Rapunzel - A História nunca Contada [HIATOS] escrita por Captain Butter


Capítulo 10
Chapter IX - A Portion of Hope


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoas! Voltei trazendo o capítulo da semana para vocês! :3

Bem, esse capítulo é focado completamente no treinamento e coisas que aconteceram no primeiro dia do mesmo, confesso que... ele mostrou em parte um pouca da habilidade dos personagens da história. Esse assunto - treinamento - ainda vai tomar um pouco de tempo, mas no máximo mais uns dois ou três capítulos, definitivamente, não é muita coisa! :D
Well, o segundo tópico que quero tratar aqui é o tamanho desta narrativa, com toda certeza é o maior capítulo que já tivemos aqui na fiction e grande parte dele foi só narração... acho que a felicidade da recomendação ainda tá aqui nos dedinhos :3 husahsuahsausa

Tem uma coisinha que tá martelando aqui na cabeça e é o último tópico que quero tratar com vocês. O último capítulo (Chapter VIII - Reasons for a Dignified Courage) teve somente um único comentário. Gente, entendo que esse mês (Novembro) e o seguinte (Dezembro) estarão carregados de provas e trabalhos, apesar disso, queria pedir a vocês que, mesmo sendo difícil, comentassem e dessem a opinião de vocês, é muito importante, assim como estou me esforçando para postar com frequência, poderiam se esforçar para comentar, não? Aliás, leitores fantasmas, apareçam, eu não mordo :3 pksksspskpsk

Escrevi este capítulo escutando a música Confident, by Demi Lovato. Caso queiram ouvir durante a leitura, eis o link:

http://www.vagalume.com.br/demi-lovato/confident.html

Chega de blá, blá, blá e boa leitura! A tradução do título é Uma Porção de Esperança.



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Chapter IX - A Portion of Hope

Trix levantou a cabeça e quase gritou enquanto a dor disparava por seu pescoço rígido. Os músculos se contraindo e esticando rapidamente fora resultado de uma noite desconfortável e mal dormida. Raios diurnos vazavam por entre os furos irregulares causados por traças nas cortinas velhas e opacas, iluminando seu rosto e fizessem com que piscasse uma ou duas vezes.

Tateava cegamente os móveis ao seu redor, sentindo a superfície de cada um; a quase maciez do amontoado de panos que fora obrigada a dormir, a aspereza da madeira antiga da parede e uma deslizada súbita que seus dedos sofreram ao tocarem o criado encerado a poucos centímetros de distância da cama.

Reconhecendo a sensação que o seu tato identificara na noite anterior, soube que seus óculos estavam delicadamente dispostos sobre o objeto como deixara anteriormente – pelo menos esperava -, mas felizmente lá se encontrava tal.

As hastes simples encaixaram-se perfeitamente atrás de suas orelhas, fixando as lentes em frente a seus olhos juntamente com o apoio do nariz, tornando o borrão que enxergava antes um mundo mais detalhado. O quarto no qual fora designada – por incrível que pareça – tinha aspectos parecidos com o seu quando ainda possuía um lar fixo, antes de ser raptada pelo vulto, como – o tão pouco conhecido - Jonathan descrevera na noite anterior, sendo forçada a reviver um grande trauma.

Por uma fração de segundo, uma saudade incondicional passou a tomar conta de seu interior, apertando seu coração como cipós apertavam uma árvore, ao mesmo tempo em que um calafrio percorria sua espinha ao lembrar-se do frio que fora submetida pelo encapuzado antes de ser encontrada no estada de quase morte.

Dispersando-se dos pensamentos e encarando o espelho a sua frente, percebeu o quão seu cabelo se encontrava desgrenhado, fios frisados e despenteados mesclavam-se em pequenos nós. Não que sua aparência fosse o primeiro tópico em sua lista de preocupações, no entanto, causar uma boa impressão aos responsáveis por seu treinamento seria, pelo menos na opinião da garota, uma coisa importante.

Com um tanto de insegurança, despiu-se, atenta – mesmo que tal coisa fosse improvável de acontecer – a olhos curiosos que resolvessem espiona-la, a garota sempre tomava muito cuidado, mesmo estando em lugares propriamente seguros a ela. A roupa cuidadosamente dobrada e deixada sobre a escriva se encontrava agora com uma tênue camada de poeira por cima, mas nada que algumas espanadas com a mão não resolvessem.

