30 motivos para odiar Benjamin Lacerda escrita por Huntress


Capítulo 21
5 de julho (segunda-feira) – 21º Defeito


Notas iniciais do capítulo

Alô, alô, alô, alguém aí? Acho que não.

Eu sei, eu sei, atrasei de novo. Parece que não me canso, né? Mas eu tenho motivos. O primeiro é um problema mais pessoal, o segundo é a minha escola mesmo (sério, de onde eu tirei que, mesmo estudando integral, ainda ia conseguir fazer dois trabalhos para a feira de Ciência e Tecnologia?) e o terceiro é o próprio capítulo.

Sendo sincera, eu simplesmente não gosto desse capítulo - o que não me impede de ter um enorme carinho com ele. Acho que o principal motivo é que o próximo capítulo é simplesmente meu BEBÊ, meu XODÓ e eu não vejo a hora de chegar nele, porque estou louca para postá-lo ♥

De qualquer forma, mil desculpas.

Agradecendo aqui à tefynha, QUEEN, Capricu, Arabella Cobain, Avalon, Coffee, karolayne, Blue Moon Rising, Eduarda, Jade anne, Capitu, SadGirl, Giovanna, Mia, Amanda, Tatá Ribeiro, Dorothy of Oz, paísdasmaravilhas, linderaleitora, Damma Queen, bella2203, NKIDDO, Sweet A, Adrielle Sanche e Ems pelos reviews ♥

E super agradecimento para a Damma Queen, que, além de me deixar um review mais fofo que o outro, ainda quase me causa um ataque cardíaco com aquela recomendação maravilhosa! Sério, espera aí que eu tô indo te abraçar! Ahsuahsuahsuah ♥

É isso! Boa leitura ♥



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5 de julho (segunda-feira) – 21º Defeito

Acordei com a luz do sol entrando pela única fresta da cortina. Virei-me para o outro lado da cama e puxei meus cobertores que estavam quase caindo no chão pela quantidade de vezes que me mexi à noite. Fiquei mais um tempo deitada, mas desisti de tentar dormir de novo.

Escovei os dentes e penteei rapidamente o cabelo, tentando mudar o estado deplorável que estava por saber que outras pessoas me veriam ali, mas não deu certo, então o prendi em um coque. Os fios recentemente desfiados e mais curtos ficavam soltos o que apenas contribuiu para deixar o penteado mais bonito. Ao olhar no espelho, vi que estava apresentável e, ao focar na camiseta masculina que usava como pijama, sorri.

Comprei-a de presente para Benjamin no Natal do ano passado. Ele havia me dito que sua saga favorita era Harry Potter e que já tinha lido cada livro pelo menos cinco vezes, sendo a grande exceção da sua vida, o que até nos levou a fazer uma maratona no meu quarto e iniciar uma discussão sobre as casas de Hogwarts, além de procurar testes na internet. Acabou que eu iria para a Corvinal e Benjamin, para a Sonserina. Meu vizinho continua dizendo que sua carta apenas se perdeu.

Alguns dias antes da festa, eu estava passeando no shopping quando parei em frente a uma de minhas lojas favoritas, cheia de pôsteres, camisetas, bonecos de ação, quadros e tudo que puder imaginar com temas que vão de séries às personagens de HQs. Em um dos manequins, estava essa camiseta cinza com os dizeres "My patronus is a piece of pizza". Pensei em meu vizinho na hora e decidi comprar, já que teria que dar um presente para Benjamin. Percebi que fiz a escolha certa quando, depois da ceia de Natal, ele abriu seu presente em seu quarto e abriu um sorriso de ponta a ponta.  

Benjamin usava muito aquela camiseta e eu adorava vê-lo com ela. Porém, certo dia, passei a tarde na casa dele e acabamos por ter que correr na chuva por algum motivo. Eu estava tremendo de frio e disse que iria para casa, mas Benjamin falou que eu poderia pegar alguma de suas roupas. Optei pela camisa que dei de presente e coloquei uma de suas bermudas dos treinos de futebol americano.

Por fim, Benjamin acabou esquecendo que me emprestou e eu, por ter simplesmente amado aquela blusa, decidi escondê-la quando ele apareceu no meu quarto perguntando se a tinha deixado ali uma semana depois do ocorrido. Eu a uso desde então e esperava que Benjamin não a tomasse de mim quando me visse com ela.

