Hastryn: Ascensão escrita por Dreamy Boy


Capítulo 41
Ódio


Notas iniciais do capítulo

Eu imagino que ódio seja o que vcs estão sentindo de mim agora, mas vamos lá
Boa leitura!!!



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Charlotte

Charlotte se apavorava ao ouvir os gritos que vinham de áreas um pouco distantes ali, provavelmente próximos de onde acontecia o intenso massacre, no qual muitos soldados eram dizimados. Gritos vindos de feras aparentemente gigantes e extremamente agressivas, fazendo-a temer pela vida dos que batalhavam fora dos muros fortificados que protegiam os arredores do castelo onde estava abrigada.

— Katherine está demorando a aparecer — A princesa tentou falar baixo, sem chamar a atenção dos pequenos gêmeos que se entretinham com as outras crianças. Cedric e Daevon pareciam ter se esquecido da guerra que os cercava, o que era um grande alívio para Hazel, Charlotte e Diana. — Já deveria ter chegado. Está correndo perigo ao continuar andando pela cidade.

— Caso não esteja retornando nesse momento, provavelmente não conseguiu encontrar Evelyn. — concluía Hazel, cogitando as hipóteses possíveis. — Espero que esteja longe das batalhas.

— Eu devo ir atrás dela.

— Não diga asneiras! As crianças necessitam de nossos cuidados e estranharão o fato de que a princesa sairá de repente, podendo se lembrar do risco de morte de suas famílias.

— Fique com Diana e, junto com as outras mães, atraia a atenção dos pequenos. Assim, não sentirão minha falta tão cedo. — Charlotte chegou mais perto de seus ouvidos, para sussurrar o que não poderia ser dito em voz alta. — Katherine e eu estamos fazendo parte de um plano por trás desse conflito. Portanto, não posso deixar que seja morta no meio da realização dele.

Hazel engoliu em seco, sabendo que não havia nada que pudesse impedi-la de ir atrás da amiga. Conhecia a princesa que criara desde que era um pequeno bebê, sabendo que a única solução plausível seria concordar com sua atitude.

— Vamos juntas.

Alertaram Diana sobre o que precisaria ser feito e como deveria lidar com os príncipes, para que ambos não causassem problemas para a enfermeira e as outras crianças presentes. Diana se reuniu com as mães e iniciaram a tarefa.

Em seguida, caminharam pelos cantos dos pátios em direção aos estábulos, onde muitos cavalos foram retirados para participarem do conflito. No entanto, ainda havia uma pequena quantidade de montarias disponíveis, provavelmente para casos de emergência. A égua Lacey era uma delas, a favorita de Charlotte.

Sobre o animal, galoparam até um dos portões e atravessaram a ponte levadiça, seguindo um trajeto cauteloso pela cidade, evitando locais em que pudessem acidentalmente se deparar com um cidadão sulista e iniciar um combate físico.

Arroway estava quase que inteiramente destruída.

Fumaça se espalhava por todos os lados. Charlotte tossia ao adentrar a neblina formada pela poluição de ar que fora causada pelo fogo. As chamas invadiam casas, estabelecimentos e construções no geral, dificultando a visão de ambas.

Suor escorria de suas testas conforme Lacey prosseguia com a caminhada pelo percurso indicado. Charlie sabia exatamente onde se situava o Rosa Indomável, pois recebera instruções da própria rainha em um dia que esta decidiu visitar a irmã, sem notificar Lothar e passando despercebida pelos seguranças.

Mulheres corriam na direção do castelo, com roupas e vestidos deslumbrantes, acompanhados de joias penduradas no pescoço e brincos presos às orelhas. Conforme chegavam mais perto, facilitavam o reconhecimento que era atrapalhado pela neblina. Provavelmente eram as prostitutas que trabalhavam no mesmo bordel para onde se locomovia para encontrar a rainha.

Charlotte desceu da égua e foi ao encontro destas.

— Vocês sabem onde Katherine está? — Seu corpo tremeu, pois tudo dependia do que estas diriam. Poderiam ter a resposta sobre sua exata localização naquele instante.

Uma das meretrizes a respondeu.

— Ela nos achou escondidas em um quarto no Rosa Indomável, ordenando que viéssemos ao castelo para pedir ajuda e alegando que deveriam nos acolher se não quisessem enfrentar problemas depois. Depois disso, partiu com seus soldados atrás de Evelyn, que havia saído com Thomas antes de sua chegada para procurar um esconderijo melhor.

Outra jovem, que estava ao seu lado, deu continuidade ao relato.

