Castelobruxo: Anos Dourados escrita por Carolina J Martins


Capítulo 15
Capítulo 3 - A Ponte Iubárranga




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            Por algum motivo, um dos Caiporas havia implicado quando Arlete, Fantasma e Carmen estavam saindo de Castelobruxo em direção à Ponte Iubárranga. Fora difícil lhe explicar que era domingo e que eles tinham permissão para sair, ainda mais quando tudo o que o que a criatura fazia era repetir várias vezes a última palavra que eles falavam.

            Quando, por fim conseguiram, não era mais tão cedo e a ponte já estava lotada. Carmen não parecia muito feliz em estar no meio da multidão.

            – Vamos trocar o dinheiro e ir logo para a loja de animais – Ela sugeriu. – Encontramos o Douglas e o Cente depois.

            Mais cedo, Arlete acordara com Carmen chamando ela e Dara. Arlete resmungara, mas levantara; Dara virara de lado e dissera que mudara de ideia e que preferia ficar dormindo. As outras duas então se trocaram e saíram do quarto, ligando para Fantasma e avisando que iam até a Ponte Iubárranga.

            Fora só quando elas tinham ido se encontrar com Fantasma que ele lhes dissera que ligara também para Douglas e Cente e que haviam combinado de se encontrarem na ponte e depois almoçarem na Lanchonete Jaci.

            Eles foram em direção ao que parecia um caixa eletrônico ou algo do gênero. Era só enfiar dinheiro brichote que a máquina soltava as moedas de platina bruxas. E então começaram a andar em direção à loja de animais.

            A Ponte Iubárranga era imensa. Com uma rua comprida e dourada se estendendo pelo rio e lojas de ambos os lados, parecia impressionante que a ponte não caísse com a quantidade de peso que sustentava. Além disso, algumas lojas pareciam pequenas na fachada, mas eram gigantes quando se entrava.

            Arlete achava que a ponte lembrava vagamente Paranaguá. Sua cidade tinha também aquele toque antigo, como se datasse da época colonial, diferindo do El Dorado, que parecia ainda mais antigo. Diferente do que acontecia no resto da cidade, ali as lojas eram pintadas das cores mais vibrantes: azul, verde, vermelho, laranja, roxo…

            Eles já haviam passado na frente da loja azul de animais algumas vezes antes, mas nunca haviam entrado. Arlete quase perdeu o fôlego quando estavam lá dentro. Por fora, parecia um ambiente pequeno, com espaço para não mais do que algumas gaiolas. Por dentro, porém, era quase como se comportasse toda uma floresta própria.

            E não era exagero. De um lado havia pelo menos três árvores por onde preguiças, micos e saguis transitavam livremente e uma pequena lagoa artificial para tartarugas, sapos e duas capivaras. Havia até alguns vasos com o que Arlete imaginou serem plantas carnívoras, perto de várias iguanas.

            Do outro lado, cercados por uma grade não muito alta, gatos de todas as cores conviviam com cães de todos os tamanhos e coelhos peludos. Em uma bancada, em uma gaiola gigante, vários ratos, camundongos e esquilos se divertiam no que parecia o paraíso dos roedores.

            Pelo ar, maritacas, araras coloridas, cacatuas e até outros seres estranhos, que lembravam arraias voadoras transitavam entre as duas áreas.

            – Égua. – Carmen parecia incapaz de fechar a boca, seus olhos brilhando.

            Fantasma, apesar de silencioso, não tivera uma reação muito diferente.

            – Bem-vindos! – disse uma senhora de rosto gentil, cabelos escuros e curtos e olhos amendoados se aproximando deles. Ela usava um uniforme azul e um boné branco. – Esse é o Paraíso dos Animais. Em que posso ajudá-los?

            – Vocês realmente têm todos os animais do mundo aqui? – Arlete se ouviu perguntando.

            A mulher riu.

            – Não exatamente. Contamos com uma grande variedade de animais para adoção, porém, como todos os nossos animais foram resgatados e tratados, nem sempre temos todos. Faz tempo que nenhum pufoso ou vagante rubro aparece por aqui… Ainda bem. Isso quer dizer que não estão sendo tão afetados. Temos também uma coruja, mas a pobrezinha está se recuperando e não pode ser adotada ainda. Alguns animais que resgatamos podem voltar a viver sozinhos, porém, os que estão aqui, precisam de ajuda humana para sobreviver. Vocês são de Castelobruxo, não é?