Depois de conferir se o diário continuava no bolso fechado a cadeado, desci para tomar café, mas ninguém estava acordado devido ao horário, o que me obrigava a ter que esperar. Por isso, voltei e peguei meu cobertor, seguindo para a sala e ligando a televisão, colocando no canal que passava um episódio de South Park para ocupar o tempo.

Aos poucos, as pessoas foram descendo, mas eu estava deitada e ninguém reparava que tinha uma garota com os olhos pesando de sono que queria, porém não conseguia, dormir. Reconheci a voz de Daniel e comecei a ouvir o bater de pratos e vozes baixas no cômodo ao lado, mas permaneci ali. Foi só depois de um tempo que o loiro percebeu que a televisão estava ligada e veio ver quem estava ali.

— Bom dia – falou bocejando e eu fiz o mesmo. – Já vai comer?

Neguei com cabeça, ainda deitada no sofá. Daniel deu um sorriso sonolento e saiu do cômodo, deixando-me sozinha novamente, ainda assistindo o programa enquanto tentava conseguir um pouco de ânimo que me fizesse ter vontade de levantar.

Depois de um tempo, deixando a fome vencer, coloquei-me de pé e decidi comer para acalmar meu estômago, que começou a roncar ao sentir o cheiro de café. Entrei na cozinha, passando pela mesa só para pegar um prato e dando um rápido aceno sem ficar para ver se alguém retribuía. A luz acesa incomodava meus olhos, mas consegui pegar uma torrada e requeijão, além de encher uma xícara com leite e café.

— Acabei de descobrir o paradeiro da minha camiseta favorita – ouvi a voz do meu vizinho pouco antes de me sentar à mesa e não pude conter o sorriso ao olhar em sua direção. Ele estava comendo cereal com leite e balançava negativamente a cabeça, com os olhos cerrados e um sorriso de canto.

Eu sabia que Benjamin gostava da camiseta, mas não sabia que era tanto assim.

— Foi mais forte que eu – afirmei, dando de ombros. – Você sabe o quanto eu amo essa camiseta.

Ele pareceu ofendido.

— Você sabe o quanto eu gosto também. Mistura as duas melhores coisas do mundo em uma só camiseta: Harry Potter e pizza — comentou. Eu ri e revirei os olhos, encarando sem querer Mariana, que me olhava de forma nada amigável. – E eu quero de volta.

— Vai ter que lutar por ela – disse, olhando-o desafiadoramente, e logo comecei a comer, deixando o assunto morrer.

Depois disso, os pais de Benjamin desceram e se juntaram a nós. Fiquei calada até acabar a refeição e fui me trocar assim que avisaram que iríamos para a praia e passaríamos o dia lá. Peguei meu protetor e coloquei meu maiô azul aberto nas laterais e um short jeans escuro, cobrindo a roupa de banho com uma blusa branca cavada.

— Liv, está pronta? – Daniel perguntou já entrando, mas com uma das mãos tampando seus olhos.

— Estou sim, pode olhar – respondi, rindo, e ele me encarou.

— Cadê seu biquíni?

Ergui uma sobrancelha.

— Quê?

— Por que não usa biquíni, Lívia? – perguntou e eu suspirei.

— Não fico confortável.

Daniel revirou os olhos.

— Mais uma daquelas suas inseguranças? – indagou retoricamente e se aproximou da minha mala, um aperto surgindo em meu peito quando ele passou o dedo pelo cadeado. – Sabe, Liv, você precisa parar de ver problema onde não tem.

— Eu só estou vendo os problemas que existem, Daniel – comentei, um tanto contrariada. Discutir minhas pontuações sobre meu corpo com ele não estava nos meus planos para aquele dia. – O maiô também ajuda a não me sentir uma alienígena no meio daquele povo bronzeado.

Daniel riu e me jogou o biquíni verde que minha mãe me forçara a trazer.

— Seu tom de pele estilo porcelana é mais legal – brincou e eu lhe mostrei a língua. – Faz as pessoas acharem que você é frágil.

— E eu não sou?

O loiro gargalhou.

— Lívia, olha esse sarcasmo quase ácido que sai da sua boca todo dia – Daniel apontou. – De frágil você só tem o rostinho mesmo.

Ri e revirei os olhos.

— ‘Tá, finge que eu acredito.

— Veste o biquíni, eu vou votar – falou e apontou para a porta do banheiro.

