Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Fala gente!
Como prometido, mais um capítulo e espero que gostem. :)



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Eu enrolei mais que o necessário para guardar os cavalos na baia. Do jeito que eu estava, sei que entraria na casa rindo do Animal e ele me colocaria na rua. Tentei me acalmar um pouco, mas não deu muito certo. Não com a discussão que a Mariana estava tendo com ele na cozinha.

—Já te falei que não, Mariana! Peça para o seu pai. –O Animal resmungou, puxando uma cadeira e se sentando.

—Os que o papai faz não ficam tão bons quanto os seus. Anda, tio. Não seja mau. Você não dizia que eu era sua sobrinha favorita? –Ela implorou.

—Bom saber que os meus não ficam bons, Mariana. –O Moacir fingiu estar ofendido.

—Ficam bons, mas o do titio Rick são melhores. Me ajude a convencer ele, Sofia. Parece que com você dá certo. –Mari disse assim que me viu.

—Ajudar quem com o quê? –Perguntei, confusa.

—O tio Rick está se negando a fazer biscoitinhos amanteigados para mim. Tente convencê-lo.

Tá, estou segurando o riso da maneira mais miserável que posso. O Animal me olhou e trancou mais ainda a cara. Como assim que ele faz biscoitinhos amanteigados?

—Você faz biscoitos amanteigados? –Perguntei o olhando.

—Não e se não tirar esse sorrisinho da cara te coloco na rua. –Falou, entre os dentes.

—Faz sim, tio. Já se esqueceu que fazia para mim quando eu era pequena? Sabe, Sofia, ele preparava a massa, enrolava e sempre me deixava cortar os biscoitinhos com as forminhas em forma de coração. Tinha vezes que até passava anilina para deixar o açúcar rosa.

—Um riso e te coloco na rua. –Ele rosnou.

—Coloca nada, tio. Eu sei que gosta dela, caso contrário ela já teria ido embora. –Mari falou.

—Ah, rapaz, isso vai longe. –O Moacir suspirou ao ver como a Mari desafiava o Animal.

 -Não vou fazer seus biscoitos, Mariana. –Ele reclamou.

—Já que não tem biscoitos, posso pedir uma pintura?

—Não. Já te enviei a sua.

—Não seja rabugento, tio. Faça ao menos a massa dos biscoitos para mim. Não sabe quantos anos eu tenho sonhado com esses malditos biscoitos. –Ela pediu, se abaixando e o olhando diretamente nos olhos.

—Não!

—Por favor. Vou fazer beicinho e me jogar no chão como quando era criança.

Ela se sentou no chão e ameaçou espernear como uma criança. O Animal a olhava com a carranca fechada e o Moacir, assim como eu, segurava o riso.

—Que inferno, Mariana! Vá pegar as coisas. –Ele gritou antes de se levantar e a puxar do chão.

—Vai fazer?

—Vou!

—Brigada, tio. –Ela falou, lhe dando um beijo na bochecha.

—Ele tem coração mole com ela. –O Moacir sussurrou para mim.

—Parece que sim. –Concordei.

Eu e o Moacir ficamos na batente da porta vendo os dois trabalharem em uma maçaroca que levou mais manteiga do que trigo. O Animal suavizou um pouco a carranca, mas do jeito que ele espancava a massa se via que ainda estava com raiva. Era engraçado de ver.

—Ainda tem aquelas forminhas, tio? A Mariana perguntou.

—Não. Enferrujaram e eu joguei fora.

—E como faremos os biscoitos?

—Corte em cubinhos e esprema com o garfo.

—Mas não ficarão bonitos.

—Você quer comer ou ficar admirando os biscoitos?

—Nossa! Você não era tão carrancudo assim. Sinto falta do meu tio que me deixava fazer lacinhos no cabelo e brincava de boneca comigo.

Tá, essa eu não aguentei ao imaginar a cena e acabei soltando uma gargalhada alto demais. A Mariana me acompanhou, o Moacir segurou o riso com as mãos e o Animal me fuzilou com o olhar.

