Os olhos violetas escrita por Flávia Monte


Capítulo 51
Capítulo 51 - Minha médica desistiu de cuidar de mim?


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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— O que ele falou? – Ruan sabia que o cara todo tatuado e com um rosto bem expresivo estava falando dele, apesar de não entender nossa lingua. Eu não vejo  mais o Ruan como um demonio... Afinal, ele é apenas como a Sofia. Eu não deveria ter preconceito por causa dos olhos de Ruan. — Ele apontou com a cabeça para mim por quê?

— Não foi nada. – Sussurrei tentando não mentir. Voltei minha atenção para Harry e meu sorriso ficou o mais diabolico possível. Eu não havia realmente cuidado de Harry direito desde o momento em que pedi para Nature ficar dando os remédios e trocando as suas talas. Eu me sentia a vontade demais perto do cara e / portanto / no entanto aquilo não parecia certo. – Pode deitar na cama, querido. Pois agora terei que rever como está aquela sua perna machucada.

Quando me referi a sua lesão a cara do moreno não foi a sua melhor. Seu sorriso arrogante e pomposo reduziu muito, surgindo no lugar um que mostrava sua duvida. Recuando alguns passos para o quarto, Harry tentou fechar a porta de madeira antes que eu pudesse entrar. Para seu azar, eu não deixei que meu ex-paciente fugisse dos meus cuidados. Harry havia dito que estava recuperado, mas na realidade, se estivesse mesmo não teria vindo conosco. Harry não é do tipo generoso.

— O que você pretende fazer, Suzanna? – Resmungou Harry demostrando o quanto de irritação iradiava do seu corpo. E foi muita. Era muito visível o quanto o homem detestava minha ajuda. O quanto detestava a mim.

— É, Suzanna. O que você pretende? – A voz questionadora de Bernardo atrás de mim acabou me fazendo pular de susto. Bê nunca havia me visto perto de Harry até hoje.

Estando apenas a um passo de distância do moreno e já o tocando, fazendo com que esse passe a se sentar na cama, girei a minha cabeça até que Bernardo visse meu rosto de perfil, continuando com meu corpo parado. Vi nos olhos de Bê o desentendimento e a preocupação.

— Por que está tão perto dele? Desde quando você fica assim? Vocês se conheceram apenas naquele dia no penhasco, não foi? Você o encontrou mais tarde? Ele já te encostou. Eu vou matá-lo se ele...

— Vou medir a temperatura do cara. – Ainda olhando de lado peguei o termômetro dentro da caixa que Ruan me emprestou e coloquei em baixo do braço do Harry. – E ainda tenho que ver a perna dele. Ah, e quase me esqueci do mais importante. – Olhei de volta para Harry que estava admirando o chão, sem desviar os olhos negros para mim. – Terei que ver como está o curativo na sua barriga.

— Depois do banho... – Sussurou Harry ao mesmo tempo em que Bernardo disse:

— Sem chance.

— Bê, eu ando cuidando do Harry e sei se eu deixa-lo em suas mãos você não irá nem se importar com ele. Sei que você foi quem o levou para o lado errado, portanto sua opinião em como cuidar de alguém... É irrelevante. Então, não venha tentar me impedir de ajuda-lo quando sei que ele precisa! – Sem olhar para meu ex-namorado continuei a olhar para o garoto sentado na cama.

— Você não precisava ter falado tão dura com ele. – Sussurrou Harry, tão baixo que pareceu não ter sido real.

Até pareceu que havia sido em minha mente, de novo. Algo estranho acontece com Harry ou comigo, por conseguirmos nos comunicar facilmente pela mente. Porém, faz uns dias que não nos falamos mais assim. Depois de me dar conta do que pensei, olhei para Harry e ele não parecia ter escutado meus pensamentos.

Isso de conseguir escutar alguém na minha mente foi pouco frequente até agora. Já aconteceu com Logan e acho que com minha tia, mas com Harry é tão facil de ocorrer. E isso me assusta.

— O que você disse?

— Não é nada não.

Eu ouvi sim o que ele me disse, apenas não compreendi por que eu teria sido dura com Bernardo. Tirei o termometro de baixo do braço sem tatuagem e suspirei forte. Balancei o termometro, limpei com um lenço umido e voltei minha atenção para Harry de novo.

— Você não deveria ter... Você deveria ter me dito quando começou a te incomodar! – Soltei e isso pareceu surpreender o homem a minha frente. E também o que estava perto da porta, atrás de mim. - Vai precisar de ajuda para tirar a blusa e ir tomar banho, ou pode fazer sozinho?

