Hastryn: Ascensão escrita por Dreamy Boy


Capítulo 26
A Consumação


Notas iniciais do capítulo

Retorno de mais uma personagem às cenas :)



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Charlotte

No instante em que a união se oficializou e a cerimônia se encerrou, Charlotte não conseguia acreditar que tudo aquilo realmente havia acontecido. Aos treze anos, estava casada com um homem muito mais velho que não conhecia direito e não conseguia pensar na hipótese de se apaixonar um dia.

Sentindo profunda rejeição pelo novo marido, caminhou de mãos dadas com o mesmo e juntos foram levados em uma carruagem até a casa que pertencia aos Yorkan. Charlotte se sentia uma intrusa ao estar dentro de um ambiente que já pertencia a uma família formada, como se estivesse substituindo ou roubando o lugar anteriormente ocupado por Esther, falecida mãe de Richard e Elizabeth.

Fizeram uma viagem rápida e silenciosa. Ambos sentiam dificuldade em direcionar palavras um ao outro, o que tornava a situação ainda mais constrangedora. Charlotte acharia menos difícil prosseguir com o casamento caso tivesse um laço de amizade ou pelo menos facilidade para desenvolver uma conversa e aproximação. Tinha a sensação de que aquilo seria um problema muito extenso e que com certeza demoraria a ser resolvido.

Quando chegou à casa, porém, foi surpreendida por um marido extremamente cavalheiresco, que se dispôs a carregá-la até o quarto e fechou a porta, ainda em silêncio. Começou a falar somente depois que estavam apenas os dois no local.

— Nada do que conversaremos aqui será dito para outra pessoa, entendido? — Ulrick mantinha a posição séria, mas não era como Lothar. Não causava o medo nas pessoas que estavam por perto, apenas não via motivos para sorrir ou demonstrar alegria quando ainda estava de luto pela primeira esposa.

Charlie assentiu e permaneceu calada, disposta a ouvi-lo.

— Preciso dizer que não será obrigada a nada. Eu nunca seria capaz fazer mal a uma pessoa tão sensível e bela como Sua Alteza e quero que se sinta à vontade pra confiar em mim.

— Se não vai me forçar a nenhum ato indesejado, por que aceitou a união? — Charlie perguntou, um pouco nervosa e insegura com a resposta que viria. — Não irá tirar nenhuma vantagem disso, visto que tenho dois irmãos homens para herdar o trono antes de mim.

— Reconheço que sou um homem cheio de defeitos e atitudes ruins, mas não sou totalmente mau. Vejo a maneira que o rei a trata desde que nasceu e não aprovo isso, mas quem sou eu para dizer o que penso e desrespeitar meu senhor? Recorda-se do dia em que se esforçou com sua equipe médica para salvar Esther?

Charlotte se lembrava. Jamais esqueceria as vítimas de doenças fatais que morriam em suas mãos durante as tentativas de fazê-las permanecerem vivas. Sentia um forte peso na consciência por não ter realizado seu objetivo com sucesso.

— Naquele dia, pude ver a grande pessoa por trás da misteriosa e solitária Princesa de Arroway. Quando recebi a proposta, vi uma maneira de protegê-la e fazê-la se sentir segura a meu lado. Você fez de tudo para impedir a morte de minha mulher e sou eternamente grato a isso!

Ulrick se ajoelhou em frente a ela e beijou sua mão direita.

— Seja bem-vinda.

...

Ulrick se mostrou bastante protetor e preocupado. Alguém que realmente se importava com a saúde e com os desejos da esposa, fazendo de tudo para agradá-la da melhor maneira. Quando Charlotte sentia muito frio, era aquecida com carinho para que não ficasse doente. Ele era também um pai que amava os filhos acima de tudo, como ela outrora sonhara em ter.

Durante o período em que Ulrick acompanhou Lothar em uma aventura fora de Arroway, Charlotte fazia questão de cuidar muito bem da casa e dos enteados. Eram crianças bondosas e fáceis de se apegar, que adquiriram um forte laço pela madrasta em pouco tempo. Traziam à princesa a vontade de ser o mais perto possível de uma mãe, mesmo que jamais pudesse suprir o vazio deixado por Esther.

Richard tinha cinco anos quando a tragédia aconteceu. Havia passado uma boa parte da vida com a mãe e manteve fortes lembranças da mulher, mas Elizabeth, que tinha apenas três, possuía dificuldades para reviver aqueles momentos em sua memória. Charlotte a ajudava como podia, fazendo elogios à falecida e honrando seu nome.

