me de meus pais já na varanda. Eles pediram juízo e disseram que ficariam com saudade, envolvendo-me em um abraço. Disse que sentiria muita falta deles, ao que completaram falando que não era para eu me meter em confusão, porque eu era uma convidada e não podia fazer besteiras.

— Do jeito que vocês falam parece que não me conhecem – comentei, brincando.

— Pelo contrário – minha mãe rebateu. – Só mostra o quanto a gente te conhece.

Torci o nariz e fingi uma risada. Carla, como uma boa mãe, me imitou. Pouco antes de me virar, ela piscou para mim e pronunciou um “boa sorte” com os lábios. Encarei-a, cética, mas não aguentei e ri. Acenei para eles, que imitaram meu gesto, e me virei, seguindo para o carro do pai de meu vizinho.  

Cumprimentei Marcos e entreguei minha mala, pegando antes meu celular e um livro que trouxe para passar o tempo. Entrei no carro e fiquei esperando os outros chegarem, colocando os fones e me desligando do mundo enquanto seguia no aguarde.

Foi então que alguém arrancou meus fones de ouvido.

— Mas o que...? – indaguei e me virei para encarar quem quer que fosse.

Uma conhecida figura de cabelos loiros um tanto espetados e olhos castanhos calmos estava sentada ao meu lado. Daniel estava sério, conectando os meus fones em seu celular, e com um enorme bico, como uma verdadeira criança. Não aguentei e ri, o que ele viu pelo canto do olho, mas não disse nada.

— Daniel, dá meu fone.

Como o verdadeiro adolescente maduro que ele é, Daniel fingiu surpresa e começou a olhar ao redor, procurando alguma coisa. Não pousou o olhar no meu rosto em momento algum e, no fim, deu de ombros, voltando a colocar os fones. 

— Engraçado, jurava ter escutado alguém falar meu nome...

— Eu falei – comentei, interrompendo-o.

— Mas isso seria impossível porque não tem ninguém no carro — reforçou a última parte, claramente ignorando minha existência.

Revirei os olhos e ri em seguida.

— Com licença, eu gostaria de falar com a maturidade do Daniel, por favor.

— Minha mãe pede isso todo dia – comentou, emburrado.

Ergui uma sobrancelha.

— Quer dizer que agora está me ouvindo?

Daniel franziu o cenho e bufou em seguida, percebendo o que fez. Trincou o maxilar e falou um palavrão baixo, fazendo-me rir. Vendo que não adiantaria continuar com a brincadeira, virou-se ainda se fazendo de bravo e me encarou.

— Estou ouvindo a garota que falou que não me queria na viagem – disse, cruzando os braços e fazendo bico.

— Chega de drama, Daniel – pedi para ele. – Sabe que eu estava brincando.

— Só paro se me emprestar o fone.

— Pelas próximas cinco horas? – indaguei, destacando o tempo que ficaria sem minhas músicas, e ele assentiu. Fiz uma careta. – ‘Tá, fique com ele então.

Daniel comemorou e voltou a escutar música, colocando um fone na minha orelha para que eu escutasse junto enquanto esperávamos quem quer que fosse chegar ainda. Peguei meu livro e voltei a folheá-lo enquanto o loiro ao meu lado tocava uma bateria invisível no ritmo da música.

Quando escutei uma porta batendo forte, olhei para o lado de fora, vendo meu vizinho saindo com duas mochilas penduradas de mau jeito. Benjamin passou reto pelo carro do pai e seguiu para o da mãe, onde uma garota de cabelos lisos e escuros mexia no celular. Meu vizinho a cumprimentou e logo entrou novamente em casa para pegar mais alguma coisa. Continuei acompanhando tudo, e, quando ele voltou, pude ver uma garota loira sair correndo na direção dele, que sorriu e a envolveu em um abraço, girando-a no ar.

Será que ainda dava tempo de pegar minha mala e ir para casa?

Engoli em seco e afastei aquele nó de ciúme na minha garganta, focando-me em continuar lendo o romance sobre viagem no tempo como se aquilo fosse me ajudar a lidar com tudo. Cedendo àquela minha parte curiosa e inquieta que sempre aparecia quando o assunto era o meu vizinho, espiei de canto uma última vez. Benjamin estava caminhando, seguido pelo Protótipo de Barbie que, assim que me viu sentada no carro, abraçou-o como se ele fosse a última gota d’água no deserto. Arrastou-o para longe e, pouco tempo depois, ambos entraram no outro carro.