—Você brincava de boneca? –Perguntei, incrédula.

—Se brincava ou não era problema meu. Mais um guincho desse e te ponho na rua. –Ele reclamou.

—Brincava sim. Ele até fez uma casinha de boneca para mim. Tenho até hoje. –Mari disse, orgulhosa.

—Aquela porcaria já deve estar cheia de cupim. –Ele reclamou.

—Não está não e o senhor sabe muito bem disso. O senhor era o melhor no que fazia e não dava ponto sem nó. Lembro bem que impermeabilizou a madeira contra cupins depois da pintura. Acho que foi um dos melhores presentes que já ganhei de aniversário.

—Uns pedaços de madeira que preguei junto? Grande presente!

—Foi sim e o senhor sabe disso. Não precisa agir como se não soubesse.

—Tá, gosto não se discute. Se gostou daquela porcaria, quem sou eu para falar?

—Gostei sim.

Por essa eu realmente não esperava e nem imaginava algo assim. Eu ainda estou tentando segurar o riso ao imaginar o temível e inescrupuloso Ricardo Bittencourt, o Animal feroz, brincando de boneca e fazendo casinhas para elas além de ter lacinhos rosas em seu cabelo. Tá, não sei se eram rosas, mas minha imaginação pode dar a cor que eu quiser. Ele é simplesmente contraditório e hilário.

—Sofia, assume aqui rapidinho que eu já volto! –A Mari disse me entregando o garfo e correndo para longe.

Olhei para o Animal antes de me aproximar. Ele não falou nada, mas me mostrou os dentes e sua carranca. Acho que posso considerar isso como um rosnado.

—Uma piadinha e está na rua. –Ele sussurrou quando me aproximei mais.

—Não ousaria rir de um homem que brinca de bonecas. –Respondi com um riso.

Ele virou-se para mim. Tá, agora estou na rua, mas na hora que ele iria abrir a boca fomos atingidos por um flash que nos desnorteou. Como imaginei, só poderia ser a Mari com uma enorme máquina fotográfica nas mãos. Mal conheço essa garota e já a adoro!

—Que merda é essa, Mariana?! –O Animal gritou.

—Olha a boca, tio! Respeite as damas nessa cozinha. Você sempre me ensinou a ser, como dizia, elegante. –Ela o repreendeu.

—O que foi isso?

—Tirei uma foto.

—Com a ordem de quem?

—De ninguém. Eu quero ter o máximo de lembranças de vocês já que levo uma eternidade para vê-los. Pai, junta ali.

O Moacir veio até nós e colocou um dos braços no meu ombro e outro no do Animal e nos puxou para um abraço meio atrapalhado. Mais dois flashes nos atingiram e, mais uma vez, o Animal resmungou algo.

—Agora é sua vez, Mari. Vai lá que eu tiro uma. –O Moacir disse trocando de lugar com ela.

Ela, porém, ao invés de se enfiar no meio de nós como o pai fez, jogou o Animal para o meio e ainda reclamou com ele para ele se aproximar mais de mim. Depois de alguns resmungos e um olhar de ódio, ele passou um braço sobre os meus ombros e me puxou para perto e me empurrou para longe depois de o Moacir ter batido a foto.

A partir desse ponto as coisas ficaram mais calmas. Eu me afastei um pouco com o Moacir para a sala e deixamos ele e a Mari trabalhando na cozinha. Vez ou outra escutávamos o riso dela e os resmungos dele. Eu bem que queria ir ver, mas o Moacir me impediu.

***

—Biscoitinhos do tio Rick, quem quer? –A Mari chegou na sala carregando uma bandeja.

—Eu quero. Não sei quando você voltará aqui para convencer aquele lá a fazer de novo. –O Moacir disse e pegou alguns.

Eu não recusei. Como poderia? Minha curiosidade estava me matando para provar um deles e, para meu espanto, eram deliciosos.

—Isso é... –Falei.

—Delicioso! –A Mari completou.

—Ele vai ter que me passar essa receita.

