A Retribuição escrita por BadWolf


Capítulo 2
Um Homem Preparado


Notas iniciais do capítulo

Olá!!


Mais um cap saindo do forno!
Estamos voltando um pouco no tempo. Acreditem, tudo isso é extremamente necessário.
Para quem se perde um pouco nas datas, esse cap se passa em seguida ao fim de "Shalom".Não sei se vocês se lembram de uma conversa beeem antiga entre Esther e Holmes, no início de "À Sombra da Justiça", em que ambos comentam sobre o Conde Ivanov... (se não lembra, corre lá que vai ver que eu to dizendo a verdade) Pois bem...

Heheheh, já começo a ouvir as risadinhas maléficas a ecoar por esta fanfic, muahahauahahua

Preparem-se!

Boa leitura!



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Moscou, Rússia. 28 de Setembro de 1894.

(Alguns anos depois...)


Pavlov Ivanov tinha recebido, há dois dias, o título de Duque Ivanov. Tinha sido uma cerimônia marcante, sem dúvida, na boa sociedade russa, com a presença de figuras importantes, inclusive o próprio Czar e sua família. Sua relação com o Czar nunca tinha sido tão boa. Seus negócios prosperavam, sua filha Natasha, de 14 anos, estava com o casamento engatado com outro nobre russo, que tinha importantes contatos na Inglaterra. Qualquer homem não poderia desejar algo melhor do que isso.

Mas ele não conseguia esquecer Dmitri. Ele sabia que o rapaz era seu filho ilegítimo, e que jamais o reconheceria, mas Dmitri parecia ter herdado algo que seus filhos aparentemente não possuíam: seu caráter e sua ambição. Tudo destruído pela paixão cega, obsessiva, por uma judia, a filha dos malditos Katz. A única que sobreviveu.

O jornal, inglês, que tratava a morte de Dmitri com desdém, destacando a “legítima defesa” de quem o matara, já estava amassado, jogado há meses sobre sua mesa. Aquele jornal trazia lembranças, também, de sua breve estadia em Londres naquela época.

O Duque jamais foi um homem de faltar a funerais. Seria impossível estar presente no de Dmitri, quando havia milhares de quilômetros separando Moscou de Londres, mas o Duque fez o que pôde para aparecer e prestar-lhe uma última homenagem.

Dmitri precisou ser enterrado em Londres, a contragosto do Duque. Dada a distância, era impossível transportar seu corpo, e o Duque partilhava da visão que os mortos deveriam ficar quietos em seu lugar. Por isso, restou ao Duque apenas contemplar o túmulo de seu filho, em um dos melhores e mais bem situados cemitérios londrinos.

Passada a visita, e já tendo lido aquele jornal que tratava com tamanho descaso da morte de seu filho, o Duque decidiu olhar nos olhos do homem que lhe tirou a vida, e ainda saiu com ares de herói.

Este homem se chamava Sherlock Holmes, segundo o jornal.

O Duque ficou surpreso em perceber que o assassino parecia ser conhecido. Não havia um cocheiro em toda Londres que não soubesse onde ele morava. Ótimo, pensou. Isso facilita as coisas para mim. Finalmente em Baker Street, o Duque bateu a porta.

Uma senhora idosa lhe recebeu. Mesmo com sua cordialidade, o Duque permanecia com a postura viril e nada amigável, e praticamente adentrou à Baker Street ignorando os apelos da mulher.

–Por favor, Sir, o senhor não pode subir sem ser anunciado...

O Duque ficou calado, enquanto subia as escadas. Não dissera palavra alguma, nem mesmo para corrigí-la e exigir ser chamado de Sua Graça. Sua aparência opulente não dava margens para ser questionado por quem quer que fosse, muito menos por uma mera mulher. Logo, ele estava na porta do tal apartamento 221-B.

Bateu a porta com força. Quando o sujeito que estava no cômodo finalmente a abriu, a primeira a falar foi a idosa.

–Mr. Holmes, este senhor...

O Duque Ivanov arregalou seus olhos. Meu filho Dmitri foi morto por este magricela com cara de drogado? O mundo só pode estar perdido...

–Está tudo bem, Mrs. Hudson. – disse Holmes, tentando acalmá-la. – Deixe-me às sós agora, por favor.

A senhora o obedeceu, finalmente se retirando. Já livre da presença da idosa, o Duque adentrou ao apartamento, sem esperar ser convidado. Holmes, que estava usando seu roupão velho e segurava à mão um cachimbo, parecia confiante.

