Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Fala, gente! Tudo bem com vocês?
Primeiramente, gostaria de me desculpar pela demora em responder os comentários. Minha cachorrinha acabou tendo que fazer uma cirurgia e eu preciso estar quase que 24 horas ao lado dela para impedir dela fazer m... e arrebentar os pontos. Isso me obrigou a afastar-me do computador.
Sem mais, deixo-lhes mais esse e espero que curtam.



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Levou tempo para eu tomar eu tomar confiança e finalmente tomar as rédeas do cavalo por mim mesma, cerca de um mês com 2 horas de treinamento diário. O Moacir teve uma bela dor de cabeça para me ensinar. O que estranhei mesmo foi o Animal. Ele, todo santo dia e durante as horas em que eu treinava, se sentava na varanda e ficava me observando. Não falava quase nada, exceto uma ou outra vez em que ele gritou alguma dica para mim, quando estava indo mal. Cara estranho, mas também, sem televisão em casa e outra forma de diversão, eu devo ter sido a diversão por um tempo.

Eu também aproveitei, um outro dia, para visitar os meus pais. Além do interminável assunto que minha mãe conseguiu pegar uma das rosas do rei Roberto (e até a guardou dentro de um livro para que não murchasse) e de fazer inveja para a mãe da minha cunhada, eles também aproveitaram para me sondarem sobre o “tio Rick”. É nessas horas que desejo esganar o meu irmão. Por que aquele idiota tinha que falar isso pros coroas? Agora eles vão ficar me enchendo com algo sem importância!

Até que os dias que se seguiram estão calmos, sem muitos atritos. Minhas aulas de montaria terminaram e eu voltei para minha rotina normal de ficar na varanda, após o almoço, contemplando a vista e brincando com o Cuzco. Hoje o dia estava bonito, apesar daquele bodinho estar meio encapetado. Não para quieto!

—Não vou, Ricardo. Eu já te falei que meu trabalho não é esse. Tome vergonha e vá na cidade resolver isso. –O Moacir gritou, saindo da casa, e com o Animal atrás dele.

—Moacir, será que pode fazer um favor para um amigo? –O Animal pediu.

Tá, agora fiquei confusa. Que merda está pegando? O Ricardo nunca pede nada, sempre manda.

—Agora eu sou seu amigo? Você só lembra disso dessas horas, não é? Antes sou apenas o seu empregado. –O Moacir respondeu, com alguma diversão na voz.

—Você sabe que é bem mais que um empregado.

—Não adianta bajular. Eu não levo o mínimo talento pra isso.

—Que talento precisa para passar uma máquina e raspar um cabelo?

—Se é assim tão fácil, por que você não faz?

—Não jogue baixo. Sabe que minha platina não me permite.

—Ricardo, há anos tenho feito isso pra você. Acho que já está na hora de você ir na cidade e pagar por um corte decente, não é?

—Pra que eu iria se tenho tudo o que preciso aqui?

—Peça para outro. Aproveite e peça para a Sofia que está ali, fingindo que não nos vê.

O Moacir apontou para mim, rindo, e só então o Ricardo se deu conta da minha presença. Ele fechou a carranca dele antes de fuzilar o Moacir com os olhos.

—Moacir...

—Peça para a Sofia. O Moacir precisa sair para ir ao banco.

O Moacir entrou na caminhonete e o Animal ficou espumando enquanto me olhava.

—Quê?! Não tenho culpa de estar no lugar errado e na hora errada.  –Falei.

—Vem, preciso da sua ajuda. –Falou antes de entrar na casa.

Que merda é essa? Eu entrei e encontrei o Animal mexendo em uma caixa. Parecia uma máquina de cortar cabelo. É isso? Ele quer que eu corte o seu cabelo?

—Já usou alguma dessas? –Perguntou, com sua forma rude.

—Já.

—Ótimo. Meu cabelo está muito grande e preciso de um corte. Passe a um de maneira uniforme.

—Não vai ficar bom.

