Hastryn: Ascensão escrita por Dreamy Boy


Capítulo 27
As Divindades Grimwerdianas


Notas iniciais do capítulo

Reconheço esse capítulo como bastante esclarecedor, assim como alguns da Parte II estão sendo. Aqui, saberão muita coisa citada no prólogo de uma forma um pouco mais detalhada e aprofundada.



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Wolfric

Aaron gostava de estudar a história de Grimwerd, assim como o irmão mais velho quando pequeno. Nos momentos vagos e oportunos, onde nenhum dos dois se encontrava praticando esgrima, arco ou qualquer outra forma de caça nos campos, Wolfric conduzia o menino até a Grande Biblioteca de Horgeon para ensinar pouco a pouco dos conhecimentos que havia adquirido em sua vida. Formulara uma linha do tempo em sua mente, organizando os fatos relatados nos pesados exemplares repletos de informações que ocupavam as prateleiras do ambiente. Algumas delas eram complicadas demais de se decifrar, sendo preciso ter mais paciência e dedicação para tal êxito.

Wolfric recapitulava a primeira parte da história, que considerava de extrema importância para o aprendizado da criança. Uma parte omitida ou pouco conversada nas aulas oficiais dos reinos. Nunca seria capaz de entender o motivo dessa omissão, mas preferia não questionar o que já estava feito, pois não tinha autoridade suficiente para tal atitude.

— Quando as divindades criaram nosso mundo, ele foi dividido em muitas e diferentes populações. Além de nós, humanos, existiram e ainda existem outras criaturas, como dragões, ogros, serpes, além das mais variadas criaturas marinhas como as perigosas e temíveis sereias. E também, é claro, os animais comuns que você já conhece. Aqueles que existem em nossos bosques ou até mesmo na cidade, servindo de veículos para comercializar produtos.

— Essas sereias... Como são?

— Em sua forma verdadeira, são criaturas horrendas com cabelos espetados, dentes grandes e pontudos e uma extensa cauda de peixe. São perigosas por possuírem uma magia além do normal, capaz de atrair jovens até os locais onde estão, através de uma bela voz e aparência de jovem. Mas tudo o que aparentam ser é mentira, portanto, devemos tomar cuidado sempre que estivermos perto de uma. São animais carnívoros que podem assassinar a qualquer um.

— Já precisou enfrentar alguma pessoalmente?

Wolfric respirou fundo, antes de responder com sinceridade.

— Bem, sim, mas isso é história para outro dia. O que importa é que Susan e eu conseguimos sobreviver a essa aventura e, em algum momento, revelaremos tudinho a você. Mas há algo que quero lhe mostrar desde que cheguei. Inclusive já falamos sobre isso.

— O que é? — O menino se empolgou e arregalou os olhos, à espera do fim do mistério, mostrando-se profundamente curioso sobre o assunto. Wolfric riu, retirando das vestimentas um pedaço de papel dobrado. Depois de desdobrá-lo, foi mostrado um longo mapa de Hastryn do Sul, com todos os detalhes necessários para entender a região e se situar durante expedições.

— Nós o construídos durante a nossa aventura, já que todos os outros mapas eram muito antigos e não detalhavam muito bem o continente do jeito que está nos dias de hoje. Você poderá usá-lo quando for maior e estiver pronto. Servirá por bastante tempo, antes que seja sua vez de fazer um novo e nos mostrar o resultado.

Horgeon se localizava no canto inferior esquerdo, circundada por alguns navios que simbolizavam os portos da cidade. Mais à cima, a paisagem era composta por florestas e montanhas, habitadas por algumas das criaturas que estudariam em breve. No centro, uma estrada conduzia a Cidade-Mãe do continente até a ponte que interligava os territórios das nações norte e sul. O vilarejo de Sarenth ficava logo abaixo, entre altas colinas arborizadas e visível somente dos locais mais altos. Ao leste do continente, todo o espaço era preenchido pelas terras aterrorizantes de Fauth, a Floresta Selvagem e a Enseada das Sereias. Acima da estrada, situava-se Allaren, a cidade mais próxima da ponte. Wolfric tinha planos de fazer uma versão nortenha e expandi-lo, mas não correria riscos ao explorar o território enquanto pertencesse aos Wildshade.

— Genial! — Aaron comemorou, fitando cada detalhe do papel. — Quero participar dessas aventuras, irmão! Não vejo a hora de ficar grande e sair em busca da minha própria.

