Lembro-me de como tudo aconteceu. O céu limpo e claro daquele dia não refletia em nada as trágicas nuvens de fumaça, fogo e poeira que se abateriam logo por aquela cidade que se considera até hoje o centro do mundo.

Sem ninguém para lhes admoestar da fatalidade, as pessoas seguiam em suas rotinas. Moviam-se jacentes em seus afazeres diários, suas mentes nas nuvens.

Na altura dos prédios que frequentavam naquele dia.

Tentei avisá-los antes que algo acontecesse. Como é de minha natureza, não pude fazer nada para parar os pássaros de ferro que logo se chocaram contra as duas torres. Explodi em chamas, vapores e pó, desesperado com o que ali acontecia.

As vozes atônitas e chocadas misturavam-se aos sons dos prédios ruindo, e do segundo pássaro metálico explodindo a torre remanescente. Em dois outros lados do país, um avião destruía uma sede governamental e outro caía no solo, e eu os acompanhei de perto.

Chorei e carreguei milhares de almas jogadas a mim naquele dia. Do céu ao pó. Séculos haviam se passado, mas nunca pude me acostumar com a perversidade irracional dos atos que os seres humanos cometem contra os outros.

Jamais compreendi a natureza deste ódio imanente.