A Retribuição escrita por BadWolf


Capítulo 19
Era Para Ser Um Jantar Entre Amigos


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!


Mais um cap, aqui vamos nós!! Espero que gostem!!!

Boa leitura!!!



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Londres, Inglaterra. 5 de Julho de 1900.


Esther estava penteando seu longo cabelo loiro, de maneira devagar e delicada, enquanto murmurava alguma canção judaica não-identificada. Sobre sua penteadeira, havia um par de brincos, as únicas jóias que ela possuía e que só reservava a ocasiões especiais. Embora aquele fosse um jantar especial, Esther estava resoluta em usá-las. Sabia que Molly era uma boa moça, mas simples, e não queria provocar nela qualquer sensação de redução. Ela escutara da moça que tivera que penhorar sua única jóia para pagar uma dívida de seu pai, e que o dinheiro clandestino recebido pela morte de Brian tinha ido embora pelo mesmo motivo. Portanto, o uso de jóias seria inadequado.

Ela tinha convidado Holmes e esperava que ele aceitasse o convite do jantar. Desde o atentado à Mycroft e as últimas investigações a respeito dos russos, Holmes não parava mais em casa, dividindo-se entre investigações e visitas ao irmão – ao menos assim ele dizia. Ele aparecia apenas para vestir roupas limpas, e recusava qualquer refeição. Mas ontem, ele tinha passado a noite com ela. De tão exausto, dormiu assim que caiu em sua cama. Ela o deixou dormir até que ele acordasse por si só. Seu esgotamento lhe fez acordar às dez da manhã, o que o fez, ao menos, se sentir melhor. Ficou o resto do dia sem fazer qualquer comentário a respeito do caso ou mesmo de seus avanços, mas ela sentia que ele estava apenas à espreita, como se estivesse na expectativa de algo.

Molly chegou pontualmente. Usava seu melhor vestido e o cabelo mais descontraído, sem o olhar sério de professora. Esther ofereceu-lhe um assento, e a deixou ali, entretida com seu fiel cãozinho, Billy.

–O seu marido está, Sophie? – ela perguntou.

–Não, ele está na Argentina agora. – mentiu Esther.

–Eu posso fazer uma idéia de como é sua rotina. Meu pai era marinheiro e viajou pelo mundo inteiro. Curioso, eu esperava ver mais objetos excêntricos por aqui. Bom, pelo menos meu pai sempre tinha algo estranho para nos trazer...

Esther ficou surpresa com a observação da moça. Realmente, para a casa de um aventureiro, não havia nenhum objeto que remetesse às viagens inusitadas dele.

–Sigerson sempre se esquece de trazer tais coisas. Mas então, creio que os nossos convidados estão próximos de chegar...

As duas ficaram conversando por mais vinte minutos, até Watson aparecer primeiro. Esther fez questão de apresentar Molly a ele, e prestava atenção em sua reação. Watson, que tinha instinto de predador quando o assunto era mulher, parecia examiná-la, bastante satisfeito com a “vista” que teria naquele jantar.

Esther serviu um licor e conversou mais um pouco com seus convidados. Ela imediatamente percebeu que Molly estava bastante interessada em Watson, e vice-versa. Estava dando certo.

–E quanto ao Mr. Sherlock Holmes? – perguntou Molly, com expectativa. – Gosto de ler suas histórias... Mal posso acreditar que eu o verei pessoalmente...

–Eu não posso garantir que Holmes virá, porque ele...

A porta bateu, interrompendo Watson. Esther levantou-se para abrir, deixando os dois sozinhos no sofá. Ao abri-la, lá estava Holmes.

–Mrs. Hudson disse que não me faria nenhum sanduíche, pois eu tinha um jantar para participar. – ele disse, braços cruzados e um tanto mal-humorado, à porta. Ao percebeu que não estavam sendo percebidos, ele deu-lhe um piscar de olhos, sugerindo que seu mau-humor era mais uma de suas encenações.

