Os olhos violetas escrita por Flávia Monte


Capítulo 53
Capítulo 53 - Anjo e Demonio


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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A dor dos meus braços já havia se espalhado pelas minhas costas, ombros, pernas. Bem, eu estava com dor em tudo, e mais ainda na barriga. Exatamente onde estava meu ponto de equilibrio.

Eu conseguia escutar alguns gritos e sons estridentes, contudo, o que me fez querer abrir os olhos foi o barulho de alguma coisa cortando outra.

Eu estava penturada em um dos ombros de Harry e o pouco que eu podia ver era que estávamos no labirinto do túnel. Harry havia acertado a garganta de um ser, me fazendo me lembrar do que ele havia me dito sobre seres mortais e imortais. Por sorte esse morreu.

— Ela está bem? – Escutei a voz de Bernardo mais a frente. E outros sons de algo caindo, metais batendo e respirações pesadas.

— Não acho justo ficarmos com o mais difícil e ela só dormir... – Resmundou Harry.

— Contanto. Que. Ela. Esteja. Segura. – Gritou o loiro, palavra por palavra. – Afinal, estamos mais aptos a uma luta do que ela. Suzanna entrou no ramo dos olhos faz um pouco mais de um ano. Ela mal sabe manuziar uma espada direito!

— Considerando que ela esteve metade desse ano no acampamento de maricas, que você também frequentou... Ela não deve mesmo ser boa o suficiente.

Mesmo com dor, meu orgulho falou mais alto, fazendo com que eu me mexesse no ombro de Harry. Mostrando a ele que eu estava acordada. Assim que percebi que eu iria continuar sendo carregada, comecei a me debater e braços fortes me tiraram daquela posição.

 - Oi, amor. – Sussurrou Bê no meu cabelo. – Que bom que você está bem e ele não conseguiu te machucar de verdade.

Olhei de relance para Harry e agora era ele quem abria caminho entre aqueles seres. No momento, Harry luta contra um ser, parecido com um homem gigante de três pernas e cinco braços, e estava sendo vitorioso. Achei que ter uma perna a mais daria mais estabilidade ao monstro, mas me enganei.

— Onde estamos exatamente?

— Não sei...

— Estou a quanto tempo no ombro dele?

— Faz mais de três horas... Com certeza mais de três. – Bernardo ainda beijava meu cabelo e me abraçava forte. Eu ainda não estava com os pés no chão, ele me segurava de uma maneira protetora, mas fazendo com que meus pés se prendessem em suas costas.

— Três horas? Por causa de um simples aperto nos pulsos? Isso não faz o menor sentido. – Eu reclamei e finalmente toquei meus tênis naquela terra macia. – Eu achei que eu fosse mais resistente. Assim eu nunca conseguirei matar o Branden...

— Você não precisará matá-lo. – Riu meu ex. – Apenas se contente em pegar uma espada do meu clã e ir para cima daqueles pobres seres guardiões.

— Nós não deveriamos seguir as pedras redondas? Estamos perdidios?

— Olhe. Para. O. Teto. – Gritou Harry mais da frente. Imediatamente percebi que o caminho de pedras redondas era lá em cima, não aqui. – Toma. – O garoto me jogou uma espada que caiu a poucos centimetros dos meus pés, fincando na areia.

— O que exatamente são essas coisas? – Cortei o peito de duas ao mesmo tempo e sorri vitoriosa. Cedo demais. Os seres começaram a se recompor até que suas cabeças foram cortadas por Bê.

— Só assim que morrem. Relaxa, demoramos um pouco a perceber também.

— Ok, só preciso pará-las e ficará mais fácil. – Três deles vieram correndo em minha direção. – NÃO MOVAM UM MUSCULO. – Ignorando minha ordem, todos continuaram a vir. Decaptei cada um deles e me apoiei em meus joelhos. -  Por que não consigo usar meus dons com eles?

— Qual foi a parte de “túnel contra magia” que você não entendeu? É para lutar de verdade. Sua vida está em risco aqui.

Paro por um segundo e percebo a facilidade de ambos em matar e arrancar as cabeças dos inimigos. Estamos avançando bem rápido e eu não estou quase precisando tirar a vida dessas coisas estranhas.

— Porque para vocês parece tão mais fácil? – Pergunto enquanto os sigo de perto.

