Stazione Amore escrita por VicWalker


Capítulo 8
Capítulo VIII - Matteo


Notas iniciais do capítulo

Demorou mas saiu!
Desculpem a demora, entre minha semana de provas e entregas de trabalho, eu me perdi totalmente. Boa leitura e leiam as notas finais!



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Quando eu chamei Angelina para sair não estava nos meus planos passar o dia visitando os museus de Florença. Eu tinha imaginado um jantar em algum lugar ou um cinema, mas assim que saímos da garagem Angelina surgiu com dezenas de lugares que ela queria visitar então eu me mantive em silêncio.

Ela continuava a tagarelar ao meu lado dizendo uma lista de esculturas e quadros que ela precisava ver e eu me perguntava se medicina seria o curso certo para ela. Eu que morava na cidade desde que nasci e que tirava o sustento vigiando várias obras de arte não sabia da existência de metade das citadas na lista.

— Vamos primeiro a Galleria Degli Uffizi e depois ao Palácio de Vecchio — comentou quando estávamos saindo de uma das avenidas principais — Podemos ir ao Batistério mais tarde.

— Você já não foi lá? — indaguei enquanto me virava para olha-la.

— Sim, mas quero ir de novo — falou pegando o celular em seguida começou a jogar algo que eu não conseguia ver — Se você não quiser ir, eu posso pegar um ônibus.

Suspirei cansado e fiz um gesto de que eu iria leva-la. Definitivamente, esse não era o meu objetivo quando a convidei para sair. Tive que parar três ruas antes do nosso destino pelo fato de que a multidão que estaria mais a frente atrapalharia e seria impossível achar uma vaga para estacionar. Descemos do carro rapidamente e andamos em silêncio até a multidão que tomava conta da rua.

— Estou tão animada! — Angelina exclamou enquanto começava a seguir o fluxo de pessoas.

Pelo menos ela estava excitada sobre estar aqui. Fazia parte da minha rotina visitar esses lugares e garantir que nenhuma pessoa quebrasse alguma coisa, eu sabia de cor o que havia ali dentro e de como essas peças foram parar ali. Para mim era apenas rotina, mas para ela era uma aventura. Angelina estava sorrindo para tudo e para todos e eu acreditava que esse era o momento que ela estava mais feliz nesses dois meses.

— Vou comprar os ingressos, você quer ficar aqui ou quer ir comigo? — perguntei, mas Angelina não estava prestando atenção porque procurava algo em sua bolsa — Anjo você ouviu o que eu disse?

A menção do apelido a fez levantar a cabeça rapidamente e me observar. Nos nossos dois meses de convivência eu não tinha a chamado assim, não até hoje. O apelido tinha surgido em um lapso de consciência, tinha saído sem querer na primeira vez e eu tinha desde então tentado me controlar para não a chamar assim novamente. O que era uma tarefa difícil, visto que a sua aparência ingênua e meiga me instigavam a tornar o apelido oficial.

— Eu estou procurando dinheiro — confessou enquanto retomava a sua busca — Não quero que você pague tudo sozinho.

Mas se sua aparência me lembrava um anjo, sua personalidade me fazia rever os meus conceitos. O que Angelina tinha de doce ela tinha em teimosia e perfeccionismo. Ela se irritava facilmente se eu, por algum acaso, deixasse alguma coisa espalhada pela casa ou se eu me esquecesse de lavar a louça.

— Por que não? — indaguei sem desviar o olhar arqueando uma das sobrancelhas — Eu não me importo em pagar.

— Não estamos em um encontro! — esbravejou em um tom de voz bem alto que fez com que várias pessoas virassem a cara para nos olhar — Portanto você não paga tudo.

Paralisei por alguns segundos, absorvendo o que ela tinha falado. O que na minha cabeça era apenas um favor para a minha colega de apartamento que passava tempo demais dentro de casa sem nenhum lazer, na cabeça dela era um encontro romântico. Se eu dissesse para ela que isso era apenas um favor, ela ficaria sem graça por trazer o tema encontro à tona, mas se eu apenas concordasse que era um encontro a minha amizade com Angelina poderia ser afetada.

— Não era para ser um encontro — afirmei o que ela tinha dito enquanto colocava as mãos no bolso — Mas se você quiser pode se tornar um.

Era nítido que Angelina tinha perdido fala, ela ficou parada me encarando durante alguns segundos antes de se virar e continuar a andar como se nada tivesse acontecido. Prendi o riso e a segui até a bilheteria onde eu comprei os ingressos. Ela não fez nada para impedir e apenas me acompanhou calada com os olhos fixos no chão.

— Devo considerar seu silêncio como um sim? — brinquei quando já estávamos na entrada e esperávamos na fila para passar.

