Hastryn: Ascensão escrita por Dreamy Boy


Capítulo 17
A União


Notas iniciais do capítulo

"Eu a vi crescer, vivenciar uma ascensão enorme através de um casamento. O que não imaginava era que, depois disso, as coisas começariam a ficar menos piores para mim."
— Charlotte Wildshade



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Charlotte

Dentro do palácio, os dias se tornaram mais agitados com a inesperada chegada de uma camponesa misteriosa . Charlotte tinha suas razões para acreditar já ter visto aquela moça antes de seu primeiro encontro oficial, quando não chegaram a conversar. Apenas trocaram rápidos olhares. Todavia, a princesa não daria motivos para que as pessoas de Arroway pensassem que estava louca e decidiu conversar apenas com Hazel sobre o ocorrido.

— Você está estranha, querida... — deduziu a ama, em uma visita feita à menina em sua torre. Charlotte não passava mais tanto tempo presa, pois o pai havia liberado algumas saídas para passear por áreas próximas, sendo sempre vigiada por seus capangas. — Está pensando em alguma coisa importante e não conversa comigo sobre.

— Não é isso! É que... Já reparou como a nova hóspede parece familiar? Assim que a vi, senti que já a conhecia de algum lugar. Sem dúvidas, não está falando a verdade sobre onde veio.

Hazel ficou pensativa, antes de fazer uma pequena revelação.

— Também penso o mesmo, mas não podemos interferir na vontade do rei. Ele deseja que a moça fique e essa foi a história que chegou a nossos ouvidos. Portanto, devemos fingir que acreditamos para que não tenhamos problemas.

— Tudo bem. — Charlotte respondeu, sem desistir de eliminar suas dúvidas por completo. — Conseguirei uma maneira de descobrir o que Katherine esconde sem que isso nos envolva diretamente. Será que meu pai se casará com essa mulher?

— É possível. O rei precisa de uma nova esposa para prosseguir com as gerações e gerar um herdeiro homem para substituí-lo no trono quando for necessário.

— Um herdeiro homem... Exatamente o que não fui quando nasci. Talvez Lothar me amasse mais caso um garoto houvesse nascido em meu lugar. As coisas poderiam ser diferentes para todas nós, Hazel!

— Não pense assim! Tudo acontece de acordo com a vontade de nossos deuses. Quando eles nos trazem ao mundo, ganhamos um propósito e temos que descobrir qual é o nosso propósito aqui, na terra.

Charlotte parou para pensar a respeito disso. Recordou-se do sonho que tivera há dias e refletiu sobre a importância daquilo para sua vida. De acordo com aquelas páginas, deveria estar preparada para o banho de sangue que poderia invadir Hastryn.

A chegada de Katherine estaria relacionada a isso?

No dia seguinte, Charlie havia descido a torre para tomar o café da manhã na vista alegre dos jardins, como era o costume antes de ser aprisionada. Nesse momento, a hóspede se aproximou. Utilizava uma coroa com flores brancas sobre os cabelos louros, o que a deixava mais bela do que normalmente era. Charlotte sentia um pouco de inveja dessa beleza.

— Posso me sentar? — Katherine perguntou, insegura. — Gostaria que pudéssemos aproveitar essa manhã para nos conhecermos melhor.

— Sinta-se à vontade.

Puxando as mangas do vestido para não sujá-las durante a refeição, apanhou uma jarra cheia de suco de laranja e se serviu, fazendo uso de uma taça vazia que já se encontrava sobre a mesa de vidro. Tomou um gole rápido e quebrou o silêncio estranho que tinha se formado.

— Desde que cheguei ao castelo, tenho conversado pouco com as pessoas e me sentido muito sozinha... Queria me aproximar melhor de outras moças, como Vossa Alteza. — O vento fez seus cabelos voarem. Katherine lutou para posicioná-los no devido lugar. — O rei tem sido bondoso comigo e, agora que seremos da mesma família, seria um grande prazer me tornar sua amiga.