— Isso não é video game, amor. Não temos os mesmos niveis e condições para uma luta. Somos melhores guerreiros que você.

— Somos melhores assassinos, foi isso que Martes quis dizer. – Harry estava suando, mas diferente do Bernardo, continuava com todos os equipamentos de segurança. Parecia mais protegido do que eu. – Se formos pela lógica que viciados sào aqueles que precisam fazer um pouco da atividade ao menos uma vez no dia...

— Seriam viciados em luta. – O interrompi concordando e voltando para a série de mortes inacreditáveis. Ao menos não são humanos.

— Seriamos viciados em matar. – Bernardo me corrigiu, no entanto, não parecia muito confortável com isso.

— Vocês realmente matam todos que não entram para seu clã? – Minha pergunta não é para ninguém em especial, pois os dois poderiam me responder.

— Todos. – Harry respondeu primeiro.

— Tecnicamente. – O loiro complementou.

Não sei por mais quantas horas continuamos naquele massacre, mas depois de um ser incrivelmente grande e rápido, apesar de não fazer sentido, conseguimos chegar no grande portão estilo grade de gaiola. Parecia que tínhamos derrotado o chefão de um jogo e estávamos indo para o prêmio.

Chego perto da porta e a seguro na grossa grade de ouro. Olhando mais de perto percebo que tudo ali dentro estava bem limpo e bonito. Parecia uma biblioteca nacional. Pelo tamanho eu diria “biblioteca mundial”. Grandes estantes de madeiras, alguns andares, poltronas e sofás em alguns cantos. Tudo muito bonito, e vazio.

— Daqui eu não consigo ver ninguém. – Sussurro para os caras atrás de mim.

— Vamos abrir o portão e procurar lá dentro. – Bernardo dá mais alguns passos e fica ao meu lado.

Harry continua parado.

— Vocês tem certeza que querem entrar? Deve ter algum motivo para a Cura estar aqui até hoje.

— Teve, ninguém derrotou todos aqueles monstros como a gente. Vamos logo e para de ser marica. – Resmungou Bê se preparando para empurrar a grade.

— No três todos juntos. – Digo e olho para Harry que começa a se ajeitar ao lado do amigo. – Um.

— Dois. – Diz Bernardo com bastante energia.

— Três... – Murmura o outro.

Empurramos rápido e com força, mas sem necessidade. A porta deslizou com facilidade até ficar completamente escancarada. Olhamos-nos e demos de ombro. Começamos a vasculhar o lugar, juntos, pois a ultima coisa que poderia acontecer era nos separarmos. Harry foi o primeiro a avistar a menininha sentada em uma poltrona vermelha, lendo um livro bem concentrada.

— Com licensa, desculpe te interromper, mas você seria a Parole?

A garota loira continuou quieta lendo.

— Oi? Poderia me responder? Ou ao menos olhar para cá?

— Ei garota, responde! – Gritou o loiro ao meu lado, mas a garota continuou muda apenas lendo.

— Ela está tentando nos fazer ir embora apenas por nos ignorar. Como se nada que fisessemos fosse tirar a atenção dela do livro. No entanto, ela já leu a mesma página umas quatro vezes. – Resmungou Harry sentando-se em um sofá perto dela. – Se ela não liga que estamos aqui, ou se ela vai fingir que não, pouco importa. Pegue o que quiser e vamos embora logo.

A menina deu um pequeno sorriso mais continuou lendo.

— Vocês são irritantes e me desconcentram. O que querem? – A voz dela é fina e baixa, Realmente se parece com uma menininha de dez anos. Uma boa amiga para Rob talvez.

— Queremos que você vá comigo e salve a minha mãe. –Sou direta e depois suspiro.

— Não.

— Não? – Pergunta Bê um pouco estupefato. – Como assim não.

— A palavra é simples. Não. Podem ir embora agora.

— Ei! Mas eu preciso da sua ajuda! Só você pode ajudá-la.

 Parole desvia sua atenção do livro e me olha de cima a baixo. Depois volta a ler e não fala mais nada. Bernardo me olha e eu inclino a cabeça indicando a menina. Meu amigo segura o livro das mãos dela e o fecha.

— Pode nos responder direito agora?

— Eu já respondi. Vocês tem que aprender que não significa não. 