–Sente-se, Sua Graça. – disse Holmes. – Espero que já esteja plenamente descansado de sua viagem da Rússia. Ouvi dizer que tal viagem costuma ser cansativa. De todo modo, a que devo a visita do Conde Ivanov, em minha humilde residência?

–Vejo que já sabe quem sou. – disse o Conde, evitando mostrar sua surpresa.

–Em seu primeiro passo, na verdade, eu já sabia quem era. Sua grossa casaca, de confecção russa, e sua maneira de locomover me denunciaram que eu estava diante de um nobre russo. E a julgar pelos últimos acontecimentos, só posso imaginar que esteja aqui devido ao ocorrido a Dmitri Kyznetsov.

–Sim. Ao menos estás me poupando explicações, Mr. Holmes. Pois vou direto ao ponto. Saiba que o que fizera com um de meus homens não ficará impune.

–De fato, não. Terei de prestar contas à Justiça a respeito de sua morte, em uma audiência na semana que vem.

O Duque bufou. – Eu sei que aos olhos da Justiça desse país você ficará impune disso. O jornal já mostrou seu depoimento. Alegará legítima defesa.

–Como de fato foi. – respondeu Holmes, calmamente.

–Dmitri sequer pôde ter um velório decente, porque estava desfigurado. E o senhor chama isso de legítima defesa? Bem vejo a Justiça que fazem neste país.

–A julgar por seus precedentes, Sua Graça, creio que o senhor é o último homem a acusar a Inglaterra de ser injusta.

O Duque irritou-se.

–O que está insinuando?

Sherlock Holmes ficou em silêncio, apenas a observá-lo com seu olhar mais irônico. O Duque deu alguns passos, visivelmente transtornado.

–Saiba que isto não vai ficar assim. Eu vou arrancar o seu fígado com os meus dentes e atirar ao Tâmisa!

Holmes, que estava de costas entretido com a mesa, sequer viu o estado de nervos do Duque. Pegou em um bule, e lhe serviu uma xícara.

–Deseja um chá?

–Mas vá â merda! – exclamou o Duque, possesso de raiva.

–Não desejo conhecer seus estábulos, Sua Graça. Mas agradeço o convite. E se desejar, sinta-se convidado para assistir à audiência e... Ué, mas já vai?

A resposta que Holmes recebera foi uma porta a fechar bruscamente.

Desde este dia, o Duque só pensou em uma coisa: vingança.

Ele não era um homem dado à Literatura, mas desde que seu mais leal servo e filho preferido tinha sido morto por aquele homem, ele tinha planejado avidamente uma vingança em retribuição. Toda a empáfia e arrogância britânica pareciam reunidas naqueles olhos cinzentos, que beiravam ao desdém. Certamente esse tal de Sherlock Holmes não o trataria assim, se soubesse quantos pescoços ele tinha quebrado por muito menos que isso.

Mas Ivanov sabia esperar. Há meses, estava arquitetando uma vingança, tanto contra o detetive quanto contra Esther Katz, a mulher que arruinou seu herdeiro, embora seus homens não tivesse encontrado mais vestígios de sua presença na Inglaterra. Ela, no entanto, era uma judia e sabia se esconder com maestria. Não deveria estar longe.

–Sua Graça? – pediu um dos servos.

–Sim?

–Há um senhor chamado Robert Houston que deseja vê-lo.

O Duque Ivanov permitiu sua entrada, com um aceno. Entrou um sujeito, de cerca de cinquenta anos, magro e com as bochechas pálidas, decerto pelo frio. Houston sentou-se a uma cadeira, em frente à mesa imponente do Duque.

–Quando recebi seu recado, mal pude acreditar. É um privilégio! – ele disse, entusiasmado. No entanto, o homem frio do outro lado não parecia igualmente entusiasmado.

–Dispenso os floreios, Mr. Houston. Vamos tratar de negócios.

–Oh sim. – ele disse.

–Eu sei sobre você, Mr. Houston. Um dos poucos, senão o único, da... “Equipe” do professor Moriarty que conseguiu escapar da condenação... Agira com a esperteza de um rato quando optou por abandonar o barco quando mal havia rachado a popa.

–Embora possa parecer isso, eu já pretendia abandonar o Professor há tempos, só aproveitei a oportunidade de vê-lo ocupado com um oponente poderoso para sair à francesa.

–E eu sei de seus negócios aqui, em meu país. Este solo parece não possuir qualquer lei, a olhos estrangeiros tais como os seus, mas nós temos leis.