Esticando-a, era possível perceber que não passava de um tecido bem fino, costurado com um pano flexível que se alongava com os movimentos do corpo, no entanto, a delicadeza de sua aparência passava a impressão de que com um mínimo passo a peça fosse se rasgar por completo, desfiando e passando a ser somente um monte de trapos inúteis. Mas ao que parecia, o tamanho fora adequado a seu corpo, ajustando-se em suas poucas curvas e disponibilizando conforto.

Virando-se para o lado, enxergou uma pequena centelha, vinda de outras roupas, cuidadosamente penduradas na penumbra da noite enquanto a garota dormia sobre o fraco efeito das ervas medicinais dada a ela pelas curandeiras, tais remédios haviam também disponibilizado que seus machucados, cortes ou quaisquer outros danos fossem rapidamente curados. A blusa e calças de tecido bege refletiam um pouco a luz do sol. Certamente não usaria somente aquela vestimenta para o treinamento, no entanto, temia que fosse algo como couro, que pesasse seus ombros e desse, em parte, mais desconforto a seus movimentos.

Ajustando as peças a seu corpo e torcendo para coloca-las da maneira correta, sentiu o pouco peso de ambas sobre seus ombros, o tamanho era um pouco maior que a mesma, porém com uma ou duas ajustadas – dobrando as mangas -, ficara ideal para um melhor uso, encarando novamente seu reflexo e percebendo o quão estava mudada de uns poucos dias para o atual, seguiu em frente.

Lá vamos nós... pensou Trix com um pouco de incerteza, abrindo a porta que fora estrategicamente entalhada na madeira e seguindo o corredor largo, dando continuidade a suas ordens.

O corredor, assim como os andares inferiores, possuía o chão da mesma pedra, brilhante e polida, cor de madrepérola, as paredes eram de madeira, vez e outra coberta por decorações naturais de ramos e folhas, cortadas do grande carvalho em seu exterior, os detalhes cuidadosamente entalhados na madeira também estavam presente, no entanto, somente em traços ondulantes e floreados, deixando a aparência do local em si mais suave, não o sobrecarregando.

Por mais claro que houvessem sido as instruções, a garota ainda permanecia com insegurança, certamente acabaria se perdendo, fazendo algo errado ou entraria em confusão, estes tipos de pensamentos ao menos predominavam a mente avoada de Trix. Numa curva acentuada a esquerda, ela viu-se entre um arco de troncos retorcidos, brotando das paredes e entrelaçando suas pontas com graciosidade, como uma flor abraçando os primeiros raios de sol.

Atravessando-o e seguindo seu caminho, pode observar que após aquela simples estrutura os entalhes na parede mudaram, passando de graciosos traços para uma gigantesca onda espumante indo em direção a uma cidade. Colocando uma mecha de seus cabelos castanhos atrás da orelha, repassou o acontecimento histórico em sua cabeça... Fluctus Mortifero era assim que o chamavam.

Segundo livros, as ondas haviam sido conjuradas por uma nação de dominadores de água com o intuito de atacar inimigos, no entanto, um feitiço protetor – vindo do alvo - a revidou, modificando-a em alguns aspectos e tornando-a fatal com um toque de veneno a mais em sua composição, sendo assim, voltou-se a seus criadores, deteriorando e derretendo cada um com sua ardente acidez.

Trix passou os dedos pela precária silhueta na parede de madeira, representando um dos dominadores, os braços estendidos indicando desespero, fugindo das águas negras atrás de si. Por mais petiz e medíocre que fosse o desenho do minúsculo homem, ela não podia deixar de ficar impressionada, não somente com aquele, mas com todos os outros espalhados por cada canto de Allegar, sendo assim, desviar o olhar e não deslumbra-los por mais uma vez seria uma tarefa difícil.

A garota agora podia ver uma luz bruxuleando no fim do túnel, vinda do enorme salão que se estendia dali para frente, sendo entrecortada em certos momentos por pessoas andando apressadamente de um lado para o outro, ocupadas com seus diversos afazeres e mantendo suas mentes focadas em seus objetivos.

