Felizes para sempre? escrita por Takeru Takaishi


Capítulo 2
Capítulo II - Morte?


Notas iniciais do capítulo

Olá amigos!
No começo, acredito que vocês devam ficar um pouco confusos, mas no decorrer da leitura vão entender a sequência dos fatos.



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Hikari abriu os olhos sem se lembrar do ultimo ocorrido e sem saber onde estava. Mas tinha uma vaga lembrança daquele lugar.

As nuvens espessas e escuras demarcavam o início de uma chuva grossa de verão. Mas as oito crianças que se espalhavam pelo gramado pareciam não se importar. Continuavam suas atividades tranquilamente.

Um pano xadrez servia de manto para um farto lanche da tarde. Alguns digimons saboreavam a comida tranquilamente; duas crianças menores - Hikari e Takeru - corriam tranquilamente, com Patamon e Tailmon em seu encalço; Taichi e Sora gastavam boa parte de suas energias com o futebol; Yamato soprava sua gaita alegremente, emitindo uma sequência de notas bem ritmada com Gabumon ao seu lado; Mimi trazia consigo três baldes cheios de bexigas com água.

A garota que mantinha a fama de ser determinada pegou uma delas e a jogou em seu amigo Jou, que não esperava nada daquilo. O jovem foi tomado por uma grande explosão de água, deixando-o com os cabelos encharcados e os óculos mal posicionados em seu rosto. A cena foi seguida de uma longa risada espontânea. Logo, todos pararam para ver o que a menina tinha aprontado e se juntaram no riso.

Jou deu um leve sorriso de canto, alcançou um dos baldes, pegou uma bexiga, e como forma de vingança mirou em Mimi. Mas pela falta de técnica, acabou acertando Koushiro, que estava a três metros de distância da garota. O menino prodígio suspirou aliviado por não estar com seu computador em mãos. Mas decidiu que também não deixaria aquilo barato.

Pouco a pouco todos entraram na guerra que se iniciara. As explosões de água foram o foco daquela tarde do dia primeiro de Agosto até que todos estivessem completamente molhados.

E num piscar de olhos, o céu foi tomado por gotas grossas de chuva que caíam sem cessar. Sem dar a devida cautela para um possível resfriado, as crianças continuaram sua brincadeira de maneira saudável e feliz.

Assim que as bexigas acabaram, a garotada exausta se deitou na grama molhada. Hikari – na forma de espírito – observava tudo sem ao menos ser notada, inclusive a Hikari de nove anos se misturar aos mais velhos com parte do rosto e das roupas sujas de lama.

E por fim, os viu se amontoarem, ainda deitados no chão, abraçados lado a lado, formando uma pequena fileira de oito crianças que entendiam o verdadeiro sentido da infância.

Ninguém falava nada. Apenas curtia o momento com longas risadas e sorrisos soltos.

Durante aquela tarde, Hikari poderia dizer uma única palavra que sintetizasse aquela mistura de lama, humanos, digimons e felicidade: Amizade.

No entanto, a imagem foi perdendo vida e ganhando nova forma. A cena dos digiescolhidos deitados foi sumindo lentamente. Mas Hikari e Takeru – agora com feições um pouco mais velhas – permaneceram deitados. O restante dos digiescolhidos sumiu.

Ao fundo a extensão do parque foi substituída por uma alta colina repleta de árvores. As nuvens cinza que tapavam o céu foram se dissipando até dar espaço à imensidão azul tomada por um sol que irradiava energia.

E debaixo de tantas árvores, os raios solares daquela tarde os procuravam por entre as folhas e galhos, formando vários desenhos na grama. Ao lado deles, um grande rio que sumia entre a floresta. E em sua margem, era possível identificar uma grande mistura de verde e roxo. Como se fossem... Flores.

Mas não era qualquer tipo de flor. A moça de pé franziu o cenho, fazendo força para se lembrar do nome daquele tipo.

Tulipas! Tulipas roxas.

Hikari aproximou-se do casal. Pela feição jovial, eles deviam ter pelo menos 14 anos. A morena analisou os traços até reparar nas mudanças de cada um.

E sem expressar qualquer outro tipo de sentimento, a não ser surpresa, a moça levou suas mãos até os lábios por ter lembrado o momento em questão. O acampamento de estudos na oitava série.

Hikari e Takeru tinham se afastado dos colegas, porque ela queria tirar umas fotos do local. A garota era apaixonada por qualquer tipo de fotografia, e por isso, sempre carregava a câmera pendurada no pescoço quando viajava. Eles estavam selecionando as melhores fotografias.

– Que careta é essa TK? – ironizou a garota indicando o rosto do rapaz em um dos seus flashes.

– Aé? – o menino tomou a máquina da mão dela e mostrou-lhe outro retrato – O que me diz dessa sua cara? – Pausou um pouco e voltou a falar – Bom, pelo menos está mais bonita que esse cara aqui – disse-lhe mostrando uma foto de Daisuke, o garoto que dizia ser apaixonado pela jovem Yagami. Ele tinha caído no pé de urtiga, e foi clicado enquanto se remexia de coceira, depois de ter caído numa grande poça de lama.

A Hikari cinco anos mais velha estava perto o suficiente, mas os dois adolescentes pareciam não se importar com a presença dela ali. Os deboches e risadas continuavam a mesmo vigor. Era como se ela não estivesse mesmo presente.

E de fato não estava.

Talvez estivesse apenas sonhando com uma de suas lembranças. Decidiu não se importar muito, e sua linha de raciocínio foi quebrada quando percebeu que o suposto casal agora não estava mais deitado sobre a grama. O loiro levantou, pegou uma das tulipas à margem e voltou sua direção para a Hikari mais nova, que continuava sentada no chão. Agachou-se perto dela, e sorria enquanto colocava a flor nos cabelos de sua amiga.