— E meu voto não conta, não?

— Não – respondeu. – Considere isso como a primeira dica do meu futuro livro: Mil maneiras de vencer a insegurança, por Daniel Moraes. Vai logo.

— Que dica? "Provar o biquíni"?

— Não – ele falou. – Ter um Daniel por perto.

Fingi uma risada e, sem saída, segui até o banheiro e me troquei, sentindo-me mais desconfortável do que nunca ao ver meu tom de pele aparecer mais do que o normal assim que me olhei no espelho. Podia ver algumas partes nem tão durinhas e nenhum gomo aparecendo em meu abdômen. Não iria daquele jeito nem morta, mas, ainda assim, segui de volta para meu quarto.

— Pronto, posso por meu maiô de novo? – indaguei, já entrando. Daniel estava sentado na cama e ergueu o olhar para mim, analisando-me de cima abaixo de uma forma que fez o tom claro de minhas bochechas ser tomado pela vermelhidão que se mostrava apta a transitar por meu corpo.

— Claro que não, você vai assim.

Resmunguei.

— Daniel, eu não quero ir assim! – exclamei e, antes que ele pudesse responder, seus olhos vagaram para a porta atrás de mim.

— Ben! – ele chamou e meu olhos se arregalaram. Em pânico por imaginar meu vizinho me vendo assim, abracei minha barriga poucos segundos antes do garoto de olhos verdes e cabelos escuros aparecer em meu campo de visão.

Benjamin primeiro focou o olhar em Daniel, sentado na cama, mas logo reparou que eu estava ali e, ao se virar, congelou no lugar. Soube em seguida que minha pele estava da cor de um pimentão e comecei a balançar o pé para vencer o nervosismo que fazia meu coração acelerar a ponto de suas batidas serem o único som a ocupar meus ouvidos.

— Ben, maiô ou biquíni? – o loiro perguntou.

Meu vizinho continuou quieto. O olhar vidrado.

— Ben! – chamou-o novamente e ele pareceu acordar.

— O-o quê?

Daniel deu um sorriso de orelha a orelha.

— A Lívia – começou a explicar, apontando para mim, quem Benjamin olhou de novo, dessa vez da cabeça aos pés. – deve usar maiô ou biquíni?

Um leve tom rosado se apoderou do rosto de meu vizinho.

— Eu acho... – falou, voltando-se para o amigo. – Que ela deve usar o que achar confortável.

Suspirei de alívio.

— Viu? – recuperei minha voz. – Agora, com licença.

— Vamos, Lívia, qual o problema com o biquíni? – Daniel tentou de novo.

— O problema é que sou muito pálida!

— E amanhã vai ser qual defeito? – ele perguntou. – Sério, você está ótima. Sem neura, por favor. Não é, Ben?

Benjamin engoliu em seco, mas assentiu. Eu revirei os olhos.

— Você não vai desistir, né? – perguntei ao loiro.

Daniel sorriu.

— Nunquinha – comentou e se colocou ao meu lado, empurrando-me para fora do quarto e me guiando em direção ao espelho. – Está vendo ali? Aquela é você. Essa garota com cabelos bagunçados, rosto vermelho e olhos em um tom mel invejável consegue ser insegura com um corpo bonito assim!

Eu ri, envergonhada.

— Pare de focar nos defeitos, Lívia – reforçou. – Olhar as qualidades é bem melhor.

Suspirei e então assenti.

— Ok – dei-me por vencida.

Daniel arregalou os olhos, surpreso.

— O quê?

— Ok, você me convenceu.

Enquanto Daniel comemorava, voltei para o quarto e coloquei minha saída de praia, pegando meu óculos de sol em seguida. Percebi que Benjamin havia sumido e, sem alternativas, eu e Daniel descemos sozinhos, esperando do lado de fora. Decidi usar durante esse intervalo o meu celular e mandar mensagem para minha mãe e para Carol, mas esta já tinha me deixado algumas.

Carol: Bonito, dona Lívia. Vai viajar e nem avisa os amigos.

         Eu te desculpo por isso se me contar todos os detalhes.

         E quando eu digo “todos”, eu quis dizer todos mesmo.

Ri e revirei os olhos, digitando uma resposta em seguida.

Eu: Pela milésima vez nesses dias, desculpa. Prometo que conto.

      Além do mais, tenho um convite.

Carol: Da última vez que disse isso, a noite não terminou muito bem.