O casamento rendeu bons futuros aos dois. Conforme crescia, Elizabeth se mostrava dotada de grande educação e talento, dominando a arte de tocar instrumentos musicais e costurar. Durante as noites em que os três se reuniam e faziam preces aos deuses para protegerem Ulrick, era a responsável pelo entretenimento. Tinha uma bela e doce voz, que Charlotte fazia questão de ouvir todos os dias.  Era uma bela menina negra, com olhos cor-de-mel e cabelos cacheados longos.

Richard, além de ser alfabetizado juntamente com outros garotos nascidos em posições maiores, foi colocado para treinar esgrima e outras atividades que o tornassem um bom guerreiro. Seguiria os exemplos do pai e, se preciso fosse, protegeria os dois príncipes dos grandes perigos afora. Era parecido com a irmã, mas o cabelo era inteiramente cortado.

Em um dos frequentes momentos de reflexão ao lado de Hazel, que sempre a acompanhava não importasse onde estaria, Charlotte pensava a respeito de tudo isso, relembrando a reviravolta que sua vida sofrera.

— Hoje, compreendo o motivo de ter conhecido e me casado com Ulrick... Essas crianças precisavam de uma oportunidade para mostrar suas habilidades especiais e subir na vida, como todos um dia deveriam ter.

— Exatamente. — Hazel tinha mais de quarenta anos, idade considerada extremamente admirável no universo hastryniano. Os cabelos ficaram mais brancos do que já eram e a pele parda, cada vez mais enrugada. Os fios cresciam apenas até uma altura que não passava dos ombros, pois a ama preferia deixá-los curtos. Apesar de não serem poucos os exemplos de pessoas que tinha mais de quatro décadas de vida, a expectativa costumava ser pequena em muitos dos cidadãos do norte. — Elizabeth precisava de alguém que oferecesse amor e carinho, senão poderia crescer sem saber como era o amor de uma mãe.

— Assim como eu.

— Perdão, não quis deixá-la triste!

— Fique tranquila. Aprendi a ficar feliz sempre que penso em nossa antiga rainha. É um símbolo heroico em Arroway, mesmo que tivesse governado pouco. Nessa época, conseguiu ser o que meu pai jamais conseguiu em todos esses anos. Aquele lá permanece o mesmo tirano de sempre.

A relação da madrasta com os enteados era mútua. Eles também eram responsáveis por tirá-la da solidão e lhe traziam uma função, a de cuidar de uma família completa. Aprendeu a amá-los como se pertencessem ao mesmo sangue.

— São os únicos que poderei chamar de família, já que existem os problemas que enfrentamos. Hazel, é tão difícil lidar com tudo... Tem horas que sinto vontade de desistir.

...

No mesmo dia em que a recebeu, Ulrick pediu que para a princesa vestir uma roupa de caça guardada especialmente para aquela ocasião. Extremamente curiosa, Charlotte obedeceu e os dois foram para o bosque mais próximo, onde poucos animais andavam de um lado para o outro.

— Sabe caçar?

— Sim. — Não tinha muito o hábito de praticar, apenas quando estava com Elliot. Quando fazia, oferecia a carne dos animais mortos para os pobres que precisavam de alimentos para sobreviver.

— Aos poucos, aprenderá a usar armas afiadas para se defender. Em breve, poderá lutar com qualquer pessoa quando preciso for, e ninguém saberá. Por enquanto, quero apenas que use o arco e lance uma flecha certeira em qualquer animal que aparecer.

Charlotte ergueu o arco e mirou em um dos esquilos que se encontravam distraídos demais para perceber que estava prestes a ser morto. Quando a flecha foi lançada, o animal caiu inconsciente. De mãos dadas, foram juntos até onde o corpo ficou.

— Não gosto muito disso.

— E não precisará fazer isso sempre. Qualquer objeto pode se tornar um alvo, desde árvores até muros ou paredes marcadas. Agora saberá por que esse esquilo precisou morrer.

Ulrick retirou das vestes um pequeno frasco transparente, posicionando o recipiente abaixo do corpo do esquilo. Ao retirar a flecha, fez o sangue escorrer e cair diretamente ali dentro. Charlotte estava começando a entender.

— O rei necessita de algo que comprove o casamento consumado.

...