— Um dia terá sua oportunidade, acredite nisso. Será alguém importante que representará nossa nação de forma heroica. Sei que é isso que deseja e que será capaz.

Os Trannyth ouviram passos se aproximando da biblioteca e encerraram o diálogo, aguardando quem estava por vir. A porta de madeira se abriu e Susan apareceu, com os olhos cheios de lágrimas e o rosto avermelhado. Wolfric olhou seriamente para o irmão, que entendeu o pedido e se retirou. Em seguida, pensou nas melhores palavras que poderiam ser utilizadas.

— O que aconteceu?

— Meu pai piora a cada dia. Pode ser que morra a qualquer instante.

Susan Prince era a única filha do Rei Vincent e tinha vinte anos. O homem a teve com trinta e cinco e agora completara cinquenta e cinco. Estava à beira da morte devido a um forte resfriado que nem os medicamentos mais fortes do sul foram capazes de curar. Toda a população estava se preparando para perdê-lo e Susan era obrigada a lidar com essa possibilidade.

— O que as enfermeiras disseram?

— Está ficando muito fraco... — Susan tremia de desespero enquanto tentava permanecer falando. Gaguejava enquanto narrava o acontecimento. — Emagreceu bastante e sua pele ficou mais pálida do que já estava antes. Wolf, não vou suportar perdê-lo também.

A mãe de Susan faleceu um ano antes de Wolfric chegar a Horgeon. O rapaz não conhecia a dor de perder algum parente, já que seus pais correram sérios riscos no passado, mas foram protegidos pelos deuses e ainda permaneciam vivos. A morte de alguém mais próximo foi a de Gregory, que foi muito dolorosa. Compreendia o medo da princesa e, para tentar amenizar um pouco a dor e mostrar que não estava sozinha, beijou a testa da moça e a trouxe para seus braços.

— Ele irá para um lugar melhor, onde as pessoas podem finalmente descansar em paz depois de uma longa vida na terra. Imagine que sua alma será protegida pelos deuses e levada para o paraíso.

— Pensa mesmo que isso é possível? — O abraço a tranquilizava um pouco. Isso era perceptível pela sua voz. — Às vezes fico em dúvida se eles realmente existem, se são reais ou frutos de teorias criadas por humanos para explicar nosso mundo.

Havia cinco deuses em Grimwerd. Quatro deles eram divididos nos principais elementos: água, terra, fogo e ar. O primeiro deus era provavelmente o mais importante, que gerou a todos os outros quatro através da criação daquele universo. Era também o que julgava os caminhos dos que faleceram e se iriam para o mundo das sombras ou o mundo da luz. Os que mereciam a luz viveriam em um lugar belo e pacífico para sempre, mas os que eram levados às sombras viviam torturas e sofriam punições pelas maldades cometidas quando humanos.

— Mas é claro que penso! — Elliot, apesar da exclamação, falava baixo para que Susan fosse convencida a ter um pouco de otimismo. — São toda a razão de estarmos vivos e toda essa diversidade que existe. O que mais poderia esclarecer o surgimento de um único continente que aos poucos foi se expandindo e as nações foram se tornando distintas umas das outras?

— É verdade... Tudo é tão difícil de acreditar, sabe?

— Na verdade, não é tão difícil quando criamos o hábito. Essas coisas acontecem para aprendermos a enfrentar os obstáculos que aparecem para nos derrubar. Deverá aproveitar todo o tempo que tiver com seu pai, pois isso fará a diferença.

...

Wolfric a deixou nas alas hospitalares, de mãos dadas com o Rei Vincent durante seus últimos momentos de vida. Precisava estar a sós com o pai para que se despedisse da melhor maneira. Por isso, o rapaz aguardou do lado de fora, olhando através da janela as casas distantes, onde uma delas residiam os Trannyth. A família que tanto amava. Wolfric não conseguia imaginar sua vida sem a existência de um dos três.

Foi até a varanda, sentando em um dos bancos de pedra localizados na mesma e encostando a cabeça na parede, refletindo sobre os fatos decorridos em toda sua trajetória em Horgeon. Havia se tornado o melhor amigo de Susan e precisava sempre oferecer o maior apoio possível nas piores situações que a princesa enfrentaria a partir do falecimento do pai. Seria a grande rainha de Horgeon, um cargo que a mudaria para sempre. Wolfric estaria a seu lado para lembrá-la de quem era e não a deixasse ficar cega pelo poder.

