Hastryn: Ascensão escrita por Dreamy Boy


Capítulo 42
O Alvo


Notas iniciais do capítulo

As emoções continuam!
Prestem bem atenção nas descrições. Tem uma pista sutil nesse capítulo pra algo que irá aparecer nos próximos!



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Susan

A euforia no campo de batalha diminuía aos poucos. O número de cidadãos batalhadores pertencentes ao norte reduziu imensamente, de modo que os restantes fossem obrigados a deixar suas armas no chão e se render ao sul caso desejassem sobreviver e retornar vivos a seus respectivos lares e famílias.

Elliot e Susan se apiedaram deles, pois não tinham culpa de serem liderados por um tirano como Lothar. Após a morte heroica de Ulrick, que era um guerreiro habilidoso, perderam de vez as esperanças de vencer o conflito e optaram pelas próprias vidas ao invés de arriscá-las mais ainda sem conseguir alterar os resultados já definidos.

— Retirem as armas de suas mãos e os reúnam encostados nos postes e paredes das construções que não foram afetadas pelo fogo das flechas! — ordenou Elliot, sem demonstrar fraqueza e sentimentalismo perante os adversários. Susan conhecia o coração do marido e sabia exatamente o que se passava em sua mente, compreendendo a atitude do homem. — Fiquem de vigia e impeçam que fujam.

Os soldados aliados assentiram e o obedeceram, empurrando os homens e rapazes, colocando-os em várias fileiras de aproximadamente cinco ou seis pessoas em cada. Desse modo, ficava mais fácil o controle e organização dos reféns, evitando que houvesse chance de escapatória.

— Devemos caçar o rei pelo restante da cidade até encontrá-lo. — afirmou Susan, lembrando ao marido sobre a dificuldade de realizarem aquele objetivo. Arroway era imensa e Lothar poderia ter se escondido em qualquer canto dentro ou fora de seu lar. — Começaremos pelo óbvio: o castelo. O rei deve ter corrido imediatamente para seus aposentos e se trancado para todos os que pudessem procurá-lo, temendo que pudesse haver traição.

Elliot balançou a cabeça positivamente e o casal seguiu na direção do palácio. Entretanto, ouviram sons de construções desabando e animais gritando furiosamente. O campo de batalha foi atingido com mais fogo, que aparentemente vinha dos céus.

Arrepiados, olharam para cima.

— De onde isto veio?

Susan sabia.

— Provavelmente das Montanhas Assombradas, que é a região mais próxima onde podem habitar. Mas esses não passam de filhotes em fase de crescimento!

Uma serpe voava até os soldados amarrados. Impedindo que a criatura matasse pessoas vulneráveis que não poderiam se defender, os membros do exército sulista formaram uma barreira na frente das fileiras, erguendo suas armas e tentando repelir o ataque veloz. Elliot e Susan retornaram ao local, dispostos a defender todos os presentes, inclusive os reféns pertencentes à nação rival.

O gesto não foi o suficiente, pois a serpe estava interessada em devorar a maior quantidade possível de carne, arrancando a cabeça de dois soldados ao mesmo tempo e partindo para cima dos indefesos, causando uma destruição em massa nos seus corpos, devorando as tripas e cuspindo os ossos. Com a cauda venenosa, o monstro atingia alguns soldados que tentavam inutilmente afastá-la dos demais, aterrorizando os reis do sul e os obrigando a pensar em uma estratégia diferente e rápida.

— Precisamos de uma espada cujo aço seja forte e resistente para cortar a cauda inteira. — Susan refletiu, relembrando de algumas aulas de História das Criaturas, sua disciplina favorita. — Com isso, a serpe terá um trunfo a menos e essa poderá ser nossa oportunidade para começarmos a tirar vantagem.

— Elas percebem quando os inimigos se aproximam... Nesse caso, alguém deve servir como distração para que possamos atacá-la por trás e retirarmos a cauda?

— Exatamente!

Os guerreiros lutavam pela frente do animal, pois não conseguiam pensar racionalmente quando suas vidas estavam em jogo. Contudo, muitos realmente não sabiam a verdadeira forma de eliminar um monstro como aquele, tendo dificuldades para saber como lidar em uma luta. Além disso, estavam exaustos.

Aproveitando que seus homens tomavam a atenção do réptil por completo, os monarcas foram cuidadosamente chegando perto da cauda, pois um toque desta em suas peles seria fatal. Os passos foram fortes o suficiente para que fossem ouvidos e o bicho se virasse, fazendo ambos saltarem para lados diferentes e ficarem distantes um do outro.