O arco divisor entre o corredor e o salão era simples, uma clássica abertura com detalhes em pedra polida nas bordas, ultrapassando-o, Trix pôde vislumbrar o gigantesco pilar enrolado com escadas, movimentado dessa vez, com milhares de pessoa subindo e descendo num fluxo imparável, logo mais, a garota se juntaria a aquilo tudo, no entanto, seria necessário coragem, coisa que não demorou muito a florescer em seu interior.

Dando paços longos, subindo dois degraus por vez, ela rapidamente viu-se a uma altura grande do chão, enxergando, ao invés de silhuetas com orelhas pontudas e trajes reluzentes, pequenos pontos ariscos. Por incrível que pareça, as pernas de Trix não imploravam por descanso, sua boa forma fora a responsável por isso, cuidara perfeitamente para que cada músculo de seu corpo estivesse perfeitamente preparado para enfrentar desafios como aquele.

As extensões de raízes retorcidas passaram a se tornar mais grossas, diminuindo cada vez mais o espaço entre uma e outra, cobrindo quase completamente a circunferência do local e formando uma espécie de piso áspero e espesso. Em certos momentos, a dominadora se via perdida em meio a tudo, preocupada em passar do andar a qual fora combinado se encontrarem.

No entanto, a sensação rapidamente ia embora, lembrando-se nitidamente das palavras de Ragnarok Três corredores, dois largos e um estreito, sigam pelo estreito, com base a isso e permitindo que as sílabas ecoassem por sua cabeça, achou o local cuja Comandante descrevera, no exato momento em que o primeiro latejar começara a surgir por suas coxas. O cômodo agora não possuía mais raízes, o chão estava completamente coberto por madeira, permitindo com que o lugar fosse explorado livremente.

As três extensões que davam caminham a outras salas se materializavam a sua frente, os largos tinham uma altura grande, podendo facilmente suportar uma quimera ultrapassando e ainda sobrando espaços para duas pessoas, já os estreitos mantinham – obviamente – um porte menor, fazendo com que Trix se curvasse um pouco para que seu corpo seguisse por ali.

Diferente dos outros cômodos e cantos de Allegar, as paredes eram feitas e pedra, no entanto, os detalhes ainda permaneciam, não dando o mínimo espaço para sequer uma única parte plana em toda a extremidade daquele caminho torto. A única fonte de luz vinha de raios de sol que escapavam por entre as folhas, ramos e galhos acima de sua cabeça que balançavam suavemente com o vento.

Sons secos e abafados de pessoas andando eram ouvidos em cima, frutos de silhuetas entrecortadas pelas folhas vistas por Trix pelo vão de uma e outra. A curiosidade despertada por aquele mínimo barulho fora grande na garota, no entanto, era possível que essa sensação mudasse rapidamente quando os visse materializados em carne, osso e, no caso de Jonathan e Kenai, com escamas a mais, a jovem não podia evitar, ser criada de forma super protetora por sua mãe, escondida por toda a vida, tendo medo e pavor guardado em seu coração desde que fora sequestrada quando ainda criança, machucada, torturada...

Mais a frente havia uma escada, lapidada de forma poética dentro de um grosso galho estendido para cima, os desenhos históricos tinham uma extensão até mesmo ali. Subindo os degraus, desta vez somente um por vez, viu-se rapidamente sobre a belíssima paisagem, vento, luz, ruídos. Tudo magicamente combinado em uma cena considerada remédio para os olhos.

A tênue brisa estava instalada em todo canto, explicitamente em tudo, não deixando nem uma lacuna livre, gracejando e secando os lábios de cada um que a sentia sobre a pele, passeando por entre as minúsculas e inúmeras folhas, brincando com os galhos e mantendo-se ocupada em bagunçar os fios de cabelo de cada um.

O gigantesco cercado verde a sua volta se estendia por vários metros, guiado, de vez em quando, por galhos crescidos e formando um arco imenso acima de suas cabeças, uma enorme placa de madeira bruta se estendia em seu centro, servindo de chão a tudo. O vento possuía uma frequência impressionante, não dando trégua por sequer um segundo, assoviando e produzindo uma melodia harmoniosa.