“Pobre mulher... Não faz ideia do homem com quem está prestes a se casar e do perigo que corre dormindo em sua cama. Sem dúvidas, está subestimando Lothar do pior jeito possível.”

— Sim, será. Podemos passar as manhãs juntas, se assim for de seu desejo. — Charlotte exibiu um falso sorriso, sentindo-se um pouco desconfortável com a situação. Esperava verdadeiramente que Katherine acreditasse nele. — Mas, me fale de você. Onde conheceu meu pai?

— É um assunto triste, Alteza... Meu pai foi punido por cometer traição contra nosso amado rei. — Seus olhos brilharam, como se estivesse prestes a chorar na frente da princesa. Naquele momento, Charlotte se apiedou da moça e seu instinto era o de abraçá-la, tentando amenizar um pouco a dor. Contudo, permaneceu parada, ouvindo-a com atenção. — Quando fui encontrada, seu pai me conquistou e me trouxe para ser sua rainha.

Charlotte uniu as informações e, finalmente, descobriu quem era.

“É a filha de Gregory e está querendo vingança... Bom, não a julgo. Louca será aquela pessoa que teve sua vida inteira sendo destruída por Lothar e mesmo assim não possuir a mínima vontade de fazê-lo pagar por suas maldades.”

— Sinto muito por sua perda e peço desculpas por agir de forma indelicada com você desde o começo. Peço também que me chame pelo meu próprio nome.

— Sendo assim, também peço que me chame de Kath. Quanto a meu pai, não há motivos para se desculpar... Fico apenas triste pelas escolhas tomadas por ele, que foram responsáveis pela destruição de nossa família.

“Mentirosa.”

— O que ele fez para ser executado?

— Não sei ao certo, mas acredito que tentou matar o rei com uma pedra por trás. Certamente para proteger alguém que não faço ideia de quem possa ter sido.

“Deveria ter conseguido. Assim o norte seria salvo.”

— Que horrível... Bem, o importante é que agora temos uma à outra. Estarei aqui para o que for preciso. — Charlotte estendeu a mão para um cumprimento formal, quando o cachecol azul caiu de seu pescoço, e cicatrizes de sangue ficaram à mostra. Katherine arregalou os olhos, horrorizada.

— O que são essas marcas?! Charlotte, quem a agrediu deste modo?

— É algo que ninguém nunca poderá saber! Por favor, prometa-me que jamais falará sobre isso com qualquer pessoa que encontre neste castelo. Eu imploro!

Quando Kath assentiu, ela apanhou o tecido e correu para longe dali.

...

— Fui uma estúpida! Ela com certeza contará a Lothar sobre isso e o rei a punirá não somente a mim pela situação ter sido revelada, mas também a ela por estar se intrometendo no assunto!

— Katherine será esperta. Não falará nada a ele sem que saiba os motivos dessas marcas de agressão e se sinta segura para tal atitude. Precisamos pensar em uma resposta para quando encontrá-la.

— O que diremos? Que tenho pesadelos e me agrido enquanto durmo? Não consigo imaginar outra resposta!

Fortes batidas na porta interromperam a conversa. Hazel, em silêncio, se prontificou a atender, mas Charlotte decidiu ir pessoalmente. Sabia quem era a pessoa no corredor e era seu dever consertar seus erros. Deixou que Katherine entrasse no aposento, pois não queria que os guardas ouvissem a conversa séria que teriam.

— Sinto muito se a ofendi de alguma maneira. Quero dizer que o que vi permanecerá em absoluto sigilo, até que decida confiar em mim e me contar o que houve. Desejo sua confiança e espero que em algum dia possa tê-la.

— Tudo bem... Obrigada, Kath, de verdade.

— Até mais! Será um prazer ter a sua companhia durante as manhãs.