            Eles não usavam o uniforme da escola, mas, levando em consideração a idade deles, não devia ser difícil adivinhar. Arlete balançou a cabeça.

            – A Carmen quer uma preguiça. – Ela disse, apontando para a amiga.

            – Oh – a mulher disse, fitando Carmen. – Então vamos ver se achamos algum amigo pra você, querida.

            – Não precisa ser uma preguiça necessariamente – ela disse enquanto andavam em direção às árvores.

            A mulher esticou a mão para um dos bichos-preguiças, que lhe deu a pata vagarosamente. Ela o puxou para o colo.

            – Esse aqui foi resgatado um ano atrás. Chegou para nós bem machucado, certamente vítima de uma queimada. O pulmão estava cheio de fumaça. Agora está bem melhor, mas tem um pouco de medo de barulhos. Tente. – Ela esticou o bicho para Carmen, mas ele não quis se aproximar. A garota tentou tocá-lo também, mas, conforme mais se aproximava, mais a preguiça aberta a mulher, então Carmen se afastou.

            – Sinto muito. – Ela disse, abaixando a cabeça. – Alguns bichos tem medo de mim.

            – Tudo bem… – A mulher colocou a preguiça de volta em seu galho, massageando os braços. Ela tentava manter o sorriso, mas parecia mais difícil agora. – Temos outros animais menos assustados. Que tal aquela? É um pouco mais velha e cega. Talvez vocês façam amizade… – e ela se afastou para buscar a outra preguiça.

            Carmen parecia um pouco nervosa, então Arlete tocou seu ombro.

            – Tudo bem?

            – Eu… sou uma lobisomem – Murmurou apenas para a amiga. – Os animais normalmente tem medo de mim. Isso é uma tonteira, Arlete. Vamos pegar seu rato, nenhum animal vai me querer.

            – Não, espera. – Fantasma entrou na conversa. – Não é tonteira nenhuma. Vamos achar uma preguiça que goste de você, Carmen. Ou algum outro bicho, você mesma disse que não importa. Você é legal, não é assustadora. Calma. Foi só o primeiro. Já viu essa loja? Temos bastante tempo para olhar todos.

            Carmen sorriu um sorriso tímido. Arlete, no entanto, estava impressionada. Fantasma parecia tão seguro…

            Sorriu também.

            – Aqui está, essa belíssima senhorita. – A mulher lhes mostrou a nova preguiça. – Ela é um amorzinho. Olhe.

            Porém a reação do bicho não foi muito diferente. Ela não queria se aproximar de Carmen, não importava o quanto a mulher tentasse.

            – Me desculpe… – ela disse. – Eu realmente não sei o que está acontecendo com as preguiças hoje, elas são amigáveis.

            – Eu acho que eu… – Carmen começou, parecendo chateada. Mas Fantasma a interrompeu:

            – Vamos ver outro animal, não é, Carmen?

            Foi assim que eles se aproximaram dos cães.

            – Talvez, pelo parentesco mais próximo, esses gostem de você? – Arlete sussurrou.

            Mas o resultado não foi muito melhor. Os cachorros simplesmente se recusavam a se aproximar de Carmen, alguns até mesmo latiam para ela.

            – Os animais normalmente não agem assim… – A mulher que os ajudava disse.

            – Tudo bem. – Fantasma disse, antes que Carmen pudesse falar qualquer outra coisa. – Vamos ver outros.

            Foi enquanto a mulher tentava convencer as aves a descerem das árvores que Arlete viu um bicho estranho no chão, uma espécie de furão ou toupeira. Ele surgiu primeiro de um dos lados de seu pé, atraindo sua atenção. Depois se afastou, cavando túneis embaixo da terra, mas voltando à superfície e olhando para Arlete, como se a esperasse.

            – Quer que eu te siga? – ela perguntou, mais para si mesma do que para o bichinho. Sabia que ele não a entenderia.