Charlotte sabia que, assim como em todos os casamentos existentes, seria obrigada a ter relações sexuais com o marido, engravidar em algum momento e trazer ao mundo frutos daquela união. Durante os cinco anos, ocorreram duas gestações, mas nenhuma delas conseguiu chegar ao estágio final. Os bebês sempre morriam em sua barriga, sem ter a mínima chance de nascerem e darem continuidade à árvore genealógica. Charlie, aos poucos, foi perdendo a esperança de se tornar mãe biológica e tentava se contentar apenas com os filhos concedidos pelos deuses. Entretanto, era impossível suprir o vazio que sentia por dentro. As mulheres que não traziam herdeiros aos esposos eram consideradas inúteis, desprezíveis, e eram substituídas por moças mais jovens e férteis, com mais probabilidade de dar à luz. Esse profundo sentimento de tristeza obrigou a princesa a deixar o comando das enfermarias nas mãos de Diana e aceitar a sufocante solidão.

Ulrick, tendo conhecimento dos dois filhos que perdeu, mesmo assim não voltou atrás com a promessa de ficar ao lado de Charlie. A jovem tinha sorte pelo homem ter cruzado seu caminho. Nem mesmo com a infertilidade da esposa ele a havia abandonado.

— Estará sendo fraca se desistir depois de tudo... Não deveria ter afastado Katherine e Diana. Eram amigas que se importavam de verdade e estariam dispostas a qualquer coisa para ajudar.

— Justamente por isso precisavam ficar longe, Hazel... — Charlotte disse com firmeza. Gostava demais de estar acompanhada pelas duas, mas fez o que julgou ser necessário. — Já existem problemas demais em suas próprias vidas. Não precisam de mais um peso nas costas e preocupações desnecessárias comigo.

— Você não é um peso. Quantas vezes devo repetir isso?

Charlie não respondeu.

— Ainda penso que deveria aproveitar a demora da viagem para visitar a rainha. Katherine pode estar sentindo saudades e precisando de você. Cedric e Daevon também se sentiriam felizes.

— Amo meus irmãos, mas ainda não estou preparada para vê-los. Aquele lugar se tornou incômodo para mim, pois me sinto sobrando sempre que vejo Lothar abraçando os filhos e me tratando com indiferença. Eles são a família perfeita e é óbvio que minha presença representa uma parte triste do passado dos Wildshade. 

— Nesse caso, que seja feito o que for de vossa vontade...

Cerca de uma hora depois, uma criada surgiu no quarto e alertou que Ulrick tinha chegado. Charlotte saiu do cômodo e desceu ansiosamente a escada, pronta para receber o marido de volta. Quando o viu, correu para abraçá-lo e percebeu expressões preocupadas no rosto.

— Está tudo bem?

— Sim, apenas estou exausto. Lothar foi para as enfermarias, pois está ferido. — Charlotte percebia quando as pessoas estavam mentindo, sabendo que havia algo a mais na história do que estava sendo dito. Sabia que Ulrick não contaria a verdade se não quisesse, por mais que fosse pressionado a isso. — Preciso de um banho e de bastante descanso.

— Hazel, mande as criadas prepararem tudo, por favor. — Sentou-se ao lado do marido no sofá, permitindo que descansasse a cabeça em seu ombro direito. A ama a obedeceu, deixando o casal a sós na sala de estar. — Conte-me o que descobriram nas Montanhas Assombradas. Até agora não entendi direito a razão dessa viagem. Os monstros que habitam por lá apresentam algum perigo aos nossos cidadãos?

Existia uma grande diversidade de criaturas habitantes do outro lado das montanhas, desde bichos alados gigantes a pequenas aves que não conseguiam tirar as patas do chão. Dragões, serpes e grifos eram os principais exemplos, com vários desenhos detalhados nos livros sobre a fauna hastryniana. Praticamente indomesticáveis, os dois primeiros eram considerados raros naqueles dias. Antigamente, existiam em quantidades muito maiores, principalmente quando no mundo havia um único continente.

— Não. Os carnívoros possuem muitos alimentos em suas próprias regiões. Demorarão a sentir fome suficiente para que seja necessário invadir outros territórios.

— Nesse caso, podemos ficar tranquilos e despreocupados com mais um problema. — Charlotte alterou a voz, ficando mais séria do que já estava. — Disse que meu pai está nas enfermarias. O que houve com ele?

— A garra pontuda de uma das feras atacou seu rosto. Além disso, foram abertas algumas feridas venenosas em algumas partes do corpo. Nada que curativos potentes não resolvam. Em poucos dias, será o mesmo homem forte de sempre.

— Sem dúvidas...