Ela se manteve calada e eu estava começando a me arrepender de ter sugerido que o nosso passeio virasse um encontro. Passamos sem dificuldades e vimos um guia chamando os turistas para fazer um tour histórico. Angelina ia andando na direção quando segurei seu braço e fiz um sinal negativo com a cabeça. Eu não ia passar meu dia seguindo várias senhoras e ouvindo como o prédio foi criado.

— Não vamos com ele — pedi enquanto seguíamos o guia a distância.

— Por quê? — indagou virando o rosto para observar as pessoas na nossa frente — Ele deve saber de tudo que tem aqui.

— Apenas não — falei enquanto caminhávamos lentamente.

A cada obra de arte que passávamos Angelina soltava exclamações de puro contentamento e felicidade. Ela parava na frente de um quadro e começava a falar quem era o pintor e outras obras do mesmo. Eu estava começando a desconfiar que a matéria certa para Angelina fazer seria História da Arte. A garota não conseguia parar quieta estava sempre rondando o lugar e fazendo comentários sobre o que via.

— Vocês sabiam que esta galeria foi construída por Cosimo I de Médici? — Reparei que Angelina tinha parado de falar e observava atentamente o guia a nossa frente — Ela foi terminada por volta de 1560.

— A galeria foi construída por Giorgio Vasari — Angelina murmurou ao meu lado e eu percebi que suas bochechas estavam vermelhas — E a obra foi concluída em 1580. Esse cara não sabe de nada.

— Nossa! — exclamei, arregalando os olhos diante de seu inesperado conhecimento — Você realmente gosta de história. Tem certeza que medicina é o curso certo para você?

Ela soltou um riso baixo antes me encarar por alguns segundos e voltar a caminhar seguindo o fluxo de pessoas.

— Eu tenho certeza que medicina é o curso certo para mim desde que eu tinha seis anos — respondeu parando em frente a uma escultura de um dos Deuses gregos — História é apenas um hobby.

Hobby interessante e não muito comum. Estávamos finalmente saindo do clima estranho que estava pairando sobre nós desde a menção da palavra “encontro”. Parávamos durante alguns minutos para ouvir o guia falar antes de voltarmos a andar e eu esperava para ouvir as correções de Angelina.

— Essa é uma das Salas Renascentistas — o guia falou parando novamente — Aqui se encontra várias obras de artistas como Masolino, Masaccio, Caravaggio e Da Vinci.

— Como? — Angelina gritou no meio do salão e eu podia ver pelo canto dos olhos as pessoas pararem o que estavam fazendo para nos observar — Caravaggio é um artista barroco e não renascentista.

Olhei para o guia que parecia envergonhado no meio da multidão e presumi que esse deveria ser o seu primeiro dia. Observei as fichas em sua mão e suspeitei que alguém as tinha trocado para lhe pregar uma peça, uma galeria mundialmente famosa não seria imprudente em contratar funcionários que não soubessem fazer o seu trabalho. Mas se esse fosse realmente um erro causado por ele, acredito que não manteria o emprego por muito tempo.

Angelina ainda reclamava em alto e bom tom o quanto o guia estava errado e como era inadmissível ele divulgar informações erradas para o público. As pessoas começavam se aglomerar ao nosso redor para assistir o show e eu só pedia para que Angelina ficasse quieta.

Cansado de esperar, agarrei o braço dela e a arrastei sob o olhar atento de todos os presentes até algum lugar que não estivesse cheio de gente. Após alguns minutos andando fomos parar em uma sala cheia de mapas e globo terrestres antigos. Essa deveria ser a Sala dos Mapas, eu a conhecia pelo fato de que recentemente um homem tentou botar fogo em um dos mapas fazendo assim a galeria ficar fechada por três dias.

— O que você está fazendo? — perguntou se soltando da minha mão puxando o braço — Estou me sentindo ofendida com o que ele disse!

— Estou te livrando de ser presa outra vez— gritei para que ela prestasse atenção as minhas palavras.

Ela arregalou os olhos diante da minha reação, parecia chocada ao me ouvir gritar. Eu tinha conseguido o efeito desejado, ela tinha ficado quieta. Se eu tivesse deixado ela lá por mais alguns minutos não duvidava de que os seguranças da galeria iriam mandar prendê-la.

— Me desculpe — disse enquanto se sentava em um dos bancos que estavam espalhados pelos salões — Passei dos limites.

Não era uma pergunta, era uma afirmação. As coisas sempre davam erradas quando estávamos juntos, eu a confundia com uma prostituta, ela era humilhada pelo ex e agora isso. E mesmo assim eu me esforçava para que tudo desse certo. O que você está fazendo comigo Angelina?

