Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Fala gente!
Primeiramente, gostaria de dedicar esse capítulo a querida leitora Bule de mel por sua linda recomendação. Muito obrigada!
Sem mais, espero que gostem de mais esse.



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Os dias que se passaram foram mais tranquilos. O Animal realmente se lascou com uma tosse. Até aceitou, durante mais 3 dias, que eu lhe preparasse o leite queimado, mas o limão com alho ele disse que nunca mais bebe aquilo. Também, depois que melhorou, voltou com sua arrogância costumeira. Está bom, o prefiro assim que tossindo e resmungando dentro de casa.

Depois de alguns dias chuvosos e frios, o sol finalmente deu as caras e aqueceu o lugar. Estava sentindo saudades das tardes que passo na varanda com o Cuzco, meu amigo bode.

—Esse bichinho não te larga mais não? –O Moacir apareceu e, se sentando ao meu lado, perguntou.

—Já virou rotina para ele vir aqui me tirar uns pedaços de maçã.

—Esse bicho já não presta e você o está deixando mais sem vergonha.

—Ele é meu amigo, não é Cuzco?

—Esse daí é amigo de quem oferecer comida.

—Isso é. Ele é meio interesseiro.

—É... Você sabe se o João já almoçou?

—Acho que já. Ainda há pouco eu o vi passar para o estábulo.

—Valeu.

O Moacir se levantou, mas desistiu e sentou de novo ao ver o João e gritou para ele:

—João, me faça um favor?

—O que quiser, Moacir.

—Sele o Bolívar para mim, por favor.

—O Bolívar está com o patrão.

—Então sele a Leopoldina.

—É pra já.

O João saiu e o Moacir continuou com um sorriso na cara. Não sabia que ele também montava. Desde que estou aqui nunca o vi montar.

—Vai montar? –Perguntei.

—Não. Você vai.

Até engasguei com a maçã. Esse cara enlouqueceu?

—Oi?!  Enlouqueceu?

—Vamos lá, Sofia. Cadê aquela moça curiosa que não teme nada?

—Moacir, eu sou meio estabanada. Consigo tropeçar até nos meus próprios pés. Como andarei num animal naquele porte?

—É como andar de bicicleta. Depois que aprender, nunca mais esquece.

—Muito reconfortante já que nunca aprendi a andar de bicicleta sem as rodinhas.

—Isso é medo?

—Um pouco. Sempre achei esses bichos lindos, mas sei lá. Acho que não conseguirei me equilibrar.

—Questão de prática.

—Que prática?! Não tenho tempo para isso. Tenho muitas coisas que limpar na casa.

—Sofia, a casa está impecável e acho que o Ricardo não se importará se tirar um dia para aprender a cavalgar. Isso facilitará sua vida aqui quando tiver que ir pegar ingredientes e o João não estiver por perto.

—Moacir...

—Moacir nada. Levante-se que o João já chegou.

Eu resmunguei e me levantei.  O Moacir só pode estar louco se acha que eu subirei no lombo naquela égua sozinha. Tá, é linda, toda castanha e brilhante, mas ela parece ser maior do que o cavalo que o Ricardo costuma usar.

—É só colocar os pés no estribo e puxar o peso pra cima. –Ele falou, contente.

—Moacir, eu não vou subir nesse bicho.

—Vai sim. Anda, a Leopoldina é mansinha.

Eu olhei meio desconfiada, mas decidi dar uma chance. Coloquei os pés no estribo e puxei meu peso. Se não fosse pelo João me segurar, teria passado direto.

—Não foi tão difícil, foi? –O Moacir perguntou, com uma risada.

—Não, imagina... E agora?

—Agora o João vai te puxar um pouco para você se acostumar com ela e ela com você antes de você tomar as rédeas.

O João começou a puxar o bicho e a fazê-la andar em círculos. Me senti como aquelas crianças em parquinhos com cavalos. Devia ser uma cena ridícula de se ver. E fora que é difícil manter o equilíbrio. Dá vontade de agarrar o pescoço da égua pra ver se consigo me segurar mais. Como se isso já não fosse pressão suficiente, o Moacir ainda fica falando o que devo ou não fazer para controlar a bicha.

—O que é isso? –O animal apareceu, cavalgando, assustou um pouco a Leopoldina, quase me fez cair por isso e perguntou.

—Estou ensinando ela a cavalgar, Ricardo. –O Moacir disse.

—Por quê?

—Porque isso facilitará quando ela tiver que ir buscar alguma coisa longe da casa grande e o João não estiver por perto.

Ele olhou pra mim, desceu do cavalo dele, caminhou até a minha égua e tirou a corda das mãos do João.

—Desce daí, Sofia. –Ordenou.

—Oi?

—Desce dessa égua, anda.