— Susan, vá! — Elliot gritou de maneira proposital, tentando atrair os olhares arrepiantes da criatura. Compreendendo a ordem, a rainha não perdeu tempo e correu na direção do rabo da fera. Com o uso da espada que tinha em mãos, separou aquela parte do restante do corpo, provocando uma grande dor.

A serpe gritou de forma ensurdecedora, obrigando os mais próximos a largarem tudo o que seguravam e colocarem as mãos sobre os ouvidos para que não ficassem surdos. Em seguida, abaixaram-se para apanhar de volta os objetos, pois a batalha ainda não havia terminado.

— Está tudo bem? — Elliot demonstrou preocupação, conseguindo retornar para o lado da esposa. Susan respirou fundo e assentiu. — Seja forte. Quando todo esse pesadelo acabar, seremos recompensados.

— Assim espero.

Com a falta do rabo, o réptil se tornava muito menos ameaçador. Mas ainda havia suas presas e garras, capazes de perfurar um indivíduo em questão de segundos, mesmo que alguns preferissem torturá-lo e tirar sua vida devagar. Pensando por esse lado, nenhum dos lutadores comemorou vitória antes da hora certa, concentrados em acabar com aquilo de uma vez por todas.

Elliot atacou por baixo, junto de seus aliados que o protegiam quando necessário fosse. Optando por outra estratégia, Susan escalou uma parede quase que inteiramente intacta pertencente a uma casa destruída por dentro e esperou sua chance. Chance que viria assim que o animal parasse o mais próximo possível dali e permitisse diversas formas de ser golpeado.

O rei corria até a construção, percebendo o que havia sido planejado de última hora. Susan se posicionou e, no momento certo, saltou daquela altura imensa com a espada direcionada à cabeça da serpe. Quando a lâmina a perfurou, sangue escorreu pela boca do bicho, que se contorcia de forma desesperada. Para que fosse morto rapidamente, Elliot cortou sua cabeça e desviou antes que o sangue jorrado sujasse a armadura e as vestimentas de guerra.

Susan desceu e foi até o marido, abraçando-o. O abraço persistiu por cerca de cinco minutos, pois a esposa estava emocionalmente abalada. Jamais acreditaria ser capaz de enfrentar algo como aquilo, a não ser que fosse para proteger alguém que realmente amasse e de alguma forma despertasse uma força na qual não sabia da existência. Viu-se de súbito pensando no pai.

Em algum lugar, Vincent Prince provavelmente estaria orgulhoso.

 Houve um silêncio assustador em todo o campo de batalha. Extremamente curiosa, Susan se soltou de Elliot e olhou ao redor, encontrando expressões de medo e descobrindo que praticamente todos seguravam a respiração. No entanto, não compreendia o motivo daquilo, visto que haviam destruído o mal que os atormentara minutos antes.

Somente quando se virou para trás, Susan descobriu o que era.

Todos estavam muito cansados, com poucas forças para enfrentar mais um réptil gigante. Elliot e Susan se esforçavam para repetir a estratégia utilizada anteriormente, mas a serpe voava por todo o cenário, contemplando as vítimas para escolher qual deveria ser a primeira. Durante esse tempo, respiraram fundo e pensaram no que fazer.

O olhar da fera encontrou o da jovem e ela expôs o que pensava.

— Eu sabia.

Em uma das mãos, preparava a espada extremamente suja de sangue. A outra se encontrava livre para apanhar o escudo de algum morto que estivesse próximo dali.

A serpe, que tinha duas flechas lançadas em seu pescoço, voou em seu encalço, mas Susan cortou o ar exatamente nesse momento. Antes de ser atingida, a criatura conseguiu desviar e circundar a guerreira, mas os reflexos desta eram rápidos o suficiente para que não fosse surpreendida em um ataque por trás.

Susan fugiu a tempo de apanhar um escudo jogado sobre o chão de areia. Erguendo o objeto, repeliu as chamas que foram lançadas em sua direção, protegendo-se do ataque. Em seguida, ficou concentrada e procurava um ponto fraco no corpo do animal. Um local em que uma arma poderia ser lançada para fragilizar seu estado e facilitar os ataques simultâneos de outros guerreiros.

 — Irei distraí-la.

— Você enlouqueceu? — Elliot arregalou os olhos, sem concordar com a atitude premeditada da mulher. — Se fizer isso, irá morrer! Há outra medida a ser tomada.

— Então me diga... Qual? — A jovem perguntou, já sabendo a resposta. Quando o marido ficou sem saber o que responder, Susan tornou a falar. — Não existe nenhuma outra.

Com esse pensamento, Susan deu seus passos em direção ao monstro e berrou, disposta a arrancar a pele inteira da serpe caso fosse possível. Por seu povo, a rainha faria qualquer coisa, inclusive um sacrifício caso houvesse a necessidade.