Charlotte, quando o banho finalmente foi preparado, auxiliou o marido a se limpar e depois foram descansar juntos. Teve dificuldades para dormir, pois sua mente estava no palácio, onde a amiga Katherine passara todo aquele tempo na companhia dos filhos. Sentia saudades, mas não deveria incomodá-la. A rainha tinha muitas ocupações, principalmente aquelas ocorridas na ausência do rei.

Em uma tarde dos próximos dias, Charlotte estava nos fundos da grande casa, cuidando com amor das flores e auxiliando o jardineiro a regar as mais variadas plantas. Havia uma trilha que levava a uma pequena praça, circundada por árvores altas repletas de rosas que coloriam o trajeto. A primavera era a estação preferida da princesa, pois aquela diversidade de cores a alegrava com facilidade.

Foi quando uma criada veio correndo.

— A rainha está aqui. — A mulher disse, secando o suor da testa com uma das mangas do uniforme. — O que digo? Que a senhora não quer receber visitas?

Charlie respirou fundo, olhando para os céus. Procurava alguma resposta dos deuses para o motivo daquilo. Eles queriam que Katherine retornasse para sua vida.

— Não, obrigada. — Deixou o regador sobre a grama, para que o jardineiro o apanhasse depois e guardasse. — Irei atendê-la.

Deu a volta pelo lado de fora da casa, sem demorar muito para chegar aonde Katherine se localizava.  Veio pela direção do chafariz, encontrando a mulher e seu filho mais novo esperando sua chegada pela porta da frente. Daevon, quando a viu, puxou a saia da mãe e apontou em sua direção. Os olhos da rainha brilharam quando viu a amiga depois de tanto tempo.

— Charlotte! — Kath correu para cumprimentá-la e a envolveu em um forte abraço. A jovem retribuiu o gesto carinhoso e sorriu. A sensação alegre que dificilmente tinha retornou subitamente, causando um pouco de estranhamento nela. — Como senti sua falta! Podemos entrar para conversarmos um pouco?

— Claro! — Por mais que ainda quisesse afastá-los, não cometeria a grosseria de expulsá-los de sua casa, agora que tinham chegado ali. Abriu a porta e permitiu que entrassem. — Richard e Elizabeth vão adorar revê-lo, Daevon.

Passaram pela sala de estar enquanto levavam o menino aos enteados de Charlotte. Um ambiente aconchegante, com grandes sofás de couro e tapetes felpudos, acompanhados de uma lareira gigante que aquecia toda a família nos dias extremamente frios. As janelas eram acompanhadas de cortinas brancas com estampas de flores roxas. Lustres traziam iluminação ao local quando o céu escurecia.

A escada de mármore tinha formato de espiral. Quando a rainha e o príncipe subiram, foram conduzidos até o cômodo onde Elizabeth e Richard estavam. As crianças cumprimentaram Daevon e as duas finalmente ficaram livres para debater assuntos maiores.

— Vamos ao jardim. —Charlie pediu, ainda surpresa com a inesperada visita. Estava feliz ao ver que a madrasta ainda se importava com ela, conforme Hazel tinha dito. — Assim não seremos interrompidas.

Foram até a pracinha, onde havia uma mesa central feita de pedra e com bancos do mesmo material. Ao redor, altas árvores deixavam o local mais fresco. Em cerca de aproximadamente duas horas, o sol iria se por e Katherine precisaria retornar ao castelo. Ela sabia que seria difícil iniciar um assunto.

— Estão crescendo rápido... Como tem sido a vida ao lado deles?

— Tranquila. — Com sinceridade, a princesa respondeu. O fato de se sentir mal em relação à família anterior não tinha absolutamente nada relacionado aos enteados. — São pessoas que gostam de mim e que sem dúvidas sentiriam minha falta caso eu saísse de suas vidas.

Katherine compreendeu imediatamente aonde Charlotte queria chegar com aquela última frase. Estava se referindo ao rei e sua rejeição à primogênita.

— Lothar tem se tornado cada vez mais difícil de lidar. Ultimamente, discute demais comigo e deixa claro que possui preferências por Cedric do que por Daevon. Obriga o próprio filho a participar de atividades de guerra contra sua vontade e ri quando ele se atrapalha e se machuca. Não entendo como um pai pode ser assim.

— Esse foi o pai que tive.

— Sua atitude de se manter longe de nós é totalmente compreensível e não a julgo por isso, mas não tive nenhuma culpa das atitudes dele e não deve impedir que aqueles que gostam de você tentem se manter próximos. Além de minha irmã, você é a única amiga que considero verdadeira! A única que realmente vale a pena!