—Já vai começar de rabugice?! –Reclamei- Se vai descontar em alguém, desconte no Moacir. Eu nem queria subir nesse bicho pra co...

—Eu só quero que você troque de cavalo comigo. –Me interrompeu, de forma rude. –O Bolívar é mais manso e mais indicado para principiantes que a Leopoldina. Ela é mansa, mas é teimosa.

Tá, agora minha cara caiu no chão e eu dei um sorriso amarelo. Ele me estendeu a mão como apoio para eu descer, mas não adiantou e eu fui de cara no chão. Minhas pernas parecem dormentes, bambas. O Moacir e o João riam de mim, mas o Animal soltou apenas um suspiro.

—Machucou? –Ele perguntou.

—Não. É normal as pernas ficarem bambas assim? –Perguntei, me levantando.

—É. Você não está acostumada a montar.

—Tá.

Eu continuei apoiada na égua. Tinha medo de andar e cair de novo. O patrão continuava parado, me olhando. Ele precisa ser sempre estranho? Ele pediu pro João trazer o outro cavalo pra mais perto e levar a égua para longe. Ele não acha que eu vou subir no outro depois desse tombo, acha?

—Suas pernas já obedecem? –Ele perguntou, com impaciência.

—Não.

—Depois que montar você nem vai perceber. Vem.

—Eu não vou subir nisso.

—Ele é melhor do que a Leopoldina para você aprender, mas se preferir ela, também não me importo.

—Eu não vou subir em mais nenhum deles.

Eu o vi fechar os olhos. Acho que estava tentando se controlar para não me mandar à merda.

—Suba, Sofia. Vamos que eu não tenho o dia todo. –Falou, entre os dentes.

Eu fui me escorando e tentei colocar os pés no estribo, mas minhas pernas ainda estavam bambeando. Por sorte o João percebeu e me apoio para não cair.

—Ótimo! –Ele falou se afastando e me deixando sozinha com o cavalo que começava a dar pequenos passos.

—Como paro esse bicho? –Perguntei, com um pouco de desespero.

—Primeiro você precisa aprender a postura correta. Se ajeite mais ereta e fique parada, sem ficar pra cá e pra lá como um pêndulo. Isso vai te desequilibrar. O cavalo se move, você não precisa seguir o movimento dele. Mantenha-se com as costas reta. –O Animal instruiu.

Eu tentei fazer o que ele disse e me sentar mais ereta, mas era um pouco difícil. O Moacir e o João se sentaram em uma cerca e cochichavam algo enquanto me olhavam. “Bons amigos”, me largaram com esse professor louco.

—Postura, Sofia. –Ele falou, parando o cavalo e empurrando minhas costas para frente.

—Não vou conseguir ficar assim quando ele começar a andar.

—Basta relaxar. Você não vai cair. Agora treine. –Ele falou e deu um leve tapinha na bunda do cavalo que começou a andar vagorosamente. Ele vai me matar!

—Como eu paro isso?

—Primeiro ajeite sua postura.

—Não consigo, porra!

—Te falo como pará-lo se ajeitar sua postura. Relaxe, apenas. O Cavalo não é um balanço para você acompanhar seus movimentos.

Eu tentei e, depois que comecei a relaxar e a me acostumar com o andar do bicho, realmente foi mais fácil de me manter em cima do lombo dele. Tudo bem que demorei quase 10 minutos para isso. O Animal apenas se sentou com os outros e me observava, gritando instruções, vez ou outra.

—Puxe as rédeas com delicadeza. Isso o fará parar, mas não inflija muita força ou ele poderá empinar. –Ele falou.

—E como vou saber o que é delicado para ele?

—Teste.

—“Teste”... Quando eu cair de cabeça e morrer não adiantará testar. Como faço isso, Ricardo?

—Apenas teste.

—Eu vou cair!

—Do chão não passa e a grama é macia. Agora, teste.

—Mas que merda de professor é você?

—Eu não sou. Nem era pra eu estar aqui.

—Então deixe o Moacir continuar me ensinando.

—Se assim deseja.

O Animal se sentou na cadeira da varanda, afastado de nós e o Moacir veio até mim, parando o cavalo.

—Esse cara é louco! –Falei.

—Ele só quer te ensinar. Eu aprendi a montar em um dia com ele. –O Moacir confessou. –Só tenha confiança do que ele diz, ele é meio grosso, mas sabe o que faz.

—Quantas vezes você caiu quando ele te ensinou?

—Nenhuma.

—Mesmo assim, prefiro você e o João.

—Agradeço pela confiança, mas ainda acho que o Ricardo é melhor professor do que eu.

—Um professor psicopata! Eu nunca fiz isso antes.

—Ele não te obrigaria a fazer algo se achasse que não era capaz.

—Mas eu não sou.

