Castelobruxo: Anos Dourados escrita por Carolina J Martins


Capítulo 10
Capítulo 10 - Competições


Notas iniciais do capítulo

Oi, voltei! Quero muito mesmo agradecer a paciência de vocês e a recomendação linda da Charlotte Maddison. Sério mesmo, eu não sei o que que faria sem leitores tão lindos quanto vocês todos!

Ah, e me desculpem, mas eu acabei esse capítulo um pouco tarde, então ele está sem revisão. Como faz tempo que eu não posto nada, resolvi postar ele mesmo assim. Mas amanhã eu prometo que vou revisar ele todinho, ok?



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            De certa forma, foi estranho para Carmen Lúcia descer pela canoa na companhia de Fantasma e Vicente, e não de Arlete. Então, enquanto ainda estavam no ar, a lobisomem pegou seu espelho e falou o nome da amiga.

            – Carmen? – O rosto de Arlete se iluminou quando ela viu a amiga. Mesmo assim, Carmen Lúcia não pôde deixar de estranhar o lugar onde a outra estava. – Você já está nas canoas?

            Parecia que Arlete estava em uma espécie de sala de estar. Carmen Lúcia não conhecia a aquela casa. Achou estranho.

            – Então estamos atrasados… Eu não quero perder o Jantar de Reabertura… – Arlete pareceu pensativa.

            – A Arlete está na casa do Doug? – Vicente, sentado no banco atrás de Carmen Lúcia, perguntou, olhando por cima de seu ombro.

            – Ela tá? – Carmen Lúcia olhou para Vicente, sem saber bem o que achar disso.

            Mas Arlete não percebeu a intromissão do garoto.

            – Tenho que voltar pra Castelobruxo… – Ela disse para Carmen Lúcia. – Te vejo lá? – Ela olhou em direção a algo que estava fora do alcance da lobisomem. – Ágata, não! Carmen, eu preciso ir. Tchau!

            E, antes que Carmen Lúcia pudesse dizer qualquer coisa, a ligação foi interrompida.

            – Agora eu tenho certeza de que aquela era a casa do Douglas – Vicente disse, parecendo confuso.

            – E qual o problema? – Carmen Lúcia virou a cabeça para olhá-lo sentado ao lado de Fantasma. – Eles são amigos e até onde eu sei isso não é um crime. – Então ela percebeu uma coisa que a fez sorrir: – Ou você está com medo de perder o melhor amigo?

            – Claro que não. – Mas Vicente logo mudou de assunto, o que apenas fez Carmen Lúcia rir mais alto. – Fantasma, você tá quieta. Tá tudo bem?

            Fantasma parecia um pouco distante como ela costumava ficar, mas olhou para Vicente quando ouviu seu nome. Seus cabelos loiros e ainda mais compridos balançavam com o vento.

            – Estou bem.  – Ela piscou com força.

            – Como foi na Argentina? – Vicente perguntou pela segunda vez desde que haviam se encontrado. – Tem certeza de que fui tudo bem mesmo?

            – Claro, claro. – Fantasma continuou, parecendo mais convicta. – Por que não seria?

            Carmen Lúcia podia sentir suas emoções e sabia que ela estava mentindo. Vicente não sentia suas emoções, mas também sabia que ela estava mentindo.

            – Se tem alguma coisa que quer nos contar… – Ele insistiu.

            Nesse momento, porém, a canoa deles atingiu a água. Carmen Lúcia respirou fundo quando sentiu-se balançar. Não estavam mais no ar e isso era gratificante.

            A canoa deles continuou avançando pelo rio até que eles puderam avistar o El Dorado. Depois de tanto tempo longe, a cidade de ouro parecia ainda mais fantástica. Carmen Lúcia observou tudo como se fosse a primeira vez.

            Enquanto eles ainda olhavam para as construções, alguns botos surgiram, acompanhando as canoas. Carmen Lúcia se lembrou de como fora estranho vê-los se transformando em humanos da primeira vez. Agora isso parecia absolutamente normal.

            A única coisa estranha foi perceber, quando eles finalmente desceram para a terra firme, que Douglas não estava entre eles.

            – Nessa, cadê seu irmão? – Vicente perguntou, parando a garota cujos cabelos haviam assumido uma tonalidade acinzentada e caíam em cachos em volta do rosto.

            – Qual deles? – A garota mais velha perguntou. Ela colocara um piercing no nariz que saltava aos olhos de Carmen Lúcia.

            – O Douglas.

            – Não sei… ­– Ela olhou para Vicente. Seus olhos também pareciam mais claros do que Carmen Lúcia podia se lembrar. – Ele devia se encontrar com a gente na nossa casa antes de virmos, mas a tia Diana apareceu por lá e disse que ele estava atrasado e que nós podíamos ir sem ele. Eu não perguntei o porquê, você sabe que a tia Diana normalmente tá certa. Quando nós saímos, ela e a minha mãe ficaram conversando sobre a amiga de vocês… Arlete, né?

            – Eles estão passando muito tempo juntos, é? – Vicente perguntou. Carmen Lúcia não pôde deixar de reparar que ele parecia uma namorada ciumenta. Fez o melhor que pôde para não rir.