–Vejo que seu caso está encerrado, para procurar por um sanduíche depois de dois dias. – respondeu Esther, abrindo a porta para que ele entrasse, sentindo sua mão levemente sobre sua cintura, de maneira carinhosa.

–Digamos que escapa de minhas mãos por agora. Tenho um prazo de vinte e quatro horas para esperar, e algumas pendências. Surgiu-me outro caso também, “aquele caso” – ele disse, em cochicho, referindo-se ao caso pedido por Mycroft.

–Certo. Mais tarde conversamos. – respondeu Esther, em cochicho.

O jantar foi servido. Holmes não estava surpreso quando constatou que era o prato que ele mais gostava que Esther fizesse. Claro, ela tinha que aproveitar todas as ocasiões possíveis para que ele comesse.

–Então, Miss Sarandon... Sophie me contou que você é professora de Literatura. – começou Watson, sempre gentil.

Em questão de minutos, ambos conversavam amistosamente. Esther pareia satisfeita em ter conseguido uma aproximação de sua amiga com Watson. Ele era um bom homem e merecia ter alguém de bem ao seu lado. Alguém melhor do que certamente as prostitutas que ele deveria estar procurando, tal como ela desconfiava.

Enquanto Watson e Molly se encontravam interessados na longa e animada conversa que tinham, Esther trocava olhares sutis com Holmes. Embora ele retribuísse, ainda que com certa discrição, ela sentia, no entanto, que ele estava tramando algo, e sua intuição lhe dizia que envolvia aquele pequeno jantar.

–Mas conte-me, Miss Sarandon, a respeito do incêndio na Spencer & Bro. Company. Uma fatalidade o que aconteceu, não é?

Todos os presentes estranharam a pergunta de Holmes, dita enquanto Watson e Molly conversavam sobre o verão em Manchester. Exceto Molly, que fechou imediatamente seu semblante, até então sorridente.

–O-O que...?

–Bem, estou tentando fazê-la se recordar a respeito dos eventos que aconteceram há... Um ano atrás, não é? O incêndio na Spencer & Bro. Company...

Watson estava aturdido.

–Holmes, eu não entendo por quê...

–Foi o dia que meu noivo Brian morreu.

Molly praticamente disse a frase como se a cuspisse, tal era sua dor.

–O engenheiro responsável pelas máquinas?

–Sim, ele mesmo.

–Holmes... – insistia Watson.

–A senhorita consegue se lembrar de algo estranho que tenha ocorrido às vésperas de sua morte? Se ele andava com medo, desconfiado...

–Um pouco paranoico, eu diria, mas Brian não costumava ter medo. Pensava que fosse por sua casa.

–O que houve com a casa?

–Um assalto. Levaram algumas coisas de valor e provocaram uma desordem.

–Em algum momento a senhorita desconfiou a respeito das últimas ações de Brian? Um comportamento suspeito, ou...

–NÃO!

Molly se levantou da mesa, após dar um grito. Watson assistia à tudo com raiva de Holmes, por ter estragado sua noite e posto a moça em tal estado de nervos.

–Mr. Holmes... – insistia agora Esther.

–Ela precisa me contar! Miss Sarandon, minhas investigações levaram ao engenheiro Brian Jackson, e tenho motivos suficientes para acreditar que ele provocou o incêndio que arruinou a Spencer & Bro. Company e deixou o caminho livre para os russos. Suspeito que sua morte não tenha sido um acidente, mas uma maneira de silenciá-lo...

–Pare, por favor, eu não quero ouvir mais nada! – dizia a moça, chorando, com as mãos inutilmente nos ouvidos, enquanto Watson lhe abraçava.

–Holmes, já chega! Esse não é o momento adequado...

–Você sabe de algo, Miss Sarandon, eu sei que sabe! Eu não vou desistir! - ele disse, enquanto se levantava e saída da sala de jantar, deixando o restante do grupo.

