Hastryn: Ascensão escrita por Dreamy Boy


Capítulo 16
O Jogo


Notas iniciais do capítulo

"Encarar a vida como um grande tabuleiro rende a si mesmo dois resultados: ganhar ou perder. Perder é inadmissível. Portanto, nos resta, somente, uma única alternativa."
— Katherine Muirden



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Katherine

Katherine estava preocupada com a atitude imprevisível tomada por Lothar ao comprá-la e tirá-la do bordel naquela noite. Aquele homem era e seria um inimigo muito pior do que Mafalda. Estava sentindo um profundo nojo de se imaginar na situação em que viveria a partir daquele dia, mas não poderia fugir.

— Agora, finalmente estará livre desta imundície. — Lothar humilhava o local propositalmente na frente de sua proprietária, que se manteve calada com a finalidade de não dar motivos para ser punida. Katherine, apesar de tudo, gostou da expressão no rosto da antiga chefa de trabalho. — Devemos partir de imediato.

— Majestade, há algo que preciso pedir antes.

— O que é? — Sua expressão era calma e paciente, o que a deixava mais nervosa e assustada do que já estava. Kath imaginava se, a qualquer momento, ele cravaria uma lâmina em suas costas e a assassinaria ali, na frente daquelas pessoas.

— Minha irmã não pode ficar sozinha aqui.

— Entendo... Bem, nada posso fazer por ela, pois escolhi somente você e assim será. Sua irmã precisará enfrentar os problemas e desafios sozinha, provando ser capaz de cuidar de si própria.

...

Apesar de tamanha impetuosidade, Rei Lothar permitiu que Katherine pudesse ao menos se despedir de Evelyn, já que teriam muitas dificuldades para se encontrar novamente.

— Vamos nos comunicar por cartas, certo? Assim que obtiver uma chance de fugir para visitá-la, farei isso. Não tenha medo, não permanecerá aqui por muito tempo.

— Promete?

— Eu prometo. — Ela segurou suas mãos carinhosamente. — Evelyn, você sempre foi a que me protegeu, cuidou de mim quando a mamãe partiu e fez o melhor para garantir nossa vida. É a minha vez de retribuir o favor.

— Proteja-se, tomando cuidado com qualquer pessoa que apareça em seu caminho. Não confie em ninguém, pois estará se arriscando muito. Nós duas sabemos que já estaríamos mortas se assim fosse da vontade de Lothar. Logo, você possui uma função importante no castelo.

— É verdade... — Mas o medo a deixava cega, sem conseguir deduzir qual seria o objetivo do homem. Parou para refletir, processando as palavras ditas pela irmã. — Serei transformada em uma amante exclusiva do rei.

— Obedeça as ordens dele sem contestar e tenha fé de que um dia essa ameaça acabará. E quando acontecer, você estará em uma posição maior! — Evelyn a abraçou, emocionada, permitindo-se a chorar nos ombros da gêmea caçula. — Sentirei sua falta, querida... Fique bem e não faça besteiras!

Katherine se sentia uma peça de tabuleiro nos jogos divinos. Os deuses se divertiam com sua vida, manipulando cada acontecimento e deveriam estar rindo de sua desgraça. Em tão pouco tempo, havia perdido tudo. A mãe, o pai, a honra, a dignidade, o sonho de se tornar uma boa moça e de formar uma família com um cidadão de bem.

Naquela noite fria e gélida, vestiu um capuz negro e foi para o castelo montada em um cavalo trazido por Lothar. Percorreram trilhas sombrias e atravessaram bosques escuros. Os guardas do rei a conduziram em segurança, vigilância e proteção até seu aposento e assim fariam todos os dias.

O aposento que fora destinado à Katherine era muito maior do que o local em que passaram a viver após a vitória de Gregory. Magnífico, com uma cama espaçosa e decorações avermelhadas e douradas. Pinturas de paisagens nortenhas e de pessoas antigamente importantes eram penduradas nas paredes em diferentes tamanhos. Kath se admirou com o fato de que tudo aquilo poderia ser seu. Um verdadeiro sonho para qualquer moça.

Dormiu como nunca, sendo o melhor sono que já tivera.

Acordou com uma fraca batida na porta. Impaciente, levantou-se e foi descobrir quem estava no corredor, acreditando que seria um dos fiéis obedientes de Lothar. Surpreendeu-se ao encontrar uma mulher baixa carregando uma bandeja de alimentos.

— Bom dia, senhorita. — A serviçal gaguejava enquanto pronunciava as palavras, provavelmente com medo da reação de Katherine. Era uma jovem negra, com uma grande beleza escondida por detrás das roupas simples, mas Kath a percebeu e a admirou. A simplicidade era algo que gostava de ver nas pessoas. — O rei me ordenou que servisse o desjejum em seu próprio quarto, para não incomodá-la.

— Obrigada. — Kath sorriu, tentando ser simpática com a moça. Tentaria de todas as formas retirar um pouco do terror que Lothar impunha em seus trabalhadores. — Como se chama?

— Melissa. Estarei às suas ordens quando for preciso, senhorita Katherine. — A empregada retirou a tampa da bandeja, revelando a refeição que havia ali dentro. Consistia num pequeno conjunto de pão com queijo e algumas frutas, como laranjas, maçãs e uvas, acompanhado de leite como bebida. Provando a comida, a hóspede não conseguiu evitar um sorriso.

— Hmmm, está delicioso! — disse, estendendo a mão direita para cumprimentar a mulher. — Muito prazer em conhecê-la, Melissa. Agora, preciso mesmo ficar sozinha. Terminarei de comer e me prepararei para esse dia longo que me espera.