            – Eu não sei, Cente. – Nessa suspirou. – E acho que vocês vão ter que se virar sozinhos pra descobrir. – Ela olhou para alguém por cima do ombro de Vicente, antes de se afastar: – Dri! Oi!

            Vicente suspirou.

            – Não acredito que o Douglas reclamou tanto que eu atrasei e que agora ele está atrasado…

            – Ah, relaxa – Carmen Lúcia disse. – Ele e a Arlete já devem estar chegando. A gente viu ela pelo espelho, lembra?

            – É verdade… Mesmo assim, a casa do Douglas não é tão longe assim. Eles já deviam ter chegado…

            Mesmo que Vicente ainda parecesse meio perturbado, ele, Carmen Lúcia e Fantasma acompanharam os outros alunos para dentro de Castelobruxo. Dessa vez, eles não precisaram entrar pela porta lateral já que não havia nenhuma professora Jacinta ou professor gritando pelos alunos do primeiro ano.

            O Salão Principal estava tão bonito e dourado quanto Carmen Lúcia podia se lembrar. Caiporas passeavam livremente entre os alunos, desaparecendo e aparecendo em outro lugar. As quatros árvores pareciam ainda mais vistosas, cheias de suas folhas verdíssimas, frutos azuis, flores coloridas e animais animados.

            – Sabiam que cada uma dessas árvores representa uma das “funções” das árvores? – Vicente começou, fazendo aspas com as mãos. – A árvore grande representa a sombra proporcionada pelas folhas, a com os frutos representa o alimento fornecido, a das flores é a beleza e a com os animais é a moradia. Legal, né? Li em um livro durante as férias…

            Carmen Lúcia sorriu. Fantasma também pareceu achar graça.

            – Vicente e seus “sabia que…”. – A argentina brincou.

            Foi um pouco difícil achar um lugar para sentar, ainda mais que eles não sabiam se Arlete e Douglas conseguiriam chegar. Carmen Lúcia até tentou falar com a amiga, e Vicente fez o mesmo com Douglas, mas nenhum deles atendeu.

            – Eu vou matar ele… – Vicente murmurou, apertando o espelho quando sua segunda tentativa de ligar não deu certo.

            – Se está falando de mim, não vai precisar – E os três viraram para ver Douglas e Arlete andando depressa em direção à deles, esbaforidos e cansados. – Oi, gente. – e, mesmo com sua respiração alterada, Douglas conseguiu sorrir com displicência para eles.

            – Onde vocês…?

            – Alunos e alunas, sejam muito bem-vindos! – a voz magicamente ampliada da professora Jacinta Montenegro soou por todo o salão. Sem que ninguém precisasse pedir, os alunos que ainda estavam se pé se sentaram. – Tenho certeza de que devem estar com saudades e espero que estejam bem descansados também, pois só temos as melhores das expectativas para esse semestre…

            – Isso quer dizer que eles vão puxar mais os estudos – Douglas murmurou para Carmen Lúcia, sentada ao seu lado.

            Vicente pediu silêncio.

            – E agora eu passo a voz para a nossa querida diretora Araci Rudá. – Jacinta completou.

            Os alunos aplaudiram enquanto a diretora cega se levantava. Ela mantinha aquele ar de sabedoria e mistério, como se estivesse viva por pelo menos mil anos e tivesse visto tanta coisa que seus olhos haviam cansado de enxergar.

            – Obrigada, obrigada. É um prazer estar aqui com vocês novamente. Como todo ano em Castelobruxo, nesse semestre haverá a votação para o grêmio estudantil. Por favor, todos que tiveram montado uma chapa devem avisar à professora Jacinta até a próxima sexta. A votação será dia dezessete de setembro, então vocês terão mais de um mês para fazer toda a divulgação e garantir que todos os alunos conheçam bem suas chapas. A todos que vão participar, o meu mais sincero “boa sorte”. – Ela fez uma pausa, deixando que os alunos aplaudissem de novo. – E, antes que seus estômagos comessem a reclamar, acho que está na hora de apreciarmos nosso delicioso jantar! – a diretora levantou os braços, fazendo a comida surgir nas mesas. Carmen Lúcia inspirou o ar profundamente, deliciando-se com aquele banquete.

            A lobisomem nem pensou duas vezes antes de avançar para o filé com cenoura.

            – Eu não sabia que teríamos eleições! – Carmen Lúcia ouviu Arlete falando, mas não desviou sua atenção do feijão preto.

            – Quê? – desta vez era a voz de Vicente, divida entre o riso e a seriedade – Achou que a Chapa Ventos Novos tinha dado um golpe e instalado uma ditadura?

            – Acho que eu nem pensei no assunto… Pra mim sempre pareceu normal que a Eleonora fosse a vice-presidente, que o Giovanni fosse secretário-geral…

            – E que o meu irmão fosse o presidente. – Douglas acrescentou. – Meu pai ficou tão feliz quando ele ganhou…

            – Eu não sabia que seu irmão era o presidente – Fantasma falou, parecendo surpresa.

