Hastryn: Ascensão escrita por Dreamy Boy


Capítulo 5
Acerto de Contas


Notas iniciais do capítulo

Meu nome é Lothar Wildshade.
Governo Arroway e Hastryn do Norte desde o falecimento de meu pai, pois meu irmão mais velho já se encontrava morto nessa época. A vida e o tempo foram cruéis comigo, e me tornaram o sujeito que sou.
A cada dia que passa, sinto-me mais perto da escuridão. A escuridão me abraça, me acalenta, me conduz a um caminho, por mais doloroso que seja.
Ainda assim, é uma perspectiva de vida.



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Lothar

O dia já estava escurecendo quando Lothar finalmente despertou, atordoado. Ouvia o som de corujas piando e avistava morcegos voando em direções aleatórias. Um dos mamíferos alados passou muito perto de sua cabeça, obrigando o homem a desviar para não ser atingido pelo animal. Sua cabeça latejava e as dores no corpo eram insuportáveis. Lothar tinha dificuldades para se locomover, chegando a tropeçar em algumas pedras que não eram visíveis.

Sem se lembrar do motivo de ainda estar ali, seguiu mancando pelo bosque sem iluminação, à procura do caminho certo. Não tinha sinal de onde seu cavalo poderia estar e se viu obrigado a realizar o longo trajeto a pé.

“Isso me parece coisa daqueles indigentes... Não possuem dinheiro para comprar um cavalo decente e se sentem no direito de roubarem o de seu próprio rei. Descobrirei o responsável pelo crime e o esfolarei na frente de todos.”

Pequenas lembranças surgiam em sua mente conforme seus olhos se habituavam à visão no escuro. Ao passar a mão pelo couro cabeludo, grunhiu de dor ao sentir o sangue escorrer por seus dedos. Alguém o havia golpeado e aberto aquela ferida. Lothar imediatamente deveria descobrir quem.

Decidiu não ficar nervoso e se acalmar, pelo menos até que encontrasse a trilha correta e chegasse ao palácio para descansar durante a noite. Lá, pensaria com calma no que faria e resolveria de uma vez por todas aquele problema.

Olhou para o céu, à procura de estrelas que o fizessem se recordar dos momentos com a amada Lucy, mas não havia nenhuma. Estava completamente escuro, com apenas uma brilhante lua cheia.

De acordo com os livros espalhados pelas bibliotecas, existiam histórias que citavam lendas antigas sobre todas as florestas que compunham as vegetações das regiões de Hastryn. Nelas, criaturas mitológicas e sanguinárias conhecidas como lobisomens e morcegos gigantes assombravam as matas onde o acesso foi proibido pelo governo a qualquer indivíduo que não tivesse autorização oficial. Entretanto, Lothar sabia que essas lendas não eram reais, e que a verdade por trás delas era mais obscura do que parecia. Considerava desprezíveis os seres que confiavam em qualquer coisa que lhes era dita, sem nem ao menos procurar por outras fontes para confirmar suas suspeitas. Jamais encontrou casos de lobisomens legítimos em seu reinado, e a ameaça que assombrara Arroway no passado tinha sido contida há anos.

Aos trinta e três anos, Lothar ainda tinha medo das florestas à noite e escondia um segredo a sete chaves. Um segredo existente somente entre pai e filho. Philip não estava mais vivo para conversar sobre aquilo, portanto, o segredo permaneceria em eterno sigilo e morreu junto com o homem.

Sendo torturado por tantos pensamentos, sentia dificuldades para escolher a verdadeira direção. Utilizou o instinto, arriscando o caminho que o conduzia ao que parecia ser uma trilha. Acreditando ser a ideal para voltar ao castelo, tomou cuidado para não fazer barulho demais com seus passos e interromper indesejavelmente o sono de alguns animais. Não sabia também se havia nômades ou outras pessoas por perto e o que menos pretendia era atrair a atenção alheia.