Eu: Eu sei, mas dessa vez é algo legal.

     A final de futebol americano do colégio do Benjamin é nessa sexta-feira.

Carol: Então está combinado. Você volta que dia?

Eu: Quinta-feira de manhã.

Carol: Ok, vejo você na final.

Guardei o celular na bolsa e voltei a encarar Daniel, com seus óculos de sol e um calção verde, além do sorriso presunçoso pairando em seu rosto. Depois de um tempo, Lucas e a asiática se aproximaram, seguidos por Mariana, Matheus e a outra garota. Por fim, Benjamin chegou com uma blusa clara e o calção, usando uma sandália de couro masculina, e avisou que seus pais iriam só na hora do almoço.

Caminhamos por algum tempo, todos em pares. Lucas continuava com a asiática, Matheus estava com a morena, Benjamin e o Mariana estavam de mãos dadas e eu e Daniel acabamos andando juntos. Não que eu esteja reclamando.

— Daniel? – chamei-o e ele se virou. – Isso aqui é meio que uma viagem de casais?

Ele olhou para as pessoas andando em duplas na nossa frente e riu. Encarou-me em seguida.

— Não muito – respondeu. – Quer dizer, Benjamin está com a Mariana e muitos desconfiam que Lucas e Sofia estejam saindo, mas o resto foi mais por amizade mesmo.

— Tem certeza? Matheus e aquela morena parecem muito chegados.

Ele riu.

— Gabriela está namorando com o primo dele – explicou-me o loiro. – E Matheus... Bom, ele não está interessado na Gabi ou em nenhuma outra garota.

Ergui uma sobrancelha, surpresa.

— Nossa, jurava que eles estavam juntos – comentei e Daniel sorriu.

— Eles ficaram bem próximos mesmo, mas os dois estão em relacionamentos estáveis.

Assenti com a cabeça.

— E só para que fique claro, nós não somos um casal – falei para ele, que se fingiu de ofendido.

— Você está me dando um fora, Lívia? – colocou sua habilidade teatral em prática. – Depois de tudo que passamos juntos?

Algumas pessoas do grupo se viraram, mas eu ignorei e ri. Peguei a mão do loro.

— O problema não é você, Daniel – comentei, fingindo compaixão. – Sou eu.

— É claro que é você! – exclamou, arrancando a mão da minha. – Olha quem você está deixando!

Foi então que Daniel chutou um monte de areia na minha direção e despejou uma quantidade no meu cabelo, saindo correndo em seguida. Encarei-o, furiosa, e pude vê-lo ao longe com sua melhor cara de anjo enquanto segurava um sorriso. Corri em sua direção e lancei protetor solar em suas costas, o que o fez se contorcer pela surpresa e logo começar a me perseguir também.

Já na praia, todos colocaram os pertences embaixo do guarda-sol que Lucas fincou na areia. Logo as garotas decidiram entrar na piscina e ficaram só de biquínis, o que eu decidi não fazer por enquanto, já que preferia aguardar um momento que ficasse mais à vontade. Minha humilhação começava pela marca das roupas que elas usavam. Mariana vestia um biquíni azul, Gabriela – a morena – usava um preto –, e Sofia (a de olhos puxados), um amarelo.

Estendi minha toalha e deitei, apoiando os cotovelos no solo e peguei meu livro da Julie Cross para passar o tempo. A morena se aproximou e pediu meu protetor, o que emprestei, e ela perguntou se eu queria um spoiler, o que, claramente, neguei. Pouco tempo depois, eu fiquei sozinha tomando sol, já que os garotos tinham alugado pranchas e estavam tendo aulas com o instrutor e as meninas estavam no mar.

Depois uma meia hora, fiquei só de biquíni e apoiada de barriga para baixo para ganhar cor em outras partes do corpo. Acabei me desligando do mundo, levantando apenas uma vez para pegar mais água de coco, e foquei no livro. Infelizmente, fui interrompida uns minutos depois por uma sombra que tampou o sol e tive que abandonar a narrativa de Jackson por um momento. Ao erguer o olhar e tampar o sol com uma das mãos, vi um garoto desconhecido parado à minha frente.

— Posso ajudar em alguma coisa? – perguntei com um sorriso fraco que expunha minha impaciência.