Aliviada, Charlie se sentou sobre o colchão da cama e suspirou.

...

A cerimônia ocorreria dali a poucos dias.

Todos no castelo estavam agitados com o grande evento, preparando tudo para o grande casamento do Rei Lothar. Tinham a esperança de que a futura rainha amolecesse o coração do marido e trouxesse a Arroway a harmonia que o reino tanto merecia.

Os moradores de cortiços, vilas e aldeias acreditavam verdadeiramente na jornada de Katherine, que viera das mesmas condições financeiras. Com alguém como ela no poder, tinham fé de que a vida dos pobres poderia melhorar de alguma forma. Charlotte escutava burburinhos e fofocas pelo castelo, e Hazel também a deixava ciente de praticamente tudo o que chegava a seus ouvidos.

Não mais solitárias, as manhãs eram agradáveis. Seguindo a promessa, Kath não perguntou mais sobre as feridas no corpo de Charlotte, o que era o princípio para uma relação saudável de madrasta e enteada. Aparentava ter se esquecido por completo delas, mas a princesa sabia que não e aguardava o momento em que se sentiria pronta para conversar sobre o assunto.

Lothar também estava diferente naquela semana. Parou de torturar a filha como antes, pois agora sua concentração estava direcionada à celebração e ao seu futuro.

Katherine se tornou a grande beleza da cidade. Os cabelos dourados foram escovados pelas damas de companhia e caíam pelas suas costas no formato de uma grande cascata. A seda que vestia tinha uma coloração azul celeste, com alças e saias longas e cheias. Seu visual, com um cordão verde brilhante cujo formato era pentagonal, tinha grandes semelhanças com o da Rainha Lucy.

O rei aguardava a noiva no altar, enquanto a jovem era acompanhada por Ulrick Yorkan, o conselheiro real do homem. Charlotte o achava bonito e admirava o jeito carinhoso que lidava com seus filhos, em algumas vezes sentindo vontade de fazer parte daquela família. Era um homem educado e simples, mesmo sendo amigo de alguém como Lothar.

Músicos tocavam harpas e deixavam o ambiente mais agradável. Todas as pessoas da classe alta estavam presentes, com seus deslumbrantes figurinos, um mais elegante do que o outro. Entretanto, todos perdiam para o daquela que adentrara o templo religioso.

“Está linda demais e parece bastante com minha mãe! Suas semelhanças são imensas. Compreendo por que conquistou o coração de meu pai sem muitas dificuldades.”

Katherine Muirden andou pelo imenso tapete vermelho em direção ao noivo, carregando um buquê de rosas brancas, sujeita aos olhares de todos. Mulheres cochichavam enquanto a observavam, fazendo piadas e fofocas a seu respeito. Homens ficavam impressionados com seu encanto, chegando a babar.

Quando encontrou a noiva ao rei, Ulrick se juntou à bela esposa e ao pequeno casal de filhos que tinham muitas semelhanças com o casal. Aparentavam ser gêmeos, mas Charlotte sabia que o menino era poucos anos mais velho do que a menina.

Lothar colocou em Katherine o manto preto com detalhes vermelhos e uma grande letra W esculpida no centro em tons brilhantes de dourado, assegurando sua proteção e função como rainha de Arroway.

O sacerdote responsável pelo casamento se prontificou a falar.

— Senhores e senhoras, estamos aqui diante dos olhos dos deuses e dos homens para que testemunhemos essa abençoada união. A partir dessa noite, esses dois passarão a ser um só, dividindo uma única alma.

O homem fez um longo discurso, no qual Charlotte não deu a mínima atenção. Repentinamente, sentiu um imenso incômodo ao presenciar aquilo, pressentindo que seu casamento se aproximava cada vez mais, com alguém que seu pai deveria escolher. O único com quem Charlotte se casaria alegremente agora estava morto, e a garota não sabia o que a aguardava no futuro.