—Depois eu te passo, eu tenho ela. Já tentei fazer milhões de vezes, mas nunca ficaram iguais aos do tio Rick.

—Mesmo assim eu vou tentar. Ele ainda está bravo?

—Está fingindo que está, mas o conheço bem para saber que não. Agora deixa eu voltar lá antes que ele comece com os gritos.

A Mari saiu saltitando para a cozinha e eu e o Moacir ficamos com um punhado de biscoitinhos amanteigados para comer.

—Não sabia que ele cozinhava. –Eu comentei.

—Ele cozinha, melhor do que eu, odeio admitir. –O Moacir disse com um riso.

—Por que nunca o vi cozinhar antes?

—Ele não gosta muito, mas sabe cozinhar bem.

—Gente, ainda estou boba com tudo isso. É verdade o que sua filha disse que ele brincava de boneca?

—É. Tinha vezes que ele também me obrigava a isso. As férias eram um sofrimento. Nos sentávamos nessa sala, no chão em um dos tapetes, e espalhávamos os brinquedos da Mariana. Tinha vezes que ela se cansava e pedia para fazer lacinhos nos nossos cabelos.

Eu não aguentei e comecei a rir. Fiquei imaginando a cena e me perguntando onde estava a mãe dessa criança. É mesmo, onde está a mãe dela?

—E a mãe dela, Moacir? Não falava nada?

—Éramos divorciados. Guarda compartilhada.

—E a mãe não reclamava de você a trazer para o trabalho?

—Ela não ligava muito para a filha, especialmente depois que começou a namorar de novo. A pobre garota ficou um pouco jogada e se sentia mais em casa comigo e com o Ricardo do que com a mãe.

—Sinto muito. Onde a mãe dela está agora?

—Da última vez que eu soube, estava em Alagoas. Ela voltou a se casar com um militar e nunca ficam muito tempo em um lugar só.

—A mariana não sente falta dela?

—Não muito. Eu praticamente a criei. A guarda era compartilhada, mas eu passava mais tempo com ela do que a mãe.

—E você nunca pensou em se casar de novo? Seguir a vida como sua ex fez?

—Eu não. Não nego que tive meus casos, meus romances passageiros, mas nunca poderia constituir algo mais sério enquanto eu tinha a Mari para cuidar. Ela se tornou minha vida.

—Mas agora você pode. Ela já está bem crescida.

—E eu velho. Querida, eu já estou com 62 anos. Romance não é para mim.

—Bobagem! Você está na melhor idade, como dizem.

—Melhor idade para doenças, reumatismos...

—Ainda acho que pode encontrar alguém. Sua filha ficaria feliz de te ver feliz.

—E quem disse que eu não sou feliz? Romance é para você, para o Ricardo que ainda são novos, mas não para mim.

—Eu e o Ricardo? Isso é alguma indireta?

—Não. –Respondeu, com um riso.

—Moacir...

—Sofia...

—De uns dias pra cá você está lançando essas piadinhas.

—E de uns dias pra cá vocês estão ficando muito próximos, não é?

—Não!

—Tem certeza? Eu tenho visto vocês quase que todo dia conversando por tempos e mais tempos.

—Falamos sobre livros. Nada mais.

—De algum ponto precisam começar.

Eu iria rebater, mas a verdade é que não foi só livros, não hoje quando ele me confidenciou algo do seu passado. Será que realmente estamos ficando próximos? Espero que não. Deus que me livre me apaixonar por alguém tão rabugento quanto ele! Admito que ele ainda me intriga e muito e sei que ainda tenho muito que descobrir, mas é só curiosidade e nada mais. Eu acho.

Continua.


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Notas finais do capítulo

Parece que a Mari já está revirando um pouco a casa e fará muito mais.
Para deixá-los um pouco mais alegres, um pequeno spoiler do próximo capítulo: Será o aniversário do Moacir.
Críticas ou sugestões sempre serão bem vindas.
Obrigada por lerem.
Forte abraço e até o próximo!



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