Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 27
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Fala gente! Consegui adiantar o capítulo e espero que gostem. :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/664666/chapter/27

A Mari ainda passou mais uns dias conosco antes de ir embora, mas claro que aproveitou o máximo que pôde para atentar o Animal e a mim. Eu deixei de prestar atenção as suas provocações e algumas até fingi que não entendia. O Animal fez igual. A casa ficou mais silenciosa sem ela, mas o bom é que eu voltei com a rotina de leituras e conversas com o Ricardo acerca de livros de História. Estava sentindo falta disso. Ontem também a Patrícia me enviou a mensagem confirmando o maldito lugar que ela marcou. Um muquifo barulhento que eu odeio. Queria desistir, mas não posso dar para trás agora, posso?

Ela ficou de passar por mim, mas para não dar o gostinho dela ver o Animal, marquei de encontra-la na estrada. Agora estou aqui decidindo o que devo ou não vestir.

Eu realmente preciso fazer compras, urgentemente. Nem me lembro direito da última vez que sai. Minhas roupas estão mais para trabalhador de roça do que para festas. Deprimente! Depois de quase varrer a porcaria do armário de cabeça para baixo, achei um antigo vestido tubinho preto. Nem lembrava que ainda tinha essa tranqueira. Mas vai servir. Fiz uma maquiagem rápida com lápis, uma base e um batom suave. Nada de vermelho hoje. Vermelho é para caçar e não estou procurando por homens. Só o sapato que vai ser um problema. Tenho um salto baixo preto que combina com o vestido, só não combina com esse terreno lamacento. Minha bolsa é espaçosa, acho que posso ir de tênis e trocar ele pelo salto quando chegar na estrada. É, terá que ser isso.

Tudo pronto, desci. A caminhada seria um pouco longa e não quero me atrasar.

—Sofia, hoje não era para ser sua fol... –O Animal perdeu a voz ao me ver. É, acho que exagerei com esse vestido.

—Ainda é minha folga. Vou sair com umas amigas. –Falei, segurando o riso.

Ele tentou disfarças, mas me olhou dos pés a cabeça, mas fez uma careta para meus tênis.

—Pretende quebrar a harmonia da sua vestimenta com esses tênis? –Ele perguntou, apontando para meus pés.

—Eu marquei de encontra-las na estrada. Não posso andar esse pedaço com saltos, mas estão na minha bolsa para trocá-los.

—Peça para o João ou o Moacir te levar de carro.

—Como?!

—Você vai andar esse pedaço todo e suar, manchar sua maquiagem e chegar cansada em seu compromisso? Peça para eles te levarem ou pegue a caminhonete.

—Mas é minha folga, o carro não é meu e eles estão trabalhando.

—Eu não vou usar o carro para nada e eles podem folgar 15 minutos para te ajudar.

—É sério?

—É. Agora vá trocar esse tênis por um sapato decente. Essa sua combinação desarmônica é uma tortura para um designer.

—Obrigada, Ricardo.

—Vá se aprontar.

Eu fiquei boba com a súbita bondade dele e preferi não discutir e fui trocar o sapato no meu quarto e aproveitar para ver se minha maquiagem estava ok.

—Agora sim, harmonia! –Ele falou ao me ver.

—Estou bem?

—Está harmônica. Falei com o João e ele vai te levar.

—Obrigada, de novo.

—Divirta-se e não beba como na última vez. Não quero saber que minha empregada dormiu no sereno. –Ele brincou antes de eu sair.

—Uau, Sofia! Quem é o sortudo? –O João perguntou ao me ver.

—Ninguém, João. Apenas vou sair com umas amigas.

—Então vamos que hoje sou seu chofer. Ordens do patrão.

Eu entrei rindo no carro e o João se acomodou ao volante. O caminho foi rápido e ele ainda aguardou comigo até eu ver o carro da minha cunhada na estrada.

—Você vai querer que eu te pegue na volta? –O João perguntou.

—Eu devo chegar tarde, mas tento te ligar.

—Tá ok, Sofia. Juízo, hein!

—Pode deixar. Tchau e obrigada, João.

—Até mais!

Eu sai e entrei no carro da minha cunhada. A Thais, amiga dela, também estava lá.

—Quem é esse? –A Thais perguntou.

—É o João, um amigo.

—Bonitinho. É casado?

—Thais, deixe para flertar quando chegarmos ao bar. –Falei.

—Tá, mas bem que você poderia me apresentar. Gostei dele.

—Tá, vamos embora logo, Patrícia, antes que sua amiga se jogue no meu colega de trabalho.