            Aquela era uma surpresa para Carmen Lúcia também, mas ela não disse nada. Ela sabia que o Gus era bem sociável e viva cercado de amigos, mas nunca soube muito mais sobre ele.

            – Só tem uma coisa que eu não entendo – Arlete disse. – Por que as eleições são só no meio do ano?

            – Bom, – Vicente começou com seu tom professoral. – Acho que é pra deixar os alunos do sétimo ano se focarem nas provas agora de fim de ano, já que só os alunos do primeiro ao sexto ano podem competir, mas ao mesmo tempo não excluí-los totalmente das votações, já que se alguém do sexto ano ganhar esse ano, ainda vai ser presidente ano que vem. Ou então pra dar tempo para os alunos do primeiro conhecerem as chapas nessa primeira metade do ano.

            – Ou pra que os intercambistas possam saber como funcionam mais ou menos as votações na América do Sul – Douglas acrescentou.

            – Intercambistas? – Arlete pareceu curiosa.

            Nesse momento mesmo Carmen Lúcia levantou a cabeça para olhar. Douglas apontava para um grupo diferente sentado na mesa ao lado deles. Todos pareciam mais velhos do que os cinco e mais animados do que os outros alunos. Além disso, tanto quanto os olhos de loba de Carmen Lúcia podiam ver, cada um deles tinha um crachá preso no uniforme verde.

            Ela pôde ler claramente Michel Simon, França; Adrian Smit, Noruega; Matilde Maciel, Portugal, mas a maioria estava de costas ou fora de vista.

            – Todo ano alguns alunos das outras escolas de magias são selecionados para ficar um mês aqui em Castelobruxo – Douglas continuou. – A maioria deles pra estudar herbologia ou magizoologia. Ano passado minha irmã ficou apaixonadinha por um garoto japonês. Eu vi ela com ele algumas vezes, até que ela descobriu que ele era gay. – Douglas riu. – Fui engraçado.

            Arlete perguntou como fora as férias deles depois disso, mas Carmen Lúcia não prestou muito mais atenção nas conversas dos amigos, afinal, a torta de sardinha estava simplesmente deliciosa e o gosto do arroz temperado preenchia toda sua boca.

            Depois do jantar, as garotas foram para seus dormitórios e os garotos para suas respectivas casas. Arlete falou sem parar sobre como fora divertido ficar no El Dorado, como passara muito tempo na casa de Douglas e como a família dele era simplesmente incrível. A própria Carmen Lúcia contou um pouco sobre suas férias também. Arlete até reparou que ela parecia mais bronzeada e ela disse que tinha passado muito tempo no sol praticando como loba. Mas Fantasma não falou mais do que o necessário, e Carmen Lúcia sabia o quanto havia algo a incomodando.

            Resolveu não comentou nada com Arlete. Sabia que mais cedo ou mais tarde teria que conversar com Fantasma, já que seu pesar estava começando a afetar a própria Carmen Lúcia. Contudo, se pudesse evitar, ela prolongaria esse momento ao máximo.

            A lobisomem foi tomar um banho e, quando voltou, viu que Fantasma já desfizera sua mala e as duas amigas estavam preparadas para dormir. Cansada também, ela aceitou a sugestão das outras de apenas arrumar suas coisas no dia seguinte e se deitou em sua cama, fechando os olhos profundamente.

 

            Domingo passou entre uma ida rápida à Ponte Iubárranga e uma nova corrida de vassoura entre Fantasma e Douglas, já que a garota lhe garantira que vinha praticando. Ele riu quando ganhou delas mais uma vez e todos eles observaram enquanto uma emburrada Fantasma marchou em direção à Pirâmide Leste.

            Carmen Lúcia e Arlete ficaram mais um pouco para conversar com Douglas e Vicente, porém também não demoraram muito para voltar para os dormitórios. O problema foi que elas não conseguiram achar Fantasma em lugar nenhum e seu espelho levou quase uma hora para responder. Carmen Lúcia já estava quase desistindo quando Arlete finalmente conseguiu falar com ela.

            – Onde você foi parar, caramba? – Arlete exclamou de repente, o que atraiu Carmen Lúcia para perto dela. Fantasma estava toda suada na imagem do espelho e não era possível identificar direito onde ela estava.

            – Não se preocupem. Eu fui dar uma volta pra me acalmar. Tô na Biblioteca Leste. – Ela sussurrou.

            – Você devia entrar – Arlete disse – Tá ficando tarde. Se ficar muito tempo aí não vai conseguir entrar pros dormitórios.

            – Não se preocupe. – ela repetiu. – Eu quero terminar esse livro. Se eu não conseguir terminar até o horário de recolher, eu vou para a Sala Comunal. Vocês podem dormir, eu acho que vou demorar.

            – Amanhã temos aula, Fantasma! – Carmen Lúcia entrou no meio da conversa, preocupada com a amiga.

            – Eu sei. – Fantasma pensou um pouco antes de continuar. – Mas não se preocupem, de verdade.