O rapaz, porém, não se abalou e sorriu. O cabelo era mais comprido, indo até os ombros, e levemente encaracolado. Tinha a pele bronzeada e dois colares em seu pescoço. Estava apoiado em sua prancha, completamente molhado, o que me fez ter que tirar meu livro de perto para não respingar.

— Pode sim – brincou, agachando-se. – Pode me dar seu telefone.

Eu ri.

— Acho melhor não.

— Desculpa, deixa eu começar de novo – pediu, sorrindo. – Meu nome é Henrique e, quando te vi aqui sozinha, achei que precisaria de companhia.

Sorri fracamente e logo olhei para onde os garotos estavam. Tive uma ideia.

— Não estou sozinha, meu namorado está ali – disse e apontei para onde estavam, mas sem especificar qual deles. O garoto à minha frente, contudo, apenas olhou para onde eu havia apontado e se voltou para mim, sorrindo.

— Entendi – comentou, claramente descrente. – Posso só te dar meu número caso mude de ideia em relação ao namorado?

Cerrei os olhos em sua direção e ele me ergueu uma sobrancelha, desafiador. Não pude suprimir um sorriso e lhe estendi meu celular, no qual ele rapidamente salvou seu contato, com o nome “Henrique da praia”.  

— Desculpa atrapalhar – falou ele e acenou, despedindo-se, indo em direção ao mar. Balancei negativamente a cabeça, rindo, e voltei a ler meu livro.

Isso até outra sombra parar a minha frente.

— Olha, garoto, eu já disse que tenho namorado – falei sem tirar os olhos do meu livro, mas com um sorriso no meu rosto, erguendo o rosto em seguida.

— Você tem? – Benjamin perguntou, a cara fechada e o cenho franzido.  

— Ah, não vi que era você – comentei, sentando-me. – Achei que era aquele mesmo garoto que acabou de sair

Benjamin pareceu relaxar. Riu em seguida.

— Então você usou uma desculpa para escapar? – indagou e eu assenti com a cabeça. – Tudo bem então, só vim aqui porque achei que precisava de ajuda.

— Obrigada, mas já tinha resolvido – respondi.

— Ótimo, então agora a gente pode fazer isso – comentou, um sorriso maldoso aparecendo em seu rosto enquanto ele olhava para algo atrás de mim. Franzi o cenho e me virei, vendo Daniel, Matheus e Lucas bem perto. Arregalei os olhos e fiquei de pé rapidamente, afastando-me deles.

— Eu sei o que vocês estão planejando – afirmei, fuzilando-os com o olhar. – Nem tentem.

Mal terminei de falar isso e Lucas e Matheus agarraram meus braços enquanto os outros dois tentavam segurar minhas pernas sem sucesso, já que eu esperneava e chutava areia para todo lado. Infelizmente, eles conseguiram depois de um tempo e me ergueram enquanto eu resmungava em vão. Comecei a implorar para não que não fizessem aquilo, mas eles já estavam me arrastando mar adentro. Tentei me desvencilhar, mas logo a primeira onda me encharcou e eles me soltaram.

— Eu odeio vocês do fundo do meu coração – comentei e eles caíram na risada. Aproveitei o momento para jogar água na cara deles, que logo começaram uma guerrinha entre si.

Ficamos ali até a hora do almoço, já que todos estavam com fome e o sol ficaria mais forte naquele horário. Saímos em direção a um restaurante próximo da praia, com uma parte aberta que nos dava uma visão privilegiada da praia. Sentamos em uma mesa redonda com cadeiras de plástico porque estávamos molhados e logo pedimos a comida.

Enquanto comíamos, os garotos começaram a conversar sobre a formatura e como estavam os preparativos. Por um momento, todos na mesa interagiram e as garotas logo contaram histórias cômicas sobre os meninos. Algum tempo depois, o assunto migrou para a ansiedade que estavam sentindo devido à final no sábado.

— E, novamente, Benjamin não me convidou para assistir – comentei, encarando meu vizinho com um olhar brincalhão, quando todos estavam quietos e Renata encarou o filho.

— Como é? – perguntou e meu vizinho se encolheu um pouco na cadeira, erguendo o olhar para mim. – Você sempre disse que Lívia não podia ir porque estava ocupada.

— Ocupada esperando o convite do Ben – Daniel comentou e Benjamin encarou-o com desprezo.

— Então estamos te convidando agora, caso Benjamin decida fazer graça de novo – Marcos comentou e eu agradeci. Olhei rapidamente ao redor e reparei que Mariana cochichava algo no ouvido de Sofia, que me analisou, séria.

