Stazione Amore escrita por VicWalker


Capítulo 3
Capítulo III - Angelina


Notas iniciais do capítulo

Descobri que gosto de escrever no ponto de vista do Matteo do que o da Angelina, mas é necessário ter o dela também
Boa leitura ^=^

PS: Coloquei uma pequena explicação nas notas finais sobre alguns nomes que aparecem.



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Tínhamos acabado de entrar no carro e eu já estava arrependida de ter aceitado a carona. Eu havia tentado me ajeitar no banheiro, tentando consertar minhas roupas amarrotadas e meu cabelo bagunçado. Tentando inutilmente dar um jeito nos meus fios rebeldes e apertando as bochechas para tentar dar uma cor ao meu rosto. Falhei miseravelmente em tudo.

Enquanto andávamos para o carro ele me contou a versão do Bacci sobre o acontecimento de hoje de manhã. De acordo com a história dele, eu era uma prostituta que ficou extremamente nervosa quando ele se recusou a pagar o programa e no meu ato de raiva, o empurrei e o agredi de forma violenta.

— Ele poderia ser escritor — Brinquei enquanto ele abria a porta do carro para mim, o ouvi soltar um riso baixo enquanto ele dava a volta e entrava no carro também.

Estávamos atravessando a cidade velha enquanto eu me remexia no banco. Não era segredo que eu não estava confortável ali dentro, per Dio, eu nem queria estar ali dentro. Bartolini me olhava a cada cinco minutos, provavelmente irritado com a minha reação. Eu precisava sair daquele carro, não queria que ele me levasse em casa. Isso se ainda existisse uma casa, era Aurora que pagava a maior parte do aluguel e eu não duvidava que ela só tivesse me aceitado porque já estava de olho em Thomas.

Olhei pela janela e consegui distinguir a ponta do Palácio de Vecchio em meio à escuridão, mais alguns minutos e seria possível ver a Galeria Degli Uffizi. Eu vivia sonhando com o dia em que eu teria uma folga da faculdade e dos meus empregos, iria passar o dia na rua conhecendo os pontos turísticos que sempre via em capas de revistas.

— A fonte de renda da cidade — Bartolini disse enquanto manobrava para a saída da cidade velha — Depois que proibiram as redes fast-food, o número de visitantes parece ter abaixado consideravelmente.

— E isso é ruim? — perguntei confusa.

— Não quando faz parte do seu trabalho proibir crianças de tocar estátuas com mais de 500 anos — Ele riu enquanto virava em outra rua — Não faz ideia de como elas se sentem atraídas pela Pietà.

— Quem? — perguntei outra vez, ainda mais confusa.

— A estátua — falou como se fosse óbvio, me olhando com uma expressão surpresa — Da virgem Maria segurando seu filho, é uma das mais famosas.

Busquei na minha mente alguma coisa relacionada com assunto. Lembro-me vagamente de ter lido uma matéria com o titulo “As 20 estátuas mais famosas de Florença”. Se não me engano, essa Pietà ocupava uns dos lugares do top 5.

— Acho que já a vi em uma revista — falei enquanto voltava o meu olhar para a janela.

— As crianças adoram tentar se sentar em cima dela — ele voltou a falar enquanto parava em um sinal vermelho — É a primeira pessoa que eu conheço que nunca a viu.

— Sou de Cosenza — disse enquanto ainda olhava para a janela — Me mudei no ano passado, ainda não tive a oportunidade de visitar muitos lugares.

— Nenhum? — Ele pareceu chocado enquanto dava partida no carro novamente.

— Visitei o Duomo e o Batistério — respondi enquanto virava e olhava sua expressão. Preferi omitir o fato que esses dois lugares se situavam a menos de 20 metros da minha casa — Acredito que me apaixonei pelos Portões do Paraíso.

O ouvi dizer um “Não foi a única” enquanto nos movíamos em direção a minha faculdade. Eu iria passar a noite em alguma sala vazia, torcendo para não ser pega. Não tinha coragem para bater na porta da minha casa às três da madrugada, principalmente porque eu sabia que Thomas ainda estava lá.

— Quando tiver tempo — ele voltou a falar enquanto virava na rua do nosso destino — Vá conhecer a casa de Dante Alighieri, é realmente uma coisa histórica.