Dei de ombros e voltei a prestar atenção em meu livro – o que não deveria ter parado de fazer.

Pouco tempo depois, quando já havia terminado três capítulos, duas portas do carro foram abertas e figuras conhecidas entraram por ela. Matheus se ajeitou no banco do passageiro enquanto Lucas sentou ao meu lado direito, trocando um rápido cumprimento com Daniel.

— E aí, Lívia? Quanto tempo – Lucas disse e me puxou para um abraço. Ele tem a pele morena escura e o cabelo bem rente sempre escondido debaixo de um boné vermelho com detalhes em preto. Possui olhos escuros e nariz pequeno, além de um rosto em formato de coração. Já conversei com ele naquela festa e em algumas outras vezes que nos vimos. Até consegui fazê-lo ficar sem boné e emprestá-lo para mim uma vez.  

— Verdade, você sumiu – Matheus falou, mas só porque não me viu naquele almoço na casa de Benjamin há algum tempo. Ele tem a pele tão clara quanto a minha, mas seus rosto possui sardas espalhadas pela bochecha e nariz. Tem cabelos castanhos cacheados carregados, com olhos escuros, e é o único dos meninos ali que não joga futebol americano. É apaixonado por basquete.

Sorri para ele, incerta do que responder. Caímos em um silêncio.

— Ainda estou esperando o dia em que poderei assistir vocês jogando – comentei, como forma de puxar assunto.

— E por que não foi? – Lucas indagou.

— Pergunte para Benjamin. Ele diz que não vai me deixar assistir e, por isso, não me conta quando tem jogo – expliquei, fazendo uma careta.

— Pode deixar que a gente resolve isso – Lucas falou, sinalizando com as mãos que envolveria socos, e eu ri. – E caso ele decida esconder, a final é na sexta-feira.

— Sério? – perguntei e ele assentiu.

Agradeci pela informação, já dizendo a mim mesma que iria e, poucos segundos depois, Marcos entrou, dizendo que como quem faltava já tinha chegado, poderíamos ir. Ligaram o rádio e todos colocaram o cinto, deixando minha rua em seguida. Aproveitando então o silêncio no qual mergulhamos, voltei a ler meu livro, ficando assim por um bom tempo.

— E é por isso que não se deve viajar com a Lívia – reconheci a voz de Daniel falando e, quando me virei, ele estava gravando um snap. Tampei meu rosto, desviando-o da câmera.

— Daniel, para com isso! – pedi enquanto ele aproximava o celular de mim. – É sério, apaga.

— Não vou apagar. Tenho que mostrar para o mundo que é chato viajar com você.

— Por que é chato? – perguntei.

— Porque você está lendo — começou a explicar, já mandando o vídeo para a sua história. – Mesmo comigo aqui do lado.

Revirei os olhos.

— Você por acaso é um viajante do tempo como o Jackson? – indaguei, apontando para o livro. – Não, não é. Então prefiro ler a história dele.

Coloquei o livro no colo e tentei abri-lo, mas uma mão me barrou.

— Lívia Nogueira, toque nesse livro de novo e eu o jogo pela janela – ameaçou e eu fingi uma risada.

— E o que eu vou fazer para passar o tempo? Admirar sua beleza? – brinquei.

— É um bom passatempo – Daniel comentou, sorrindo. – Mas eu fico melhor desse ângulo – explicou, já virando o rosto para a direita, e eu revirei os olhos. – Ok, vai poder ler um capítulo se gravar um snap comigo.

— Para que quer gravar comigo?

— Para que mais seria? – rebateu. – Para jogar na cara do Benjamin o que ele está perdendo ficando lá no carro com a gangue de garotas.

Ele riu sozinho e segurou o botão para gravar, logo começando a falar:

Então, menos de dez minutos de viagem e essa coisa aqui do meu lado já estava lendo — falou, a câmera do celular pegando metade do seu rosto enquanto focava em mim. – Mesmo com Daniel Moraes Nascimento aqui do lado. Olha que absurdo!

O menino viaja no tempo, Daniel — respondi, encarando-o pela imagem do celular.

