Os olhos violetas escrita por Flávia Monte


Capítulo 52
Capítulo 52 - Cade a entrada?


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem



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Eu acordo e já não tem ninguém ao meu lado na cama, mas a coberta está mexida, então dormiu alguém ali sim. Não sei se foi Harry ou Bernardo, simplesmente não liguei ontem a noite e prefiro não perguntar a nenhum deles. Contudo, deve ter sido Bê, pois Harry disse que ia o chamar.

Tiro os pés da cama e tento encontrar os chinelos, sem muito sucesso. Prendo meu cabelo em um coque frouxo, no alto da cabeça e vou para a sala. Eles dois estão conversando baixo, em pé perto da janela. Bê coloca a mão no ombro do moreno e esse se irrita. Com uma sacudida forte, Harry tira a mão apoiada em seu braço e olho para o lado.

— Você não devia ter feito isso.

— Idiota. Você teria feito o mesmo, se estivesse no meu lugar.

— Não faria.

— Ah! Faria, sim. Você sabe muito bem como é a magia.

— É algo natural, e controlável.

— Mano, você sabe que não é assim.

Mano, era só você não ter beijado...

— E como eu iria supor que ela era de um clã extinto? Você ao menos já havia escutado sobre ele?

— A sua missão não era ela?

— Mas eu não sabia quem era ela! Sou a merda de um Transferidor, e você sabe muito bem o que é isso Harry. Você também é um.

Apesar de eu estar na sala, encostada no batente da porta, nenhum dos dois havia me notado. E por estarem de costas suas vozes me confundiam, até Bernardo fala o nome de Harry.

Bê passou a mão pelo cabelo loiro e jogou a cabeça para trás. Normalmente, ele só fazia isso quando estava desesperado ou extremamente irritado. A fisonomia de Harry estava perfeitamente neutra. Só de olha-lo eu não saberia dizer o que sente, no entanto, algo me fazia perceber a sua perturbação.

— Você não é mais um garotinho treinando. Você era o meu superior. Sabe qual é a merda de ter um superior que saiu do Caminho?

— Harry, eu não...

— Eles me culparam, Martes! Disseram que eu seria como você. Que eu sou como você. Não me tiraram essa merda de tatuagem, mas tiraram aquilo de mim.

Aquilo? Você não está querendo dizer...

— Sim, estou! E isso é tudo sua culpa! Se apaixonar? Fala sério, Martes! Não tem nada mais estupido do que isso.

— Não foi assim.

— É claro que foi! E tenho certeza que você ainda tem o seu! Você não sabe a dor que senti quando abriram minha pele para pegar! A dor de colocar não se compara a tirar aquilo daqui de dentro!

— Você sabe que eu nunca faria isso de propósito com você, mano. – Bernardo tentou de novo tocar em Harry, mas o moreno foi mais rápido e desviou.

— Tudo por causa daquela tonta da Suzanna, cara! Qual o seu problema? O que você viu nela de diferente? Todas as outras foram tão fáceis. Tão descartaveis. E quem diria que dessa vez seria você o chutado...

— Eu não fui chutado! E foi diferente por causa do clã amaldiçoado dela! Você sabe muito bem o que são os Ornartos Violetas, agora que a conheceu! Eles nos atraem igual a moscas, mano.

— Não sei ao certo como eles são. Mas sei como a Suzanna é. Um pouco depois de você sumir do radar, ela passou a ser minha missão. Eu sou a morte dela. Eu era a morte dela, até ela virar a minha morte. Mas que tamanha estupides você fez, Martes!

— Não me arrependo. – Bernardo se virou e finalmente percebeu que eu estava ali, mas não parou de falar. – Eu repetiria tudo aquilo. Contanto que eu a tivesse, de novo.

— Você é idiota de perdê-la depois de ficarem ligados. Babaca, egoista e completamente louco por deixar que ela escorregasse por entre seus dedos.

— O que você teria feito?

Harry ficou em silêncio até Bê repetir a pergunta pela terceira vez. Suspirando alto, o moreno apoiou o braço tatuado na pedra da janela e se debruçou.

— Eu não teria feito nada. – Ele solta um pouco devagar demais. – Eu não a ajudaria na escola. Eu não a desculparia por me machucar com aquela águia estranha. Eu não a chamaria para surfar. E mesmo se ela parecesse por lá... Eu não olharia. Eu não falaria com ela durante as aulas. Não avisaria que o Kevin queria apenas comer a Suzanna. E você não sabia, mas ele gostava dela. Eu sabia. Apesar de eu ser o seu seguidor, ele não sabia de você, Martes. Eu não deixei saber. Eu não te entreguei a ninguém. Eu não teria beijado a Suzanna, Martes. Eu não teria feito essa burrice.