–Sim, aquele tipo de Lei. Igual ao do meu país. – disse Houston.

–Não se gabe. Você é americano, não inglês. Mas que seja. Estou precisando que execute um serviço para mim... Algo que poderá reavivar o seu passado. Sabe quem é Sherlock Holmes?

Os olhos de Houston se arregalaram, à medida que o Duque começou a conversa, sem contar toda a história a respeito de Dmitri. Quando dito suas pretensões à respeito do detetive, o sujeito tentou se esquivar, disse que Holmes era praticamente intocável, mas o dinheiro oferecido pelo Duque por sua cabeça era irrecusável.

–Ainda tenho contatos na Inglaterra, você deve saber. Conheço pessoas que podem ajuda-lo a acabar com Mr. Holmes, pessoas que fariam isto até de graça. Mas o fato é que ele é um homem complicado de se perturbar... Por isso a grana deve ser alta. O risco envolvido é alto...

–Largue de rodeios, e diga logo os nomes...

–Há Ernest Landlane, um nobre inglês que poderá abrir muitas portas para o seu plano na Inglaterra. Ele tem contatos na embaixada e amigos no governo. Ter um homem deste gabarito ao seu lado tornará Sua Graça praticamente intocável. E também um criminoso de renome: Daniel Jenkins. Pai inglês, mãe russa. Ele chegou a fazer alguns serviços independentes, mas agora trabalha no Ministério do Comércio Exterior, na Inglaterra. Não deixa um fio solto. Na verdade, ele é um dos nossos. Ele também é agente da Okhrana, só que está de licença.

–É um homem destes que preciso. – disse o Duque, satisfeito.


Londres, Inglaterra. 15 de Novembro de 1894.


Westminster era um dos locais que o Duque Ivanov costumava se hospedar, sempre que se via forçado a estar com seus pés naquele solo britânico que tanto sentia asco. Tinha uma vista que muitos considerariam agradável para a Ponte de Londres e o Parlamento, mas o Duque menosprezava tudo aquilo. Queria que seus assuntos na cidade acabassem logo, para que ele retornasse à sua amada terra natal.

Mas aquela ocasião exigia calma para raciocinar. Às margens do Tâmisa, o Duque arquitetava, magistralmente, seu plano de acabar com o homem – e se possível, com a mulher – que arruinaram seu braço direito. No caminho à Londres, ele já tinha planejado um esboço de sua vingança: acabaria com tudo que esse detetive tinha de mais interessante. Ele lera no relatório que ele tinha um irmão, de nome tão exótico quanto o seu, e também um amigo, que narrava suas aventuras em contos. Iria provocar dor em tudo que estava ao seu redor primeiro, depois arruinar o que – a princípio – ele mais amava: seu trabalho. Por fim, esmaga-lo como uma barata. Apenas depois disso, seus negócios estariam terminados.

Estava começando a chover levemente. O Duque se amaldiçoava, por estar naquele país que parecia chover todos os dias do ano. Fazia dez minutos que estava aguardando uma visita, em um restaurante perto do parlamento. Bufando, impaciente, ele murmurou algumas maldições em russo, ao ver que finalmente, depois de um pequeno atraso, sua espera tinha terminado. Ambos começaram a conversar em russo.

–Pensei que os ingleses fossem pontuais...

–Perdoe-me, Sua Graça. Está começando a chover e os cocheiros costumam agir com mais cautela e...

–Não me interessa tais desculpas, Mr. Jenkins. Mas vamos ao que interessa. Você está disposto ao serviço que lhe contratei?

–Seria uma honra, Sua Graça.

–Certo. Como sabe, sou estrangeiro e preciso de gente confiável para me ajudar em determinada tarefa. Mr. Houston indicou-me o seu nome. Eu espero que o senhor esteja à altura desta indicação.

–Confio que sim, Sua Graça.

–Ótimo. Bem, você já deve estar a par de que tipo de serviços eu encomendarei ao senhor, Mr. Jenkins, por isso, não irei me justificar e nem o senhor irá pedir explicações a respeito disso, apenas executá-las, está claro? – perguntou o Duque, em tom ameaçador.

–Como água, Sua Graça.

–Pois bem. Este é o homem que eu quero arruinar.

O Duque entregou à Jenkins uma cópia do dossiê de Sherlock Holmes. O Duque continuou a dizer, enquanto Jenkins folheava a pasta.

–Ouvi dizer que o senhor costuma fazer um excelente trabalho, sem deixar rastros, tanto aqui como na Rússia. Quero algo muito melhor do que isso. O que foi?