Eu sou mais importante que um cara dando uma de Marty McFly!

Você pensa que é mais importante — respondi e Lucas, ao meu lado, fez um “Uh” com a boca, como se eu tivesse sido muito agressiva. Comecei a rir e me virei para Daniel de novo, mandando-lhe um olhar de incredulidade. No último segundo de vídeo, ele piscou para mim.

Começamos então a gravar tudo que fazíamos. Daniel ligou o bluetooth e conectou com o rádio do carro, colocando suas músicas. Nós cantamos, tiramos fotos com efeitos estranhos e eu ainda consegui filmar escondido o loiro dando um show enquanto escutávamos Wannabe. Em certo momento, ainda fui tirar uma foto e Lucas e Daniel apareceram para fazer careta. Porém, bem quando avisei que apertaria o botão, os dois viraram e me deram um beijo em cada bochecha, o que me fez sair com uma cara de surpresa na foto – que foi para a história do Snapchat de Daniel.

Depois, as músicas que começaram eram todas mais antigas, como as do Michael Jackson e do Elvis. Algumas partes eu era a única que sabia a letra então os garotos batiam palma enquanto eu cantava, mas em outras eram eles que davam um show. Matheus fez sua melhor performance na música da AbbaGive me a man after midnight — e nós gritamos que nem loucos na música da Whitney, I will always love you.

Tivemos então que parar para ir ao banheiro. Marcos disse que ia abastecer e disse que podíamos ir esticar as pernas e comer alguma coisa. Já no posto, enquanto descíamos do carro, Daniel me convidou para subir nas costas dele e eu aceitei. Ficamos andando assim pelo lugar, enfrentando a garoa, mas eu desci de suas costas quando vimos o carro da mãe de Benjamin estacionar também e todos se aproximarem.

A primeira coisa que reparei era que havia outras duas meninas com Mariana. Uma delas tinha a pele morena clara, com longos e volumosos cachos caindo por seus ombros. Os olhos eram castanhos e seu rosto tinha um formato quadrado. A segunda era mais baixinha, com olhos puxados e cabelos escuros, além de muito lisos, caindo por suas costas e uma franja tampando suas sobrancelhas.

As três conversavam animadamente e passaram direto por nós, seguindo para o banheiro enquanto Matheus e Lucas se aproximaram de Benjamin, que tinha um olhar cansado. Encarei Daniel de canto, perguntando-me se ele iria para lá, mas ele apenas sorriu e continuou ao meu lado.

Virei-me então bruscamente e o envolvi em um abraço, que ele retribuiu em seguida.

— Obrigada – falei em seu ouvido e ele se afastou para me olhar. Encarou-me, confuso.

— De nada – respondeu, erguendo a sobrancelha. – Não que não goste de ser agradecido, mas o que eu fiz?

— Você está me fazendo companhia – respondi e sorri gentilmente. – Estava achando que iria ficar sozinha na viagem.

Daniel pareceu ofendido.

— Claro que não, Lívia! – respondeu e me esmagou em um abraço, afagando meu cabelo. – Se depender de mim, eu não desgrudo de você nessa viagem.

Eu ri, balançando minha cabeça. Comecei tentar me soltar, mas ele não me deixava sair, mantendo-me prensada enquanto quase gargalhava por minhas tentativas falhas de escapar.

— Daniel, já deu, né? – reconheci a voz de meu vizinho. – Daqui a pouco você mata a Lívia.

Benjamin passou reto por nós depois de falar e, revirando os olhos, o loiro me soltou. Quando vi que as três meninas já haviam saído do banheiro, avisei que logo voltaria e Daniel disse que aproveitaria para ir comprar alguns doces para o resto da viagem. Porém, pouco antes de entrar, pude ver o loiro seguir em direção ao melhor amigo.

Assim que retornei, quase todos já haviam entrado nos carros. Matheus estava no banco do carona e Daniel comia um pacote de M&M's sozinho no banco traseiro. Aproximei-me e roubei alguns chocolates enquanto me sentava ao seu lado, onde fiquei esperando por Matheus, que não aparecia.

Quando, finalmente, a porta foi aberta, virei-me para o lado já pronta para perguntar para Matheus o que ele estava fazendo que demorou tanto. Porém, para minha surpresa, fora Benjamin quem se sentara ao meu lado. Ele estava usando seu jeans habitual com uma blusa branca lisa e um par de tênis pretos. Quando viu que eu o encarava um tanto confusa, lançou-me um sorriso fraco, claramente incomodado com aquilo.