—Eu também ouvi isso quando você foi tirar a habilitação e hoje dirige pra cá e pra lá.

—Dirijo, mas ainda tenho um péssimo senso de direção e, se não usar GPS, me perco.

—Andar a cavalo é mais fácil que dirigir.

—Não parece.

—É sim, vamos lá.

Pelo resto da tarde o Moacir e o João tentaram me ensinar. Admito que não aprendi muito. O Bicho também não cooperava. Quando eu tentava fazer ele andar para a esquerda ele cismava e ia para a direita. O Animal permaneceu o tempo todo me olhando, sem falar nada e sem esboçar nenhuma reação. Acho que o desgraçado devia estar se divertindo com o meu desespero. Ele nunca fica por aqui nessas horas.

—Moacir, agradeço muito mesmo, mas isso não é pra mim. Desisto. –Falei, por fim.

—Vai desistir assim? Cadê aquela sua teimosia? –Ele brincou.

—Se perdeu junto com a firmeza das minhas pernas.

—Por hoje está bom, mesmo porque você precisará fazer o jantar daqui a pouco. Amanhã continuamos.

Eu concordei com a cabeça para não discutir, mas sem chance que eu iria continuar isso amanhã. Quando o João finalmente me ajudou a descer do cavalo, minhas pernas pareciam gelatinas de tão molengadas que estavam, sem contar com a dor na minha bunda. Fui até cambaleando para dentro de casa. O Animal montou no cavalo dele e sumiu de vista.

Aquela noite foi terrível para mim. Minhas pernas doíam como se eu tivesse andado quilômetros. Não fiquei assim nem quando fui fazer trilha com uns amigos. Porra, nunca mais ando de cavalo na vida. O Moacir pode ir desistindo dessa ideia louca. Custei tanto para adormecer com esse incômodo nas pernas.

***

No dia seguinte, eu acho que fui uma das primeiras a acordar. Minhas pernas e minha bunda ainda estavam doloridas. Levantei era antes das seis. Tomei um café forte e fui olhar o amanhecer. Tamanha minha surpresa ao ver que o animal já estava de pé e pra cá e pra lá no cavalo. Esse cara não dorme não?

—Ainda quer aprender a cavalgar? –Ele perguntou, se aproximando de mim.

—Não, obrigada, mas dispenso. Minhas pernas ainda estão reclamando.

—Sabe, achei que você fosse mais determinada. Pelo visto me enganei. Como a grande maioria, você desiste no primeiro obstáculo. –Comentou, com desdém.

Como ele ousa zombar assim de mim?

—Você não sabe nada sobre mim, não sabe como minhas pernas ainda estão por ontem. Você também não serve para ensinar.

—Talvez eu não seja o melhor dos instrutores, mas fiz você aprender mais em meia hora do que o Moacir e o João em algumas. O cavalo nunca te obedecerá se você continuar puxando as rédeas com a moleza que estava ontem. Precisa ser delicada, mas, ao mesmo tempo, firme.

—E você se acha mais capacitado que eles para me ensinar a cavalgar? Um expert?

—Não sou e nem pretendo ser. Não tenho paciência para aturar teimosias e medos como os seus.

—Então por que me ajudou ontem?

—Porque você iria cair se continuasse como estava. Não sei se notou, mas depois que ajustou sua postura, como eu disse, você ganhou mais equilíbrio. Por nada.

—Você se acha muito, não é?

—Apenas tentei ajudar. Um favor por outro.

—Um favor por outro?

—Você curou minha tosse com aquele leite.

Tá, mesmo ele sendo grosso e estúpido, tenho que dar meu braço a torcer. Aprendi mais com. Ele é rabugento, mas sabe o que faz.

—Obrigada. –agradeci, num tom baixo.

—Seja mais firme e delicada nas rédeas da próxima vez e não demostre para o cavalo que está com medo. Precisa aprender que você é quem o controla e não o contrário. –Ele falou, antes de atiçar o cavalo e sair em disparada.

***

Depois do almoço o Moacir continuou com aquela ideia fixa pra eu aprender a montar. Sem escolha, fui. O João selou o Bolívar para mim, até estranhei ele estar no estábulo já que esse é o cavalo preferido do patrão. Será que ele já o deixou para que eu pudesse aprender? Sei lá, não entendo aquele homem.

Eu comecei com medo, mas tentei fazer o que o Animal me disse mais cedo. Ainda não poderia me considerar uma amazona, mas o cavalo já virava para a direção certa quando eu puxava as rédeas. Acho que ainda há esperanças para mim.

Continua.


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Notas finais do capítulo

Sofia aprendendo a cavalgar... Só eu acho que isso não será muito boa ideia? hehe
Opiniões, sugestões críticas, sintam-se a vontade para comentar, se desejarem.
Forte abraço e até o próximo!



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