— Sempre achei que Benjamin não queria que Lívia assistisse porque tinha medo de perder e passar vergonha na frente dela – ouvi Renata comentar e ergui o olhar, só para ver Benjamin engolir em seco enquanto eu pedia mentalmente para não enrubescer.

— Não se sinta ofendida, Mari – Marcos começou e toda a mesa se calou. Mariana se virou e sorriu fracamente.

— Ofendida pelo quê, sogrinho? – perguntou e tive que morder a parte interior da minha boca para controlar a vontade de revirar os olhos. Olhei para Daniel e pude vê-lo esconder o riso enquanto colocava uma garfada na boca.

— Nós achávamos que Lívia e Benjamin seriam um casal – Renata falou.

Arregalei os olhos ao ouvir o comentário de Renata e pude ver que Benjamin teve a mesma reação que eu, enquanto o Protótipo de Barbie parecia que queria me afogar no pote de molho que tinha na mesa. Só que a reação mais inesperada foi a gargalhada de Daniel ao meu lado e como ele engasgou logo em seguida com a comida.

— Acredita que eu também pensava isso, Renata? – o loiro perguntou depois de beber um pouco do seu refrigerante para desengasgar. Vire-me para ele, chocada, mas ele estava ocupado demais recebendo um olhar incrédulo de meu vizinho.

— Eles sempre foram tão grudados, né? – indagou e Daniel assentiu enquanto eu tentava esconder meu rosto na toalha da mesa.

— E Ben falava dela sempre, era até cansativo. AI! – Daniel gritou, atraindo olhares curiosos, e acariciou sua canela, encarando furiosamente Benjamin, que estava sentado à sua frente.

— Mas não precisa ter ciúmes, Mari – Renata disse. – Você só vai ter que se acostumar com a ideia de que esses dois não vivem longe um do outro.

Foi a minha vez de segurar uma risada ao ver a cara de Mariana, que era algo perdido entre a tentativa de agradar os sogros e me fuzilar com o olhar disfarçadamente. Foquei então em meu prato, segurando aquela parte minha que queria achar tudo aquilo fofo e controlando a vontade de olhar Benjamin, já que isso poderia deixar algo aparente.  

Depois de comermos, descemos novamente e nos sentamos em uma áreas com pedras próximas ao mar. Mariana arrastou suas seguidoras até nosso guarda-sol para retocar o protetor solar enquanto eu fiquei ali, evitando olhar diretamente para meu vizinho e focando em minha pele já queimada pelo sol.

Lucas então cutucou Benjamin e eles analisaram o grupo de garotas esbeltas que estava passando. Cruzei minhas pernas, afastando-me um pouco deles. Daniel e o moreno assobiaram quando as moças passaram, que sorriam envergonhadas, e meu vizinho balançou a cabeça, rindo. Tudo bem que ele tem namorada, mas sei que só não imitou os amigos porque Benjamin não sabe assobiar. Era uma das coisas que ele me pediu para ensinar, mas desistiu depois de ver que eu não conseguia parar de rir de suas caretas enquanto tentava me imitar.

Quando as garotas voltaram, o único que ficou foi Daniel, que depois me chamou para subir em suas costas e me levou para a água, onde ficamos conversando até o loiro começar com provocações sobre aquela cena na mesa. Acho que, por estarmos sozinhos, a curiosidade em mim aflorou e eu perguntei:

— Por que você não gosta da Mariana?

Daniel piscou algumas vezes seguidas e se calou, o sorriso em seu rosto lentamente se desfazendo enquanto a vontade que tinha de pedir para que esquecesse de minha pergunta aumentava. Ele então abriu a boca e eu esperei um comentário irônico.

— Não é que eu não goste, é... Complicado – comentou com um suspiro. – Mariana me lembra de alguém que eu quero esquecer.

— É aquela Vanessa?

Pela reação de Daniel, meu chute estava certo. Ele sorriu e assentiu.

— O que aconteceu?

— Ela era amiga da Mariana e, para falar a verdade, a gente nem se falava no começo – contou, rindo. – Vanessa era meio na dela e só conversamos por causa de um trabalho em grupo, mas ela se tornou uma grande amiga e logo eu dei o próximo passo.

Daniel estava vermelho. Eu ri.