—Você está de zóio no teu patrão. Qual o problema dela olhar um dos empregados? –Patrícia falou, com um riso.

—Eu mereço!

Elas foram rindo de mim até chegarmos ao barzinho. Era um lugar legal na minha juventude. Já frequentei bastante, mas depois de uns anos aquilo perdeu a graça. Sempre encontro pessoas que não quero aqui.

A conversa foi tediosa. A Thais só sabia falar sobre a aparência dos homens que passavam de um lado para o outro e da bunda de um garçom que ela ficou de olho. A Patrícia reclamou das noites mal dormidas, da dor nos seios por causa do leite e mais coisas que toda mãe sofre e que eu não precisava saber. Eu fiquei mais calada e me concentrei no meu chope e em dispensar alguns engraçadinhos que cismaram em olhar além dos meus olhos. Poupe-me! Teve até ex amigo, que nunca foi amigo, me cantando. Um babaca que ria de mim na época da escola. Nunca suportei ele. Thais falou que eu desperdicei uma boa chance e a Patrícia zombou de que estava me guardando para o “meu” coroa. Acho que teria me divertido mais se tivesse ficado em casa conversando sobre a Revolta dos Alfaiates com o Ricardo. Teria tido mais papo.

Sai de lá meio desarrumada. Ainda estava em meu juízo, mas minhas pernas já bambeavam um pouco e minha cabeça girava. Não sei que merda que eu fiz para descer a escadinha do maldito bar que meu salto agarrou e eu afundei no chão. Resultado: Um tornozelo torcido.

Passei a noite inteira de UPA em UPA até achar um maldito médico e tirar uma radiografia para ver se não tinha quebrado nada. Quando achei uma com médico ainda tive que esperar até de manhã para chegar minha vez. Passava das 10 quando finalmente fui liberada e relativamente tratada com um pé enfaixado e mais uma carga de remédios para dor e inflamação. Ótimo!

A Thais foi pra casa dela e a Patrícia foi a pobre alma que ficou me acompanhando. Vergonhoso! Ela tomando conta de mim com duas crianças pequenas em casa.

—Vem para casa comigo, Sofia. –A Patrícia falou.

—Casa? Como eu vou assim com esse pé? Todas as minhas coisas estão na fazenda e eu não consigo nem andar, nem apoiar o pé no chão. Acho que terei que pedir abrigo para os meus pais por uns dias e torcer para ter um trabalho até eu melhorar.

—Agora me sinto culpada.

—Foi um acidente. Não se preocupe.

Eu senti meu celular vibrar e peguei para ver. O número é da fazenda. Só pode ser o Animal atrás de mim porque eu estou atrasada para o trabalho e era para mim estar lá há mais de duas horas.

—Alô. –Atendi.

—Sofia?

—Ricardo?

—Sim, sou eu. Está tudo bem? Você costuma atrasar, mas nunca atrasou tanto.

—Acho que não vou poder ir hoje.

—Aconteceu alguma coisa?

—Eu cai e estou na UPA...

O QUÊ?! –Ele gritou e eu tirei até o telefone do ouvido. Já me basta um tornozelo ruim, não vou querer estourar um tímpano também.

—Calma, estou na UPA. Acho que terei que faltar uns dias. Posso mandar alguém aí por minhas roupas?

—Qual UPA?

—A do Centro.

—Não saia daí.

—Não sair...

Nem deixou eu terminar de falar e desligou na minha cara. Maldito!

—Uh, É o tio Rick? –Patrícia brincou.

—Patrícia, com todo o respeito, mas vá para merda. Estou com dor e não me venha com essas piadinhas.

—Desculpa. E então, Vamos?

—Ele falou que era pra eu esperar aqui. Vá para casa cuidar dos meus sobrinhos e dormir um pouco. Meu irmão vai me matar se você ficar mais tempo comigo.

—Eu não vou te largar aqui sozinha, Sofia!

—E vai esperar aqui comigo por não sei quantas horas? Vai para casa descansar, eu estou bem.

—Eu vou, mas se seu irmão me matar por te largar aqui sozinha você vai pagar meu funeral.

—Eu pago e ainda cavo o buraco.

—Te cuida, Sofia e se precisar de algo é só ligar.

Eu me despedi dela e fiquei ali. Como decidi não jogar no celular para poupar bateria, depois de um par de horas o tédio me consumia lentamente, mas então eu vi o Animal entrar meio desesperado olhando para todos os lugares até que me viu e veio correndo para mim. Achei que ele fosse mandar o João ou o Moacir e não vir pessoalmente.