Viu algo se mexer a seus pés e, assustado, apontou a lâmina para o arbusto mais próximo, sabendo que a criatura havia corrido até ali. Todavia, não conseguia enxergar o que era. Foi quando, de súbito, uma lebre branca saltou, surgindo de trás da planta. Ao ver o rei, o animal recuou e correu para longe.

“Minha aparência deve ser tão horripilante a ponto de causar medo até mesmo nesses roedores. Esses bichos não possuem a mínima noção de quem estão desprezando...”

Ignorando a rejeição da lebre, voltou a se concentrar na estrada de terra vazia. Mesmo com as fortes dores no corpo, jamais desistiria e ficaria sozinho naquele ambiente até o amanhecer. Conhecia suas forças e limitações, sabendo que seria capaz de resistir até o fim.

...

Lothar dificilmente acreditava nos deuses, mas agradeceu a eles quando avistou a entrada do castelo após muitas horas de caminhada, devido à grande aflição. Seus pés estavam inchados e o corpo não aguentava mais, implorando por descanso e alimentação. Desabaria a qualquer instante. Era o fim de um dia longo, sendo necessário recompor as energias adequadamente.

Os portões estavam fechados e dois guardas realizavam a patrulha durante a noite. Não o identificaram de imediato, erguendo suas armas em um gesto defensivo para proibir a entrada, mas as abaixaram quando o rei ficou perto a ponto de saberem quem era o sujeito.

— Vossa Majestade, pedimos desculpas! Está muito escuro e não era possível reconhecer o senhor de longe. — Sem que fosse preciso dizer nenhuma ordem, os dois abriram o portão e permitiram sua passagem. Um deles até mesmo de ofereceu para auxiliá-lo, mas Lothar recusou.

— Considerem esse um dia de sorte. — alegou, deixando claro que detestava por inteiro aquela situação. — Se eu estivesse com todas as minhas forças, pagariam caro por terem levantado suas espadas contra mim. Tenham uma boa noite.

Foi até o grande chafariz localizado no centro do pátio de entrada, que era inteiramente construído à base de pedras. Suas paredes eram altas e resistentes, com janelas de vidro que mostravam um pouco do lado de dentro. Lothar lavou as mãos sujas de sangue e as passou no rosto depois, retirando toda a terra daquela região. Depois de limpo, adentrou o hall e subiu as fileiras de escada até o corretor cuja última porta dava acesso ao aposento real.

Pensou em dar meia volta e subir até a torre de Charlotte, mas hesitou. A princesa seria castigada e receberia sua devida lição no tempo certo. Lothar deveria somente se preocupar com seu descanso naquele momento.

Dentro do cômodo, retirou a armadura e as roupas, vestindo algo apropriado para adormecer. Logo depois, cobriu-se com uma manta feita com pelos de urso e se deitou.

“Arroway assistirá a um novo espetáculo amanhã.”

...

Teve dificuldades para dormir e seu sono durou pouco tempo. Passou a noite com dores de cabeça, relembrando pouco a pouco o incidente ocorrido no dia anterior. Estava prestes a matar Elliot, quando alguém o atingiu com algo sólido e pontudo, capaz de abrir um ferimento profundo em sua cabeça e até mesmo matá-lo.

Mas, por que não terminaram o serviço? Ele precisava descobrir.

Antes de o sol nascer, saltou da cama e tomou um verdadeiro banho, preparando-se para o tempestuoso dia que estava para começar. Desceu as escadarias e foi até o cômodo no qual eram trazidas as refeições, ordenando que os criados se apressassem em servir seu desjejum.

Seu peito arfava de tanta ansiedade. Após se alimentar, olhou pela janela e viu que o céu estava clareando. Em passos apressados, seguiu os atalhos do castelo que davam acesso à torre. Subiu a escada em espiral até o topo, onde ficava a entrada do quarto.

