Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 26
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Fala pessoal!
Mais um capítulo pronto e espero que gostem. :)



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O resto do dia foi meio estranho para mim. Eu fiz o almoço, mas evitei almoçar junto com o Ricardo. Ele também está mais estranho que o normal, mais caladão. De tarde ele saiu para cavalgar com a Mariana, ela até me convidou, mas disse que não. Não depois da vergonha que eu passei.

—Até quando vocês vão ficar se evitando? –O Moacir perguntou.

—Até que eu esqueça o que aconteceu.

—Você está fazendo uma tempestade em copo d’água. Vocês dois.

—Acha normal que um patrão carregue sua empregada bêbada?

—Normal, normal não é, mas convenhamos, vocês são mais que patrão e empregada.

—Você enlouqueceu como a sua filha.

—E você tem a mente poluída. Estou falando que vocês são amigos ou algo próximo a isso.

—Ele não é meu amigo.

—Certeza? Para mim parece. Ele te ensinou a cavalgar, conversa com você sobre assuntos incomuns e ainda te carrega para a cama.

—Moacir! Estou falando sério.

—E eu mais. Conhecendo ele do jeito que eu conheço, sei que ele está tão envergonhado quanto você, mas é orgulhoso demais para admitir. Fale com ele e ponham logo suas preocupações sobre a mesa. Garanto que os dois se sentirão melhores.

—Eu não vou falar com ele.

—E ele não vai falar com você. Vão ficar se evitando para o resto da vida? Tome uma dose de coragem e encare isso de uma vez, Sofia.

—E o que eu deveria falar?

—Não sei, mas confio que pensará em algo.

—Belo amigo você é, Moacir.

—Sou sim e você ainda vai me agradecer por isso.

Ele saiu rindo e me deixou para me afogar em meus pensamentos e na minha vergonha. Puta que pariu, maldita hora que enchi a cara!

***

Já era tarde da noite e desconfio que a Mari armou com o Moacir para me deixar sozinha com o Ricardo. Num momento estávamos todos na sala, no outro os dois sumiram misteriosamente. Agora estou aqui, sem jeito olhando para ele e ele para mim. Porra!

—Patrão?

—O que foi, Sofia?

—Queria agradecer e me desculpar pelo senhor ter me levado para o quarto ontem, digo, ter me carregado até lá.

—Não se preocupe com isso, mas tente não beber tanto quanto ontem.

—Eu falei alguma coisa enquanto estava meio bêbada?

—Até tentou falar, mas, sinceramente, não entendi metade das palavras.

—Então eu realmente não te dei um chupão no pescoço e nem te chamei de gostoso, não foi? –Perguntei, sem graça.

Ele não me respondeu de imediato, mas nunca vi ele arregalar tanto os olhos e me olhar com uma cara de assustado. Acho que falei demais.

—Er... como assim? –Perguntou, mais perdido que eu.

—Acho que isso é um não. Desculpa. –Falei, escondendo meu rosto com as mãos. Queria ser um avestruz e enfiar a cabeça na terra.

—Eu também estava um pouco bêbado, mas não achei nenhuma marca no meu pescoço hoje. Quanto ao gostoso, não saberia dizer. Como disse, não entendi metade das coisas que falou. –Brincou.

—Me despeça de uma vez. –Pedi, me sentindo mais envergonhada do que nunca pelo comentário dele.

—Foi uma piada. Você deve ter sonhado isso.

—Não sonhei.

—Imaginou?

—Não, a Mari insinuou isso.

—Ela ainda vai me matar, mas parece que o instinto assassino dela não está satisfeito só comigo e também está indo atrás de outra vitima, no caso, você.

—Eu gosto dela, apesar de não a conhecer tão bem, mas... –Deixei a frase morrer.

—Ela pode ser inconsequente e impulsiva. –Ele completou.

—Exato. Desculpe por ela ter feito você me carregar ontem.

—Eu teria te carregado de qualquer maneira.

Agora eu fiquei boba e arregalei meus olhos para ele, mas ele continuou ao ver o sentido que a frase poderia ter tomado:

—Não seria muito correto e nem saudável para sua saúde te deixar dormindo no sereno.

—Obrigada, de novo. Prometo que na próxima me desloco para o meu quarto antes de ficar nesse estado lastimável.

—Agradeço. Meu corpo já está velho para essas aventuras.

—E eu nova para essas vergonhas.

Ele esboçou um leve sorriso, pela primeira vez hoje.

—Podemos tentar esquecer que a Mariana nos fez passar por isso? –Ele perguntou.

—Seria ótimo. Não aguento mais me sentir envergonhada.

—Acho que já vou dormir. O dia foi cheio e ainda estou cansado de ontem. –ele comentou, se retirando.