—Eu não quero nenhum corte elaborado, apenas quero abaixar e tosar um pouco o meu cabelo. Passe a um.

Ele me entregou a máquina, puxou uma cadeira e se sentou no meio da sala.

—Se quiser, posso fazer um corte simples para você.

—Não, basta passar a máquina e está bom.

—Se é pra te deixar quase careca, por que você mesmo não passa?

—Por que meus braços não me permitem. Tenho platina deles e não consigo puxá-los para além das minhas costas. –Falou, levantando a manga da camisa e me mostrando enormes cicatrizes nos cotovelos.

—O que te aconteceu? –Falei, com pena e imaginando como deve ter doído.

—Não é do sua conta. Agora passe a merda da máquina.

—Não vou passar. –Falei, mais grosso que ele.

—O quê?! Você não tem mesmo noção, não é, Sofia? Eu posso te mandar embora em um segundo.

—Esse não é meu serviço.

—Deus, dai-me paciência... Será que você pode, por favor, passar a máquina? –Pediu, entre os dentes.

—Por que você não vai em um barbeiro?

—Por que não quero e tenho tudo que preciso aqui.

—Eu passo, se me permitir fazer um corte melhor do que apenas passar a máquina.

—Não vai me dizer que você já foi cabelereira?

—Não exatamente...

—Então eu serei sua cobaia? Talvez um sonho distante de infância de cortar cabelos?

—Não. Eu já trabalhei em um pet shop. Não tinha nenhum curso, mas o pessoal me ensinou uns truques e eu sempre tosava os cachorros quando a minha chefe saía.

—Isso é brincadeira? –Ele perguntou, com raiva.

—Não. Eu sei uns truques. Acredite ou não, cachorros dão mais trabalhos que pessoas.

—Puta que pariu, eu tô ferrado! Tá, faça o que quiser, só não me deixe cheio de caminhos de rato no cabelo. –Falou, bufando.

—Tá, mas sossegue aí.

Ele se endireitou na cadeira e eu aproveitei para olhar na caixa. Peguei uma capa e deixei separados, na mesa, a tesoura e o pente que usaria.

—Achava melhor você tirar essa camisa pra não encher de cabelo. –Aconselhei, antes de lhe colocar a capa.

—Não quer que eu também fique pelado?

—Poupe-me dessa visão, mas se quiser ficar com a camisa, o problema é seu. Depois não reclame se começar a pinicar.

Ele bufou e tirou a camisa social que estava, ficando apenas com uma camiseta branca. Bem se vê que ele quase nunca faz isso. Seus braços, na parte superior, estão até mais brancos por falta de sol. Imagina as pernas dessa criatura, devem ser dois pares de vela de tão brancas. Eu preferi morder minha língua para não fazer nenhum comentário impertinente e coloquei a capa nele.

—Vai demorar? –Ele perguntou.

—Se você ficar quieto, não muito.

Ele me deu um olhar fuzilador antes de bufar e fechar a boca. Eu comecei o meu trabalho. Ao contrário do que eu pensava, ele tinha o cabelo macio e fino. Me lembrou meus tempos em que tosava Cocker spaniel, a textura se assemelha bastante. Tentei ser o mais rápido que podia, mas ainda levo mais jeito com animais do que pessoas. Fiz o melhor que pude e deixei um corte acima do pescoço e uma franja na altura da testa. Até que meu trabalho ficou bonito.

—Você teria um barbeador? De preferência, meio gasto.

—Para quê?

—Para tirar esses pelos atrás de sua nuca. Mesmo a máquina zero não os remove completamente.

—Deixe do jeito que está.

—Não.

Ele bufou antes de falar:

—No armário do meu banheiro.

—Eu vou, mas volto. Não se mexa.

Fui lá procurar e achei um velho barbeador. Peguei e voltei para terminar o serviço. Aproveitei que essa era a última etapa para perguntar sobre seus braços.

—O que aconteceu para que tivesse que usar platina nos braços?

—Não te interessa.

