Azedas gulodices

O suave caramelo derretia em sua língua morna e macia, enquanto o aroma doce e a breve sensação de prazer invadia-lhe a mente, para logo abandoná-la.

Seus olhos castanhos, fixos nas imagens ofuscantes da televisão, distraíam-na.

Seus dedos, levemente sujos, digitaram algo sobre o teclado do notebook em seu colo, antes que ela o fechasse e o colocasse sobre o sofá, ao seu lado.

Levantou-se, puxando para baixo a barra da camisola, para cobrir suas coxas.

– Você precisa emagrecer, hein, maninha - uma jovem, deitada desajeitada em um dos sofás, provocou.

O cobertor, sobre o corpo dela, deixava amostra as pernas esguias e fortes.

– E você precisa ser menos dada - rebateu, cruzando a sala e dirigindo-se a seu quarto.

Fechou e trancou a porta atrás de si com um suspiro.

Olhou-se no espelho, pensativa. Os cabelos loiros e longos disfarçavam um pouco do rosto gordo, o tecido fino e liso da camisola não encobria seu corpo mal esculpido.

Por um instante, sentiu-se deslocada. Sentiu-se feia, desvalorizada.

Mas, por quê?

Com quem deveria se importar? Com uma sociedade que, ao menos, notava-a, reconhecia-a?

A estética não lhe ajudaria. Não lhe daria um sentido para sua existência, não a guardaria das dores sufocantes.

Voltou-se a sua escrivaninha, a procura de algo que a distraísse de tais pensamentos.

Seus olhos esbarraram em um pacote de bolachas aberto.

E o que adiantaria ser magra?

Aproximou-se, hesitante. Pegou uma das bolachas salgadas e a pôs na boca.

Sorriu, extasiada.