— Eu realmente preciso da sua ajuda. – Respondo e a vejo levantar. Ela me rodeia por longos minutos e então para na minha frente.

— Façam uma fila, lado a lado. Quer que eu responda direito, eu vou então.

Harry despois de resmungar que ele era desnecessario para isso, levantou e veio para meu lado direito. Começando por mim, Parole fez a primeira pergunta:

— O que fará comigo se eu for?

— Pedirei para você salvar minha mãe.

— E se eu não salvar?

— Por que não salvaria? – Pergunto, mas ela continua quieta esperando a minha resposta. – Eu continuaria insistindo.

— Não me obrigaria?

— Não. Eu não precisaria, você me ajudaria. Você é a fruta da cura, me ajudaria, eu sei.

— Não, não sabe. E está mentindo.

Começo a me irritar, mas continuo neutra. Olho para cada um dos dois e eles estão olhando diretamente para a pequena.

— Por favor, nos acompanhe.

— E depois? Depois deu salvar sua mãe. O que fará comigo?

— Nada. Você vem por que quer e volta quando quiser.

— Está mentindo de novo. Você me usaria na guerra que está próxima,

— Não usaria.

— Usaria.

— Não usaria, não!

— Vocês parecem crianças brigando. - Resmungou Harry.

— Quieto, ainda não estou falando com você.

— VOCÊ VAI ACEITAR AMIGAVELMENTE IR COM A GENTE. E PARARÁ DE DISCUTIR COMIGO. – Uso meu dom com o máximo de poder que tenho.

— Não altere a voz, melhore o argumento. – Responde Parole parando de me encarar por um momento e olhando para Bernardo. Voltando-se para mim diz:

— Você quer matar alguém?

— Não.

— Você mente. – Olhou para Bê e refez a pergunta.

— Quero. O lider do clã de olhos de fogo. Eles são do mal, mas se você matar a abelha rainha, o resto para.

— Então acha que o ódio que sente, e a vontade de matar são coisas boas?

— Se for para matá-lo. – Respondeu Bernardo dando de ombros.

— Mas você é um deles.

— Não sou mais.

— Então agora que mudou de lado, pode matar todos os que você um dia chamou de amigo?

— Não. Não sei.

— Ninguém se cura machucando o outro, Loiro. – Parole parece saber todos os nomes dessa sala, mas com certeza não gosta do Bernardo. E como você me usaria?

— Você seria nossa curandeira. Já que seus dons indicam que é isso que faz de melhor, por que não, né?

— Talvez por eu ter escolha própria. – Responde e volta sua atenção para mim. – De tempos em tempos, alguns homens do clã de os olhos de fogo vêm para me retirar daqui. Acontece que estou aqui até hoje e o motivo é bem simples. Eu só saio daqui se eu quiser e eu não quero ficar perto de pessoas ruins. Que desejam o mal alheio. E vocês gostam de morte, e me usariam para reviver SEUS amigos, apenas isso.

— Somos humanos. O que todos querem é a imortalidade, e você pode conceder isso. Então por que não iriam querer te usar?

— Você quer?

— É claro. Não me importa como funciona isso. E se dói em você ou se limita sua vida, por mim tanto faz. Contanto que eu tenha o que eu quiser, não me importaria de algumas mortes.

— Harry! Assim ela não vai nos ajudar. – Digo e ele dá de ombros.

— Não ligue, Suzanna. Ele está mentindo. – Parole, uma menina de uns dez anos para bem em frente a Harry e o faz olhar para baixo. – Acho que ainda não percebeu, mas eu vejo a mentira. Então se puder ser apenas sincero, seremos mais rápidos.

— Tanto faz.

— Por que quer minha ajuda?

— Para me reviver em batalhas.

— Mentira. Você quer a vida eterna? Aquilo que dizem que todos querem?

— Sim. Sou como qualquer um. Seu eu nunca pudesse me machucar eu lutaria com mais facilidade e mataria as pessoas mais de uma forma rápida. Eu adoraria isso.

— Mentira. Mentira. Verdade. Mentira. Você até lutaria mais fácil, mas você não gosta de facilidade. Não é isso que te impressiona. E você não gosta de matar.

— Gosto sim.

— Mentira. Quantas vezes eu tenho que te falar que sei quando mente? – Harry deu de ombros e pareceu começar a ficar angustiado.