            Olhou para os amigos e para a mulher parecendo cada vez mais constrangida. Carmen parecia um pouco insegura ainda, mas Fantasma estava lhe dando todo o apoio, então Arlete imaginou que eles não precisavam tanto assim dela. Tinha tempo de ir atrás da mini-toupeira.

            Virou-se, procurando o bicho, mas não o viu. Talvez tivesse simplesmente ido embora…

            Mas ele deixara uma trilha de terra cavoucada atrás de si. Arlete lançou mais um olhar para os amigos e se afastou.

            A loja era realmente imensa. Ela acabou se aproximou da lagoa e desistiu da mini-toupeira. Ficou vendo as tartarugas, sapos e capivaras um tempo. Chegou até a pegar um dos sapos na mão. Ele era bem gosmento.

            Aproximou-se também de um mico-dourado, que lhe olhou curioso por um tempo. Ele parecia dividido entre se aproximar ou não, mas fugiu quando Arlete fez um movimento meio brusco em sua direção.

            Ela estava se divertindo no meio dos animais. De longe, ela sabia que Carmen e Fantasma ainda estavam procurando um animal para a primeira, mas ela não tinha pressa em ir embora, estava se divertindo.

            Foi quando viu um corredor que não havia visto antes. Ela imaginou que talvez fosse ali onde eles mantinham os animais que ainda estavam doentes e não podiam ser adotados. Seria legal dar uma olhada na coruja que a mulher falara…

            Porém, ao contrário disso, ela viu não um centro de tratamento, mas um grande vidro que ia do teto ao chão. Imaginou o porquê daquilo, enquanto se aproximava…

            – Ah! – Ela soltou uma exclamação quando viu as patas enormes da caranguejeira se mexendo.

            A primeira vista, ela não havia percebido, mas agora via que, atrás do vidro, estavam centenas de aranhas, desde as coloridas às escuras, das pequenas às enormes.

            – Uau… – Ela se aproximou do vidro, vendo as teias de aranhas belíssimas tecidas atrás das plantas e arbustos. Tudo aquilo parecia tão fantástico!

            Foi quando ela percebeu que só metade do vidro era habitada por aranhas. Outro vidro, ainda maior do que aquele em que estava apoiada, separava novamente o espaço ao meio. Foi ver o que havia do outro lado.

            Parecia vazio. Arlete apertou os olhos, talvez fossem seres bem pequenos…

            Mesmo assim não conseguiu ver nada.

            Estava quase desistindo quando ouviu uma voz:

            – Que tédio… Eu queria ser uma aranhas às vezes. Deve ser legal ter alguma companhia para variar.

            — São tantas, não é verdade? – A menina disse, mesmo sem saber com quem falava: – Você tem razão. As aranhas não devem se sentir sozinhas nunca.

            – Oh, meu santo rato, você está conversando comigo?

            — Eu? Estou. Não tem mais ninguém aq… – Arlete se virou, imaginando que veria alguém atrás dela, mas sua voz morreu quando percebeu que não havia ninguém. – Onde você está?

            – Do outro lado. — Ela se virou novamente, procurando. – Atrás do vidro.

            — O vidro…

            De fato, a voz vinha de detrás do vidro. Mesmo assim, ela ainda não conseguia ver nada nem ninguém. Havia só algumas plantas e…

            Uma cobra, que começavam a esticar o corpo para cima, aproximando-se do vidro, como que para vê-la melhor.

            – Oi.

            Arlete arregalou os olhos.

            – Caramba, você é uma cobra.

            – Sim. E você é uma humana.

            – Eu estou ficando louca. Estou achando que uma cobra está falando comigo! – Arlete colocou a mão na cabeça. Não era possível. Devia ser o sol do Amazonas finalmente afetando seu cérebro. Estava usando o feitiço tradutor, mas nenhuma cobra nunca falara com ela. Na verdade, nenhum bicho falara. – Cobras não falam!

            – Claro que falamos! – a cobra respondeu prontamente.

            Arlete achou que ia passar mal. Arregalou os olhos mais ainda.

            Não podia ser de verdade.

            Foi quando lembrou onde estava. Estava na Ponte Iubárranga, dentro de uma loja que abrigava uma floresta; estudava em Castelobruxo e fora chegara ali através de um navio que nunca parava, saltando dentro de uma canoa que voara pelos ares.