— Já entendi, mano. Então o que você teria feito, já que não faria nada do que eu fiz?

— Eu não faria nada do que você fez ou pensou em fazer. Eu apenas terminaria a missão o mais rápido o possível. Como eu sempre faço. Como eu fiz com os outros. Como eu disse para você naquela noite: Nunca te vi assim, que depressão.

— Você nunca amou alguém, Harry. Quando amar, vai entender por que agi como agi.

— Eu já amei, idiota. E você sabe disso, mas ela não está mais...

— Não começa com isso de sonhos! Essa garota que você escreveu com roupa de época era apenas isso. Uma garota que você inventou. Não se compara a Suzanna.

— A Suzanna é apenas uma inútil com uma maldição. Se fosse uma Normal, ela nem te atrairia.

Bernardo ainda estava virado para mim, e todas as suas palavras vinham até meus ouvidos. Mas isso não foi o suficiente para ele. Meu ex-namorado andou até mim, e eu sabia o que ele iria fazer. Segurando minha cintura, tentou plantar um beijo em minha boca, o qual eu me afastei o suficiente para conseguir para-lo.

— Ela me atrairia de qualquer forma.

Harry finalmente se virou e tocou a testa, como se esse simples movimento o fizesse se sentir tonto. O moreno olhou para mim, e seus olhos incrivelmente negros fincaram em mim.

— Eu não aguento mais! – Gritou Bernardo escalando uma das ultimas pedras da montanha. – Não pode ser aqui em cima!

— Se não acharmos logo, minha mãe poderá morrer! – Gritei de volta.

— Se não morreu até agora, aquela moça é indistrutivel! Por que faz muito tempo que a levei para os olhos de fogo, e você não tem noção o quanto ela sofreu! Ah e sem falar nessa doença que o Sr. Branden plantou nela... A cada dia que passa é para que sua mãe fique mais fraca. E ai está você a mais de cinco meses não fazendo nada para ajudá-la.

Olho para Harry com a boca aberta. Apesar de ser tudo verdade, eu não esperava que alguém fosse franco comigo. Mas o desinteresse de todos na melhora da minha mãe também era notável. A diferença é que Harry estava calado. E tudo aquilo veio da sua mente, de novo.

— Sem nem falar o quanto deve estar sendo difícil para ela. A idéia era que a moça já estivesse morta. Provavelmente, o Sr. Branden deve achar que ela está... Ninguém sobreviveu mais de um mês. Aquela velha sinistra que diz ser sua tia deve ter feito algo. Eu conheço o nome dela. Todos conhecem. Ela é tão antiga quanto Branden. Apesar de motivos diferentes... Como você é idiota, Suzanna. Se ao menos eu tivesse uma mãe para me preocupar... Eu nunca teria sequer esquecido que ela poderia estar morrendo. E você, parada, sem fazer nada. Nada me faria esquecer sobre a minha mãe.  – Harry parou e finalmente abriu a boca para falar de verdade. – Você é uma hipócrita mimada, que não sabe dar valor ao que tem.

E assim, mais uma vez naquela manhã, eu fiquei boquiaberta.

— Você não me conhece. – Repeti suas palavras de uma noite.

— Está errada, Inútil. Eu te conheço melhor do que você mesma. Eu te observo faz meses, e sinto muito que seu presente de dezessete anos foi o rapto da sua mãe. Sigo ordens. Você tem um dom estraordário, mas você mal sabe usar isso. Você não vai a escola a quase um ano, e acha isso normal. Pessoas lutando para conseguir um simples livro de matemática e você acha que só por causa do seu dom, você tem o direito de passar na escola. Ano que vem você estará no terceiro ano, como se nada tivesse mudado, que ótimo.

— Harry, você é um babaca! – Eu gritei e o empurrei contra uma pedra enorme. O moreno me olhou com nojo e veio até onde eu estava com mais raiva que nunca.

— Um babaca que você sabe que está certo! – Segurando-me pelo pescoço, me tacou contra a mesma pedra. Chegando mais perto, de novo, Harry me levantou pelos dois braços, não deixando que eu o machucasse. – Você tem que escolher melhor suas lutas.

Tentei me debater, ou dizer algo, mas estava difícil. A forma de ele me segurar tirava todo o meu ar e minha visão estava começando a ficar turva. Aos poucos seus incriveis olhos pretos não estavam mais focados e meu esforço estava sendo todo em vão.

— O que está fazendo com ela? – Eu escutei a voz de Bernardo ao fundo. – Eu encontrei a entrada do túnel!

E tudo ficou preto.


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Notas finais do capítulo

Espero vocês nos comentários!



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