— Podemos ir logo para onde interessa?

— Como você me usaria se eu saisse com vocês?

— Não usaria. Isso está a cargo da Suzanna. – Ele não precisou pensar para responder. Harry agiu com desdém, como se aquilo realmente não fosse algo importante.

— Então, você não me quer?

— Quero.

— Por que quer?

— Podemos conversar em particular? Estou me sentindo em um interrogatório. – O moreno coça a cabeça e parece cansado.

— É um interrogatório. Fale aqui. Quanto mais rápido parar de mentir, mais rápido chegaremos a algum lugar. Por que você me quer, Harry?

— Eu nem queria estar aqui. Vim obrigado. Suzanna disse que precisava que eu viesse e eu concordei por que Robert estava me irritando.

— Mentiras e mais mentiras. Seja sincero logo, Harry!  Está começando a me irritar. Por que me quer?

— Por que a Suzanna quer. – Ele diz olhando bem em meus olhos e depois desviando. O resto da gigantesca sala agora parece bem pequena, como se a pressão em seus ombros ocupasse todo o espaço.

— Não é só isso.

— Quero que você salve a Rachel. Ela é uma pessoa boa. Foi muito dificil tirá-la da prisão. – Harry não parecia querer me olhar enquanto falava de minha mãe, mas eu pude escutar na minha mente algumas palavras. - Sim, Suzanna. Fui eu o amigo confiavel que traiu o clã para salva-la. – Harry fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás ao suspirar. - Tive que dar medicamentos que eu não sabia se funcionaria apenas para ela conseguir viver um dia após o outro. Ela já deveria estar morta faz meses, mas ainda não está. Rachel continua viva por minha causa, mas com isso ela está sofrendo e precisa de uma cura de verdade. Ela precisa de você, então eu preciso de você, menininha.

— Então, você não é tão mau quanto diz ser.

— Claro que sou.

— O que você acha da Suzanna? – Parole desviou os olhos dos de Harry e me olhou por meio segundo. – Eu tenho certeza que não sou a única a querer saber a verdade. Você parece saber mais do que diz.

— Não sei o que quer que eu diga. Eu devo a ela.

— Você sabe o que eu quero que diga. A verdade. Vamos, fale, rápido.

— Menina, ele está cansado. Você já fez muitas perguntas. Por que não aceita vir com a gente, salvar a mãe da Suzanna e depois você faz o que bem entender. – Bernardo me segurou pelo ombro e continuou a olhar para a menina loira, chata, irritante e temperamental a nossa frente. – Não vamos te obrigar a nada. Só estamos pedindo um favor.

— Fica na sua, Martes. – Harry ficou entre nós dois e Parole. – Se ela quer falar comigo, ela fala. Pode ser só uma menininha por fora, mas por dentro é uma velha coroca. Pelo o que li, desde que o mundo teve sua primeira doença, essa menina está entre nós. Pelo o que entendi, Suzanna, tratá-la como estupida não vai adiantar em nada para nenhum de nós.

— Não sou uma velha! – Gritou a menininha. – Mas sim, é verdade, estou aqui desde sempre. No entanto, apesar dos anos, para mim tenho apenas essa idade. Muito conteudo, pois leio muito, mas sou pequena como criança e fui usada muitas vezes por homens maiores e mais fortes. Mas aprendi muitas coisas nesses milenios e uma delas foi: Não ser influenciada. Vocês precisam de mim, não ao contrário.

— Como eu estava dizendo... Eu devo a Suzanna. Ela me encontrou em um momento doloroso. Cuidou de mim como nenhum dos meus amigos fez. Na verdade, foram meus amigos que me machucaram. Ela ignorou o fato de eu raptar a mãe dela e ter levado Rachel para a tortura. Ela apenas cuidou de mim. Não interessava o quanto eu a estressasse ela continuava ali.

Harry parou, suspirou e se espreguiçou

— Eu conheci Robert, o irmão mais novo dela. E eu gosto muito dele. Ele tem o mesmo dom que eu, apesar de muito infantil, é bem inteligente e me diz coisas que eu nem fazia idéia. Suzanna fez com que eu conhecesse Asheley, Pergaminho e Nature. Pessoas de bom coração, mas incrivelmente impacientes. Apesar de continuamente eu gritar com eles e até jogar fogo, eu não vou me arrepender de os ter conhecido. – Acho que estou com a boca aberta e uma cara estranha, pois assim que me olha Harry volta a se calar.