— Acho que é melhor irmos embora — anunciei desviando o meu olhar para parede.

— Eu sou uma idiota — declarou se levantando e se postando ao meu lado — Fiz um escândalo por uma besteira.

— Eu não diria que foi uma besteira — falei enquanto andávamos até a saída — Mas acredito de seu modo de se expressar foi um pouco extravagante.

— Eu me odeio — disse escondendo o rosto com as mãos e balançando a cabeça negativamente.

Passamos rapidamente pelo salão onde estávamos anteriormente e constatamos aliviados ao ver que a maior parte das pessoas que presenciaram os gritos de Angelina não estavam presentes. Angelina emitiu um gemido de alivio por finalmente estarmos fora da galeria.

— Podemos ir para casa? — perguntou quando já estávamos dentro do carro.

Concordei e peguei o caminho mais rápido para o meu apartamento. Angelina não parava quieta ao meu lado e de cinco em cinco minutos olhava para mim. Pelo canto do olho eu podia ver que ela abria a boca para dizer algo, mas rapidamente a fechava quando percebia meu olhar.

— O que foi? — indaguei quando paramos em um sinal vermelho — Você quer me dizer alguma coisa?

— Eu nunca estive em um encontro — anunciou em voz baixa enquanto encarava o vidro — Thomas dizia que era perda de tempo.

— E você concordava? — perguntei incrédulo tentando absolver os fatos.

— Ele tinha argumentos convencíveis — falou dando por encerrado o assunto.

Ou você era medrosa de mais para tentar discutir com ele, pensei enquanto pegava o caminho contrário ao de casa. Só quando passamos pela rua da galeria outra vez que Angelina pareceu perceber que não estávamos voltando.

— Para onde estamos indo? — perguntou se virando para mim com os olhos brilhando de curiosidade.

— Para um lugar — respondi pegando a estrada que me levava ao interior da cidade.

— E estamos indo nesse lugar por quê? — indagou novamente.

— Porque ainda estamos em um encontro — informei vendo Angelina morder os lábios para conter um sorriso.

Eu estava torcendo para ainda lembrar o caminho. Eu tinha visitado esse lugar apenas duas vezes porque eu fui chamado para uma ocorrência. Um casal aproveitou demais o ar livre e os turistas que estavam presentes chamaram a policia, o resultado foi que os dois foram presos por atentado ao pudor.

— Chegamos — anunciei descendo do carro e esperando Angelina sair para me acompanhar.

— Pode me dizer aonde estamos? — perguntou enquanto andávamos em direção as escadas.

— Quando chegarmos lá embaixo você saberá — respondi descendo rapidamente as escadas e deixando ela para trás.

Dio Mio! — exclamou assim que se aproximou de mim — É lindo.

O Giardino delle Rose era considerando um dos lugares mais românticos de Florença, eu queria que Angelina se sentisse feliz com o seu primeiro encontro. Para as mulheres é uma coisa que deveria ser recordada, eu queria que fosse um passeio sensacional.

Quais eram as principais estratégias em um encontro mesmo? Fazia tanto tempo que eu não estava em um que mal me lembrava de como agir. O primeiro passo seria fazer ela não se lembrar de Thomas, eu deveria me esforçar ao máximo para que sua atenção se concentrasse em mim e isso não seria uma tarefa difícil.

Andamos pelo jardim todo e conversamos sobre diversos assuntos, eu acreditava que nunca nos falamos por tanto tempo mesmo depois dela ter se mudado. Soltei um riso sem graça, eu morava com a garota há dois meses e não passávamos nem de dez minutos de conversa. Eu era uma desgraça como colega de apartamento.

— Como me aguentou até agora? — indaguei quando chegávamos ao final do caminho e nos sentávamos em um dos bancos, ela fez uma cara de confusa e reformulei minha pergunta — Como conseguiu viver comigo sendo que mal nos falávamos?

— Acho que é por isso que ainda moro com você — Ela percebeu minha expressão de desagrado com suas palavras e tentou rapidamente consertar o erro — Quero dizer, se eu convivesse com você 24 horas por dia creio que não nos daríamos muito bem.

— Eu sou tão terrível assim? — perguntei colocando a mão no peito como se estivesse profundamente magoado.

— Tirando o fato de que você deixa um rastro de bagunça por onde passa — confessou escondendo seu rosto envergonhado de mim — Você é uma ótima pessoa de se conviver.

Agradeci com um gesto de cabeça e voltei a minha atenção para a paisagem na minha frente. Eu iria fazer a pergunta novamente quando um vento frio passou por nós e eu observei Angelina se encolher e se aproximar mais de mim colocado os braços ao seu redor.