            Carmen Lúcia e Arlete ainda quiseram protestar, mas Fantasma pareceu pouco aberta ao diálogo. Garantiu-lhes que estava bem, que não precisavam esperar por ela, que ela não queria companhia. No fim, as duas foram forçadas a concordar, mesmo que nenhuma tenha gostado muito. E, depois que Fantasma desligou o espelho, Arlete ainda reclamou um pouco, teorizando sobre as coisas mais absurdas para justificar o jeito estranho que Fantasma estava agindo.

            Carmen Lúcia ainda estava preocupada quando deitou em uma cama, mas estava também tão cansada que não demorou muito a dormir.

 

            – A Fantasma não voltou para o dormitório. – Arlete constatou, ainda parecendo sonolenta.

            Carmen Lúcia já sabia disso. Acordada por mais tempo que Arlete, ela já tivera tempo para pensar no assunto:

            – Talvez ela tenha acordado mais cedo e já tenha descido. Talvez esteja com os meninos.

            – Você acha mesmo? – A garota ainda estava esfregando os olhos. Não parecia pronta para recomeçar o ano letivo.

            – Não, na verdade… – Carmen Lúcia suspirou. – Acho que ela tá escondendo alguma coisa séria da gente.

            – Você acha que ela tá praticando magia negra ou algo assim?

            Carmen Lúcia olhou para Arlete, sem saber se ela falava sério ou estava só brincando.

            – Não – respondeu, ainda em dúvida. – Mas acho que devíamos investigar. Normalmente meus pais me diriam pra não me meter na vida dos outros, mas… – Ela suspirou de novo. – A Fantasma tá agindo tão estranho… Até parece que ela não quer subir pro dormitório. Lete! Tá me ouvindo?

            Arlete ainda esfregava os olhos, parecendo distante e um pouco confusa. Olhou para Carmen Lúcia como se tivesse acordado de um sonho.

            – Hãn?

            Carmen Lúcia forçou um sorriso. Era isso ou teria realmente ficado brava com a amiga que não prestava tanta atenção quanto devia.

            – Ah, esquece. Só vai se trocar. Não quero chegar atrasada no primeiro dia de aula.

            E foi o que as duas fizeram, colocando seus uniformes e pegando os materiais. Seus horários de aula haviam mudado desde o semestre anterior e a primeira aula delas agora era de Biomagia.

            Elas ainda tiveram tempo de tomar café da manhã antes de irem para a sala de Biomagia no segundo andar da Pirâmide Central. O professor Nestor já estava lá quando elas entraram, mexendo em alguns pergaminhos em cima de sua mesa, e as garotas também não levaram muito para avistar Vicente e Douglas sentados na última fileira.

            – Seus horários mudaram também? – Douglas perguntando assim que Carmen Lúcia se sentou na carteira na frente dele. – Cadê a Fantasma?

            – Achei que talvez vocês soubessem… – Ela considerou, toda a preocupação voltando. Havia se permitido relaxar brevemente, garantindo para si mesma que Fantasma poderia simplesmente ter ido atrás de Douglas para uma nova corrida, mas agora via que não adiantava tentar se enganar.

            Douglas franzira a testa.

            – Ué, mas ela não tá no dormitório com vocês? Você não viu ela quando acordou?

            – Eu acho que ela não dormiu com a gente…

            – Você acha? Você devia saber se ela esteve ou não no seu dormitório!

            – Não vi ela. – Carmen Lúcia disse, finalmente olhando Douglas nos olhos. – Mas talvez ela tenha entrado quando eu já estava dormindo e levantou antes de eu acordar…

            – Mesmo assim, você devia saber! Não tem os supersentidos da loba? Não devia conseguir sentir se o cheiro dela estava na cama ou não?

             Na verdade, Carmen Lúcia nem chegara a pensar nisso. Agora que Douglas falara, porém, parecia burrice não ter verificado logo de cara.

            O Nestor começou a aula, mas Fantasma não apareceu. O professor lhes deu as boas vindas e retomou a matéria, dizendo que pretendia levá-los para conhecerem as criaturas sobre as quais estudariam ainda naquele semestre. Depois de sua aula, Carmen Lúcia e Arlete se despediram de Douglas e Vicente e foram as duas para a aula de Transfigurações. Arlete falou novamente em Fantasma e como a amiga ainda estava sumida. Ela tentou chamá-la pelo espelho, mas não obteve resposta.

            – Talvez ela só tenha dormido na Biblioteca Leste e não conseguiu acordar. – Carmen Lúcia falou, lembrando de repente sobre a conversa que tiveram com a amiga na noite anterior. – Talvez ela não tenha conseguido entrar para a Sala Comunal antes do horário de recolher, dormiu por lá e não conseguiu levantar… Quero dizer, eu sempre preciso acordar vocês…

            Mas Arlete olhou para Carmen Lúcia com uma expressão estranha. Talvez não acreditasse na teoria dela, talvez tivesse outra ideia.

            De qualquer jeito, ela não disse nada e, quando aula estava quase começando e Carmen Lúcia já achava que Fantasma iria perder aquela aula também, a argentina entrou na sala.