— Não me respondeu. – Parole insiste.

— O que foi? Respondi sim.

— Você disse o que ela fez por você, não o que acha dela.

— Arg, que saco. Você não cansa? Eu acho que apesar de tudo, ela é uma boa pessoa. É isso. Você tem que vir conosco, não por algo que eu disse, mas por ela ser boa. E provavelmente a melhor pessoa que passou por aquele portão. – Ele aponta para a grade de ouro, agora fechada.

— É mais que isso. Ou você fala ou eu expulso vocês daqui agora mesmo. Eu sou uma menina, como vocês vivem falando. Não tenho muita paciência.

— Eu te odeio. Mas, Ok. Digamos que eu a conheço faz bastante tempo. Eu não nasci sendo um olho de fogo, como sei que sabe. Mas também não foi o Martes a me trasnformar em um. Pouco antes dos três anos de idade eles me pegaram da rua e cuidaram de mim. E quando fiz oito anos tive a minha primeira missão e única, e essa foi ser a morte da Suzanna. –

Harry me olha fixamente, prende meus olhos nos seus buracos negros e continua a falar:

— Eu me lembro muito bem de quando a conheci. Jogavamos bola no mesmo parquinho por alguns dias. Jogávamos juntos. O pai dela era como ela. Olhos violetas. Roxos para falar a verdade.

Sento na berada do sofá e suspiro. Sem dúvidas eu não esperava que Harry pudesse ser algo mais que um demonio nascido para me matar. Em parte estive certa: Harry nasceu para ser mal. Então, porque... Então, porque eu estou viva? Ele podia ter me matado a dez anos atrás, mas eu estou aqui. E Harry também está. E meu pai viveu mais que isso... Eu não entendo.

— E ele me notou naquele mesmo dia, mas eu não o percebi. Ele sabia quem eu era e o que eu tinha que fazer. Eu sabia o que o pai dela ia fazer comigo. Então fugi. Tentei fugir. Depois de colocar a Suzanna no banco de trás do carro em uma das noites, ele me seguiu e me segurou. Disse que sabia quem eu era, e o que eu era. Disse que eu não precisava fazer aquilo. Que eu não era a morte dela, mas o anjo. Que não fazia diferença o que os chefes falavam, se meu coração dizia que não era certo matá-la, eu não devia matá-la. Depois disso ele a trouxe até mim e a colocou na minha frente. Pegou a faca que tinha na minha cintura e me deu. “Não vou impedi-lo. Faça o que acha que é certo” foi o que ele disse.

— Mas eu estou aqui. – Eu o interrompi. – E não me lembro disso. – Encostei-me melhor no sofá e sentei. – Minha cabeça está girando. Você tem algo para beber aqui, Parole?

Ela nega com a cabeça e volta sua atenção para Harry, que está em pé na sua frente. Mexendo na cabeça como um louco.

— Eu imaginei que não lembraria.

— O que você fez? – Perguntou Parole.

— Eu peguei a faca e cheguei perto de Suzanna. Peguei sua mão e cortei a palma. Fiz o mesmo com a minha. Eu chorei um pouco, mas percebi que ela não chorava. Estava parada, esperando. “E agora?” Suzanna me perguntou e eu peguei a sua mão machucada e coloquei com a minha. Eu disse que agora eu iria a proteger, não seria mais sua morte e sim seu anjo. Desde então ela nunca mais me viu, e...

— E você continuou ao redor dela a protegendo. – Resumiu Parole.

— Como eu disse. Eu devo a Suzanna. Não por ter cuidado de mim, não pelo meu corpo. Eu devo por minha alma. Se eu a tivesse matado, viraria um Sociopata ou qualquer outro assassino do meu clã.

— Admiravél – Parole suspirou e começou a dar voltas em Harry.

— Isso é impossível! Wegel não tinha nada que indicasse ser um dos nossos. – Interrompe Bernardo visivelmente estressado pelo interesse da nossa cura estar do caso mais perdido de todos. Harry.

Parole vira de costas para nós três e vai até uma das estantes. Enquanto isso, Harry e Bê vêm se sentar, cada um em um sofá. A menina continua andando entre os milhares de livros e depois de algum tempo volta.