—Boa noite, patrão.

—Boa noite, Sofia.

É, foi um pouco embaraçoso, mas acho que levei bem. Não aconteceu nada. O patrão também pareceu concordar. Não nos aconteceu nada. Essa vergonha nunca me aconteceu e ele não me carregou para o meu quarto. Bom, de qualquer forma, eu nem me lembro mesmo.

***

Acordei no dia seguinte e era a minha folga. Eu já tinha acertado de ir ver minha sobrinha e minha cunhada. Não vou para a casa dos meus pais hoje. Não aguento mais ouvir minha mãe contando sobre o cruzeiro e como ela pegou a rosa do Rei Roberto. Poupe-me por hoje!

Meu irmão não estava em casa e meu sobrinho estava na escola. O Jeito foi tirar o dia para paparicar aquela coisa fofa que é minha sobrinha. Ela parece um anjinho no meu colo, mas o Fabinho também parecia e virou um pestinha.

Conversei um pouco com a minha cunhada. Ela ainda está querendo me arrastar para esses bailes que ela gosta. Ela também me perguntou sobre o “tio Rick” que o Fabinho amou. Eu apenas disse que esta bem. Tá bom que eu vou me denunciar e falar que ele me ensinou a andar de cavalo e ainda me carregou para minha cama. Sonhe. Não darei armas para que me acertem. Já passava da hora do almoço quando o Fabinho chegou.

—Tia! –Ele gritou e, pela primeira vez, me deu um abraço por livre vontade.

—Fabinho, meu lindo. Como foi a escola?

—Foi chato.

Garoto sincero.

—Mas você não tem amiguinhos lá?

—O Gabriel faltou hoje.

—Coitado do meu lindo. Mas você só tem ele de amigo?

—Só. Os outros garotos são chatos.

—Esperamos que ele vá amanhã.

—Tia?

—Que é, meu fofo?

—Como está o tio Rick? Estou com saudades.

A Patrícia engoliu uma risada e olhou para mim com cara de diversão. Esse moleque é peste igual ao pai.

—Ele está bem, Fabinho.

—Será que podemos ir lá no seu trabalho de novo?

—Talvez qualquer dia desses.

—Promete?

—Vamos ver.

—Júnior, vai lá trocar o seu uniforme antes que suje. –Patrícia falou.

O garoto resmungou um pouco, mas foi para o quarto.

—Ele já sabe se virar sozinho? –Perguntei

—Ele teve que aprender. Depois que a Camila nasceu não dá para eu ficar com ele direto não.

—Ele deve estar um pouco enciumado.

—Isso está. O que ele sente mais falta é dos sorvetes que tomávamos uma vez por semana no shopping. Sem o Fábio não dá para eu levar Camila, bagagem e mais Júnior.

—Coitado! Ele sempre falava dos sorvetes. Eu não estou fazendo nada. Se importaria se eu o levasse?

—Não, até agradeço. Ele vai adorar.

Depois dele almoçar, arrastei o pestinha até o shopping e ele adorou. Um sorvete de casquinha com bastante lambuza e um banquinho. O que mais poderia querer para minha folga?

—Tá gostoso, Fabinho?

—Tá, tia.

—O meu também está. Depois o que acha se fossemos até o parquinho?

—Podemos?

—Meia hora não fará mal.

Ele colocou o sorriso naquela cara suja de sorvete e continuou se lambuzando naquela delicia gelada. Acho que precisarei dedicar mais minhas folgas com o meu sobrinho. Ele é chatinho, mas sente falta dessas pequenas coisas que a Patrícia fazia e agora não tem mais tempo. Eu também sou a tia e nada mais justo que estragar o garoto um pouco.

—Tia, tia, tia! –Ele gritou me puxando a camisa.

—Que foi, que foi, que foi?

—Não é o tio Moacir? –Ele falou, apontando para um senhor distante.

Eu esperei o homem virar e, realmente, era o Moacir. O que ele está fazendo aqui?

—É sim, garoto. Vamos lá.

Ele se aproximou e o Moacir logo abriu os braços para abraçar o Fabinho. Coitado, ele vai lambuzar o pobre homem de sorvete.

—O que faz aqui? –Perguntei.

—A Mari cismou que precisava passar no shopping. Coisas de foto, não sei bem.

—Quem é Mari, tio? –E lá vem o garoto intrometido.

—Minha filha, Fabinho. Gostaria de conhecer ela?

—Gostaria.

—Assim que ela chegar eu te apresento.

—Tá bom, tio.

Eu continuei ali um pouco com ele, conversando até que a Mari apareceu por trás de mim e quase me matou de susto.