Por mais que tentasse se desgrudar da paisagem, era inevitável que seus olhos piscassem ou até mesmo ardessem com a visão, era belo. Sorrateiramente, pelo menos na opinião da garota, um corpo contornado pela luz do sol moveu-se em sua direção, carregando alguma coisa em sua mão esquerda, os movimentos elegantes e ao mesmo tempo selvagens eram bem perceptíveis na forma como caminhava.

– É melhor comer isso – rapidamente a silhueta chegara a sua frente, Trix pôde reconhecer os cabelos castanhos dando contraste aos olhos azuis, Rachel -, a próxima refeição será feita apenas ao pôr-do-sol. – e entregou duas maçãs em sua mão, vermelhas como sangue, parecendo mais escuras com o tom de sua pele.

Corando um pouco com a suposta chegada da lobisomem, a dominadora deu uma mordida no fruto, sentindo o líquido se espalhar por sua boca juntamente com o gosto doce. Havia ficado frequente o ato de suas bochechas ficarem rosadas, a jovem possuía uma extrema timidez, a mesma era tão grande a ponto de dificultar sua comunicação com a sociedade a seu redor, no entanto, vez ou outra, uma palavra escapava por seus lábios, levadas e liberadas, principalmente, pela curiosidade que tal assunto despertara em sua mente.

Em poucas mordidas as maçãs haviam sumido, perdida em pensamentos ela mal percebera o quão seu estomago roncava por algo que o nutrisse, restando somente o miolo, que largou em uma pilha com os mesmos dejetos deixados pelos outros. O fato de “treinarem” a incomodava, mesmo em situações como aquela ela hesitava em atacar qualquer ser, certamente negaria utilizar seus dons.

Com passos lentos e reservados, passou a caminhar rumo aos outros, saindo do mormaço dirigindo-se a sombra de um arco verde com a cabeça baixa e os olhos semicerrados por conta da claridade. Aquele, definitivamente, não era um momento muito bom para a garota, os olhares fixos em seu corpo a deixava ainda mais corada e com vontade de, simplesmente, sair correndo do lugar e se esconder a ponto de nunca mais ser encontrada.

A sombra de temperatura amena diminuiu um pouco a fadiga que sentia. Quimeras, dominadores e lobisomens dispunham-se sentados em tocos de madeira, no chão ou deitados sobre ambas às coisas. De certa forma, a cena se tornaria passiva se não fosse considerada a situação de extrema importância e periculosidade. Jonathan mantinha-se em pé, mantendo a postura firme, inspiradora e responsável que sempre possuía, até mesmo nos momentos mais inadequados. O olhar sério moldado em seu rosto fixava-se em Trix, fazendo com que a garota diminuísse ainda mais o ritmo do passo e, logo em seguida, aumentasse novamente, temendo que a impaciência do escamado aumentasse e o mesmo fosse obrigado a elevar a voz, mesmo que em um tom afetivo que geralmente o jovem costumava usar, a ação a incomodava.

– Certo... parece que a última chegou. – afirmou assim que a garota se juntou a todos.

– A última? – uma voz perguntou, a rispidez estava presente, no entanto, Trix recusou-se, a saber, quem havia proferido as palavras.

– Acha mesmo que Anna virá? – Kris rebateu, a maneira sombria como as palavras pulavam de sua boca com a voz grave lembrava um pouco Jonathan – Acredite, ela não vai aparecer. – e tirou uma mecha do cabelo longo de frente a seus olhos.

A forma como estava sentado parecia desconfortável, os braços jogados sobre os joelhos cruzados e levantados, no entanto, isso parecia não incomoda-lo. Após alguns momentos de silêncio, Kenai se levantou, o corpo grande combinado com a sua incrível altura o deixava com aspecto assustador.

– Vamos começar logo com isso. – estava sério, mas certamente se animaria com a ação que viria a seguir, a quimera tinha como passatempo se meter e procurar várias brigas, mesmo em um treinamento onde a coisa seria considerada algo mais leve.

Ele e Jonathan se posicionaram em frente aos outros que, automaticamente, passaram a se levantar e formar uma linha reta, se distanciando por alguns centímetros e sentindo os fios de cabelo voando. A única silhueta a continuar sentada foi Lilly, uma expressão de dor se estampava em seu rosto e passava a impressão de não querer ir embora tão cedo.