— Sempre que precisar, mande me chamarem. — Aquela era uma funcionária muito eficiente. Katherine reconhecia isso. Assentiu, permitindo que Melissa se retirasse do recinto, fechando a porta com cuidado para não batê-la.

Deliciando-se com a refeição, perdeu a noção do tempo. Quando retomou a consciência e se lembrou de que Lothar a esperava, tomou rapidamente o restante do desjejum e retirou as vestimentas utilizadas para dormir, colocando um vestido amarelo trazido especialmente para seu uso e pendurado no armário. Penteou os cabelos e os prendeu com uma fita branca, fitando seu reflexo no espelho.

Aprovando a própria aparência, deixou o quarto e se preparou para a sobrevivência diária. Teria que suportar a presença constante de Lothar enquanto o homem estivesse vivo. Katherine não sabia o que era pior: permanecer no prostíbulo ou ser amante de um homem selvagem e bruto como aquele.

Andando pelos corredores, utilizou as estátuas humanas e as gárgulas nas varandas como referências para não se perder naquele labirinto conhecido como palácio. Conseguiu distinguir cara uma das figuras esculpidas, sendo de antigos reis, príncipes e até mesmo bravos guerreiros nortenhos, como os das pinturas.

Perto das escadarias que davam acesso ao hall, havia duas pessoas. Uma senhora e uma garota. A mais nova, que tinha presos em duas tranças os cabelos louros de tonicidade mais clara que sua, tinha o rosto vermelho. Havia chorado por algum motivo, Katherine percebeu isso.

“Princesa Charlotte...”

No passado, Katherine queria ser amiga de Charlotte. Encontrava na princesa alguém triste, mas que formava uma linda amizade com Elliot. Ambos saíam juntos para brincar o tempo todo.

Seu primeiro instinto foi de se aproximar e demonstrar que se importava com os supostos problemas que a jovem sofria, mesmo que não soubesse quais. Entretanto, aquele não era o devido momento. Kath não sabia o que a esperava, quais seriam suas permissões e deveres, portanto, apenas acenou e se afastou das duas, descendo os degraus.

Desejava conhecer aquele castelo por completo. Katherine tinha o mesmo espírito explorador de Elliot. Juntos, quando eram mais novos, passeavam para escavar e encontrar metais e inúmeros objetos enterrados, para depois enterrá-los novamente, sempre impedindo que pessoas gananciosas os seguissem. Mas, com o tempo, Gregory se tornou mais cuidadoso com a filha e a proibiu de realizar essas práticas, pois estava crescendo.

Relembrando essa época, cantarolou os versos de uma antiga canção que a mãe cantava para as gêmeas quando era viva, em momentos especiais no vilarejo.

— É uma música bonita. — Subitamente, Lothar surgiu de uma parede escura, saindo de uma sombra criada pela presença de uma estátua gigante. — Você a compôs?

— Foi minha mãe. Que os deuses a tenham em seus braços.

— Compreendo... — Ele ficou em silêncio por alguns segundos, respeitando seu luto. — Venha comigo, pois iremos a um local seguro para conversarmos sem que as paredes ouçam. Acredite, elas possuem ouvidos.

Katherine não duvidava. Pelo pouco tempo que morou no castelo com o pai e a irmã, percebeu que as fofocas se espalhavam com facilidade. Fatos que deveriam ter sido mantidos em sigilo foram completamente expostos e revelados para toda a população.

Lothar cerrou as portas da sala misteriosa para onde a estava conduzindo. O local não era muito grande, mas repleto de estantes com vários tipos diferentes de livros misturados. No centro da sala, havia uma grande mesa de madeira com um tabuleiro de xadrez organizado sobreposto a ela.

Obedecendo ao gesto do monarca, Katherine se sentou em uma das cadeiras, posicionada exatamente em frente à qual Lothar posteriormente se sentou.

— Sabe jogar?

Uma das coisas que Gregory a ensinara era a jogar xadrez. Katherine balançou a cabeça positivamente e encarou as peças, aguardando a primeira jogada das peças brancas do rei. Um dos peões do canto foi movido dois passos à frente.

— Acho que é o momento e o lugar ideal para termos uma pequena discussão sobre o que acontecerá com você a partir desta grande semana. Concorda?

Kath moveu um peão situado à sua esquerda.

— Pensei que este assunto já houvesse sido encerrado, senhor.

— Quem decreta quando algo deve terminar sou eu!

Ela arregalou os olhos.

— Não tome conclusões precipitadas a respeito de qualquer coisa, principalmente quando meu nome estiver envolvido. A propósito, gostaria de fazer uma decisiva pergunta: qual a visão que possui sobre seu falecido pai?

Fingiu calma e tranquilidade ao ouvir aquilo. Sua força seria necessária.

— Jamais concordei com as atitudes de meu pai perante o senhor, Vossa Majestade. Por causa de seus erros, fui obrigada a procurar abrigo nas ruas junto com Evelyn. O senhor me salvou daquele inferno e serei eternamente grata.

— Está me dizendo que seu pai era realmente um traidor? — Lothar sorriu, coçando a barba escura. Estava se divertindo com aquela sessão de perguntas, obrigando-a a falar mal de seu próprio parente. — Concorda com seu julgamento?

— Perdi o homem que me criou, mas suas atitudes o levaram a isso. Se tivesse sido respeitoso com seu rei, nada disso teria acontecido. Estaria vivo e muitos problemas teriam sido evitados.

Lutava para permanecer com a mentira até quando fosse possível. Seu peito doía a cada instante que blasfemava contra a memória de seu pai, mas era por uma boa razão. Ela precisava, de alguma forma, manipular o rei para que futuramente pudesse vingar a morte de Gregory.

— Para você, ele mereceu ser morto daquela forma?

— Foi a punição pelos seus erros.

— Nesse caso... continuemos o nosso jogo.


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