A Retribuição escrita por BadWolf


Capítulo 18
Mentes Atormentadas


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!

Aqui vai mais um cap.

Boa leitura!



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Londres, Inglaterra. 2 de Julho de 1900.


Para os horários de um médico, aquela hora da manhã já estava tarde, mas John Watson ainda estava deitado na cama de sua amante. Ultimamente, ele tinha dispensado pacientes, trocado um pouco de trabalho para ficar com Rose, ou mesmo andar lado a lado de Sherlock Holmes. Mas ultimamente, seu melhor amigo parecia ocupado com algo importantíssimo e o tinha deixado de lado. O doutor não via alternativas, senão requisitar os serviços de Rose Willians para lhe distrair de dias monótonos.

Rose não poderia dizer o mesmo. Por mais que desse ao médico noites incríveis, tudo que ela recebia em troca era a nomenclatura inesperada de Sophie, quando seu amante estava envolvido em luxúria. Embora fosse uma profissional bastante experiente, esse fato a irritava. Já estava a um tempo considerado com Watson e esperava que ela já o tivesse curado dessa paixão platônica por uma mulher que sempre lhe recusava. Watson nunca lhe disse o porquê de sua obsessão por essa mulher.

Aquela noite parecia ser como todas as outras. Rose comprou-lhe uma garrafa de vinho tinto vagabundo, que ambos beberam sozinhos. Ele, embriagado e cego por seus fantasmas, a chamava de Sophie sem parar. Um dado momento, ela irritou-se, e se levantou da cama, em protesto.

–Onde você pensa que vai? – perguntou Watson, em sua voz arrastada.

–Chega, John! Chega! – Rose passou a gritar, deixando o médico surpreso. – Estou cansada de ser humilhada todas as noites! Escute aqui, eu posso ser uma profissional, mas... Por Deus, seja homem e encare os fatos! Essa mulher não lhe quer!

Watson escutou tudo calado. Parecia ter sido despertado.

–Pare de se lamentar por alguém que não te merece. Essa Sophie...

–Não diga o nome dela! – Watson esbravejou, de uma forma que Rose jamais o viu. Furioso, ele levantou-se, e procurou por suas roupas, que estavam, como sempre, espalhadas por aquele quarto.

–Você acabou com o meu dia, Rose! Eu venho aqui, procurando por você, e olha as besteiras que você diz! – ele reclamou, e pôs um pouco de dinheiro sobre a mesa. Sentindo-se humilhada, Rose pegou imediatamente o dinheiro e jogou contra ele.

–Eu não quero o seu maldito dinheiro!

–Porquê não, se eu usei você?

Sem pensar, Rose deu-lhe um tapa. Watson o recebeu, estarrecido. No instante seguinte, ela se arrependeu do que fez.

–Espere... John...

Era tarde demais. Mesmo parcialmente vestido, Watson pegou uma parte de suas roupas e saiu do pequeno apartamento, batendo a porta com força e ignorando os pedidos de Rose, que continuaram à medida que ele descia as escadas.

–John, por favor, vamos conversar! – pedia Rose, do alto da janela. Envergonhado com a situação, Watson sentiu alívio de avistar, com sorte um cabriolé livre.

–Para Baker Street, e rápido! – ele pediu ao cocheiro.

Chegando em Baker Street, o cocheiro cobrou o valor da viagem. Ao pagá-lo, Watson procurou em todos os bolsos a sua carteira, até se lembrar que tinha a esquecido sobre a mesa, provavelmente no meio da confusão.

–Espere aqui, irei pagá-lo. – disse Watson ao cocheiro já impaciente.

De volta a Baker Street, em seus aposentos, Watson encontrou Holmes lendo jornal.

–A julgar pela fragrância parisiense e o estado de suas roupas, posso deduzir francamente que esteve com “Le Talonneur”.

–Holmes, eu não estou com tempo para suas deduções. Você poderia me emprestar algum dinheiro?

Holmes abandonou seu jornal para enfrentar Watson.

–Watson, Watson... Está sendo depenado cada vez mais rápido. – observou Holmes, enquanto retirava sua carteira e lhe entregava algumas notas. – Le Talonneur já lhe deixou sem dinheiro?

–Não, eu a perdi, e Holmes, por favor, pare de chama-la assim, porque sei francês o bastante para entender do que você a está chamando. – disse Watson, enquanto descia as escadas, furioso. Quando ouviu a porta de Baker Street bater com força, Holmes decidiu que não mais iria incomodá-lo.

Watson estava de volta, após dispensar o cocheiro. Quando estava prestes a subir as escadas, ele encontrou a última pessoa que gostaria de ver naquela manhã.

–Bom dia, John. – disse Esther, ao cruzá-lo no corredor.

–B-Bom dia, Sophie. Er... Para onde está indo?

–Ao Colégio. – Esther estranhou, pois John sabia de sua rotina o bastante para já imaginar a resposta. – Porquê?

–Não vai ver aquele crápula, não é?

Esther tentou desviar daquele tom obscuro com um risada. – Watson, eu não vejo Sigerson há muito tempo. Porquê insiste em pensar nisto a todo tempo?