—Esse aqui não é o meu serviço, mas estou fazendo. Será que custa responder ao menos uma de minhas perguntas?

—Esse é o seu preço pelo corte? Uma pergunta?

—Pode ser.

—Faça então. Qual sua pergunta?

—Posso perguntar qualquer coisa?

—Pode, mas isso não quer dizer que responderei.

Eu parei um pouco para pensar. A verdade é que tinha centenas de perguntas que queria fazer, mas, dependendo das respostas, isso só me traria mais dúvidas. Precisava ser uma pergunta importante.

—O gato comeu sua língua? Não é normal ficar tão calada. Desistiu de perguntar? -Ele perguntou, depois de um tempo.

—O que aconteceu com os seus braços? –Perguntei. Tinha outras perguntas, mas essa era a que mais me intrigava, no momento.

—Um acidente.

—Que acidente?

—Achei que fosse uma pergunta?

—Ainda é uma pergunta. Um acidente não é resposta completa.

—Um acidente de carro. Satisfeita?

—Por isso você tem essa cicatriz no olho?

—Três perguntas já.

—Será que pode, por favor, responder? –Perguntei, irritada.

—Sim, foi no mesmo acidente. Eu quebrei os dois braços e ganhei essa marca na cara. Melhor assim?

—Está. Obrigada de responder ao menos uma pergunta. Agora feche os olhos que preciso te espanar.

Eu peguei uma escovinha e espanei o seu cabelo e seu rosto, não pude deixar de rir quando ele reclamou que encheu a boca de cabelo. Se ficasse com ela fechada sem reclamar...

—Veja se está bom. –Falei, lhe entregando um pequeno espelho que achei na caixa.

Ele pegou e começou a olhar.

—Sem caminhos de rato... Está ótimo. Você trata de limpar essa bagunça. –Falou, antes de se levantar e ir para o seu quarto. 

Ele pode até negar, mas meu corte ficou melhor do que o que ele tinha em mente. Se não fosse pela barba cheia, eu até diria que ele ficou bonito. Bom trabalho, Sofia. Aquele ano cortando pelo de cachorro e aguentando mordidas te serviu para algo, mas se bem que os cachorros ainda são mais fáceis que ele.

***

Depois de recolher aquelas penugens todas dele e jogar no lixo, fui para a minha hora de almoço, sei que já passou, mas a gastei cortando o cabelo dele e mereço uns minutinhos de descanso antes de limpar a casa. Nada mais justo. Só queria que o Moacir ou o João estivessem aqui. É chato ficar sem falar com ninguém.

—Você não treina mais não? Desse jeito vai acabar esquecendo o que o Moacir levou tempo para te ensinar. –O Animal falou, mas não virei para olhá-lo.

—Acho que não seja uma boa ideia.

—Acho que devia treinar. Eu vou cavalgar, mas deixarei o Bolívar na baia, caso mude de ideia.

—Ele passou por mim e só então me dei conta que ele havia raspado a barba totalmente. Se não fosse pela voz e o jeito de andar, nunca diria que era ele. Não aguentei e levantei para ver melhor.

—Você raspou a barba? –Perguntei, ainda embasbacada.

—Não, imagina... Você não está vendo que minha barba tem até trancinhas?

—Não precisa ser grosso!

—O que você quer que eu faça, Sofia? Não tenho paciência para perguntas idiotas.

—É que me surpreendeu, só isso.

—Ela estava muito grande, assim como o meu cabelo e não acho que eu faça um estilo Hippie para tais extravagâncias. Venha, você precisa cavalgar um pouco. Já faz mais que uma semana desde que montou pela última vez.

—Mas preciso limpar a casa.

—Limpe mais tarde. Meia hora de treino não te fará mal.

Eu fiquei boba agora, mas preferi deixar para ver onde aquilo daria. Chegamos ao estábulo e ele começou a selar um cavalo e me indicou a baia do Bolívar e a sela para que eu me virasse.

—O Bolívar não é o seu cavalo preferido? –Perguntei.