— O que está fazendo aqui? – questionei-o um tanto irritada.

— Estou querendo ir para a casa de praia – respondeu, sério. – Posso?

— Claro que pode – falei. – Tem um lugar livre lá no outro carro.

Benjamin ergueu uma sobrancelha depois de ouvir minha resposta, sem saber muito bem o que dizer, e, por algum motivo, olhou para Daniel. A música We don’t talk anymore, por qualquer ironia que fosse, estava tocando no rádio. Ficou mais do que claro que o destino tinha senso de humor e, em vez de tentar ser meu amigo, queria me provocar até o limite.

Eu não queria ser grossa, Diário, mas ele deveria estar lá no carro com a namorada. Você sabe, com aquela garota por quem ele me troca mais a cada dia e, infelizmente, não está completamente errado ao fazer isso, porque precisa valorizar Mariana. Por isso, mesmo a parte apaixonada minha quase gritando que gostava de meu vizinho estar ali, uma outra me lembrava que eu amava o Benjamin solteiro, aquele que eu sabia que não pensaria duas vezes antes de ir comigo no carro.

Mas, antes que meu vizinho pudesse responder ou parar de me encarar com os olhos verdes emitindo certa incredulidade, o pai dele acelerou. Quando olhei para trás, pude ver um Lucas gritando e acenando para que parassem e uma Mariana com cara de poucos amigos. Nada adiantou, pois já havíamos saído do posto.

— E aí, Ben? Veio porque viu que lá estava chato? – Matheus perguntou do banco da frente.

— Eu só estava cansado dos assuntos mesmo – respondeu meu vizinho. – Quatro garotas em um mesmo carro!

— Com você incluso nesse número? – Daniel perguntou, rindo, e Benjamin fingiu achar graça. – Bom, aqui é mais legal mesmo. Nós temos a Lívia.

— Verdade – Matheus disse. – Você tinha que ver as coreografias dessa garota.

— Quem vê pensa que ela dança bem – o loiro ao meu lado brincou e eu lhe dei um tapa, rindo.

— Eu estava vendo – Benjamin comentou. O loiro soltou uma risada e encarou meu vizinho com um sorriso. – Tem mais de vinte vídeos na história do Daniel.

— É, mas não vai ter novos, não – o loiro comentou, já colocando os fones. – Vou usar o restinho de bateria para escutar minhas músicas e dormir, obrigado.

— Ótimo, agora posso ler? – indaguei, já tentando pegar meu livro, mas Daniel o afastou. – E o que eu vou fazer para me distrair?

— Pode usar o meu celular se quiser, Lívia – Benjamin disse, já estendendo seu iPhone para mim. Peguei o aparelho, ignorando a foto do plano de fundo e decidi usá-lo. – Sabe, faz um tempo que a gente não tira foto juntos.

Eu até poderia pronunciar o nome do motivo, mas me controlei.

— Faz mesmo – respondi. – Acho que a última foto nossa foi aquela com os doces.

— Verdade – ele disse, rindo. – Ah... E... E eu esqueci de agradecer por ter revelado e me entregado a foto.

Senti minha pele esquentar enquanto eu tentava sorrir, claramente envergonhada por falar sobre aquilo com ele. Havia me esquecido daquela vez que brigamos e que escrevi um pequeno discurso no verso da fotografia como uma forma de pedir desculpas.  

— Gostei muito do que escreveu no verso.

A minha voz morreu na garganta e as borboletas pareceram se contorcer em meu estômago. Senti aquela tensão em mim tomar forma no interior do carro, como se ela quisesse transparecer para todos ali dentro e deixá-los perceber que eu não estava preparada para falar desse tipo de coisa com meu vizinho.

Virei-me para ele, o que foi preciso muita coragem, e consegui sorrir. Benjamin é capaz trazer os piores assuntos à tona para mim e ainda assim causar aquele aperto agradável na boca de meu estômago. Pena que uma ponta minha continuava a admirá-lo um tanto triste por tudo que estava acontecendo.