—Jesus, Mari! Você não quer matar só seu tio.

—Você não consegue mesmo ficar longe da gente, não é? E esse pequeno, seu filho?

—Filho? Deus me livre! É sobrinho. Fabinho, essa aqui é a Mari. Mari, esse é o Fabinho.

Ela abaixou e pegou o garoto no colo.

—Oi, pequeno.

—Oi. Você que é filha do tio Moacir?

—Eu mesma. Como conhece o meu pai?

—Quando minha mãe foi ter minha irmã, meu pai me deixou com a tia Sofia e eu conheci o tio Moacir e o tio Rick. Você conhece o tio Rick?

—Conheço. Ele também é meu tio.

—Ele é legal. Fez muitos desenhos para mim.

—Que maneiro, Fabinho! Ele é muito legal, não é?

—É. Gosto dele. Gosto também dos desenhos que ele faz.

—Ele também desenhava para mim. Talvez sua tia possa te levar lá um dia.

—Seria legal.

—Sim, seria, não seria, Sofia?

—Eu tenho que falar com os pais deles primeiro e depois com o meu patrão. –Falei.

—O tio Rick não se importaria em nada, tenho certeza.  Acho até que ele gostaria de ter o Fabinho lá.

Eu olhei para a Mari na esperança dela não encher mais a cabeça do garoto, mas não deu muito certo. Ela e o pestinha ficaram conversando um bom tempo até o Moacir os interromper e falar que precisavam passar no mercado ainda.

—Eu vou, mas deixo isso com você, Sofia. Mandei imprimir duas. Uma para o álbum e outra para você. –A Mari disse me entregando a foto que ela bateu de mim, da Titília e do Animal. Aquela foto que ele olha com ternura para a cachorra.

—Obrigada, eu acho.

—Depois eu passo essas fotos para um CD e te dou uma cópia. –Ela falou.

A partir desse ponto nos despedimos, eu guardei a foto na minha bolsa para conter a euforia do Fabinho e fomos para casa. Com o tempo que perdemos aqui já estava tarde e não deu para passar no parquinho. Por sorte o moleque esqueceu.

Mas não esqueceu de mencionar para a mãe dele que encontramos o Moacir, a Mariana e que ela me deu uma foto com o “tio Rick”.

—Deixa eu ver, Sofia. –A Patrícia falou assim que o filho dela se afastou.

—Esquece isso, é só uma foto sem importância.

—Anda, não seja má. Eu não vou querer roubar seu velhote. Já tenho o meu.

—Ele não é meu velhote.

—Então não há problema se me deixar ver a foto. Vamos que estou curiosa. Por favor?

—Tá, sua chata.

Peguei a foto da minha bolsa e entreguei para ela. Ela ficou olhando e depois me deu um sorriso malicioso.

—Até que o coroa é bonitão, hein.

—Menos, Patrícia.

—Vem cá, que patrão é esse que deixa a empregada beber e ainda bebe junto? Qual é das latinhas de cerveja?

—Foi uma festa para um outro empregado.

—Ele até dá festas para empregados. Uau! Queria um patrão assim. Esse cachorro no meio dá foto dá um charme especial. Parecem até uma família. Casalzinho ternura.

—Cachorra. É fêmea. E não, ela não dá um charme especial.

—Parecem um casal com seu cachorro.

—Ô Patrícia, você não tem que alimentar seus filhos não?

—Não. Prefiro ficar aqui te irritando.

—Se já se divertiu, me dê logo essa foto para guardar.

Ela me entregou e eu guardei aquilo na bolsa antes que ela visse mais detalhes que não existem.

—Mudando um pouco de assunto, Sofia: semana que vêm combinei com uma amiga de sairmos para um barzinho. O Fábio vai ficar de folga e concordou em cuidar das crianças por um tempinho. Vamos?

—Acho melhor não.

—Claro, seu velhote não gostaria disso.

—Que dia?

—Sábado e, pelas minhas contas, vai ser na sua próxima folga. Por isso, não me venha com a desculpa que precisa trabalhar.

—Horas?

—4 da tarde, mas ainda não decidimos o lugar.

—Me mande uma mensagem com o nome um dia antes.

—Certo.

Acho que fiz merda agora. Sair com a Patrícia e as amigas dela é sempre furada. Geralmente não lembro da metade das coisas que faço quando saio com elas, mas que se dane. Agora que concordei não dá para voltar atrás. Só tenho que me concentrar em não beber muito e me manter sóbria para que possa caminhar com meus próprios pés e não depender de terceiros para me carregarem para a cama. Já aprendi com meu erro. 

Continua.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Se quiserem e assim desejarem, comentem.
Obrigada por lerem.
Forte abraço e até mais!



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