—É, mas esse traidor, assim como o Cuzco, estão preferindo você. Também me sentirei mais tranquilo se você estiver montada em um cavalo que já se acostumou.

—Obrigada, eu acho.

—Já o selou?

—Estou tentando.

Eu coloquei o tapete nas costas do cavalo e, com alguma dificuldade, a sela. Era meio pesada. Agora só me restava fechar as fivelas, mas era meio complicado. Acho que o João e o Moacir se esqueceram dessa parte no meu treinamento.

—Ricardo?

—O que fez de errado dessa vez?

—Não sei como fechar essas fivelas. Acho que meus instrutores se esqueceram de me ensinar.

Eu o vi olhar para cima, como se pedisse paciência. Não reclamou, mas se aproximou de mim e terminou o serviço que deixei inacabado, me mostrando como fazer.

—Nem muito apertado para não machucar o cavalo e nem muito frouxo para a sela não girar e você cair. –Explicou.

—E o cabresto?

—Isso você vai se virar sozinha.

Ele começou a falar o que devia ou não fazer e, em uns cinco minutos, o bicho estava pronto.  Depois disso, ele subiu no cavalo dele e eu subi no meu. Ainda era um pouco assustador para mim.

—Desaprendeu? –Ele provocou depois que ele continuou a se afastar e eu continuei parada.

—Não. –Falei, não muito confiante e comecei a fazer o bicho andar, vagorosamente.

O Animal foi na frente, mas não correu como sempre fazia. Deixou o cavalo dele seguir num ritmo tão lento quanto o meu estava. Eu ainda estava me concentrando para não cair.

—Se nunca aprender a relaxar, nunca conseguirá atingir uma velocidade maior que essa. –Ele comentou.

Esse cara lê pensamentos? Ou será que só estou caindo para os lados?

—Não sei como você faz isso parecer tão fácil.

—Basta confiar no cavalo e relaxar.

Ele atiçou um pouco mais o cavalo dele e começou a rodar em minha volta.

—Será que pode parar? Vai assustar o Bolívar.

—Esse velho cavalo não se assusta por nada. Vamos, Sofia, mais confiança!

—Eu vou cair.

—Do chão não passa.

Ele atiçou o cavalo dele para longe, mesmo eu gritando para não se afastar. Animal! Agora entendo esse apelido.

—Você não vai derrubar a tia, vai, Bolívar? Que ótimo! Agora dei pra falar sozinha e com o cavalo. Seja o que Deus quiser...

Eu tomei coragem e comecei a fazer o bicho andar mais rápido e, mesmo eu duvidando, eu me deixei levar e em pouco tempo estava num ritmo bom, não era rápido como uma corrida, mas também não era a lentidão que eu sempre andava. Nessa velocidade eu até achei mais fácil para me segurar. Encontrei o Animal mais a frente. Ele parecia que estava se divertindo.

—Sabia que eu podia ter morrido lá trás? –Gritei.

—Você precisa aprender a ter confiança. Como fará quando precisar fazer uso do cavalo e não tiver ninguém por perto?

—Eu...Não sei, tá! Mas foi irresponsável de sua parte me deixar sozinha.

—Só fiz o que o João e o Moacir nunca fariam. Agora você está realmente começando a cavalgar.

—Acho que devo então agradecer por colocar minha vida em risco, não é?

—Mais alguns passeios como esse e você aprenderá.

Ele começou a se afastar.

—Para onde vai?

—Para um lugar que não lhe interessa. Acho que você já sabe o suficiente para voltar, desencilhar o Bolívar e o colocar na baia, não é?

—Você vai me largar aqui sozinha?!

—Já larguei. Aproveite para cavalgar mais um pouco e ganhar mais confiança, Sofia.

Ele colocou mais velocidade no cavalo e sumiu da minha vista. Juro que se cair e quebrar uma unha que seja, eu processo ele.

Continua.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem. Se quiserem, deixem um comentário com críticas ou sugestões.
Forte abraço e até o próximo!



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