– Eu... não vou me levantar agora, acredite, subir milhões de degraus deixou cada músculo de minha perna uma merda. – ironia, essa era a verdadeira essência da garota – Apenas continue com seu discurso motivacional, sou toda ouvidos. – fez uma pausa – Sinceramente, não sei como conseguem aguentar isso. – acrescentou num murmúrio.

Apenas ignorando-a e sentindo uma pequena pontada de raiva brotando dentro de si, Jonathan continuou. A quimera certamente não se dava bem com a personalidade de Lilly, porém a garota ainda não chegara ao ponto de deixa-lo completamente preenchido pela fúria, isso, com toda a certeza, não seria uma cena agradável de ver ou ouvir. Limpando a garganta, começou.

– Ragnarok nos responsabilizou a organizar essa seção de treinamento, cada um de vocês deverá seguir nossas instruções para um melhor desempenho. De início, mostrarão do que são capazes. Como podem ver – apontou para um lugar não muito longe dali, bonecos de treino juntamente com estandes de armas e escudos estavam organizados e distanciados um dos outros -, o equipamento foi disponibilizado pela Aliança, apenas escolham algo de sua preferência e comecem a bater nos bonecos, eu e Kenai estaremos dispostos a ajudar e responder qualquer dúvida. Só pedimos que entendam, não somente nós, como o governo também, a urgência e periculosidade do inimigo que enfrentamos. Fomos escolhidos com o intuito de elimina-lo, levem isso a sério, não é apenas algo rotineiro. Estamos nos preparando para uma guerra, grandes nações foram destruídas, grande vilas incineradas, grandes reinos desmontados. – fez uma curta pausa – C-com isso tudo quero apenas dizer que não tratem isso com brincadeira. – concluiu, gaguejando um pouco e umedecendo os lábios.

Com as palavras proferidas pelo outro, até mesmo Kenai pareceu impressionado, cada sílaba carregadas de sabedoria certamente serviram de combustível a inspiração e motivação de cada um ali, preenchendo seus interiores com algo bom e ao mesmo tempo corajoso de se ter. Estendendo o braço direito, deu passagem aos jovens que caminharam calmamente, apesar de adrenalina estar correndo em um fluxo imparável por suas veias.

Trix aliviou-se, possuía em mente a ideia de lutar com algum ser vivo, no entanto, eram apenas bonecos feitos de ferro, bonecos feitos para apanhar, bonecos de treino, bonecos imóveis. Cada um posicionara-se em frente a um, preparados para lutar, mantendo os pulsos erguidos, dentes e unhas afiados expostos, punhos carregados com energia, ninguém se incomodara em pegar alguma arma.

– Um pequeno detalhe... não será tão fácil assim – Kenai, em um silêncio incrível para o seu tamanho, chegara lentamente atrás dos jovens, segurava um cristal em mãos, verde e brilhante, Lilly e Ruby conheciam claramente aquilo, porém, desta vez, era de uma cor diferente.

Assim como Jonathan fizera anteriormente, Kenai murmurou palavras em outra língua, às sílabas ainda permaneciam um mistério a todos ali. O objeto ganhou luminescência, tornando-se ofuscante, refletindo o sol e virando pó. Em seguida, fora sobrado pela quimera rumo aos bonecos.

Os pontos luminescentes fixaram-se em cada um, delineando a silhueta dos objetos, Ruby tinha pensamentos estranhos circulando por sua mente, originalmente, aquele pó fora usado para chamar Ragnarok e seu exército, dessa vez definia o contorno de bonecos e os deixava com uma aparência estranhamente perigosa. Os olhares curiosos foram rapidamente desvanecidos quando, de súbito, um deles passou a se mover, desafixando-se do chão, movendo, por si próprio, seus pés e correndo numa velocidade incrível atrás de Rachel.

Usando de sua agilidade desenvolvida, girou para a esquerda desviando de um impacto forte. No entanto, os outros agora não podiam apenas apreciar a cena, assim como acontecera com aquele, os outros bonecos também passaram a atacar.

Sons secos e ruidosos eram produzidos a cada movimento que faziam, mexendo braços, cotovelos, pernas, joelhos. Tudo.