Esther levantou-se. – Ah, mas ele precisa ouvir umas coisas...

–Cuidado Sophie, ele não costuma ser delicado em tais situações... – disse Watson, ainda abraçado à Molly. – Venha, vamos nos sentar no sofá...

Esther levantou-se e apertou o passo, punhos fechados, até Holmes, que já estava subindo as escadas para o 221-B.

–Não, nem pense nisso... – Holmes tentava dispensar o sermão de sua própria esposa, mesmo sabendo que seria em vão. Ela era obstinada – tanto quanto ele – ainda mais quando furiosa por ter seu jantar arruinado por seus rompantes detetivescos.

Tiveram uma conversa rápida, quase em sussurros, na sala de Holmes. Esther despejou sobre ele toda sua raiva e lançou sobre si umas boas verdades, especialmente a respeito de sua falta de limites. Holmes explicou-se, mas parecia insuficiente.

–Molly sabe que interesses estavam envolvidos na fábrica! Brian deveria lhe contar tudo!

–E se ela não sabe coisa alguma?

–Você viu sua reação? O tipo de reação de alguém que está diante de uma verdade que não quer encarar: medo!

Esther suspirou, resignada. – Mais tarde, eu vou tentar sondá-la, adequadamente. Tenho certeza de que obterei essa informação mais rápido do que você.

–Isso é uma aposta, Mrs. Sigerson?

–Não, Mr. Holmes, não é hora de apostas. E agora, se me dá licença, preciso arrumar a bagunça que você fez e tentar convencer os demais de que você não é nenhum monstro. Boa noite.

Esther voltou para sua casa, o apartamento 221-A, e notou que Watson ainda estava abraçando Molly. Mais que isso: parecia niná-la, como uma criança. Ela não põde deixar de olhar satisfação com esta cena. Ao menos ouve progresso em sue plano naquela noite.

–Quer que eu a deixe em casa, Molly?

Oh, mas que belo avanço... Ele já a chama pelo primeiro nome... Ao menos para alguma coisa serviu esse destempero do Holmes...

–Não precisa, John. Eu só preciso esperar pelo cabriolé.

–Tudo bem. Boa noite.

Watson deixou o apartamento, despedindo-se brevemente de Esther.

–Amanhã terei uma conversa séria com ele. – prometeu, antes de sair.

–Tudo bem. Tenha uma boa noite Watson.

Esther sentou-se próxima a Molly e começou a afaga-la no ombro, com carinho.

–Já chamou o cabriolé?

–S-Sim. – disse a moça, ainda com o semblante triste.

–Bem, você pode esperar aqui. Lá fora está muito triste. Mais uma vez, desculpe pelo comportamento inaceitável de Mr. Holmes. Ele costuma não ter limites quando está diante de um caso importante.

–I-Importante? – aquilo chamou a atenção de Molly. – E o que meu Brian poderia ter de tão importante a ponto de chamar a atenção de Mr. Holmes?

–Bem, não saberia explicar ao certo... Parece que... Ah, melhor esquecermos isso...

–Não, Sophie. Se sabe de alguma coisa, então, por favor, me conte...

Deu certo.

–Tudo bem. Parece que a explosão da fábrica provocou a falência dela. Mr. Holmes está investigando o novo dono dela, a pessoa que mais se beneficiou com o incêndio.

–Sim, eu lembro que tinha gente interessada na fábrica, mas Mr. Spence não queria vende-la, era negócio de família. Mas o que Brian teria a ver com isso?

–Você se lembra do que aconteceu naquela noite?

–Brian estava trabalhando até mais tarde, disse que estava projetando uma máquina. Ele costumava ganhar dinheiro com isso. Aquele foi um daqueles dias. – ela lembrou com tristeza.

–Ele deixou algum documento?

–Há alguma papelada que ainda está comigo. Eu posso entregar a Holmes, mas aviso que será difícil entender alguma coisa. Parece que está tudo em código.