Determinada a vencer esse estranhamento, respirei fundo e entrei no aplicativo, estendendo o celular e fazendo com que eu e Benjamin aparecêssemos. Enquanto eu tentava arrumar meu cabelo, que parecera pior naquele momento, e procurava um ângulo que não me deixasse parecer tão corada, Benjamin aguardava pacientemente, já sabendo que não precisava arrumar nada para ficar mais bonito. Gostaria muito de destacar isso como um defeito, porque tenho ódio dessa qualidade, mas não posso.

Sorri então para a câmera.

— Acham mesmo que eu não vou aparecer? – Daniel perguntou, já se enfiando na foto. Apertei o botão bem quando o loiro havia apoiado a cabeça em meu ombro e encarava a câmera com uma careta.

Eu gargalhei.

— Daniel, você estragou a foto!

— Como ousa, Lívia? – exclamou. – A câmera estava me chamando, não escutou? Falou tipo assim: “Daniel, salve essa foto. Ela precisa de alguém bonito”.

Benjamin e eu o encaramos, perplexos, mas logo caímos na risada em seguida. Daniel pareceu desistir da ideia de dormir e nós logo começamos a brincar de uns jogos antigos além de fazermos coreografias ensaiadas em algumas músicas, como Aserejé e Macarena. Depois de um bom tempo, porém, sem nem perceber, acabei caindo no sono.

Quando acordei, já estava escuro lá fora e o mar aparecia ao longe. Com a cabeça inclinada, pude ver, no banco do passageiro, Matheus pendendo para um lado, inconsciente, e Daniel com o rosto apoiado no vidro. Eu logo percebi que também estava recostada em algo e senti um peso sobre minha cabeça. Descobri que adormeci com a cabeça no ombro de Benjamin, que acabou usando a minha como apoio e dormia tranquilamente, a respiração em um ritmo uniforme. Ajeitei-me novamente, tentando manter aquela posição que me pareceu mais do que confortável, mas acabei acordando Benjamin.

Ele, porém, não ligou e passou o braço por meu ombro, puxando-me para perto. Meu coração pareceu subir até minha garganta e eu passei um braço por sua cintura, o perfume natural dele parecendo agitar as borboletas em meu estômago. Ficamos naquele abraço sem jeito, com meu coração batendo rápido demais e com ele afagando meu cabelo, até meu cérebro perceber que dormir assim era tentador demais e decidir me deixar descansar.

Só acordei quando um animado Daniel começou a me cutucar que nem louco, o que fez com que Benjamin também despertasse e logo se desvencilhasse. O loiro apontava para a casa à nossa frente, de uma cor amarronzada e com aparência antiga, que possuía janelas grandes e um jardim extenso na entrada. Algumas quadras para baixo estava o mar e poucas pessoas ainda passavam pela areia.

Coçando os olhos, desci do carro, peguei minha mala vermelha e entrei na casa logo atrás de Renata, que disse que me levaria para o meu quarto lá no segundo andar. Subi um tanto receosa enquanto passava pelos garotos, que pareciam não ter a menor pressa de ir guardar suas coisas. Pelo caminho, fiquei torcendo para que, quem quer que fosse dividir o quarto comigo, não me odiasse tanto e tivesse sono pesado para que eu pudesse escrever aqui sem ninguém me questionar.

Porém, assim que abriu a porta, dei de cara com um pequeno quarto quadrado, com uma escrivaninha competindo por um espaço com o grande e velho armário. Tinha uma pequena sacada ao lado da cama de solteiro e suas paredes eram decoradas com quadros abstratos.

Virei-me então para Renata.

— Benjamin me pediu para separar um quarto só para você – ela explicou, já antecipando minha pergunta. Senti uma ternura me envolver e o pequeno gesto do meu vizinho causou uma aceleração momentânea em meu coração. Ele me deixou ficar em um quarto sozinha enquanto os outros teriam que dividir e dormir no chão, tudo porque sabia do meu sacrifício em vir aqui ficar perdida entre seus amigos.

— Obrigada – agradeci-a, mesmo sabendo grande parte daquilo tinha que ser direcionado para outra pessoa.  

Decidi então tomar um rápido banho, mas voltei pouco antes de entrar no box porque decidi guardar esse diário num bolso externo da mala e trancá-lo a cadeado. Vai que alguém pensava em fazer uma brincadeira ou decidiam xeretar minhas coisas. Isso aqui na mão de pessoas erradas é uma arma contra mim. Sentindo que mais seguro que aquilo o diário não ficava, entrei debaixo do chuveiro e, quando saí, coloquei um short e uma regata, descendo em seguida.