            Ela parecia cansada. Seus olhos estavam menores do que normalmente estariam, como se ela lutasse para mantê-los abertos, e seus cabelos provavelmente não haviam sido penteados. Lembravam mais uma massa entrelaçada e loira do que os fios bonitos que Fantasma normalmente exibia.

            – Caramba! O que aconteceu com ela? – Arlete sussurrou só para Carmen Lúcia.

            – Não sei… Vamos perguntar.

            Mas Fantasma não foi na direção delas. Ao invés disso se sentou em uma carteira no canto da classe, como se estivesse evitando ser o centro das atenções. Na verdade, ela nem mesmo olhou para Carmen Lúcia e Arlete, então a lobisomem não sabia direito se ela estava tentando evitá-las ou se ela não percebera que elas estavam ali.

            – Será que tá tudo bem? – Arlete perguntou, olhando diretamente para Carmen Lúcia. – Será que a gente devia falar com ela?

            Carmen Lúcia não sabia direito o que fazer e ficou grata quando viu a professora Flora entrando na sala. Disse então para Arlete que fariam com Fantasma quando aquela aula terminasse e as duas voltaram suas atenções para a professora.

            – Bom dia! – Ela parecia tão excêntrica quanto sempre fora. Uma pena azul se misturava aos cabelos brancos, o que a fazia parecer ainda mais diferente. – Nesse segundo semestre de Transfigurações vamos passar para coisas um pouco maiores.

            Carmen Lúcia ficou animada com a declaração, mas logo percebeu que ainda não iriam fazer nada tão emocionante quanto a professora era capaz. Ao invés disso, a professora lhes entregou uma caixa, dizendo que se fizessem o feitiço do jeito certo, ela deveria se transformar em um passáro.

            Todos passaram a aula inteira tentando, e, apesar de que maioria conseguiu realizar o feitiço mais ou menos bem, Fantasma foi a primeira a fazer um passarinho vermelho aparecer.

            – Esse, na verdade, é um feitiço de destransfiguração e, por isso, mais avançado. Esse é um Vagante Rubro, uma ave mágica que solta fogo pela asas enquanto voa – A professora Flora disse, enquanto pegava o pássaro de Fantasma nas mãos. – Meus parabéns, Srta. Duarte. Gostaria de soltá-lo?

            A argentina assentiu, enquanto a professora Flora lhe entregava o bichinho e abria a janela para ajudá-la. Arlete, sentada atrás de Carmen Lúcia, até levantou para poder ver melhor o pássaro batendo as asas e deixando um rastro de fogo por onde passava.

            – Uau! – Uma garota de cabelo curto exclamou.

            Depois disso todos começaram a se esforçar mais para destransfigurar suas caixinhas também. Pelo menos mais uma dúzia de Vagantes Rubros voou para fora da sala soltando fogo.

            – Você não acha que esses bichos podem colocar fogo na floresta? – Arlete perguntou. – Será que a gente devia deixar eles saírem assim…?

            – Lete, eles são originários daqui. Se não queimaram toda a Floresta Amazônica ainda, não vão queimar mais.

            Depois da aula, elas encontraram Fantasma, que apenas lhe disse que acabara dormindo na Biblioteca Leste e que perdera o horário. Claro, Carmen Lúcia já havia suspeitado disso e ela teria acreditado, se aquela tivesse sido a única vez que aquilo aconteceu. O problema era que, nas próximas semanas, Fantasma agira de modo cada vez mais estranho, evitando ao máximo subir para os dormitórios, sem que houvesse qualquer motivo aparente. Arlete chegara a confrontá-la algumas vezes, mas Fantasma se provara tão escorregadia quanto sabão.

            – A Fantasma não dormiu aqui de novo – Carmen Lúcia disse enquanto acordava Arlete. Aquilo já se tornara tão comum que Arlete não fizera muito mais do que lançar um breve olhar para a cama arrumada da argentina.

            – Talvez a gente devesse falar com a Jacinta. – Arlete sugeriu.

            Carmen Lúcia quase riu.

            – Ela não fala nem com a gente, quem dirá com a Jacinta.

            – A Jacinta faria ela falar.

            Carmen Lúcia não respondeu, mas sabia que aquela não era uma possibilidade. Podia sentir os sentimentos de Fantasma e sabia o quanto aquilo estava a ferindo. Seria ainda pior se ela perdesse a confiança em Carmen Lúcia e Arlete.

            Ao invés disso, as duas se trocaram e foram para a aula de Biomagia. Arlete cantarolou durante o todo o trajeto e, apesar de Carmen Lúcia reconhecer a melodia, não conseguiu lembrar-se de onde.

            Carmen Lúcia e Arlete chegaram na classe em cima da hora, e viram Fantasma, Douglas e Vicente sentados no fundo e conversando, mas elas tiveram que sentar nas únicas carteiras vagas na frente.

            Já fazia um mês desde a primeira aula de Biomagia, e Nestor ainda não os levara para conhecer os seres mágicos como prometera. No fim daquela aula, porém, ele dizia que faria isso em breve e passou um trabalho para a classe: eles deviam se reunir em duplas ou trios e apresentar sobre algum animal ou planta mágicos. Arlete se virou imediatamente para Carmen Lúcia.