Após o cerimonial, todos foram para o grande salão. Sentaram-se em suas respectivas mesas e se fartaram com o banquete que lhes foi servido, repleto de variedades e alguns pratos diferentes do que costumavam ingerir. Várias pessoas estavam aproveitando a comida, inclusive cidadãos pobres que não haviam sido convidados, mas vieram para o palácio com o intuito de receber as sobras. Charlotte ficou surpresa quando o rei não os agrediu ou não se opôs com sua entrada no castelo. Estaria Lothar se redimindo?

Impossível.

O bolo era grande e branco com detalhes roxos em todas as camadas. Sobre o topo, foram colocadas duas miniaturas do rei e da rainha de mãos dadas, representando os recém-casados. Quando lhe foi entregue uma fatia, Charlotte saboreou o doce com prazer.

— Está uma delícia, Hazel! Nunca comi um bolo como este antes!

Charlotte não frequentava festas há anos, sempre preferindo se distanciar dos eventos muito cheios quando tinha chance. Lothar também achava que era o melhor, portanto, não fazia questão da presença da filha, alegando que poderia estragar bons momentos.

Sorriu ao ver crianças alegres correndo pelo salão, derrubando uma das mesas e seus respectivos itens decorativos sobrepostos a ela. Rainha Katherine apenas ria do ocorrido e colocava tudo exatamente onde estava, enquanto Lothar bufava de impaciência.

“Estive errada em relação a ela... É uma boa pessoa, paciente e bondosa. Talvez a única amiga que eu possa ter além de Hazel nesse ninho de cobras venenosas.”

Com esse pensamento, mais tarde retornou para a torre e adormeceu instantaneamente, até o alvorecer. De manhã, após abrir os olhos e se levantar, abriu as janelas para que o quarto se iluminasse e entrasse um pouco mais de ar no cômodo.

Por conta do casamento, não se encontraria com Katherine naquela manhã. Portanto, ficou apenas com a companhia de Hazel durante o dia. Juntas, leram vários livros antigos que Charlotte nem sequer se lembrava da existência, pois estavam guardados e completamente empoeirados. Histórias de contos infantis que lhe eram contadas quando tinha cerca de dois ou três anos. Objetos que a faziam se lembrar do passado com uma triste saudade.

No fim da tarde, quando o sol já estava se pondo, a garota se preparava para receber seu jantar no próprio quarto. Foi nesse momento que Katherine a encontrou nos corredores e ambas caminharam juntas até o aposento.

— Podemos ter uma conversa rápida? — A rainha perguntou, querendo saber se estava em uma hora oportuna e não atrapalhava a princesa em seus afazeres.

— É claro que sim.

Dentro do quarto, Kath prosseguiu com o assunto.

— Gostaria que algumas coisas mudassem em nossos hábitos diários.

— Como o quê?

— Sei que o rei e a princesa possuem o hábito de comer separados. Você, sozinha à noite. Ele, sozinho no salão. A partir de hoje, eu o acompanharei em todas as refeições e desejo que sejamos mais unidos. Poderia ficar conosco amanhã? — Katherine era extremamente gentil. Tinha um charme conquistador, tornando difícil para Charlie recusar o convite de sua madrasta. — Tentaria fazer esse favor a mim? É importante.

— Não posso prometer que conseguirei. — A princesa tentava desviar da promessa, pois não aguentava ficar perto do pai. Sempre que isso acontecia, se lembrava das feridas por baixo das roupas e dos dias em que era torturada sem que ninguém estivesse lá para salvá-la e protegê-la. O que Katherine pedia era desumano, mas a menina compreendia sua intenção.

— Apenas uma tentativa.

— Tudo bem, então.

— Bom, nos vemos amanhã à noite. Talvez haja uma surpresa esperando por você. Aguardo sua presença, Charlotte. — Antes de ir embora, Katherine a abraçou. — Durma bem.


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Notas finais do capítulo

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