Aquilo tocou o coração da jovem. Ela também sentia uma forte empatia com a madrasta antes mesmo de se tornarem parentes, como se pudessem realmente confiar uma na outra. Uma lealdade que parecia ter nascido com as duas, apesar de nunca terem se aberto por completo ou contado exatamente tudo o que mantinham guardado, como o fato da família de Katherine.

Sua irmã já fora mencionada antes, mas nunca com muitos detalhes. Charlie não sabia qual era o nome ou qual idade tinha, se era mais velha ou mais nova. Também não fazia ideia se ainda estava viva ou aonde morava.

— Obrigada... Prometo que não vou cortar mais os laços e o contato. — Aquela decisão trouxe um imenso alívio a ela. — Mas, vamos conversar sobre sua família. O que aconteceu com sua irmã e por que não a acompanhou quando se casou com Lothar?

— Essa é uma história longa que jamais poderá ser mencionada novamente. — Katherine disse, em tom sério. Charlotte sentiu um arrepio, com medo do que seria contado. — Está disposta a ouvi-la completa?

— Sim.

Assim, Charlotte tomou conhecimento de toda a saga de Gregory Muirden e como o homem se tornou amigo de Elliot. Descobriu que as gêmeas o conheciam do arraial e as duas famílias tinha um elo de gerações anteriores. Kath falou também sobre seus momentos torturantes no Rosa Indomável e como Evelyn se tornou proprietária do bordel. A irmã de Katherine detestava a ideia de se casar com um homem que pudesse se mostrar covarde e cruel posteriormente, preferindo continuar na administração do estabelecimento e cuidando de seus funcionários como Mafalda nunca fizera. A família Muirden havia sido destruída pelas próprias mãos de Lothar, com o intuito de atacar um garoto de treze anos.

— Eu... não sabia de nada disso! — Houve uma época em que Charlie sentia repulsa pelas pessoas que se prostituíam, mas com o tempo foi aprendendo com Hazel que nem todos faziam aquilo por desejo próprio, e sim para seu próprio sustento. Desde então, passou a vê-los com outros olhos, rezando para que um dia aquilo não fosse mais necessário. — Como suporta dividir a mesma cama com ele?

— É uma pergunta difícil de ser respondida. Como sua esposa, pude presenciar alguns momentos em que o rei mostrava um lado bondoso guardado dentro de si, algo que não acreditava que fosse possível. Gostaria muito que isso acontecesse mais vezes, para que meus filhos não cresçam odiando o próprio pai. Estou apavorada e não sei o que fazer!

— Se é de seu desejo que Lothar seja bom, desista disso. É algo que jamais acontecerá. — Charlie tinha completa noção disso, visto tudo o que passou quando morava no castelo. — Está apaixonada...

Katherine abaixou a cabeça, demonstrando tristeza ao confessar aquilo a ela, como se a enteada já não soubesse disso através do modo como a rainha olhava para o marido. O amor era uma grande fraqueza e consumia a vida das duas mulheres, de diferentes formas.

— Tenho fé de que Lothar um dia pagará pelo que fez. Quando esse dia chegar, precisamos estar unidas e dar continuidade aos Wildshade no trono, antes que haja uma guerra e alguém capaz de usurpá-lo. Não deixe que esse sentimento atrapalhe sua força.

— Você tem razão... A propósito, há algo que quero lhe dizer. Antes de Lothar e Ulrick retornarem, aconteceu algo extremamente estranho que envolve Hastryn do Sul.

— Hastryn do Sul? Quais os interesses do outro continente no nosso?

— Recebi uma carta em que o remetente dizia me conhecer, mas ninguém do sul me conhece! Então, cheguei à conclusão de que era alguém que morava no norte até que fosse motivado a procurar por melhores condições de trabalho e moradias no sul.

— Ou obrigado a fugir...

— Exatamente! Penso que possa ter sido Elliot, já que não foi encontrada nenhuma prova de que ele realmente morreu. Enviei uma carta em resposta, ameaçando caso fosse alguém se passando por nosso amigo. — Parou de falar, quando percebeu que a princesa não estava prestando atenção. Os olhos de Charlie estavam arregalados e ela não conseguia falar absolutamente nada. Estava tomada pela cega esperança de que seus sonhos poderiam se tornar realidade.

— Precisamos saber a verdade.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? Querem me matar? UHAUAHU
Posso garantir que o próximo capítulo vai mostrar um pouco da mitologia de Grimwerd.



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