            – Vamos fazer sobre lobisomens! – Ela exclamou, contente. – Você se transforma e não tem como não ganharmos nota máxima!

            Carmen Lúcia riu, mas achou que a ideia de Arlete era inteligente. Quando o sinal tocou e todos começaram a sair da classe, as duas esperaram Fantasma se aproximar.

            – Vamos fazer o trabalho juntas? – Arlete começou enquanto elas saiam da classe. – Sobre lobisomens. Vai ser bem fácil – ela apontou para Carmen Lúcia.

            – Hum… – Fantasma parecia desconfortável. Usou uma das mãos para coçar a cabeça. – Na verdade eu já combinei com os garotos… Vamos fazer sobre o pombero.

            – Quem? – Arlete fez uma careta.

            – É um ser meio aparentado dos caiporas, só que originário da Argentina…

            Carmen Lúcia apenas lançou um olhar rápido para Fantasma. Era natural que ela quisesse fazer o trabalho sobre uma criatura de seu país de origem, mas não podia evitar pensar que a amiga parecia determinada a afastá-las por algum motivo que ainda desconhecia. Será que ela ou Arlete haviam feito alguma coisa para Fantasma?

            Depois disso os dias correram rápidos. Os candidatos à presidência do Grêmio Estudantil foram apresentados e não foi uma grande surpresa ver que agora Eleonora concorreria como presidente pela Chapa Ventos Novos. Uma garota chamada Gabriella e um menino do quinto ano também estavam competindo em outras duas chapas. Mesmo assim, Carmen Lúcia achava que a Ventos Novos fizera um bom trabalho e votaria para eles.

            O dia da apresentação do trabalho de Biomagia também demorou. Arlete explicara a maior parte do trabalho delas enquanto Carmen Lúcia mostrava as fases da lua, o muiraquitã e como ela se transformava; Fantasma e Vicente falaram sobre o pombero, uma criaturinha peluda e enrugada, que também era conhecida como “homem da noite” ou “dono do sol” e que, apesar de aparentado com o Caipora, podia ser bem perigoso. Douglas se transformou em uma versão maior do bicho, o que assustou alguns alunos das primeiras fileiras no começo.

            No fim daquela tarde, porém, Carmen Lúcia avisou Arlete que ficaria um pouco fora e foi pegar uma das vassouras de Castelobruxo para dar uma volta.

            Certo, morria de medo de alturas, mas descobrira que era incapaz de se manter bronzeada se não ficasse por cima das árvores. Sua avó e seus pais haviam comentado durante as férias o quanto ela parecia pálida e não pretendia deixar que nada daquilo acontecesse de novo.

            Respirou fundo antes de subir na vassoura, verificando que seu muiraquitã ainda estava seguro em seu bolso. Aquela seria outra noite de lua cheia e talvez ficasse até mais tarde voando. A escolha do dia fora proposital. Se tinha que enfrentar seu medo de altura então seria quando se sentia mais corajosa.

            – Você consegue, Carmen Lúcia. – Ela sussurrou para si mesma, dando um impulso com os pés e saindo do solo. – É só não olhar pra baixo.

            Tentou não pensar muito em nada, não permitir que seus instintos aguçados percebessem bem onde estava. Sentia os raios suaves da tarde beijando sua pele, o vento passando por seus ouvidos e cabelos. Podia ouvir o som dos pássaros e sabia que as copas das árvores se encontravam abaixo de si. Procurou por conexão, mas, ali no ar, não achou nenhuma.

            Os minutos pareceram se arrastar. Não sabia bem por quanto tempo estava ali, mas mantinha se calma e relaxada, as mãos mal tocando a vassoura. Os olhos fechados a ajudavam a se convencer de que estava mais perto do chão do que realmente estava.

            – Carmen! – uma voz alta a tirou da estabilidade, fazendo-a perder o equilíbrio e quase cair. Agarrou a vassoura a tempo, balançando sutilmente antes de voltar a ficar ereta.

            – Égua! Quase me mata do coração, peste! – Ela reclamou, olhando para Douglas que ria às suas custas. – Não faz mais isso!

            – Ih, tá nervosa? Parece que nunca me viu na vida… – O garoto sorria. Ao contrário de Carmen Lúcia, tinha pleno domínio da vassoura e com apenas um puxão, fez com que ela parasse bem na frente da amiga. – O que está fazendo aqui? Quer apostar uma corrida?

            – Eu estou tomando um pouco de sol. E não. Não quero apostar corrida nenhuma.

            – Eu sei que sou o melhor corredor, mas não precisa ficar assustada. Eu pego leve com você. Talvez até te deixe vencer…

            – Se quer apostar uma corrida, devia procurar Fantasma. Ela que gosta disso.

            Douglas suspirou, deitando-se completamente na vassoura. Carmen Lúcia teve vontade de impedi-lo, puxá-lo para cima. Mas viu que ele estava bem, então não fez nada.

            – Ela acha que eu trapaceio e disse que não ia mais correr comigo… – Douglas olhou para o lado, pensando por um momento. – Tem certeza de que não quer correr?