Virou-se para a dupla que ali se encontrava.

— Proíbam Charlotte de sair em qualquer hipótese. Nem mesmo Hazel pode tirá-la do quarto, a não ser que seja de minha vontade que a libertem. Virei aqui pessoalmente e darei a notificação quando isso ocorrer. Agora, deixem-me passar!

Abriram espaço e o rei chutou a porta, adentrando o local. A princesa despertou, apavorada, puxando as cobertas para si, temendo o que poderia ser feito.

— Papai? O que veio fazer aqui a essa hora?

— Vim para fazê-la pagar por ter novamente desobedecido minhas ordens! Todos aqueles que desrespeitam um rei merecem sofrer da pior maneira! — Lothar puxou os cobertores com força e os lançou sobre o chão. Deu a volta pela cama da filha, enquanto esta pulava pelo outro lado em uma inútil tentativa de abrir a porta e fugir.

— Por favor, não faça isso! — Charlotte implorava. — Nada do que fiz foi por maldade. Estávamos indo nos despedir dele para respeitar o que o senhor havia mandado.

— Pensa mesmo que acreditarei em suas mentiras?! — Lothar gritou, erguendo ameaçadoramente a clava que trazia em suas mãos. — Descumpriu com as regras, garota. Nunca dou segundas chances às pessoas e ainda abri exceções a você. Deveria compreender o que lhe foi destinado assim que deixou o palácio sem o meu consentimento.

— Mas, se eu pedisse, o senhor não permitiria que eu fosse! — Ela havia herdado sua coragem para bater de frente com as pessoas. Lothar reconhecia isso, visto que as outras garotas da corte apenas abaixam a cabeça e obedeciam à risca o que seus pais lhes ordenavam. Isso o tirava do sério, pois a situação poderia sair de seu controle conforme o crescimento da filha. — Nunca teve vontade de me conhecer direito e saber de meus sentimentos. Elliot era meu único amigo verdadeiro!

— Então fique satisfeita ao saber que, por sua causa, esse sujeito que você chama de amigo será morto hoje mesmo! — gritou, cuspindo acidentalmente em seu rosto. — E não será o único. Assim, finalmente a ensinarei a deixar de ser insolente!

— Não!

Lothar golpeou a filha com o objeto. A garota gritou de dor, utilizando as pequenas mãos para tentar afastá-lo. O ataque deixou uma marca vermelha na pele. Assim como ele no passado, todos deveriam receber lições ruins para aprender como o mundo era.

Observando a dor de Charlotte, prosseguiu com a tortura.

...

Parte de seus objetivos havia se concluído com êxito. Sem perder tempo, convocou uma reunião de última hora com todos os membros pertencentes à segurança real. Aguardando a chegada destes, ficou diante de uma mesa circular de pedra em uma sala construída especificamente para a ocasião. Um ambiente escuro, pois suas janelas e cortinas se encontravam fechadas e a iluminação vinha apenas das lâmpadas presas ao lustre encontrado acima da mesa e pendurado no teto gigante.

Deu a primeira palavra.

— Durante a manhã de ontem, fui atingido com uma pedra na cabeça na floresta onde estávamos. Fiquei inconsciente por horas e despertei somente quando a noite havia chegado. Não havia cidadãos por perto e o golpe foi muito forte e certeiro para alguém que não sabia lutar. — Ficou em silêncio por um tempo, encarando os olhares de todos os presentes. — Acredito que possa ter sido um de vocês.

Eles ficaram em silêncio, fitando uns aos outros como se consentissem com o que tinha sido dito e soubessem qual deles era o culpado. Como nenhum deles prosseguiu com o assunto, Lothar resolveu fazer a pergunta de forma mais direta.

— Quem tentou me matar?

— Meu rei... — arriscou um deles. Seu medo era perceptível através do tom de voz. — Quando nos mandou para o castelo, Gregory nos acompanhou até um certo percurso, porém, depois desapareceu. Dissemos que não deveria ter feito isso, pois estaríamos indo contra as ordens que nos foram feitas, mas ele não retornou conosco.