Apesar de cada um possuir sua própria habilidade e força, as marionetes mostravam mais vantagem, como se previssem e conhecessem detalhadamente os movimentos que fariam em seguida, desviando bruscamente, não temendo nada. Os lobisomens passaram a ficar semi lupinos, os olhos em fenda e em degrade de azul, âmbar e amarelo, arranhando-os, chutando, socando, fazendo de tudo e evitando de serem acertados.

Gotas de suor salpicavam o ar e caiam no chão, sendo sugadas poucos segundos depois pela madeira. Trix apenas defendia, criando montes, de areia em frente de si e do oponente com o intuito de atrasa-lo, certamente o que a atacava não era algo vivo, não seria machucado, mas a garota negava com todas as forças usar seus dons para aquele motivo.

A poucos metros de distância, Lilly saíra da mira de um soco e dera uma cambalhota para trás, a maestria de seus movimentos proporcionava um fácil desvio de cada ataque dirigido a si, no entanto, não importava como a garota revidasse, sua magia era inútil, não causava dano algum ao boneco e, com socos energizados, apenas machucava seus punhos e pulsos, causando uma dor elétrica que passara em ondas por seus braços.

Rachel não possuía tanta preocupação, descobrira que sua monstruosa força podia causar grandes rombos e amassos na lataria, no entanto, isso não o impedia de continuar avançando, chegando cada vez mais próximo de acertar um golpe e faze-la desmaiar, seria incrível, até mesmo para as quimeras, aguentaram algo vindo do boneco. Os fios grudados na nuca iam se soltando, um ou outro, conforme os movimentos eram feitos e o vento os ricocheteava.

Desferiu um chute tendo como mira uma das pernas, tinha em mente um plano para, ao menos, tentar derrota-lo, mas para isso era necessário que caísse. O impacto produziu um som abafado e ruidoso, um tanto quanto incômodo para a audição avançada da lobisomem. Com um rápido cálculo, distinguiu que suas chances eram realmente diminutas, pelo menos com base nos danos causados pelos outros e em si mesmo, porém parecia que a sorte estava a seu favor.

Com um baque surdo, a imponente e grotesca estrutura caiu no chão, impressionando Jonathan e Kenai que se localizavam do outro lado do “piso” de madeira, Rachel fora a primeira a demonstrar um mínimo sinal de avanço. Distância pensou ao mesmo tempo em que corria, o brilho selvagem e natural em seus olhos a deixavam com uma aparência assustadora.

Curvando-se um pouco, preparou-se para a transformação, os dentes expostos preparados para rasgar qualquer coisa que entrasse em sua frente. A mandíbula cresceu, expandindo os dentes ao mesmo tempo em que uma pequena, porém ainda assim aguda, se espalhava por aquele local, as orelhas se afinaram, juntamente com os olhos em fenda que passaram a fazer a mesma coisa.

As unhas cresceram, adquirindo, uma a uma, mortíferas pontas afiadas, os ossos dos braços e pernas se alongaram, algumas vezes passando a formar ângulos estranhos. E, em um piscar de olhos, lá estava, os pelos marrons estavam emaranhados e sujos, debatendo-se com o vento da corrida, as orelhas captavam cada som produzido na área, desde o mais potente urro de fúria produzido por Ruby, até os batimentos cardíacos acelerados de quem quer que fosse que estivesse mais distantes da loba.

A imponente estrutura de galhos grossos e retorcidos a sua frente se estendiam para cima, dando suporte a folhagem verde com uma ligeira cobertura de neve que começara a cair do céu nublado, observando atentamente um local onde poderia se apoiar para uma subida rápida e habilidosa.

Dando impulso com as pernas, passou a escalar o tronco, pisando em pontos cegos e olhando para baixo em certos momentos, esperando que o boneco chegasse ao ponto certo para o impacto. Galhos colidiam com seu corpo, mas eram, automaticamente, quebrados em seguida, sem esforço algum, apenas com a velocidade que mantinha.

A altura na qual estava era incrível, podia-se ver claramente – principalmente com a visão alterada – as casas simplistas com os telhados cobertos de neve, mesmo tal vila estando ao longe. Olhou para baixo novamente, mais alguns centímetros andados e Rachel poderia enfim despencar, contando atentamente os segundos e se apoiando fixamente em um galho, pulou.