— A cidade não estava assim quando saímos, mas logo depois ouvimos a chegada daqueles monstros gigantes. Fugimos com medo de sermos atacadas por eles, mas não sabemos quem conseguiu sobreviver ao ataque!

Charlotte e Hazel se entreolharam, preocupadas com a sobrevivência de Katherine. Os riscos apenas aumentavam, de modo que não tinham pistas sobre onde a mulher estava ou o que poderia realmente ter ocorrido.

— Contornaremos a rota! — A jovem disse para a ama, que assentiu, concordando. — Torçamos para que Kath esteja apenas escondida em um local seguro, aguardando uma oportunidade de voltar ao castelo. Não quero pensar em outras possibilidades...

— Que os deuses não tenham permitido isso!

Charlotte se despediu das prostitutas, indicando o caminho exato para chegar ao castelo de forma mais rápida. Em seguida, tornou a montar em Lacey e prosseguir com a busca por Kath. O animal era dotado de grande velocidade, o que facilitava a procura por pessoas em um cenário extenso como Arroway.

A neblina diminuía aos poucos, permitindo que enxergassem com mais facilidade as ruas onde passavam. Alguns corpos estavam sobre o solo, perfurados com armas ou divididos ao meio. Outros tinham um aspecto pior, pois foram carbonizados e devorados pelas feras que aterrorizavam a cidade. Charlie não desejava cruzar o caminho daquelas criaturas, desejando que os guerreiros conseguissem exterminá-las.

Nesse contexto, viu-se de súbito pensando novamente em Elliot Trannyth, o atual Wolfric Luckov. O rapaz havia mudado bastante nos cinco anos e se casara com uma princesa sulista, de modo que não deveria fazer mais parte dos pensamentos românticos de Charlotte. Além disso, esta também era uma mulher casada e senhora de uma nova família, tendo duas adoráveis crianças que dependiam de seu amor e seus cuidados. Principalmente devido ao perigo que Ulrick corria ao participar da guerra, trazendo a ela o medo de que Richard e Elizabeth também o perdessem.

O calor era insuportável, obrigando-as a rasgaram algumas partes de suas vestimentas para amenizá-lo, deixando de se importar com a vaidade ou os bons costumes, mesmo que isso fosse contra os princípios de uma mulher respeitável.

Respiraram fundo.

Cadáveres de guardas se espalhavam pela areia quente, formando uma imensa poça de sangue. Trêmulas, chegaram mais perto para tentar reconhecer as antigas vidas por trás daqueles corpos destroçados e queimados.

— São os guerreiros que acompanharam Katherine!

Hazel ficou paralisada, boquiaberta e com os olhos arregalados. Era a responsável por proferir palavras positivas, alegando que as pessoas deveriam ter a fé de que seus queridos sobreviveriam àquela tormenta, mas nem mesmo ela era capaz de acreditar que a rainha havia conseguido fugir da morte.

— Ainda não podemos desistir!

Um sentimento de agonia e desespero preencheu os corações de ambas. Não sabiam o que esperar, o que iriam encontrar, ou até mesmo se descobririam o paradeiro de Katherine. Charlotte e Hazel controlavam as lágrimas, pois ainda não haviam perdido as esperanças.

Pararam diante de um largo beco, onde um corpo único se encontrava dividido ao meio a uma curta distância. Conforme a égua se aproximava, o medo da princesa aumentava. Medo de que seus pensamentos inseguros se tornassem realidade.

As pernas estavam separadas da parte de cima, como se o monstro tivesse lançado a pessoa para longe durante o ataque. Foram atingidas pelas chamas da criatura, estando completamente queimadas.

Para acabar de uma vez por todas com a dúvida que a atormentava, dirigiu-se ao restante do cadáver. Encontrou uma jovem de cabelos louros dourados, cujos olhos verdes e arregalados perdiam aos poucos a cor brilhante. O vestido estava completamente rasgado e chamuscado, perdendo a elegância que tinha antes.

— Não!

Charlie se ajoelhou sobre Kath, incrédula com a perda da amiga. Os olhos lacrimejaram e a princesa permitiu que as lágrimas finalmente escorressem sem parar, libertando todo o sofrimento guardado em seu coração desde o início daquele conflito. Elliot, Katherine e Ulrick eram os únicos com quem mais se importava e verdadeiramente temia suas mortes, sem saber o que faria caso um dos três partisse.

— Perdoe-me por não ter vindo a tempo de resgatá-la!