Gregory não tentou se defender.

Lothar respirou fundo, com falsa tranquilidade, tomando um gole do cálice de vinho que sempre o acompanhava aonde ia. Mesmo sem a taça estar vazia, apanhou a jarra e a encheu novamente até a boca. Estava disposto a ingerir o líquido inteiro do recipiente de vidro.

— Desde o momento em que começaram a fazer parte deste grupo, fizeram-me um juramento. Quero que repitam exatamente as palavras que foram proferidas naquele dia.

Com as mãos posicionadas no peito, todos responderam em uníssono:

— “Como um membro da Segurança do Rei, juro pela minha alma e pela minha vida que servirei e obedecerei meu soberano até meu último suspiro de vida. Oferecerei minha própria vida para os serviços reais e proteção de nosso reino e jamais cometerei traição”.

— Diante deste juramento, peço que respondam: qual seria a punição para aquele que comete o crime de traição? — Lothar fitou Gregory com um sorriso satisfeito no rosto, expondo o ódio e a fúria que sentia, fazendo o homem tremer de medo.

— Condenação à morte! — disseram, em uníssono.

— Sendo assim... — Ele empurrou o assento para trás e socou a mesa, liberando os sentimentos negativos que o preenchiam naquele instante. — Amarrem Gregory Muirden e levem-no ao enforcamento! Dessa vez, não haverá prisão antes da execução. Espalhem para todos os que habitam no reino e os convoquem para assistir!

Greg sacou a espada e derrubou a cadeira, correndo o mais depressa possível para fugir dos obedientes capangas que estavam dispostos a conduzi-lo para a morte. Com uma mão livre, sacou a adaga presa ao cinto e a lançou na perna de um dos inimigos, que se contorceu e caiu. Uma lança foi arremessada e Lothar não soube dizer por quem, mas não acertou o fugitivo. Greg se virou para a direita, seguindo por outro corredor, enquanto a lança derrubou um vaso que se espatifou no chão.

O guerreiro conseguiu matar um guarda, golpeando-o na garganta. Um dos outros conseguiu segurá-lo por um tempo, mas o traidor foi mais forte e se soltou sem muitas dificuldades. Ambos iniciaram um duelo de espadas.

O segundo guarda foi ferido, mas tirou o equilíbrio do fugitivo. A queda permitiu que os sobreviventes o cercassem e eliminassem as chances de escapatória. Gregory abaixou as armas. Em um gesto ordenado por Lothar, todos fizeram o mesmo e abriram caminho para o rei entrar no círculo.

“Gregory não teve a audácia de mentir para contornar a situação. Não havia provas concretas de que tentou me matar, mas concordou que era o culpado e viu a fuga como a melhor solução. Algo em seu olhar me é familiar...”

Foi então que veio à sua mente o dia em que o irmão mais velho foi envenenado diante de todos, em um banquete feito para receber os convidados da nação do sul. Horace Wildshade tinha um bom coração e isso era percebido por todos, porém, sua vida foi tirada de forma brutal e fria. Lothar não podia deixar que a lembrança de seu irmão o abalasse justamente naquele momento.

— Prendam-no com as algemas. — Respirando fundo, olhou mais uma vez para o condenado. — Este será seu fim, Gregory Muirden.

“Um rei jamais cairá perante um soldado”.

Atravessou os portais, chegando cada vez mais perto da Praça da Execução, construída especialmente por ele como palco de suas principais atividades de tortura.

Sorriu, sentindo o doce sabor da vitória novamente.


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Notas finais do capítulo

Então, gente, gostaram?
Quero a opinião de vocês, saber qual personagem vocês preferem, o que vocês acham que vai acontecer no desenrolar da história. Preciso saber o que os meus leitores pensam