–Eu só não me conformo em ver um criminoso à solta.

–Ele não é um criminoso, John.

–Nada justifica a sua fuga. – ele concluiu. Esther suspirou, um tanto irritada com a implicância de Watson, mal sabendo ele que seu ódio estava direcionado ao seu melhor amigo.

–Você não estava lá para entender os motivos dele. Tenha um bom dia, Watson. - ela despediu-se, friamente.

Watson terminou de ajeitar sua gravata. Realmente, ela tinha um ponto. Ele não estava presente na cena do crime para entende-lo. Aliás, ele enxergou muita má vontade, tanto da polícia quanto de seu amigo Sherlock Holmes em descobrir o paradeiro de Sigerson, talvez por se tratar de um crime passional. Ainda assim, um crime. O jovem Carlston já estava incapacitado, de modo que não merecia ter um revólver completamente descarregado contra seu rosto.

Quem sabe, a tarefa de achar o desgraçado e livrar Sophie deste estorvo em sua vida não cabia a si? Ele estivera tanto tempo ao lado de Holmes, que talvez poderia ao menos tentar aplicar seus métodos, embora ele estivesse muito longe de chegar à sua incrível capacidade dedutiva. Ainda assim, ele poderia dar uma olhada, sentir o clima daquele local outra vez, quando puder. Algo lhe dizia que a polícia estava perdendo alguma coisa ali.


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Já fora de Baker Street, Esther bufara com impaciência. Watson ainda estava muito obcecado com John Sigerson, mesmo depois de tantos anos. E a cada dia que se passava, sua obsessão se tornava cada vez menos sadia. Isso só a deixava cada vez mais nervosa quanto ao futuro. Como ele iria reagir, quando soubesse que John Sigerson era, este tempo todo, seu melhor amigo? Por mais que Sherlock Holmes achasse graça, ou estivesse sempre a adiar o dia em que teriam de revelar a todos sobre a verdade, ela temia pelo pior. Holmes poderia perder mais que a amizade de um amigo, mas também a própria vida. Nenhum homem gosta de ser enganado por tanto tempo, e mesmo Watson e seu coração bondoso se enquadram na regra.

Não posso me preocupar com isso agora.

–Para Whitehall. – ela pediu ao cabriolé, após embarcar.


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Esther atravessava o longo corredor do Ministério das Relações Exteriores com extremo nervosismo e expectativa.

Passado um pouco mais de um mês desde que estava de volta ao Serviço de Inteligência Britânico, ela tinha obtido detalhes satisfatórios. Holmes, que na época se encontrava sem casos, tinha sido seu parceiro em sua investigação, disfarçados como donos de pub. Ainda assim, por mais provas e evidências que tivesse reunido, ela ainda era uma mulher, adentrando ao mundo dos homens. Não era a primeira vez que ela passava por esta situação, mas isso não tornava nada fácil. Encarar o preconceito e o machismo era sempre enervante.

Esther foi recebida por todos com muita surpresa, quando apresentada como Mrs. Sophie Sigerson, a descendente de Abraham Katz. Alguns pareciam não dispostos a ouvi-la, apenas porque era uma mulher. Outros deram um voto de confiança, por ser filha de um verdadeiro herói.

Mas seu relatório era consistente a ponto de arrancar a atenção de todos os presentes. Contudo, por mais que fosse consistente, ele era ao mesmo tempo preocupante.

Estava bem claro que os russos, a princípio contratados para trabalhar na Fábrica de Parafusos, cujo dono era um nobre chamado Peshoivkz, estavam se espalhando pela cidade, trabalhando em todo o tipo de lugar. Boa parte deles possuía vida desregrada e já tinha cometido crimes pequenos, ou mesmo alguns maiores, como assassinato.

Londres havia acumulado, em menos de três anos, o contingente de 730 homens, das mais variadas classes sociais e periculosidades. Só o que tinham em comum era a propensão ao crime. Foram localizados, destes 730, apenas 398.

Um suspirou ecoou pela sala.

–O restante, ao que parece, já está camuflado pela cidade, ou em qualquer lugar do Reino Unido. Eles podem estar, à esta hora, no submundo do crime, prontos para agir e fazer qualquer coisa. Senhores, ao que parece, Mr. Peshoivkz não está preocupado se contrata trabalhadores eficientes ou não, mas em trazer toda a sorte de gente para cá. Infelizmente, não conseguimos informações suficientes que possam explicar o porquê de tal ação.

Mais tarde, quando a reunião tinha terminado, Mycroft veio cumprimenta-la.

–Excelente relatório, Mrs. Sigerson. Estou fascinado. Mas espero que você tenha consciência do que pode representar tudo isso...

–Uma tempestade está se armando contra nós, Mycroft. É só o que sinto. E seu irmão não está levando a sério o que está acontecendo.

Mycroft desviou o olhar de Esther.

–Jamais duvide da seriedade de Sherlock quanto à este assunto, minha cara.


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Notas finais do capítulo

É, parece que o Mycroft sabe de alguma coisa.
Vejamos nos próximos caps.


Até lá, pessoal! E deixem reviews!!!



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