            – Sim. – Carmen Lúcia balançou a cabeça enquanto falava. – Não quero voltar tarde porque amanhã é a votação do Grêmio Estudantil e tenho que descansar. Além disso, hoje é lua cheia – Ela pegou o muiraquitã e o exibiu, esperando que fosse o bastante para Douglas desistir.

            – Tá certo…

            Mas o efeito foi o contrário. Ele avançou rapidamente em sua direção, o que assustou Carmen Lúcia e a fez recuar brevemente, desequilibrando-a. Esse momento de distração foi o bastante para Douglas pegar o colar de sua mão e voar para cima como um jato.

            – Douglas! – ela gritou, sentindo a loba queimando dentro de si em raiva.

            Provavelmente, se não fosse pela lua cheia seus instintos não estariam tão à flor da pele e seus impulsos tão pouco controláveis. Se aquele fosse um dia normal ela teria ficado parada na vassoura, esperando que Douglas simplesmente se cansasse de brincar e lhe devolve o muiraquitã. Mas aquele não era um dia comum. E a lua estava mais vez mais próxima de aparecer, mais próxima para enchê-la de coragem.

            Carmen Lúcia nem lembrava mais que tinha medo de altura enquanto subia na vertical atrás de Douglas. Podia sentir o vento em seu rosto, a adrenalina em seu sangue e a loba comemorando aquela “caçada”.

            – Vem pegar, Carmen! – Douglas provocou e em sua voz havia riso. Carmen Lúcia teve vontade de rir ela própria. Logo estaria sobre ele, e Douglas não acharia mais graça.

            O único problema era que Douglas tinha razão. Ele era mais rápido do que ela. Carmen Lúcia não sabia bem como ele fazia, mas não importava o quando se inclinasse sobre sua vassoura, Douglas era mais rápido.

            Mas a loba estava decidida a ganhar. Ela tinha algumas vantagens sobre brichotes e bruxos, não iria perder para um deles. Apurou seus sentidos.

            Aba…

            …quar…

            …qu…

            …ba…

            Abaquar.

            Abaquar.

            No começo a palavra pareceu brotar na mente de Carmen Lúcia por geração espontânea. Ela não sabia de vinha, ou que estava acontecendo, mas podia distinguir a palavra “abaquar”. Só então percebeu que a palavra lhe chegava pelos ouvidos. Era Douglas murmurando:

            – Abaquar. Abaquar!

            Carmen Lúcia não sabia o que aquilo significava, mas sabia que ele não estaria dizendo a palavra à toa. Parecia um feitiço. Mas um feitiço pra quê?

            – Aba… abaquar. – Ela tentou.

            A menina teve que se agarrar com mais força à vassoura, que deu um pulo para frente como um cavalo bravo. Carmen Lúcia sorriu, descobrira o segredo de Douglas: um feitiço que dispensava o uso da varinha.

            – Abaquar— repetiu. – Abaquar, abaquar. Abaquar!

            A cada vez que falava o feitiço, sua velocidade aumentava. O vento em seus ouvidos era ensurdecedor, a paisagem ao seu redor não podia mais ser identificava. Tudo o que ela sabia era que Douglas chegava cada vez mais perto e que um sentimento novo de euforia brilhava dentro dela.

            Quase podia ouvir a loba dentro de si comemorando. Agora sim, agora sim. Não pegue o muiraquitã, logo será noite e seremos livres.

            Carmen Lúcia não conseguiu explicar depois o que a levou a desviar de Douglas e continuar subindo, repetindo o feitiço sem parar.

            – Carmen! Carmen! Você tá muito alto! Carmen!

            A voz parecia vir de outro mundo. Que mais importava? Estava desfrutando daquela sensação deliciosa de prazer e liberdade.

            – Carmen!  Você tem que descer! Tá muito alto!

            Douglas não importava. Douglas não sabia. O sol estava quase se pondo e logo a lua iria aparecer…

            – Carmen!

            Liberdade, poder e…

            Caos.

            Foi quando alguma coisa dentro de Carmen Lúcia percebeu que aquilo estava errado. Foi como acordar de um pesadelo. Ela percebeu o que estava fazendo, onde estava.

            Alto.

            Estava muito alto. Uma batida de seu coração falhou. E ela fez o que dissera para si mesma não fazer.

            Olhou para baixo.

            Estava tão alto! Douglas ficara pequeno abaixo de si e as árvores eram ainda menores. Onde estava? Que loucura era aquela? Estava tão alto…

            Então estava caindo. Suas pernas se desencaixaram da vassoura, suas mãos escorregaram, todos seus medos voltaram a ela. Seu coração batia a mil, seus cabelos voando mais rápido do que nunca. Ela tinha a impressão de que alguém estava gritando, mas não sabia bem quem. Mil mãos a puxavam por todos os lados.

            E tudo ficou preto.

 

            – Também, depois do tombo que ela levou…

            – Tombo? Ela quase morreu! Pode imaginar o que teria acontecido?

            – Foi uma queda bem feia mes…

            – Shh! Creo que ella se está despertando!