— Eu vou com vocês. – Diz para mim.

— Ah, que bom! – Levanto e vou para perto dela.

— Eu não vou por sua causa. Ou por sua mãe. Eu vou por causa dele. – Ela aponta para Harry deitado no sofá com uma almofada na cara. – Eu o amo. E vou com vocês, contanto que ele vire meu.

— Quê? – Perguntamos nós três ao mesmo tempo.

— Você não pode estar falando sério! – Gritou Harry se levantando. – Porque?

— Se você é a Cura, Parole. Harry é a Doença. – Diz Bernardo também se levantando.

— Não preciso explicar minhas ações. Vou fazer o que ele quiser. E ele quer que eu salve sua mãe, Suzanna. Então, não tem por que discutir. Se Harry for meu, eu vou com vocês. – A menininha loira anda até Harry e segura a sua mão. – O que me diz?

— Que eu nunca na vida vou ficar com você. – Harry não tirou a mão dela da dele. Mas por dizer a frase inteira, a Cura poderia dizer se era verdade ou não. – Se quer vir por minha causa, saiba que poderá estar ao meu lado em vários momentos. Mas eu não sou nada seu. E nem você é minha. Eu não sou boa pessoa. Não me interessa o que você diga, ou se vê a verdade. Digo o que eu quiser. Faço o que eu quiser. E não espero nada em troca.

— Eu vou com você. – Parole balança a mão livre e segura na gola da sua blusa preta. – Com você. Vou pegar as minhas coisas e espero vocês no portão.

— Ok. – Ele deu de ombros e se encaminhou para as grades de ouro, Bernardo foi atrás.

— Espera, Parole. – Ela parou e me olhou. – Um amigo me disse que você tinha um ancião que te protege. Onde está?

A menina loira sorriu e chegou mais perto.

— Acho que você não reparou nele, não é? – Ela ri e segura a minha mão aberta para cima. – Venha aqui, Maionese.

  Maionese é uma cobra que enfeitava o pulso dela. Uma cobra que parecia uma simples pulseira de pele. Estranha, sim, mas não acharia impossível. E depois de ter visto um esquilo levar Logan para um acampamento dos Olhos.

— Acredito que Maionese seja um homem. Por que ele fica em forma de cobra no seu pulso?

— Algumas cobras têm venenos mortais. A dele é pior. Você disse sobre Harry ser a doença, mas está enganado. Maionese é. Ele mata qualquer coisa. Mesmo em forma de homem, seu toque pode matar. Eu não vejo a verdade, eu menti. – Parole da de ombros. – Ele também não. Ele vê auras. A que você é. A que você está, seus sentimentos. E ele me diz. Por isso, eu sabia tudo o que eu disse. 

— Então... – Percebo quando ele se enrola no meu pulso e para. – Ele é homem... Vai voltar a forma de um quando?

— Quando eu estiver em perigo, ué. – Parole se vira e começa a andar. – Ele gostou de você o suficiente para ficar ai. Talvez mais tarde fale contigo.

— Ei espera! – Grito e a seguro pelo braço. – Ele não tem que te proteger? Ele não pode ficar aqui, comigo.

— Pode e vai. – Eu abro a boca para argumentar, mas seu olhar me cala. – Pelo que entendi, Harry tenta ser um anjo da guarda. Da sua guarda. Eu o quero para mim. Se você estiver em perigo, ele tentará te salvar, pois não confia no Loiro. Tendo Maionese com você, Harry me protege, e te esquece. Entende, bem?

— Ah... Sim... – Paro e olho para o portão onde os garotos estão conversando.

— Mas só para você saber, as únicas pessoas que podem entrar aqui são as que são: Eu, maionese, pessoas do mal ou do clã dos olhos de fogo. Eles têm a tatuagem, então não me interessa a natureza deles, mas você tão tem, Suzanna. – Levanto minha mão para mostrar o anél preto de Harry. - O anél não significa nada, ele só concentra poder, não te camufla.

— Não sei o que você está tentando dizer, Parole.

A menina se vira para mim e dá um sorriso nitidamente feliz.

— Então, Suzanna, você só está aqui por que, de coração, você é má.


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Notas finais do capítulo

Então? Será que a Suzanna é má?



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