Sete Maneiras de Ser Humano escrita por Hinalle


Capítulo 7
As trevas da razão - Avareza




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As trevas da razão

 

Seus olhos castanhos deslizavam pelas notas, em suas mãos, com agilidade e cuidado.

– Vai doar dinheiro pra campanha do colégio?

A voz, grave e doce, desenhou, em seus lábios, um sorriso espontâneo e infantil, enquanto levantava o rosto em direção às palavras.

– Oi, professor! Não sei se vou doar não, por quê?

– Porque você aí parada, na frente da diretoria, contando seu dinheiro. Imaginei que estivesse pensando na campanha que o colégio propôs.

– Na verdade, eu pensando nela sim. Eu tava indo embora pra casa, e, passando em frente da diretoria, me lembrei da campanha. Mas acho que não vou doar.

Ele se surpreendeu com a confissão, porém, a racionalidade no tom de voz da aluna o fizera mascarar suas emoções. O que levaria uma jovem a pensar daquele modo?

– Mas por que não? - resolveu investigar.

– E por que sim? - respondeu, sem alterar-se.

– Porque pessoas precisam desse dinheiro...

– Eu também preciso dele.

Ele sustentou aquele olhar gélido, que roçava-lhe o rosto, sincero e ingênuo em sua racionalidade monstruosa.

– O dinheiro não é de seus pais?

– É minha mesada, e já é o segundo mês seguido que peço ela adiantada.

O professor abafou, em sua garganta, um suspiro aflito.

A ganância cegava-lhe. A miséria parecia-lhe distante, ou, ao menos, mais distante que suas necessidades e privilégios.

Pousou-lhe a mão no ombro e falou, cuidadoso:

– Acho que eu não sou ninguém pra dizer o que é certo ou errado, e, por isso, quero te contar minha opinião. Eu achava que doar dinheiro era o jeito mais fácil de praticar a caridade, exatamente pelo fato de que, para nós, da classe média, ele não nos falta. Mas até dar uma esmola parece difícil hoje em dia.

Os olhos da jovem desviaram-se dos dele, incomodada e entristecida consigo própria. Ela não via nada, porém. Olhava para dentro de si, pálida de vergonha.

– Desculpe se fui indelicado - concluiu, desprendendo aquele suspiro dos lábios. – Cada um sabe de si, e não estou aqui para julgar ninguém. Se vai doar ou não, cabe a você escolher.

E sorriu gentilmente  como despedida, dando-lhe as costas e seguindo seu caminho.

Ainda com o dinheiro nas mãos, viu-o partir.


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Notas finais do capítulo

Gente, oiê! Aqui estamos nós, no último miniconto da série...

Gostaria de me desculpar pela longa demora na postagem. Os deveres, acumulados da escola, ocuparam todo meu tempo reservado para as Sete Maneiras. A avareza também foi um tema que exigiu algumas pesquisas, para que eu pudesse entender esse universo.

Gostaria de agradecer a todos que me acompanharam nessa “saga”! Foi bem diferente escrever histórias tão curtas, mas que tentam dizer tanto. Um muito obrigada especial a todos que comentaram, me incentivaram, tudo!! Muito, muito obrigada, mesmo!!

E, pra finalizar, adorei desenvolver esse trabalho. Tanto por ter conhecido as pessoas que conheci, como pelos desafios que apareceram e experiência que ganhei. Enfim, agradeço a todos que me ajudaram nesse projeto, porque, afinal, também fazem parte dele!!