            No começo as vozes eram apenas sussurros no escuro, pertencentes a pessoas sem rosto. Carmen Lúcia não sabia onde estava, o que acontecera ou porque a luz incomodava tanto seus olhos a ponto de não conseguir abri-los. Precisou de todo o esforço que conseguiu reunir para abrir os olhos e encarar os rostos desfocados de Fantasma, Vicente e Douglas.

            – Carmen… ¿Esta todo bien? – a argentina foi a primeira a falar.

            Não estava. Sua cabeça doía como se tivesse sido mergulhada em ácido e mesmo o esforço de respirar fazia seu peito doer.

            – Eu… O quê? – ela conseguiu dizer, quando descobriu que não era capaz de se sentar.

            – Sr. Falcão! – Vicente chamou alguém fora do campo de vista da lobisomem.

            – Carmen, do que você lembra? – Douglas perguntou gentilmente.

            Mas ela não se lembrava de muito. Só sabia que havia saído para aproveitar o solzinho da tarde para se bronzear e encontrara Douglas. Depois disso tudo era muito confuso…

            – Eu caí? – perguntou.

            – De bem alto. – Douglas confirmou. – Eu não sabia que você conseguia ir tão alto. A Fantasma falou que você normalmente não vai muito alto nas aulas de Voo. E depois você começou a cair… Eu fiquei desesperado. Não consegui te alcançar e você caiu no meio das árvores… Quando cheguei no chão seu peito estava fundo e seu braço estava em uma posição estranha. Deve ter quebrado uma costela e alguns outros ossos… Mas logo depois tudo começou a voltar para o lugar. A vassoura…

            – Cura acelerada. – Carmen Lúcia conseguiu falar. – Lobisomem.

            – Ah! – Douglas exclamou. – Por falar nisso eu coloquei o muiraquitã em você depois você caiu. Ele está bem ali – ele apontou para a mesa de cabeceira, onde a pedra de água marinha descansava.

            Um homem de branco se aproximou da cama onde Carmen Lúcia estava deitada. Pelas suas roupas, ele parecia um médico. Aquela devia ser a ala hospitalar.

            – Cuidado – o homem disse com um sorriso bondoso quando a lobisomem tentou se sentar. – Você pode estar um pouco dolorida ainda. Beba isso.

            Ela bebeu o líquido azul e amargo que ele lhe ofereceu. Seu rosto se contorceu involuntariamente em uma careta, mas logo seus pensamentos pareceram clarear.

            – Por quanto tempo eu estive apagada? – ela perguntou, piscando com força.

            – Um dia e meio. – Vicente respondeu. – Você perdeu a votação do Grêmio Estudantil de ontem. A Ventos Novos ganhou de novo.

            Carmen Lúcia sorriu. Queria ter participado da votação, mas ficou feliz em saber que sua chapa ganhara.

            Pensar em competições a fez lembrar-se de algo:

            – Você estava trapaceando. – Ela disse, olhando para Douglas enquanto todas as memorias voltavam na sequencia correta. – Abaquar.

            O rosto preocupado do garoto se transformar em uma expressão assustada e constrangida. Ele olhou para Vicente, mas não conseguiu olhar para Fantasma. Ao invés disso anunciou que iria ver porque Arlete, que saíra para conversar com um garoto, estava demorando tanto para voltar.

            Depois que Carmen Lúcia contou a história toda, Fantasma ficou dividida entre a raiva e a felicidade por saber que estava certa e que Douglas não era mais rápido do que ela. Ela disse também que teria volta, arrancando sorrisos de Vicente, e Carmen Lúcia percebeu que ela estava em um humor melhor do que nos últimos tempos.

            Douglas não demorou a voltar apanhando de Arlete, que tinha reclamando que Érico não a deixava em paz, sempre perguntando quando seriam as novas reuniões do Clube Brichote e parecendo nada feliz quando ela lhe dissera que o espelho do pai de Vicente resolvera o problema e que não haveria mais reuniões. O clube fora criado para trazer wi-fi pra Castelobruxo, mas agora eles tinham algo ainda melhor, sem precisar quebrar nenhuma regra.

            – Daí ele disse que eu estava errada e que iria me arrepender – A garota reclamou, rolando os olhos. – Arg. Ele é muito chato. Não devia ter convidado ele para o Clube Brichote, mas ele estava tão empolgado… Mais do que ele devia, se vocês querem saber.

            Carmen Lúcia ainda ficou ouvindo os amigos contando sobre a votação e tudo o mais que perdera, até que o Sr. Falcão a deixou voltar para seu dormitório algumas horas depois. Ela se sentia como nova graças à poção azul e ela, Arlete e Fantasma ainda ficaram acordadas até mais tarde enquanto Arlete sozinha tagarelava, arrancando algumas risadas das outras de vez em quando.

            A lobisomem decidiu que no dia seguinte escreveria para sua família. Tentou imaginar o que sua avó acharia de saber que ela finalmente perdera o medo de voar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Se tiverem alguma ideia, alguma sugestão ou teoria, deixe aí nos comentários! Sempre fico feliz em ouvir o que vocês têm a dizer! :D



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