— Eu adoraria — falei enquanto observava a minha faculdade se aproximar lentamente — Mas não gosto muito de turistas, não suporto a mania deles de tirar foto de tudo — Escutei ele rir enquanto parava o carro.

— Certas coisas merecem um esforço — ele respondeu enquanto sorria na minha direção com brilho que eu não sabia identificar nos olhos.

Ele estacionou em frente à saída principal e retirou o cinto de segurança. Em seguida se virou em minha direção e me encarou com aqueles orbes castanhos que pareciam brilhar na escuridão. Me encolhi mais ainda no banco enquanto esperava silenciosamente o fim de sua análise.

— Você mora aqui perto? — ele perguntou após vários minutos de silêncio, ainda me olhando fixamente.

— Sim — menti enquanto acrescentava rapidamente — Preciso pegar uma coisa na faculdade primeiro.

— Às 03:30hrs da manhã? — perguntou enquanto arqueava as sobrancelhas, averiguando o teor de verdade em minhas palavras — Não pode esperar até amanhã?

— É muito importante — falei enquanto soltava o cinto de segurança e me preparava para abrir a porta — Obrigada por ter me ajudado.

Ele foi mais rápido e me segurou pelo braço, enquanto se esticava para fechar a porta que eu já tinha aberto.

— Sabe o que eu estava fazendo enquanto você estava no banheiro Angelina? — ele voltou a falar enquanto se ajeitava no seu banco. Neguei com a cabeça, respondendo sua pergunta — Olhando sua ficha. Você se lembra de que preencheu uma, certo?

Por um momento, achei que o ar tinha parado de entrar nos meus pulmões. Eu lembrava da ficha, me pediram para preenche-la com os meus dados pessoais. Engoli em seco quando percebi que ele sabia que eu estava mentindo.

— Me diga honestamente o porquê de querer vir aqui há essa hora — falou em tom de quem não queria ser contrariado — Me fale a verdade Angelina.

A verdade? Que eu fui traída pelo cara que eu estava apaixonada, traída pela minha melhor amiga, provavelmente tinha ficado sem casa, estava atolada de dividas e o carro que eu nem tinha acabado de pagar tinha sido apreendido pela policia. Era coisa de mais para compartilhar com um cara que eu só conheci há três horas e que na metade desse tempo me acusou de coisas horríveis.

— Eu realmente tenho que entrar — falei desviando os meus olhos dos seus castanhos e abri a porta rapidamente enquanto pulava para fora do carro. Abaixei-me enquanto me colocava na altura da janela — Obrigada e buonasera.

Me afastei a passos rápidos enquanto ia na direção do portão principal e entrava como uma fugitiva, tentando evitar a todo custo ser pega por alguém. Vi o carro dele ficar parado por alguns minutos antes dar a partida e sair em direção as ruas escuras de Florença.

Corri para o último andar onde ocorriam as aulas de direito, lá provavelmente teria um banco onde eu poderia me deitar e passar a noite. Nunca fiquei tão agradecida pelo fato de que o curso de direito tinha menos aulas que medicina, pelo menos assim eu não corria riscos de ser pega.

Me deitei no banco e senti uma leve pontada no pescoço, não estava acostumada a dormir sem travesseiro, mas uma noite não mata ninguém. Eu estava sozinha em uma noite fria e me senti mais solitária do que nunca. Senti meus olhos começarem a ficarem úmidos e parei qualquer pensamento que me fizesse chorar. Eu não iria chorar por Thomas ou pela amizade perdida da Aurora.

Pensando em Thomas, me dei a liberdade de lembrar de quando nos conhecemos, acredito que tenha sido em uma das palestras ministradas pelo reitor da faculdade. A primeira coisa que me chamou a atenção tinha sido seus olhos azuis, tão bonitos e tão doces. Estapeei-me mentalmente por estar pensando em alguém que essa hora nem devia saber que eu existia. Fechei os olhos, determinada a dormir, imaginando que os orbes azuis de Thomas iriam aparecer nos meus sonhos, mas os olhos que eu sonhei durante toda noite eram maravilhosamente castanhos.


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Notas finais do capítulo

Per Dio = Por Deus
Buonasera = Boa noite

Pietà -> Estátua famosa da virgem Maria segurando seu filho Jesus.
Palácio de Vecchio e Galeria Degli Uffizi -> Pontos turísticos em Florença.
Dante Alighieri -> Poeta famoso da Renascença