–Bom, ele é engenhoso. Pode dar um jeito nisso.

–Bem, se ele for tão brilhante quanto no caso dos “Dançarinos”... Imagine só, que emocionante: eu, aparecendo em um dos contos de John... Watson. – ela se corrigiu, evitando o olhar mal-intencionado de Esther.

–Bem, isso pode acontecer, porquê não?

–Você nunca se imaginou em nenhuma história, Sophie?

–Não. – ela respondeu, francamente. – Sequer sou amiga de Mr. Holmes, e mesmo sendo vizinha, eu não me intrometo em seus casos.

–E o que ele achou da acusação contra seu marido? – perguntou Molly, curiosa.

–Bem, ele não concordou muito. Disse que foi uma tentativa de me defender... Mas voltando ao Brian: ele tinha algum amigo, uma amizade diferente nos últimos tempos?

Molly ficou pensativa.

–Agora que você mencionou... Sim, a amizade mais recente dele era um homem chamado Jenkins. Só isso que sei.

–Jenkins... – Esther achou o nome familiar.

–Eu me lembro dele quando foi visitar Brian. Um bom homem, esse Jenkins. Presenteou até as crianças, irmãos do Brian. Ele pediu desculpas a Brian por não lhe comprar nenhum presente, e prometeu que iria presenteá-lo da próxima vez com uma garrafa de vinho, sendo que Brian nem bebia! – ela lembrava da gafe estranha de Jenkins. – Ei, acho que o meu cabriolé acabou de chegar. Amanhã nos veremos, Sophie. E diga ao Mr. Holmes que ele pode buscar alguns pertences de Brian, mas somente se eu aparecer em uma de suas histórias!

Quando despediu-se de Molly, após fechar a porta contra si, Esther ainda estava atordoada.

Presentear apenas crianças durante uma visita era um velho hábito russo.

Ela correu até seu pequeno escritório. Escondido no assoalho, havia documentos da Agência de Espionagem. Ela procurou pela pasta “J”, pois tinha certeza de já ter visto o nome antes.

Na seção de Monitoramento, uma pequena menção.


JENKINS, Daniel.

CODINOMES: Abutre. DJ. Dan. Jenkins.


NACIONALIDADE: Inglesa.

NASCIMENTO: 1860.

FILIAÇÃO:

Alfred Jenkins: investidor de família inglesa fluente de Liverpool.

Natasha Jenkins, nèe Natasha Peshov: russa, filha de um nobre.

HISTÓRICO

Criado na Rússia dos 4 até os 18 anos, quando mandado para estudar Direito em Oxford. Rapaz de boa eloquência, tendo facilidade com idiomas. Em 1880, foi considerado suspeito de explodir o quarto de um professor, com quem tinha discutido durante uma aula sobre Judaísmo, mas nada ficou comprovado. Há também algumas anotações de brigas e desordem.

APARÊNCIA FÍSICA:

Ruivo, olhos azuis. Cabelo levemente ondulado, penteado rigorosamente para trás. Bigode e costeletas. Queixo quadrado, com pequena cicatriz na bochecha esquerda. Possui sardas. 1,79 de altura. Magro para sua estatura.

PERSONALIDADE

Temperamento controverso. Personalidade forte. Agressivo e preconceituoso.

INFORMAÇÃO CONFIRMADA:

Envolvimento leve em negócios com o Professor James Moriarty

Membro da Okhrana desde 1887.


–Não... – Esther suspirou, com desespero. – Não pode ser...


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Notas finais do capítulo

É, parece que conhecemos um pouco sobre Jenkins.

E para que não sabe, Jenkins faz parte da Okhrana, uma organização russa que costumava acabar com greves, perseguir sindicatos, judeus, enfim, basicamente qualquer coisa que se colocasse contra o Czar. Tinham meios agressivos de agir, eram violentos e bastante autoritários.

Eu acho que a Esther está se borrando de medo agora...

Bjs e até o próximo cap! E deixem reviews!



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