            Caramba, era sua bruxa! Já vira magia acontecer mais de uma vez!

            – Que legal, você é uma cobra falante! – exclamou animada, colocando o rosto no vidro para ver a serpente melhor.

            – E você é uma humana ouvinte!

            — Você pode ser adotada? Imagina que legal ter uma cobra falante como animal de estimação!

            – Eu não sei bem o que tá acontecendo, mas…

            – Espera aqui. Vou falar com a moça da loja. Vou dizer a ela que quero te adotar!

            – Humana, espera você um pouco!

            Mas Arlete já havia virado para voltar a parte principal da loja. Ela só não fez isso como planejava porque viu que Carmen e Fantasma estavam parados atrás dela.

            Ambos pareciam chocados. Talvez ainda mais do que quando haviam entrado na loja e visto tudo pela primeira vez.

            – Gente, olha! – Arlete exclamou, feliz, apontando para a serpente. – Eu achei uma cobra falante!

            – Lete, o que você estava fazendo? – Carmen perguntou, as sobrancelhas altas na testa. – O que estava falando?

            – O que quer dizer? Eu estava falando com a cobra! Acho que vou adotá-la. Nunca tinha visto um animal falante antes…

            – A cobra não estava falando – Fantasma disse, como se estivesse preocupado com Arlete.

            – Claro que estava! Quer ver? – ela apontou para a serpente:

            – Eu realmente não quero me meter nisso, humana.

            — Viram? – Arlete falou mais alto, um sorriso de orelha a orelha.

            – Lete… – Carmen disse, aproximando-se devagar da amiga. – Tudo o que a gente ouviu foi essa cobra sibilando. E também te ouvimos falando de um jeito estranho.

            – Não! A cobra estava falando, Carmen!

            – Não estava não.

            Arlete não entendia. Começou a ficar irritada com Carmen. Quando ela iria parar de fingir que não podia ouvir a serpente falando?

             – Você está mentindo. – Arlete sabia que, com os braços cruzados, ela soava como uma criança, mas não lhe importava. Sabia o que ouvia, não estava enlouquecendo.

            – A Carmen está certa, Lete. – Fantasma entrou no meio, antes que as duas começassem a brigar. – A cobra estava só sibilando e parecia que você estava falando com ela… Mas não na nossa língua e nem em nada que o Feitiço Tradutor pudesse traduzir.

            – Você acha que era ofidioglossia? – Carmen perguntou de repente, como se a ideia tivesse acabado de lhe surgir. – Quer dizer, o Cente disse que ofidioglotas são bruxos que podem falar com cobras, e acho que o que a Arlete acabou de fazer…

            – Eu posso falar com cobras? – Arlete arregalou os olhos, espantada. Olhou da serpente para os amigos, sem saber direito o que pensar disso. – Eu posso falar com serpentes? – repetiu, quando ninguém se manifestou.

            – Bom, certamente você pode me ouvir.

            – Eu sei! – Arlete olhou para a serpente. – Não tá ajudando.

            Ela sentiu alguém pegando seu braço e se virou para ver Carmen. Ela parecia verdadeiramente preocupada.

            – Vamos embora. – A amiga disse. – Eu não acho que seja boa coisa que você seja uma ofidioglota. Você lembra o que os meninos falaram. Ofidioglotas normalmente são bruxos das trevas. Eu não acho que você seja uma bruxas das trevas, mas é melhor que ninguém saiba disso. Vamos embora e vamos deixar isso de lado.

            – Não! – Arlete fixou os pés no chão, mesmo quando Carmen tentou puxá-la. – Não vou deixar a cobra aqui sozinha.

            – O quê?

            – O quê? — Não foi só as vozes de Carmen e Fantasma fizeram coro, mas a da serpente também parecia surpresa.

            – Você vai adotar a cobra? – a lobisomem perguntou.

            Arlete olhou para trás, para a serpente atrás do vidro. Ela ainda estava levantada, olhando para a cena que se desenrolava. Ouvira-a primeiro reclamando que estava sozinha, não pretendia abandoná-la ali. Ainda mais sabendo como ela se sentia.

            – Isso é loucura – Carmen insistiu. – Você disse que queria um rato!