As rajadas incessantes de vento jogavam bruscamente os pelos para trás, a boca aberta e pronta para estraçalhar, uma centelha mortal nos olhos azuis. O mais ligeiro que podia, virou-se para frente, deixando as patas traseiras soltas, antes mesmo de inspirar o oxigênio a sua volta, viu-se sob o boneco. O mesmo olhava para cima, os braços estendidos numa tentativa de agarra-la, mas fora inútil. Moveu a cabeça para o lado, apreciando o borrão multicolorido que se formara e a silhueta de Anna, deitada sobre um galho, a observando com cautela, superioridade e frieza, com um sorriso branco e sádico nos lábios.

Idiota pensou enquanto a garota se mesclava novamente com o verde e marrom.

O estrondo produzido com aquela ação fizera parecer com que todos os outros não passassem de muxoxos produzidos por animais diminutos. O focinho molhado indicava o cansaço, toda a batalha fora intensa para a garota, porém agora cessara, pelo menos para ela. O ferro sobre seus pés estava prensado a ponto de partículas prateadas e brilhantes se espalharem por uma grande área, o corpo do boneco passara virar uma chapa amassada e quebradiça, sem sinal algum de movimento, apenas com um cheiro de açafrão, metal e vitória.

Do outro lado, Kenai apenas apreciavam, analisando atentamente, prevendo estratégias, movimentos e táticas de batalha num esquema indecifrável dentro de sua mente. Kenai mantinha as mãos no queixo, os olhos cinzentos apreciando cada movimento que produziam e notando, pela primeira vez, Anna sobre a árvore.

Jonathan, assim como a outra quimera, analisava os erros de cada um.

– RUBY! OS PUNHOS! LEVANTE OS PUNHOS! – berrou para a loira, ela não se encontrava em completos apuros, no entanto, não ficara nada feliz com a “dica” de Jonathan.

Com um olhar gelado ao outra e um sorriso de escárnio, atacou com toda força.

– Não. – um soco – Me. – outro – Diga. – mais um – O que. – desferiu outro, a incrível força causando vários danos – FAZER! – e completou a frase ao mesmo tempo em que um chute certeiro acertou a cabeça do boneco, fazendo-a cair e deixando um rompo no lugar do que seria um pescoço.

Com o orgulho estampado em seu rosto, passou a caminhar novamente para sombra, onde Rachel agora se encontrava, distanciada um pouco dos escamados. Lançando um olhar astuto e superior a Jonathan, se juntou a outra, sentada no chão, olhando fixamente os outros com tédio moldado no rosto. Em parte se sentia com o astral levantado, derrotara o boneco bem antes de Lilly e, principalmente, de Kris. Mesmo que tentasse evitar, a garota possuía grande implicância com os dois e se enojava de ter tido o sentimento ao ver a felicidade da ruiva.

Era estranho como se sentia sempre que um sorriso se formava nos lábios de Lilly, algo estranho desabrochava dentro de si, mas logo em seguida morria, uma sensação terrivelmente agradável, mas repugnante de se ter.

O sol estava em seu ápice, deixando que sua luz banhasse as folhas e silhuetas agitadas que imploravam por arrego, o suor continuava a cair em gotículas cristalinas que refletiam a estrela da manhã, fazendo exatamente a mesma coisa que anteriormente, caía e desaparecia, sendo sugado pela madeira.

A brisa quente de inverno passeava sutilmente, a neve deixava escorregadio o chão, no entanto, deslizar era algo que estava fora da lista de possíveis problemas, as folhas do grande carvalho passaram a ficar em um tom mais escuro, deixando a paisagem ainda mais agradável aos olhos. A junção de tudo tornaria a paisagem pacífica, se não fosse o grito que cortou o ar em uma frequência aguda.

Vindo da esquerda das quimeras, Trix se encontrava caída no chão, o boneco sobre ela, preparado para um golpe, mirando a cabeça. A garota não ousara atacar, mesmo que quisesse o mais rápido possível colocar um fim em toda a situação, sendo assim, o oponente continuava sem dano algum em sua carapaça ferrosa.