Em resposta àquele ato, a jovem corou.

A Hikari adulta sabia o que viria a seguir. Mas não falou nada. Nem mesmo se mexeu. Ela sabia que qualquer coisa que fizesse seria inútil.

Resolveu ficar apenas observando a cena.

Os adolescentes aproximaram as faces, enquanto o loiro entrelaçava seus dedos nos da morena. E quando seus lábios estavam quase se tocando, uma voz soou ao fundo:

– Ei, vocês dois! O professor quer reunir a todos em volta da fogueira. – E num rápido gesto, o loiro se afastou de sua amiga. Ambos sentiram o rosto queimar. Mas levantaram-se e seguiram com o combinado do colega que os chamou. Foram caminhando sem fazer muito contato visual até se juntarem aos outros.

Depois disso a imagem se dissipou.

E num clarão, a cena deu forma a um modesto quarto de hospital. As cortinas emolduravam uma extensa janela do terceiro andar, que dava vista a uma longa avenida, onde os carros e motos transitavam tranquilamente.

Na parede oposta à janela, estava uma cama. Hikari reconheceu seu corpo conectado a vários tubos e equipamentos, que controlavam sua respiração, a alimentavam, contavam seus fracos batimentos cardíacos, e realizavam outras funções.

Sentiu o tempo parar por alguns instantes.

Sua cabeça estava enfaixada e outras feições do rosto estavam bastante feridas.

Yukko Yagami – sua mãe – estava ao lado do corpo, segurando uma de suas mãos. A feição triste era demarcada pelos olhos vermelhos que, ao certo, tinham derramado muitas lágrimas após receber a notícia de que a filha tinha sofrido um acidente.

O acidente.

E de repente, as imagens do ocorrido tremeluziram em sua mente até ouvir novamente o som da freada brusca do automóvel que não a pouparam de sofrer uma forte colisão. Hikari fechou os olhos, e uma lágrima percorreu caminho até o queixo.

A porta do quarto se abriu, e através dela entraram três figuras. Susumu e Taichi – pai e irmão, respectivamente – e um homem alto vestido de branco. Este segurava uma prancheta nas mãos. Ele olhou atentamente para os familiares da moça, retirou os óculos do rosto e como alguém que está temeroso para dizer algo, o médico disse cada frase da forma mais cautelosa possível:

– Ela sofreu várias fraturas, inclusive no crânio. Sinto muito. O estado dela é grave... Se não houver nenhuma melhora, teremos que partir para a mesa de operação.

(...)

Taichi não se manifestou durante toda a visita e na maior parte do tempo ficou olhando o centro da cidade pela janela. Em sua mente se repreendia pelo fato de ter faltado na função de irmão. E ao ouvir o estado da caçula, voltou aos seus onze anos de idade, quando ela havia ficado gravemente doente.

Cerrou os punhos com raiva de si mesmo. Durante todos esses anos tinha se empenhado para protegê-la ao máximo. Porém, havia falhado mais uma vez. Ele viu seus pais chorarem e queria poder fazer alguma coisa. Mas o quê?

E num vislumbre o rapaz voltou a si. Não havia nada a ser feito. Ele tinha que aceitar que sua irmã já estava grande o suficiente para tomar conta de sua própria vida e assumir suas responsabilidades. E por mais que quisesse, ele não poderia protegê-la para sempre. Assumir a culpa agora não era uma boa opção. Não tiraria a morena do estado em que estava e nem mesmo traria conforto para a devida situação.

Hikari também gostaria de demonstrar algum sinal de esperança. Mas não podia simplesmente dizer “Vai ficar tudo bem. Vou melhorar” ou apenas murmurar aos quatro ventos “ei, quero continuar viva.”. Não. Não era isso. Ela sabia que qualquer esforço seria inútil, e sabia mais ainda como era ruim a dor da perda de um ente querido.

Seus avós tinham morrido quando ela ainda era bem jovem, e por mais que as pessoas dissessem que as coisas eram sempre mais fáceis para crianças, a morena ainda sentia saudades ‘daqueles que sempre faziam cócegas nela logo depois de ter ralado o joelho’ ou ‘que preparavam as melhores refeições quando recebiam visitas’.

O mundo não vinha com um manual de instruções para indicar o que se deve fazer ou reagir. Nem mesmo com uma máquina de prever os acontecimentos futuros. Todos foram pegos de surpresa naquela manhã de março. E agora sofriam as consequências como as de alguém que leva uma punhalada pelas costas.

Hikari permaneceu ali durante horas e lhe ocorreu uma dúvida: Se ainda permanecia viva naquela cama de hospital, porque sua forma de espírito estava fora de seu corpo?

Mas a pergunta não teve mais importância quando ouviu o aparelho que contava seus batimentos cardíacos apitar um som linear. O coração dela tinha parado. Não demorou muito para que médicos e enfermeiros entrassem no local para tentarem reanimá-la através de massagens e desfibrilação.

Ela nunca imaginou que talvez esse fosse o seu fim.

No canto do quarto o pai de Hikari tentava conter o desespero da esposa que chorava descontroladamente. As descargas elétricas das placas metálicas não foram o suficiente para que o coração da moça voltasse a dar sinais de vida.

E a imagem foi se distanciando. Ao longe, pôde ver seu irmão derramar uma lágrima. E a cena do quarto de hospital - que sumia vagarosamente - foi dando lugar a um novo clarão.


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Notas finais do capítulo

E então? Ficou muito confuso????
Espero que não. Tentei detalhar ao máximo.
Qualquer erro me avisem.
Até ;D