— Com frio? — indaguei enquanto a puxava para mais perto. Ela afirmou com a cabeça no mesmo momento em que uma brisa passou por nós novamente — Quer ir embora?

— Não — murmurou enquanto se aproximava novamente quase colando seu corpo ao meu, institivamente passei um dos meus braços ao seu redor — Quero ficar aqui mais um pouco.

Eu também queria, na realidade, eu não gostaria de sair daqui hoje. Quando um vento mais forte passou por nós eu decidi que era hora de irmos embora. Virei-me para chamar Angelina e a vi de olhos fechados aproveitando a caricia do vento em seus cabelos. Sorri internamente observando seus traços suaves e o pequeno sorriso no canto dos seus lábios, ela abriu os olhos e deu um sorriso ainda maior ao me pegar observando.

Mirei instantaneamente seus lábios curvados em um sorriso e me peguei pensando que sabor eles teriam e se seriam tão suaves e macios quanto a sua dona. Aproximei lentamente minha cabeça da dela e olhei profundamente em seus olhos, tentando adivinhar o que se passava por trás de seus orbes verdes. Quando apenas alguns centímetros nos separavam, Angelina desviou o rosto e me deixou com um grande ponto de interrogação no rosto.

— O que você está fazendo? — perguntei tentando reunir o que restou do meu orgulho após ser rejeitado.

— Desligando o celular — informou em um tom de voz bem baixo e tive que fazer um esforço para escutá-la — Você deveria fazer o mesmo.

— Por quê? — indaguei novamente enquanto ela me encarava com os olhos cerrados esperando pacientemente eu pegar o meu celular.

— Existe um enorme acervo de histórias românticas onde o primeiro beijo do casal principal é interrompido por um telefone tocando — respondeu tomando o celular da minha mão e o desligando rapidamente — Eu só queria evitar que o clichê acontecesse com a gente.

Soltei uma gargalhada pelo seu modo único de pensar. Os cacos do meu orgulho foram colados rapidamente ao perceber que eu não era o único a desejar o beijo. Coloquei uma das minhas mãos em seu rosto e fiquei em dúvida se deveria ou não avançar os poucos centímetros que nos separavam. Angelina foi quem tomou a iniciativa e acabou com o espaço que nos separava juntando nossas bocas.

Fechei os olhos automaticamente ao sentir sua boca cobrindo a minha e ouvi as batidas do meu coração aumentarem ruidosamente. O cheiro das rosas ao nosso redor se fizeram presentes se misturando com o doce cheiro cítrico de Angelina e me fizeram passar minha mão livre por sua cintura juntando ainda mais nossos corpos. Sua boca deslizava suavemente na minha e eu podia sentir claramente o doce sabor de seus lábios. Inclinei levemente minha cabeça me permitindo mais acesso aos seus lábios, Angelina subiu suas mãos e uma se embrenhou ao meu cabelo e a outra se poiou nos meus ombros.

Meus pulmões pediram ar e eu fui obrigado a nos separar. Angelina escondeu seu rosto na curva do meu pescoço e aproveitei o momento para abaixar a mão que estava em seu rosto para sua cintura a abraçando fortemente.

— Acho que é hora de irmos embora Anjo — sussurrei com o meu nariz enfiado em seus cabelos, absorvendo seu odor floral — Vamos para casa.

Esperei Angelina levantar para fazer o mesmo, percebi que ela não me encarava e se mantinha decidida em andar na minha frente. Apressei o passo para ficar ao seu lado e peguei uma de suas mãos para entrelaça-la na minha.

— No próximo teremos um jantar — prometi enquanto subíamos as escadas que nos levavam ao estacionamento.

— Próximo? — exclamou surpreendida arregalando os seus olhos na minha direção — Quer ir a um encontro comigo outra vez?

— Se pudermos repetir o beijo de hoje — propus enquanto subíamos no carro e colocávamos o cinto — Não o vejo porquê de não irmos.

Angelina me olhou por alguns minutos enquanto dirigíamos para longe dali, ela parecia ter ficado surpreendida com a minha última frase e não tocou mais no assunto. Ah! Minha doce Angel, agora que eu tinha te experimentado eu não te largaria tão cedo.


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Notas finais do capítulo

Eu gostaria de agradecer todos que comentaram, acompanharam e favoritaram essa fic.
E gostaria de avisar que a fic ultrapassou os 50 acompanhamentos e os 1000 views, e como forma de agradecimento eu vou escrever um capitulo bônus no ponto de vista de qualquer personagem que não seja a Angel e o Matteo. Me digam nos comentários quem você preferem, ok?
Beijos e até o próximo!