O sistema de reinado de Horgeon era completamente diferente do de Arroway. Wolfric e os Trannyth tiveram dificuldades para se acostumar. Nele, o rei escolheria através de um tratado assinado quem seria seu sucessor, podendo ser um homem ou uma mulher, um filho ou o ser humano mais pobre da região. Ninguém poderia contrariar esse acordo e todos eram obrigados a aceitar o novo governante. Quando alguém o desrespeitava, ocorriam lutas pelo trono que resultavam em banhos de sangue e perdas para todos os lados.

O rapaz acreditava que a amiga seria uma monarca amada. Susan Prince agora tinha uma chance de trazer um grande marco à história hastryniana oferecido pelos deuses.

Por estar ensinando o princípio da mitologia ao irmão, Wolfric pensou nas retratações ilustrativas dos deuses mostradas nas pinturas espalhadas pelos salões, templos e nos livros utilizados para estudo. Desenhos onde era feita a personificação das quatro divindades elementares da natureza em que viviam. O Supremo Criador não era alguém que as pessoas ousassem criar formas ou desenhos, pois não conseguiam imaginar como seria sua verdadeira figura, se seria humana ou até mesmo a de um animal sagrado.

A deusa da água representava a pureza. Tinha o rosto de uma garotinha, com uma pele completamente azul e todo o corpo parecendo uma continuação dos grandes mares e oceanos onde estava. Os cabelos eram longos e aparentemente intermináveis. As pupilas tinham uma tonalidade ainda mais clara, capaz de hipnotizar a qualquer um que a visse pessoalmente, caso sua forma fosse realmente aquela. Transbordava uma imensa sensação de tranquilidade através de suas expressões. Em contraste a isso, o deus do fogo era conhecido por tamanha ira, relativa ao elemento que dominava. Tinha os olhos vermelhos como rubi e um corpo extremamente musculoso, acompanhado de duas enormes asas negras que tornavam sua aparência ainda mais medonha. Os cabelos eram curtos e negros.  A divindade do ar era semelhante, mas os longos fios e as asas eram brancos. A íris era completamente escura. Por último, a deusa da terra tinha uma pele de tonalidade marrom-clara. Os olhos eram brilhantemente amarelados e os cabelos verdes feitos de folha desciam até a cintura. O vestido também era verde e cobria grande parte de seu corpo. Utilizava um colar dourado em formato de árvore. Seus lábios eram brancos.

Wolfric questionava se aquelas formas eram reais ou inventadas pelo homem para justificar suas existências. Concluiu que nunca saberia a resposta, optando por crer nos ensinamentos. Entretanto, sempre achou curioso ainda era o fato de não haver representações do Supremo Criador.

Seus pensamentos foram interrompidos quando um rapaz se aproximou. Era o criado da família real, responsável pelos avisos referentes a mensagens e cartas vindas de outras regiões. Wolfric tinha a impressão de que sabia exatamente o que seria dito. Esperava que sua intuição estivesse correta e pudesse dar continuidade ao plano que arquitetava.

— Esta mensagem foi enviada através de uma das aves inteligentes e mensageiras do território do Norte. Devo considerá-la segura e enviar para que o senhor a leia?

— Sim. — Ele assentiu e recebeu o documento, dispensando o jovem. — Está liberado. Será avisado se houver algo errado ou indesejável no conteúdo disto.

Depois de ler atentamente toda a resposta vinda de Kath, soube que era realmente a amiga do passado, pois a caligrafia era inconfundível. Wolfric foi alfabetizado por Gregory Muirden junto com as gêmeas e conhecia a forma de escrita das duas, sabendo distinguir se pertencesse a outra pessoa. Acreditava que Katherine havia se esquecido da sua.

Apressou-se a ir até o escritório mais próximo e redigir a carta que finalmente selaria a aliança entre eles e definiria o destino de todos os envolvidos. Daria a notícia a Susan futuramente, achando melhor fazer isso em outro momento. Enviou a carta até uma das aves-correios, ordenando que o animal fizesse a viagem. Quanto mais rápido a rainha a recebesse, melhor seria.

— Katherine Wildshade, nossa jornada acaba de começar. 


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Notas finais do capítulo

Curtiram? O que acharam dos deuses elementares?



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