Sayuri

Suspirei, cansada. Tinha acabado de treinar com o Kou-kun e estava deitada na minha cama, apenas observando o teto. E, por algum motivo, sentia algo muito ruim dentro de mim. Aquela sensação que a minha vida iria para pior, mas desta vez... Estava mais forte do que nunca.

—Que droga...- Pensei alto e suspirei novamente.

Me levantei um pouco, ficando sentada na cama, e olhei para a janela ao meu lado. Eu deveria sair um pouco, não? Afinal... Estava saindo pouco ultimamente, e só saiu para ver o Kou-kun... E o Katashi-nii está ficando preocupado comigo. Inclusive, na semana passada ele...

—Sayuri, você deveria sair mais! Faz quanto tempo que você não sai desse quarto?

Eu estava trancada no meu quarto, deitada, não fazendo quase nada a não ser ouvir o sermões do Katashi-nii do outro lado da porta.

—Uma semana Nii... Semana passada eu estava treinando com o Kou-kun... Lembra?

—Eu sei, eu sei. Mas Sayuri... Você não pode ficar trancada aí pra sempre! Estou ficando preocupado... Ao menos, saia uma vez por dia pra falar com a Sarada, ou pra visitar a Himawari-san. Sei lá... Mas vá ver o mundo irmãzinha, não pode ficar assim só por causa do Uzumaki-san!

—Vou pensar no seu caso... E isso não tem nada haver com o Boruto-kun.

—Sei... Eu vou sair, vou encontrar a Sara-chan... Você vem?

—Não... Quem sabe depois.

—Está bem.-Ouvi um suspiro longo e pesado vindo dele, sendo seguido de passos afastando-se da porta.

Em parte, ele tinha razão... Não gosto de admitir, mas estava um pouco assim por causa do Boruto-kun. Só que não gosto de falar disso... Pra ninguém. Era horrível se sentir ignorada daquele jeito, péssimo aliás... Sem eu ter feito nada pra merecer isso. Porém, não poderia ficar de cabeça baixa por causa disso. Eu ainda tenho amigos... E não vai ser só pelo Boruto que vou ficar trancada aqui! Não mesmo!

Suspirei, dei meu melhor sorriso e me levantei animada. Corri para meu armário e escolhi algo mais simples e leve, afinal, o dia lá fora estava quente. Peguei um vestido preto com um “avental” branco e o vesti. Eu tinha comprado ele certa vez quando sai com a Sarada e a Chouchou. Prendi meus cabelos em um rabo-de-cavalo alto e sai. É, estava certa, o dia estava quente.

Eu estava feliz, mas logo minha felicidade se esvaiu, pois todos nas ruas me olhavam com desgosto, raiva, ódio... Ou pena. Aquilo era irritante e incomodava muito. O que será que aconteceu para me olharam assim?

—Oi Sayuri.- Me assustei na hora e gritei pela surpresa. Assim que olhei pra trás, vi o Kou-kun me olhando confuso. Estava andando tão distraída que nem notei ele se aproximando.- O que foi? Tem algo na minha cara ou você se olhou no espelho?- Riu.

—Engraçadinho...-Ri ironicamente.- E eu por acaso tô feia pra eu levar um susto com meu próprio reflexo?

—Sinceramente? Você está mais linda do que o de costume.- Ele falou tão naturalmente e soltou um sorriso maroto, o que me fez corar levemente.

—O-Obrigada Kou-kun. E-E desculpe pelo susto, eu estava distraída... Perdão.

—Cuidado Sayuri, se continuar assim tão distraída nem vai saber quando a Harmi lhe perfurar com uma kunai. Claro, que jamais isso aconteça, mas você sabe do que sua irmã é capaz.

—Eu sei, eu sei.

Sim, tinha contado tudo pro Kou-kun depois de conhecê-lo melhor. Ele me ouviu e entendeu toda a minha história, ou ao menos fingiu. De certa forma, no dia que lhe contei, ele parecia já saber de tudo. Mas eu acho que só foi besteira minha. Sei lá... A duvida ainda permanece e não vou tirá-la tão cedo. Posso estar enganada, no fundo.

—Por que está tão distraída? Aconteceu alguma coisa?

—Nada... É que as pessoas estão me olhando estranho hoje... Como se eu tivesse feito algo errado ou coisa do tipo.

—Entendi.

—Você sabe de alguma coisa Kou-kun?

—Eu não.

Andamos mais um pouco, conversando sobre qualquer assunto. O tempo começou a ficar nublado, e como muitos suspeitavam de chuva, logo as pessoas da rua foram pra suas casas. Eu e Kou-kun não, continuamos.

—Ei… Sayuri… -Ele olhava para frente meio preocupado.

—Hum? O que foi?

—Veja…

Ele apontou para frente e eu o segui. Quando vejo, mais a frente, andava cabisbaixo o...O Boruto-kun…. De certa forma, ver ele daquele jeito me deixou triste. Por impulso, corri até ele, preocupada.