Atordoada, via as coisas girando, o mundo a sua volta não passara agora de um borrão, não observava nada, apenas o vulto cinzento a sua frente, os óculos haviam sido jogados para longe. E atacou, jogando o braço para frente, num movimento preciso e rápido, a garota estava condenada, não poderia ajudar na missão, agora seria um peso morto, não passaria disso, sua mãe... não a veria mais.

Não teria a chance de abraça-la mais uma vez, não poderia beija-la, dizer que a amava, provar de seu amor, carinho e compaixão como sempre fizera, ficar guardada sobre sua asa e jamais sair novamente, ser escondida e excessivamente protegida pelo padrasto...

Esperando a morte em certa, foi surpreendida com o baque metálico do crânio vazio e espaçoso do inimigo que caíra a seu lado, afundando na madeira. Forçando os olhos, conseguiu distinguir as escamas mescladas de marrom escuro e cinza de Kenai. A quimera a salvara, dera um fim ao boneco com apenas um pesado, lento e forte soco na cabeça do mesmo.

Sem reação alguma e evitando de pensar em algo, apenas se levantou e o observou enquanto colocava os óculos novamente, os achara em algum momento em meio a tudo. Com a visão focada e detalhada novamente, gaguejou, buscando palavras adequadas para a situação.

– O-o-obrigada – a palavra saiu forçada, não que não estivesse agradecida, realmente estava, salvara sua vida, no entanto o sentimento pasmo tomara conta de seu interior.

– Não negue atacar – a voz grave sibilara entre os dentes, não evitando que a outra percebesse a seriedade -, jamais faça isso, se algo a ameaça, revide. O mais forte que puder. – virou-se para os outros, que, por incrível que pareça, arrumaram alguma trégua com os bonecos de treino – Por hoje é isso, informaremos a situação a Ragnarok, amanhã treinarão diretamente com a Comandante. Os bonecos não estarão mais incluídos, se enfrentarão em grupos e sozinhos, mostrarão realmente – o sarcasmo estava presente, mas era dirigido explicitamente a cada um que não conseguira derrotar tais bonecos – do que são capazes de fazer. – o tom brincalhão com a qual sempre falava desta vez sumira.

A tensão se alojara ali, sem se preocupar em se esconder ou apagar os vestígios que deixara para trás. Voltou-se a escada esculpida no tronco, descendo rapidamente.

– Uma banheira os espera quinze níveis abaixo. – falou por último, apenas murmurando outra palavra em uma língua desconhecida, dando um fim a atividade e movimentos dos bonecos, juntamente com a sessão que se encerrara.

Do alto, Anna possuía um astuto brilho nos olhos, igualmente as quimeras, também identificou, mesmo de forma não detalhada, do que os jovens eram capazes de fazer, bastava apenas isso para colocar, finalmente, o plano em prática com absoluto e definitivo sucesso.

“O nascer de amanhã é dependente do anoitecer de hoje, nada mais que apenas isso”


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Notas finais do capítulo

Fluctos Mortifero = Ondas Mortíferas ou Enchentes
(Segundo o Google Tradutor .--.)

~*~

E aí, que acharam? Sinceramente, espero que tenham gostado.

A um bom tempinho venho querendo fazer isso... mas esperei até o capítulo 10 ser postado (sei que esse está com o título indicando o número IX - 09 -, no entanto, contem com o Prólogo), enfim, queria que vocês preenchessem essa "fichinha", aí embaixo, seria para uma avaliação mais detalhada da história, enredo, descrição, etc. Poderão avaliar com as opções abaixo, sem contar que, caso a avaliação dada seja considerada baixa, poderá ser acompanhada de uma sugestão para melhor desempenho desse tópico:

—Muito Ruim
—Ruim
—Razoável
—Bom
—Excelente

Os tópicos são esses:

Descrição:
Enredo:
Narração:
Construção dos Personagens:
Construções dos Cenários:
Avaliação Geral:

A partir de agora não terão mais opção a colocarem, é mais algo pessoal, resumidamente, a opinião de vocês.

Pontos Positivos:
Pontos Negativos:
Avaliação Geral (sim, este é repetido, detalhadamente, se possível):



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