— No início, era às mil maravilhas: conversávamos, saíamos todo fim de semana, almoçávamos juntos... – continuou, brincando com a água. – Mas começamos a nos afastar. Não sentia mais a necessidade de vê-la todo dia e era recíproco, brigávamos mais do que nos olhávamos e... Bom, dessa vez foi ela quem tomou a iniciativa e decidiu terminar.

— Sinto muito.

Ele sorriu fraco.

— Mariana ainda fala com ela – explicou. – E é um dos motivos de não nos darmos bem. A Mari é bem passional e me culpou pelo afastamento da Vanessa do nosso grupo.

Daniel nem olhava mais para mim, encarava sua mão enquanto brincava com a água, um ar nostálgico pairando sobre si. Fiquei em silêncio, esperando alguma forma de permissão para falar, mas ele continuou:

— Depois que você passa essa “casca” da Mariana – Daniel explicou. – Você vê que existe uma menina frágil, sabe? – ele riu. – Você tinha que ver no começo, quando ela era apaixonada pelo Ben e começou a melhorar as notas em química só para ter o que falar com ele.

Daniel então pareceu lembrar de algo e me encarou de canto, o que não entendi. Se ele aguardava uma reação, podia esperar sentado, pois, mesmo uma parte minha sentindo o ciúme percorrer meu interior, a outra sorriu pela história bonita.

— Benjamin não falava com ela? – perguntei para não deixar a conversa acabar.

— Só um cumprimento ou outro, mas a Mari estava sempre por perto.

— E ele não dava atenção para ela?

Daniel sorriu.

— Digamos que Benjamin estava focado demais em outra coisa para lembrar que ela existia.

Antes que pudesse perguntar mais sobre isso, Lucas nos chamou, dizendo que teríamos de ir. Na casa, tomei um banho e decidi jantar na sala, deixando para escrever depois. Logo, o grupo todo decidiu se juntar a mim, cada um com seu prato de pizza e já usando seu pijama.

Enquanto Gabriela e Matheus discutiam sobre o possível filme e seus amigos tomavam partido, olhei para Benjamin e vi que ele também estava alheio à conversa, sorrindo para mim e apontando para a minha/sua camiseta que eu usava. Para provocar, ergui minha pizza como se fosse um brinde e ele fez o mesmo, pegando seu celular logo em seguida. O meu vibrou poucos segundos depois.

Cabeça de Estrume: Ainda quero minha camiseta de volta.

Eu: Desista, Lacerda, ela agora tem uma nova dona.

Cabeça de Estrume: Quer dizer que, além de chata, é cleptomaníaca agora?

Eu: Muito engraçado. Apenas aceite que você perdeu essa.

Cabeça de Estrume: Nunca.

Eu: Acredite, quando receber seu presente de aniversário, você nem vai lembrar dessa camiseta.

Cabeça de Estrume: Você está me deixando curioso, Nogueira.

Eu: Essa é a intenção, Lacerda.

Ele riu ao ler a mensagem, mas não escreveu mais nada e logo a morena notificou que escolheu um filme, o que fez com que todos se espremessem no sofá e no tapete. Benjamin foi se sentar ao lado da namorada enquanto Matheus e Lucas começavam uma rápida partida de truco – que, curiosamente, Daniel fora proibido de participar. Sentindo-me um tanto entediada, decidi subir para o meu quarto, não me dando ao trabalho de avisar ninguém.

Aproveitando então que estava sozinha, optei por escrever no diário, porque já estava bocejando e sabia que logo desistiria de escrever. Sabe o quão cansativo é escrever o meu dia inteiro à mão? Como foi que a Rowling aguentou escrever os livros de Harry Potter assim? Duas páginas e meu braço já começa a doer.

Tentando ficar mais confortável, decidi ir para a sacada, puxando uma das cadeiras para perto da mureta de forma que pudesse apoiar meus pés ali. A brisa fria era agradável e parecia me ajudar a concentrar enquanto eu batia levemente o lápis nos lábios e repassava o dia.

Foi então que aconteceu.

Alguém arrancou o diário da minha mão.  

Prendi todo o ar em meu pulmão enquanto me colocava em pé, já sentindo meu cérebro entrar em pânico e repetir mentalmente que minha vida estava acabada. Tudo piorou assim que foquei o olhar na pessoa que segurava meu diário e reconheci os cabelos escuros bagunçados e os olhos verdes de Benjamin Lacerda, o motivo, em carne e osso, que me levou a começar a escrever tudo isso.

