Design do medo

Ele deu-lhe as costas e se afastou, em um misto de decepção e mágoa.

– Não, não é isso, droga! - a jovem exclamava, debruçada sobre papéis, os quais pareciam desalinhados por cima da mesa.

Aqueles desenhos, minuciosamente calculados e planejados, pareciam-lhe rabiscos desconexos.

Sua respiração estava entrecortada, e seu coração, descompassado. Suas mãos apertavam-se e se remexiam nervosas, enquanto seus olhos relanceavam sobre os vários esboços incompletos.

– Isso precisa ficar pronto até depois de amanhã! - falou de si para si, irritada.

Pegou uma das folhas, observando-a. Os cômodos do apartamento delineado aparentavam harmonia e um rigor belo e discreto.

– Não, não! - enraiveceu-se.

Recolocou o papel em seu lugar, com um profundo e doloroso suspiro, e dirigiu-se à cozinha.

Enquanto enchia um copo com água, as imagens de seus desenhos, a imperfeição, o tempo convencionado se esvaindo, reboavam em sua mente.

Apenas percebeu que o copo se enchera quando o líquido molhou sua mão, que segurava o recipiente. Ao levá-lo aos lábios, atentou-se em seu tremor.

Talvez não conseguisse terminar o trabalho que aceitara, talvez fosse demitida da empresa. E essas idéias a atemorizavam.

As lágrimas, acres e quentes, desceram-lhe as faces pálidas de medo.

Não devia ter aceito aquele trabalho. Devia ter percebido sua incapacidade.

Suas limitações começavam a encoleriza-la. Não alcançava, com seus desenhos, suas idéias utópicas, porém essenciais para um produto com sua autoria.

– Merda! - gritou, após os últimos goles, jogando o copo de vidro contra a parede.

O vidro despedaçou-se violentamente contra os azulejos lisos e gélidos. Um dos fragmentos do copo ricocheteou, e voltou em direção ao rosto da jovem.

Ela estancou repentinamente, atônita com o corte que sentira.

O rapaz, que a deixara só instantes atrás, seguiu o barulho que ouvira, apressado. Pegou a jovem pelos ombros e falou, firme e enérgico:

– Ficou louca de vez?!

Entretanto, não continuou a falar, quando viu uma lágrima escorrer dos olhos dela e se misturar a uma gota de sangue, que escorrera do corte em seu rosto.