A casa em que estamos tem o pé direito alto e móveis de madeira em um tom mais escuro que a cor das paredes. A televisão era mais antiga, mas a iluminação da casa era boa. Enquanto passava pelo corredor que levava à sala de estar, percebi que ligaram a luz do lado de fora, o que me permitiu ver o tamanho do jardim do fundo e como a piscina era larga.

Assim que encontrei Matheus, Lucas e Daniel, além de duas das garotas, aproximei-me do loiro.

Pensei em perguntar algo como “Onde está o resto do pessoal?”, mas era óbvio que os únicos que faltavam ali eram Benjamin e sua namorada, o que provavelmente faria Daniel desconfiar ou fazer alguma brincadeira, por isso apenas fiquei quieta. Porém, como se soubessem que eu queria saber, as amigas de Mariana comentaram: Benjamin tinha ido passear na praia com sua namorada.

Sendo sincera, Diário, nem sei mais descrever o que sinto quando escuto algo assim. Ainda tenho uma ponta de tristeza, sinto uma onda de ciúme, mas uma parte minha só fica se perguntando porque eu ainda teimo em ficar com essas coisas na cabeça, já que é óbvio que namorados fazem coisas de namorados. Parece que eu não sinto mais desconforto pelos meus sentimentos, estou é ficando cansada de senti-los.

Como se soubesse que eu precisava espairecer, Marcos apareceu na sala com um monte de caixas na mão. Contou que abriu o armário da dispensa e acabou encontrando alguns jogos de tabuleiro, como War, Clue e Jogo da vida, além de Uno e um baralho de cartas. Os meninos pareceram se animar por ter alguma coisa para fazer e pegaram as caixas, levando-as até a mesa de centro da sala. As amigas de Mariana não estavam tão interessadas e logo saíram dali enquanto eu e Daniel nos aproximávamos.

Começamos jogando uma simples rodada de uno, que logo evoluiu para jogadas mais tensas. Matheus sempre gritava Uno, mas Daniel, ao seu lado, parecia ter todas as cartas de +2 do baralho, o que nos fazia rir todas as vezes que ele lançava uma. Depois que Daniel conseguiu ganhar a partida, decidimos jogar War, mas não estava dando muito certo.

Por quê? Eu tinha certeza que algum deles estava roubando.  

— Daniel, eu sei que é você! – falei, batendo na mesa e fazendo o tabuleiro tremer.

Ele gargalhou, um sorriso maléfico brotando em seu rosto.

— Você está só tentando achar um modo de me prejudicar porque estou ganhando – afirmou, analisando suas cartas de novo e olhando para trás rapidamente ao ver que a porta foi aberta. Meu vizinho e Mariana haviam chegado do passeio e estavam entrando em casa. – Segura seu momento, Lívia.

— Daniel, você tem quinze países e peças demais – observei, Lucas e Matheus prestando atenção. – Você. Está. Roubando – disse pausadamente.

— Aceite sua derrota, Nogueira – ele sorriu, triunfante, jogando os dados.

— Nunca, Nascimento – respondi e, ao ver Daniel pulando de comemoração por ter ganhado mais um país nos dados, reparei em uns pontinhos brancos que apareceram em seu colo, voando por um momento. Aproximei-me e levantei sua blusa.

— Eu sabia! – exclamei enquanto Daniel tentava tirar as peças de minha mão. Lucas e Matheus xingaram o amigo. – Você é um mentiroso, Daniel. Está desclassificado!

— E quem disse que é você que decide?

— Eu disse – afirmei.

— E eu apoio – Lucas comentou e Matheus assentiu, o que fez Daniel bufar.  

— Vocês não mandam – Daniel disse. – E se eu não posso jogar, ninguém mais pode.

Comentou isso e, antes que pudéssemos impedir, o loiro já tinha virado o tabuleiro. Lucas e Matheus derrubaram Daniel no chão, que ria, enquanto eu tentava recuperar as pecinhas que voaram pelo chão. Assim que pararam de tentar matar o loiro, bufaram, descontentes.