— Benjamin, me dá agora – pedi, a voz tremendo, assim como meu corpo. O diário estava fechado, felizmente, mas só uma olhada na primeira página e meu mundo estaria arruinado.

Meu vizinho sorriu, contrariando o desespero em meu interior.

— Desde quando você está escrevendo, Lívia? – perguntou, os olhos verdes brilhando de uma forma calma e curiosa que não combinava com o turbilhão de sentimentos que faziam meu coração acelerar. Uma parte do meu cérebro nem funcionava e mal escutava as palavras que eu e ele falávamos enquanto pedia mentalmente que meu vizinho não ousasse abrir.

Desde quando estou escrevendo, Benjamin? Que tal “desde o dia que me contou que estava namorando, porque foi a melhor forma que encontrei de lidar com essa bomba que você jogou no meu colo”? É uma boa resposta?

— Tem um tempo – respondi, soltando o ar preso. Minha respiração acelerada fez com que falasse rápido e acabasse por expor meu nervosismo, o que Benjamin interpretou errado e o fez sorrir. Enquanto ele se divertia, meu coração apertava cada vez que meus olhos deixavam de focar em seu rosto e voltavam a ver o caderno de capa azul esgarçado em sua mão no qual todos os meus sentimentos estão expostos.

— Caramba, por que não contou? Há quanto tempo eu não te falo para fazer isso?

Benjamin sempre elogiou minha escrita e vivia pedindo para que eu fizesse suas redações e resenhas críticas. Porém, logo contei para ele que não eram apenas dissertações que eu fazia e comentei sobre as diversas ideias de livros que tive, mas que nunca tive paciência ou vontade o suficiente para começá-los. Como bom melhor amigo, comentou que havia adorado o enredo e que, mesmo não lendo nada além de Harry Potter, abriria uma exceção para mim.

E ali estava ele, achando que meu diário na verdade era um livro de ficção.

— Benjamin, me dá isso – mandei, aproximando-me, e ele foi para trás, abrindo o diário e passando as folhas rapidamente. Meu coração subiu para a garganta e eu suprimi minha vontade de gritar que misturava com aquele desespero que formava um nó em minha garganta.

— Qual é, Lívia! Eu sempre quis ler algo seu.

Sim, algo com mitologia e magia. Não um diário no qual eu conto o que sinto por você.

— Be-Benjamin, não ‘tá pronto, devolve – falei, sentindo meu coração quase rasgar a garganta e tremendo dos pés à cabeça, algo que meu vizinho pareceu não perceber, especialmente porque o brilho de curiosidade em seus olhos estava mais relacionado à vontade de ler meu suposto livro.

— Você realmente vai esconder de mim? – perguntou, inocente. – Sabe que eu sempre...

— BENJAMIN! – gritei, fazendo com que ele arregalasse os olhos e parasse de falar, encarando-me de forma chocada. – Me devolve. Agora.

O rosto de meu vizinho então se fechou completamente, o brilho bonito de seus olhos logo substituído por aquele tom escuro que se mostrou desagradável naquele momento. Com o silêncio se instalando sobre nós, pude perceber que Benjamin refletia em sua feição como aquilo havia ferido se ego, que, apesar de grande, machucava-se facilmente.

— Se fosse o Daniel você já teria mostrado, né? – perguntou, o olhar demonstrando clara mágoa e incredulidade que, para mim, eram ilógicas. Porém, antes que eu pudesse questionar ou rebatê-lo, Benjamin me deu as costas, não sem antes colocar com uma considerável força o diário em minha cama, e saiu do quarto pisando duro.

Fiquei encarando o nada por um tempo, ainda de pé e sem a menor vontade de tocar no diário. Eu sei, escrever aqui se tornou um gostoso passatempo e parece estar me ajudando a lidar com a questão de expor ou não sentimentos, que as vezes parecem aflorar de minha pele. Porém, acho que não é em mim que se pode ver o maior efeito desse diário. De alguma forma, eu acho que é em Benjamin.

Parece que meu vizinho está querendo me confundir mais do que o normal.

Lívia.

21º Defeito: Benjamin não sabe assobiar.

 


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Notas finais do capítulo

Ai, ai, Vanessa... Tenho tantos planos para você... ;)

Se encontraram algum erro, peço desculpas. Estava com muita pressa!

Até o próximo ♥