—Mas que merda, mulher! O que você arrumou agora? –Ele praticamente gritou.

—Primeiramente, boa tarde.  Vamos abaixar um pouquinho também o tom de voz que estamos numa UPA.

Ele deu um leve sorriso torto e percebeu que aqui não é sua fazenda e ele não está no comando de tudo.

—O que aconteceu? Você está bem? –Ele perguntou, mais calmo.

—A anta aqui caiu e torceu o tornozelo. –Falei, fazendo uma cena exagerada e apontando para meu pé enfaixado.

—Já foi atendida?

—Já, mas preciso passar na farmácia para comprar uns remédios.

—Ótimo. Vamos que passamos na volta.

—Oi?! Pera lá que eu me perdi.

—Vamos para a fazenda.

—Eu estou com o tornozelo machucado. O que eu iria fazer lá? Não posso trabalhar assim.

—E quem disse que você vai trabalhar? Eu posso não ser a melhor das pessoas, mas também não sou um carrasco que vai te obrigar a trabalhar assim.

Agora eu acho que bati a cabeça e morri. O Ricardo quer que eu vá para a fazenda ficar de bobeira sem trabalhar enquanto meu pé sara? Isso é irreal!

—Agradeço a sua generosidade, mas acho melhor não. Só precisarei passar lá para pegar umas roupas.

—E vai para onde? Até onde sei você não tem mais apartamento para ficar e também não acho prudente ficar sozinha no seu estado.

—Posso ficar com meus pais ou meu irmão, não sei. Tenho ainda que falar com eles para resolver isso.

—Pra que complicar se pode voltar para a fazenda? Como acha que eu vou segurar sua cachorra por alguns dias? A Titília fica desesperada e quase não come quando você está longe.

—Puta que pariu, esqueci da Títília! Meu irmão não vai querer aquele monstrinho dentro de casa e meu pai é alérgico.

—Fazenda?

—É, acho que vai ter que ser a fazenda, mas volto com a condição de que você desconte esses dias.

—Pode ser.

Eu me levantei da cadeira e o Ricardo apenas me olhava mancar.

—Uma ajudinha iria bem. –Falei.

—Quer que eu te carregue?

—Não, por favor, de novo não. Já estou quase esquecendo o mico que paguei bêbada. Não me faça pagar outro. Só me dê um apoio.

Ele deixou que eu segurasse em seu ombro e passou o braço em volta da minha cintura para me dar estabilidade. Fiquei na minha, mas ele praticamente me carregou para fora. Fomos até o estacionamento e o Moacir estava esperando no carro.

—Moacir? O que faz aqui? Achei que o patrão tinha vindo sozinho. –Falei.

—O Ricardo precisava de alguém para dirigir. –O Moacir falou.

—Como? Você não sabe dirigir?

—Sei, mas minha carteira está vencida.

—Por isso você insistiu para que eu tirasse a minha aquela vez... Por que não renovou?

—Porque tem mais de cinco anos que não venho na cidade.

—QUÊ?

—Prefiro minha fazenda.

—Você fez o lobo sair da toca, Sofia. –O Moacir falou com um riso.

O Animal deu um olhar feio para o Moacir e ele segurou o riso. Eu também engoli qualquer comentário que eu tinha e entrei no carro.

Depois de passarmos na farmácia e o Moacir comprar os remédios para mim, fomos para a fazenda. Fui recebida pela Titília, mas o Moacir a segurou um pouco para evitar que ela me derrubasse. O Animal me ajudou a chegar até o sofá na sala.

—Obrigada, patrão.

—Sem problemas. Espera um pouco aqui.

Ele sumiu e depois de alguns momentos voltou com um par de muletas. Como?

—Acho que isso pode te ajudar um pouco. Ele falou.

—Obrigada.

—Eu vou estar na biblioteca. Se precisar de ajuda, chame.

Ele saiu e eu fiquei olhando para o par de muletas a minha frente. Por que raios ele tem essas coisas? E por que mais raios ele está me ajudando sem gritar e de boa vontade? Acho que realmente bati a cabeça na queda e estou alucinando.

Continua.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Caso alguém não saiba, UPA (Unidade de pronto atendimento) é uma espécie de pequeno hospital que presta pequenos atendimentos. Em síntese, é menos que um hospital, mas mais que um posto de saúde.
Espero que tenham gostado. Se desejarem, deixem vossa opinião.
Obrigada por lerem.
Forte abraço e até mais!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ainda Vou Domar Esse Animal" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.