Pude ver pelo canto do olho Benjamin se aproximar. Ele sentou no sofá e ficou observando tudo.

— Quer jogar, Ben? – o de boné perguntou e meu vizinho balançou negativamente a cabeça enquanto eu revirava os olhos para sua resposta.

Benjamin simplesmente detesta jogos de tabuleiro e isso é um defeito para mim. Gosto dos momentos divertidos que são frequentes nesses jogos, porque sempre tem discussão e muitas risadas, mas nem à força ele joga e, acredite, eu já tentei. Ele mantém distância de qualquer coisa que envolva cartas, dados e peças coloridas. Benjamin diz que é chato e monótono e sempre fazia uma careta quando me via jogando – a mesma que estava fazendo naquele momento.

— O que vamos jogar agora? – Lucas perguntou e eu roubei seu boné em seguida colocando-o em mim apenas para provocá-lo, porque não fica bem em mim. Ele começou a tentar arrancá-lo da minha cabeça e, assim que o devolvi, Daniel ergueu o indicador, sinalizando que teve uma ideia.

— Pode ser Jogo da Vida? Quero ver se fico rico no jogo tão rápido quanto vou ficar na vida real.

Nós todos rimos e ele nos torceu o nariz, mas cedemos mesmo assim. Montamos e logo começamos a partida, Benjamin apenas assistindo aquilo com uma careta de desinteresse enquanto jogava o celular para cima e o pegava no ar. Depois um tempo concentrada, quando Daniel já tinha dívidas com o banco, conseguido uma família de sete integrantes e seu dinheiro estava acabando, percebi que meu vizinho tinha saído.

— Alguém coloca alguma música, por favor – Matheus pediu. – Mesmo perdendo, Daniel demora meia hora para avançar.

O loiro lhe mostrou a língua.

— O meu está carregando – Lucas disse.

— O meu também – comentou Daniel.

Sem o meu por perto, levantei-me e segui para o celular mais próximo – o de Benjamin. Como sabia a senha, peguei-o, esperando acessar o que seria a tela principal. Porém, assim que desbloqueei, vi que WhatsApp estava aberto, na conversa de alguém chamado Loiro Obeso.

Pela foto, era Daniel.

Ri ao ver o nome do contato, mas, como uma boa amiga, não planejava ler a conversa de meu vizinho com seu melhor amigo. Porém, antes que pudesse sair do aplicativo, uma coisa no chat me chamou a atenção. Era uma imagem que tinha sido enviada há uns quinze minutos por Daniel e Benjamin apenas visualizara.

Por estar reconhecendo quem era aquela na foto, cliquei na imagem para poder vê-la inteira. Tirada pelo Snapchat e tendo como legenda a frase “Quase fofos ♥”, a foto mostrava duas pessoas em um quase-abraço no carro. Estava um pouco claro pelo flash e pude reconhecer meu cabelo castanho-claro caindo sobre as costas de meu moletom enquanto uma cabeça com fios escuros estava apoiada sobre a minha, com um braço passado por meus ombros e uma mão sobre meu braço.

Deixei o sorriso que queria brotar em meu rosto aparecer, admirando por mais uns segundos aquela imagem que eu sabia que não sairia tão rápido da minha cabeça. Ela estava tremida, um tanto escura e quem visse não acharia aquela posição nem um pouco confortável, mas meu coração pulando como um louco discordava. A minha parte curiosa, que queria ver se tinha outras assim na conversa ou algo sobre mim, ficou tentada a subir a conversa.

— Lívia, está tão difícil assim achar uma música? – Matheus perguntou, despertando-me e eu engoli em seco, recobrando a consciência e percebendo que eu não deveria fazer aquilo, por mais tentada que tivesse. Coloquei Holiday do Green Day e aproveitei para olhar a imagem uma última vez antes de guardar o celular e fingir que nada havia acontecido.

Ali estava a última foto minha e de Benjamin.

Mais bonita que qualquer outra que tivéssemos pensado em tirar.

 Lívia.

20º Defeito: Benjamin não gosta de jogos de tabuleiro.


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Notas finais do capítulo

E a minha vontade de ter essa foto, como fica?

Para quem tiver interesse, o livro que a Liv estava lendo era Tempest, da Julie Cross ;)

Qualquer errinho que encontrarem, podem avisar!

Até o próximo ♥