            – Eu não sei o porquê. – Arlete ouviu a serpente falando: – Mas não gosto dessa daí.

            Arlete foi suficientemente inteligente para ignorá-la.

            – Escuta – continuou para Carmen, sentindo-se mais calma. – Eu consegui ouvir a cobra. Eu sei que ela tá infeliz em ter que ficar aqui sozinha. E ela parece ser boazinha. Vou levar ela. – Quando, mesmo assim, a amiga não pareceu convencida, Arlete apelou para o garoto: – Fantasma, você concorda comigo, não é?

            – Eu não sei. A Carmen tem razão, as pessoas podem achar um pouco estranho saber que você pode falar com cobras, ainda mais que isso não é muito bem visto. – Ele olhava diretamente para Arlete agora, sorrindo. – Mas aprendi com as melhores amigas do mundo que não é porque você é diferente ou porque as pessoas vão pensar mal de você, que deve se impedir de fazer as coisas.

            Arlete sorriu de volta e, desta vez, nem Carmen pôde falar nada.

            Quando os três saíram de lá, cada um tinha um bicho de estimação novo. Eles tiveram que esperar enquanto a moça da loja registrava as adoções, mostrava-lhes como cuidar de cada bicho e lhes vendia todo o necessário para cada um deles, mas valeu a pena.

            Carmen acabou ficando com uma espécie de porco-espinho minúsculo ou de ouriço-terrestre. Na verdade, era uma criatura mágica e seu nome correto era espetácio. Isso porque seus pelos eram ser macios, mas quando queria, o bicho podia torná-los em espinhos e atirá-los para longe. Ele também tinha a habilidade de mudar de cor de acordo com seu temperamento. Carmen lhe deu o nome de Momo. Não só a garota havia se apaixonado por ele, como também Momo parecia confortável em sua presença.

            Fantasma dissera que não ia adotar nenhum bicho, que estava só acompanhando as amigas, mas saiu de lá com uma iguana. Eles estavam procurando um bicho para Carmen quando se depararam com o pequeno Lechu. Fora amor à primeira vista. O amigo também explicara que lechuga era alface em espanhol, e que o bicho era verde como lechuga.

            Arlete não conseguira decidir um nome para sua nova amiga serpente, mas ela pareceu gostar de ficar enrolada em seu pescoço como um cachecol. Ela ria toda vez que alguém lhe lançava um olhar estranho, pensando em Isabel Honorato Ávila e em seu colar de pele de cobra. Arlete achava que seu “cachecol” era muito mais legal.

            – Quantos humanos. – A cobra lhe sussurrou no ouvido algumas vezes.

            Eles encontraram Vicente e Douglas não muito depois, perto da loja de objetos esportivos. Este último olhava a vitrine, a testa quase colada no vidro. Parecia absolutamente encantado, os olhos brilhando como prata.

            Quando se aproximaram mais, Arlete pôde ver a causa da admiração do amigo. Doug olhava para uma vassoura de cabo dourado, posta em destaque na exibição.

            – Oi, gente, tudo bem? – Vicente os cumprimentou com um aceno de mão. – Lete, acho que tem uma cobra tentando te matar.

            Arlete riu, passando a mão na serpente.

            – É uma jiboia. Linda, não é? A gente acabou de sair da loja de animais.

            – Espero que a gente não esteja tão atrasado… – Fantasma disse, passando a mão nos cabelos. – Combinamos de nos encontrar antes de almoço e já é quase meio-dia.

            – Ah, não tem problema – Vicente disse, olhando para os animais novos deles. – A gente não teria conseguido tirar o Douglas daqui antes. Ele tá parado aqui faz uns vinte minutos.

            – Por causa dessa vassoura? – Carmen perguntou, fazendo uma careta.

            – Dessa vassoura? — Douglas repetiu, parecendo indignado, olhando para eles finalmente. – Essa é a vassoura. É uma Aurum 4.0. Mais macia do que a Agulha Flamejante, mais rápida do que a Raio Dourado. A Aurum 3.0 já era uma grande inovação, uma vassoura à frente de seu tempo, agora a Aurum 4.0… Caiporas, olhem essa vassoura! Cabo aerodinâmico e superfino, cerdas resistentes à mudança de temperatura e à ação do tempo, praticamente insensível ao vento e chuva! Nada parecido com aquelas Arovermelho da escola… Eu preciso dessa vassoura!