A serpe lançou mais rajadas fortes de fogo, atingindo corpos de mortos e também de vivos, que corriam desesperados e batiam nas próprias vestimentas nas inúteis tentativas de apagar as chamas que somente se espalhavam e destruíam seus órgãos e tecidos. Susan teve medo de ser uma daquelas pessoas, mas não medo o suficiente para recuar ou se esconder.

Ela morreria lutando.

Conforme se aproximava da fera, manteve o escudo erguido para repelir os ataques do animal. Entretanto, uma das garras cortou uma parte de sua roupa, mas não chegou a fazer cortes na pele. Susan silenciosamente agradeceu aos deuses, pois poderia ter sido envenenada naquele momento.

Enquanto isso, Elliot ordenava os homens a apanharem cordas soltas espalhadas pelo chão e amarrarem as patas da serpe, para tirar seu equilíbrio e trazer mais chance de ataque frontal e traseiro. Dessa forma, cercariam o bicho.

De longe, aquele era mais forte que o réptil morto. Ambos eram filhotes, mas o segundo aparentava ser mais experiente nas habilidades defensivas, sem vacilar como o anterior. A criatura se debatia sem parar, impossibilitando as tentativas de amarrá-la.

Virando-se para Elliot, ergueu uma das patas e a mirou no rosto do rapaz, mas a ruiva foi mais rápida e conseguiu correr até sua frente, passando a ser o alvo. A garra atingiu o pescoço de Susan e a moça imediatamente começou a sentir o veneno.

— Não! — gritou Elliot, com os olhos ardendo de fúria. A visão e a audição de Susan ficavam cada vez mais fracas, de modo que não conseguia compreender direito o que acontecia ao redor. Com a ajuda de três guardas, a rainha foi transportada para longe da serpe e deitada sobre um corpo qualquer, para que sua cabeça não ficasse encostada no chão.

Foi quando ouviu um berro vindo do animal. Berro forte o bastante para que conseguisse despertar um pouco e entender o ocorrido. Elliot conseguira cravar a espada em seu peito e sangue jorrou para todos os lados. Aproveitando-se de sua fraqueza, o jovem cortou a cauda venenosa e atacou a serpe pelas costas, tirando sua vida.

Em meio à intensa dor, a rainha de Horgeon sorriu, aliviada. O marido havia sobrevivido e tinha conseguido salvar o restante de seu povo. A batalha estava vencida e os costumes e tradições sulistas se espalhariam por todo o continente. O legado dos Prince permaneceria vivo, mesmo que os membros dessa família estivessem mortos. Ela estava satisfeita.

— Susan, não vá embora! — Elliot se ajoelhou ao seu lado, segurando uma de suas mãos e a beijando com carinho. — Por favor, resista a isso! Você é capaz!

— Meu querido, chegou a minha hora...

— Isso não é justo! — O homem chorava desesperadamente, pois aquela era a primeira pessoa importante cuja morte estava sendo presenciada por ele. — Mesmo que não existissem muitos planos, imaginávamos sair juntos dessa e organizaríamos nossos reinos em conjunto. É impossível que eu prossiga sem sua presença! Juro que farei Lothar pagar por suas maldades!

— É da vontade dos deuses que eu parta nesse momento... — Susan se esforçava para continuar falando, recuperando um pouco do fôlego. Não poderia ir embora sem dizer aquilo que se passava em sua mente e a torturou por muitos anos. — Há algo que quero falar.

Atônito, o marido apenas assentiu, pronto para ouvir.

— Fizemos um acordo para você subir socialmente e juntos conseguirmos nossa vingança contra os Wildshade...

— Sim...

— Mas jamais teria aceitado ou até mesmo cogitado essa ideia caso realmente não amasse a pessoa com a qual estava me casando. Não importa se era com Wolfric Luckov ou Elliot Trannyth, mas... eu... te... amo.

Finalmente se sentindo livre para partir, Susan Prince fechou os olhos para sempre, com um sorriso no rosto. A jovem estava pronta para cruzar as portas para o Paraíso.


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Notas finais do capítulo

Não sei qual vai ser a reação de vocês, mas pensem o seguinte:
A Susan foi criada para ser uma personagem forte, com pouca passagem, mas com uma moral muito bonita pra ensinar. Ela foi a pessoa que não só salvou o Elliot, mas protegeu ele e fez com que ele virasse rei ao lado dela.
É o que eu disse sobre cada personagem (que se foi) ter tido uma explicação e um motivo ideal pra isso. Ela era jovem, mas estava sem o pai, sem a família e, mesmo que amasse o Elliot, não via muita razão pra continuar viva a não ser ele.
O que acharam do capítulo? Quero saber a visão de vocês ♥



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