—Boruto-kun, você tá bem? - Ele nada respondeu. De repente, senti meu pescoço sendo aos poucos esmagados. Quando dei por mim, Boruto-kun estava me sufocando com suas próprias mãos, mas continuava com o olhar cabisbaixo. - B-Boruto-kun… Por quê?

—E você ainda pergunta…

—Solta ela!-Kou-kun interferiu e Boruto-kun me soltou. Fui pra perto de quem me protegeu e me encolhi um pouco.- O que houve Uzumaki-san? Por que fez isso com a Sayuri?

—Cale a boca!- Ele gritou e levantou o rosto. Suas lágrimas era visíveis e parecia que já chorava a certo tempo.- Você não faz ideia do que ela fez!

—Então diga! Pois eu não estou entendendo nada, o que ela fez?

—Não acredito que você não saiba… A Sayuri matou mais de vinte pessoas inocentes ontem…

—Q-Quê? Eu nunca fiz nada disso! Jamais faria algo tão horrível assim!

—É claro que você fez! Quem era então nas câmeras de segurança do local, hein? Diga-me Sayuri! Quem poderia ser além de você?!

—Boruto-kun, acredite em mim! Eu não fiz nada disso! Pode ter sido a Harumi ou qualquer outro ninja usando minha aparência para me acusar! Eu não fiz nada! Eu lhe juro!- Gritei já chorando, eu não acreditava naquilo. O tempo começou a fechar de vez, e já sentia as gotas de chuva caindo e me molhando.

—A Sayuri tem razão, eu estive com ela por um pequeno tempo, mas eu sei que ela jamais teria capacidade de fazer algo tão monstruoso assim. Eu confio nela, mesmo conhecendo-a pouco. Você Boruto, que a conhece a mais tempo, deveria confiar nela!-Kou-kun me defendeu.

—Calados!-Ele saiu correndo sem dizer mais nada.

—Sayuri… Você…

Eu estava mau, realmente, e por mais que não quisesse admitir, eu precisava de alguém naquele momento. Então, por impulso novamente, abracei o Kou-kun, escondendo o meu rosto em seu corpo e me acabei no choro. Eu realmente não conseguia acreditar que justamente o Boruto-kun poderia achar que fiz algo desse tipo. E com certeza, não seria somente o Boruto-kun… Mas todos de Konoha deveria estar pensando o mesmo de mim.

—Sayuri…- Ele apoiou sua mão em minha cabeça.- Vamos, a chuva tá engrossando… Não quero que pegue um resfriado.

—S-Sim.- Solucei, por conta do choro.

Corremos até a frente de uma pequena loja, onde tinha uma pequena cobertura para nos proteger da chuva. Estávamos ofegantes pela correria, mas logo nos recuperamos. Um bom tempo passou, mais de dez minutos, e nenhuma palavra sequer era dita neste tempo. Pois ficava perdida em meus pensamentos sobre como seria agora. Se nem mesmo o Boruto-kun acreditava em mim, quem, além de Kou-kun e Katashi-nii, poderia ter confiança em mim? Um motivo a menos para eu ficar. Preciso descobrir mais sobre o meu clã e o clã Yagyu, principalmente do porquê o Kou-kun ter dito que ambos tinham ligação. Posso me virar sozinha, cuidar de mim mesma, e meu irmão também, poderia viver facilmente sem mim. Posso treinar, me esforçar mais que antes, e expandir meus conhecimentos pelas minhas técnicas. Poderei, talvez, encontrar a Harumi, e talvez fazer as pazes com ela.

Estava decidido.

—Kou-kun…- O chamei em tom baixo, mas ele me ouviu e direcionou seu olhar para mim. Olhei para o portão da vila, não tão distante dali, e respirei fundo.- Eu me decidi… Não há mais motivos para ficar em Konoha… Eu vou fugir.- Vi ele arregalar os olhos.

—Q-Quê? Mas… Sayuri… E o Katashi-san? Como ele vai ficar?

—Ele sabe se cuidar, e eu mesma também. Ele vai entender a minha decisão.-Comecei a olhar a chuva com um mínimo sorriso.

—C-Certo… Mas e a Kori-sensei? Como vai ficar nossa equipe sem você?

—Kori-sensei disse que eu deveria treinar mais e deveria expandir meu conhecimento sobre minhas técnicas, e é isso que eu farei enquanto estiver fora. Você e o Katashi-nii podem achar outra kunoichi para ficar em meu lugar.

—Se é assim… Eu vou com você.

—Por quê?

—Alguém tem que te proteger e te ajudar a treinar.- Ele fez um pequeno carinho em meus cabelos, o que me deixou levemente corada.- E ficar sozinha é chato, eu sei como é. Então nem pense que você está sozinha nessa…

—Sim… Obrigada, Kou-kun.

—E então? Quando vamos?

—Partiremos amanhã a noite, e então deixaremos Konoha por um longo tempo.