            – Seu amigo é meio biruta, não é, humana? – A cobra disse, pendurada no ombro de Arlete. – É só uma vassoura. Aposto que eu conseguiria comê-la inteira.

            – Aposto que sim – Arlete ironizou. Então se virou para Douglas, sugerindo: – Se gostou tanto assim… Entre e compre. A vassoura combina com você.

            – Não posso. É muito cara… Eu teria que deixar minha alma aí se fosse levar a Aurum 4.0 pra casa. – Ele se lamentou. Ficou em silêncio por alguns momentos antes de sorrir novamente e voltar a olhar para a vitrine – Mas eles não pode me impedir de olhar.

            – Já chega, Doug, isso não é nada saudável – Vicente reclamou, puxando-o pela manga da camiseta azul. – Vamos para a Jaci. Deve estar lotada já, mas ainda é a melhore lanchonete da Ponte Iubárranga, então vamos.

            Todos concordaram e seguiram Vicente em direção à Lanchonete Jaci, Doug ainda reclamando um pouquinho.

            O garoto estava certo, e eles tiveram que esperar uns quinze minutos até que uma mesa ficou vaga. Não que isso tenha atrapalhado em alguma coisa, pois os lanches, sucos e refrigerantes da Jaci eram tão bons que compensavam qualquer coisa. Arlete se perguntou novamente qual seria o segredo deles para fazer aquela maionese.

            A garçonete que os acompanhou nem reclamou de Momo, Lechu ou da serpente. Talvez fosse normalmente que os alunos de Castelobruxo trouxessem seus bichinhos para lá. Arlete uma vez vira uma garota com um papagaio…

            Eles conversaram e riam bastante enquanto estavam almoçando. Douglas prometeu que ainda iria comprar a Aurum 4.0 algum dia, e Carmen disse que iria fazer o teste para as Araras Azuis, time de trancabola, naquele ano. A serpente nos ombros de Arlete lhe deu um pouco de trabalho, falando algumas coisas em momentos inconvenientes. Ela também explicou para Vicente e Douglas sobre seu poder recém-descoberto, e os dois pareceram surpresos, olhando-se sem saber exatamente o que isso significava.

            Quando mudaram de assunto, todos concordaram que estavam ansiosos para as aulas, e Vicente lhes disse que o pai estava finalizando uma nova versão dos espelho mágicos.

            No fim, acabaram se distraindo e não conseguiram sair da Jaci antes da chuva. Uma das únicas coisas que Arlete odiava na região era aquela chuva que atacava quase todo dia depois do almoço. No fim os cinco se despediram e Arlete, Carmen e Fantasma voltaram correndo para Castelobruxo, tentando proteger seus bichos da água, mas falhando miseravelmente. Todos foram para a Sala Comunal Oeste, onde ainda conversaram por algumas horas antes de as garotas passarem pelo túnel subterrâneo, voltando para seu dormitório.

            Dandara ainda estava lá, e parecia ter acabado de acordar, a julgar pelo rosto inchado. Mesmo assim, ela disse que tinha almoçado no Salão Principal e perguntou se tudo tinha corrido bem na Ponte Iubárranga, olhando intrigada para Momo e a serpente. Carmen colocou a gaiola de Momo perto de suas coisas, e elas tiveram que mudar as malas de lugar para dar espaço para o terreiro da serpente, que estivera até então em tamanho reduzido dentro do bolso de Arlete.

            – Essa cobra é um pouco assustadora. – Dandara disse em certo momento.

            – Ela é legal. – Arlete olhou para a serpente. – Não é mesmo?

            – Sou a melhor serpente do mundo.

            Arlete continuou olhando para a cobra, achando a nova amiga engraçada.


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Notas finais do capítulo

Gente, o que está acontecendo? A história não está tão boa? Eu fiz alguma coisa errada? Por favor, me avisem se tem alguma coisa errada, tudo bem?
Sei que é chato ficar cobrando comentários, mas parece que agora eu só recebo comentário capítulo sim, capítulo não, mesmo tendo mais tempo agora para postar...



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