Hazel se juntou a ela, colocando a mão sobre seu ombro e beijando seu rosto. Também estava chorando, mas de forma silenciosa e mais controlada do que a princesa. Era mais reservada, desabando apenas quando estivesse em um cômodo fechado, sem ninguém por perto.

Charlotte havia chegado ao limite. Não conseguia pensar em mais nada além do arrependimento de não ter salvado a rainha. Por causa disso, os gêmeos seriam órfãos de mãe e, caso Lothar sobrevivesse à guerra, poderiam ser criados da mesma maneira que a princesa. Principalmente Daevon, que era um garoto diferente e detestava seguir o exemplo do rei. Aquela não era a hora de Katherine morrer. Era muito jovem e tinha anos de vida pela frente.

A Princesa de Arroway se levantou, secando os olhos e colocando os pensamentos em ordem. Criaturas aladas, conhecidas por habitar montanhas e locais que não eram nem um pouco próximos de Arroway. A propósito, dificilmente a cidade era invadida monstros como aqueles. Havia apenas relatos de séculos antes, quando dragões e serpes existiam em maiores quantidades e procuravam alimentos em outros cenários fora de seus habitats.

— Hazel, os animais que fizeram isso foram trazidos até aqui!

— Como assim?

— Lothar fez uma viagem demorada às Montanhas Assombradas, junto de meu marido. O motivo que Ulrick me disse era falso, pois sei quando as pessoas estão mentindo para mim. Além disso, parecia estar escondendo várias coisas relacionadas ao assunto. A verdade é que, de uma forma que não sabemos, o rei tinha conhecimento sobre o início da guerra e trouxe essas criaturas para matar os soldados inimigos. É a única explicação para terem vindo até Arroway, quando existem outros seres mais próximos que possam servir de alimento.

A ama ficou em silêncio por alguns segundos, analisando e processando as informações ditas, compreendendo-as e concordando que os fatos poderiam ser verdadeiros. Havia grandes possibilidades de Lothar ter planejado tudo desde o começo, estando ciente do que o esperava.

— E nós pensávamos que o dominaríamos...

— Ainda há tempo. Seu castigo acontecerá no momento certo. — Charlie tremia de ódio, falando em tom baixo. Estava pior do que no dia em que roubara o chicote das mãos do homem e surtara na frente da família. — Farei pessoalmente meu pai pagar por ter executado pessoas inocentes por essas décadas inteiras e causado a morte de Katherine. Voltaremos ao castelo e iremos diretamente ao arsenal!

— O que fará no arsenal? — Hazel estava assustada com suas palavras, pois jamais a havia visto daquela forma. — Um assassinato não é um ato digno de pessoas de bem. Por favor, não suje suas mãos com um ser tão cruel como ele!

Charlotte a ignorou. Direcionou um último olhar ao corpo, dizendo:

— Katherine, prometo que voltarei e carregarei seu corpo comigo. Será enterrada de forma merecedora de uma grande rainha que Arroway dificilmente terá.

Ordenou que Lacey retornasse por onde vieram. Quanto mais cedo chegassem, melhor, pois colocaria em prática seus planos guardados na mente até a hora em que surgisse a oportunidade perfeita para se vingar do pai e trazer dias melhores a Arroway. Faria o monstro provar do próprio veneno. Sabia que Lothar apareceria assim que o conflito se encerrasse e faria uma reunião para notificar aos cidadãos sobreviventes sobre a vitória do reino. Para impedir que isso acontecesse, Charlotte precisaria ser rápida. 

Os anos de treinamentos de caça na floresta coordenados por Ulrick trouxeram habilidades primorosas à princesa. Eram pouco utilizadas, mas não a ponto de perder o hábito. Sempre que conseguia tempo livre e disposição, andava até os bosques para exercitar tiro ao alvo e trazia carne fresca à noite para o marido e os enteados.

 

Nos períodos de profunda tristeza causados pelas perdas dos bebês em seu ventre, evitava encontrar pessoas que não fossem as de sua nova família. Portanto, assim que recuperava suas forças, treinava nas áreas arborizadas próximas da mansão. Se sentisse vontade, poderia entrar no campo de batalha escondida, mas seu maior desejo era o de cuidar dos que amava e de se distanciar daquele conflito insano.

Suas práticas finalmente seriam colocadas em prática. Massacraria o homem que se dizia rei de uma nação que o amava. A princesa, no início, também compartilhava desse sentimento, desejando ser próxima de seu parente e tratada com afeto pelo mesmo.

Entretanto, agora apenas sentia ódio.


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Notas finais do capítulo

Agora faltam sete!! o/



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