Jenkins estava pasmo.

–Você sabe quanto costuma ser o meu preço, não é?

–Sei. – respondeu o Duque, com estranheza. – O que há?

–Ele está triplicado agora. Ou isso, ou nada feito. – decretou Jenkins, sem nome. O Duque fechou seu semblante, mas o mercenário estava irredutível.

–Esse homem é um dos sujeitos mais intactos da Inglaterra. Nem mesmo o maior de todos os criminosos da Europa, o finado James Moriarty, conseguiu derrota-lo.

–Está com medo, Mr. Jenkins? – provocou o Duque.

–Não, é óbvio que não, mas... Será difícil e arriscado, portanto...

–Não sou homem de miséria, Mr. Jenkins. Quando eu desejo uma vingança, pago um preço à altura dela.

Jenkins suspirou, ainda resignado. – Está feito então, Duque. Você terá a cabeça desse homem. Pode me custar um pouco de tempo...

–Que seja. Se tiver de ser lento, porém doloroso, eu aceito.

–Bem, o senhor já leu as histórias sobre ele?

–Não sou dado a Literatura, mas já ouvi falar uma coisa ou outra. Exagero romanceado, certamente.

–Pode haver, mas asseguro que o exagero que dizes é bem pouquíssimo. O homem é uma lenda viva.

–Mas não é imortal, ou imune. Certamente tem seus defeitos e falhas, e é sua tarefa localizá-las e usá-las em meu favor. E quanto mais você me apresentar um rachadura sobre esse grosso muro que o envolve, mais rápido virá o adiantamento.

O rapaz bebeu um gole de conhaque, satisfeito. Já tinha lido as histórias de Sherlock Holmes e conhecia bem, ao menos desta perspectiva, embora nunca o tivesse imaginado como oponente.

–Então prepare seu cheque, pois eu sei bem por onde começar.

O Duque ergueu uma sobrancelha, desconfiado.

–Posso saber quais serão os seus primeiros passos, Mr. Jenkins?

–Bem, espero que o senhor aprove a idéia de investir aqui em Londres. Precisamos de algo que atraia um exército de confiança. Mr. Holmes é um homem ardiloso, e eu sei que há pessoas no submundo do crime que, secretamente, atuam como seus informantes. Não podemos confiar nos ingleses por lá, nem mesmo nos marginais. Se teremos de utilizar pessoas para esta missão, ao menos sua maioria terão de ser gente de sua confiança.

O Duque ergueu uma sobrancelha.

–Como propõe que eu insira gente minha neste país, sem levantar suspeitas?

Satisfeito, Daniel Jenkins começou a explicar.

–O senhor certamente é um homem de posses, Sua Graça. Muitos russos possuem propriedades aqui, na Inglaterra. Por que não compra uma fábrica, ou uma fundição qualquer nestas redondezas, e a usa como pretexto para trazer seus funcionários?

Ivanov parecia avaliar a situação.

–Posso ver aonde quer chegar, Mr. Jenkins. E isso já me deixa satisfeito.

–Mas aviso, Sua Graça, que seu plano poderá demorar meses, talvez até anos. Um homem como Holmes, para ser derrubado, requer planejamento.

–Estou disposto a esperar o tempo que for para isto.



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Notas finais do capítulo

Mais detalhes de Daniel Jenkins: Foi dito que ele pertence a uma organização russa chamada Okhrana. Para quem não sabe (de acordo com o Wikipedia e mais algumas coisas que eu sei)

A Okhrana foi a polícia secreta do regime do czar Alexandre III da Rússia, criada em 1881 e com sede em São Petersburgo. O seu nome significa Departamento de Segurança.

Surgiu para perseguir os partidos políticos que faziam frente à autocracia do czar. Foi usada para reprimir setores educacionais, imprensa e tribunais, além da massa popular, descontente com a situação social, política e econômica que a Rússia enfrentava na época. Eram conhecidos por odiarem judeus, tumultuar, acabar com greves de um jeito nada amigável, etc.

Seus membros eram conhecidos por sua agressividade, truculência e pelo uso da velha tortura como metologia de trabalho.

É, algo me diz que esse Jenkins não vai ser nada fácil. Medo da Estherzinha e do Holmes...
E agora, o Duque está praticamente resguardado, tendo um figurão do governo ao seu lado.
Sim, nosso casal 20 tá ferrado!!!

No próximo cap, finalmente os nossos heróis irão aparecer. Chega de vilania por agora, né?

Um grande bj!



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