— Sozinho. – Harry mal me deixou terminar a frase quando se adiantou em dizer. – Por que você se importa de eu estar saudável ou doente?

— Vai tomar banho e leve uma muda de roupa. Vou estar te esperando aqui no quarto.

Concordando com a cabeça, o moreno de olhos negros me encarou e depois de alguns segundos se encaminhou para dentro do banheiro, depois do corredor. O loiro deu passagem, mas continuou me olhando da porta. Eu senti algo em arder em mim, e quando digo algo quero dizer o laço que está sofrendo alteração. Aquele mesmo que não deveria mais arder. Ignoro seu olhar e Bê sai de perto.

Esticando os braços e depois os dobrando atrás da cabeça, deitei na cama e esperei. Sendo a cama um pouco dura demais, senti todo o meu corpo estalar e me contorci um pouco. Sem a mínima intensão, eu dormi. Quando abri os olhos não estava mais no quarto, e nem no castelo de Nathan como no inicio das minhas viagens temporais. Eu estava em pé em frente ao Branden.

Ao perceber minha presença o adulto sorriu e antes que eu pudesse sair de sua frente e fugir, eu acordei. Enquanto passava do sonho à realidade eu pude escutar sua voz grutual dizendo poucas palavras:

— Agora você está desprotegida?

— Desculpe, te acordei? – Perguntou uma voz, enquanto eu sentia alguém mexendo no anél que eu estava usando, do clã dos olhos de fogo.

Piscando com dificuldades seu rosto entrou em foco e eu me mexi desconfotável. Sentei na cama e coçei a cabeça tentando entender como fui parar naquele lugar. Foi algo rápido e repentino, mas meus dons nunca foram apenas flash, sem que eu os controlasse nem dez porcento.

— O que você está fazendo? – Sussurrei para ver se não acordava mais ninguém que pudesse estar por ali.

— Pensei que você estivesse morrendo. Não escutei seus batimentos. – Pelo menos significa que meu corpo não foi junto com o sonho. Então, não foi um teletransporte, talvez só um pesadelo. – Achei que minha médica tivesse desistido de cuidar de mim. – Foi apenas um sussurro essa ultima parte, mas a voz do Harry foi tão grossa e direta que mesmo ele não querendo que eu escutasse... Cada palavra foi entendida perfeitamente.

— Não precisa preocupar-se, menino. – Murmurro tentando não sentir dor de cabeça. Contudo, foi em vão. – Eu sou quem deve ficar preocupada com você.

Acostumo aos poucos com o tom escuro do quarto e percebo que Bê não está aqui. Há uma luz fora do quarto acessa e deduzo que é lá que ele se encontra. Harry ainda está me olhando e resmungando. Aos poucos percebo que eu não poderia nunca chamá-lo de menino. E isso fica claro ao olhá-lo só de bermuda ao meu lado.

— Precisamos tratar dos seus ferimentos. – Digo. – Tudo o que está doendo.

Não é necessário que eu diga que Harry ficou resmungando a maior parte do tempo, mas com motivo. Eu não sou nenhuma médica e por isso foi Nature quem cuidou dele recentimente. O que não me agrada muito, pois assim o homem ao meu lado pode enfim ter razão quando me insulta de inútil. Pelo menos sei o básico de sobrevivência, ainda mais quando eu tenho uma caixa de primeiros socorros por aqui.

— Você parece saber o que está fazendo. – Sussurra. – Fico me perguntando onde uma menina tão frágil e indefesa aprendeu sobre medicina? Afinal, pelas minhas pesquisas, você quase não frequentou uma escola.

— Fez pesquisa sobre mim? – A pergunta foi bem ríspida, afinal, ninguém iria querer um caçador atrás de si, não é mesmo?

— Precisei saber com quem Logan andava. – São poucas palavras, mas isso fez certo sentido para mim.

— Então, você queria Logan para o clã dos olhos de fogo, assim como o Bernardo?

— Não.

Ficamos em silêncio enquanto toquei seu corte na barriga. Estava bem inchado e roxo. Mais um lugar onde você abusou, não é Harry? Esse cara com aparencia de mau, cheio de tatuagens e bem gostoso está mentindo em algo. Posso perceber isso.

— O que você queria então?

— Nada.

— Não gosto quando mentem para mim. – Meus olhos brilhando em sua direção não o convencem a falar nada. Logo que termino de mexer em seu tanquinho, me ajeito na cama e dou um longo suspiro. – Você pouco se importa com o que eu penso, eu esqueci. – Sorrio torto, toco no anél de Harry em meu dedo e sinto uma corrente de energia passando por mim.

— Odeio quando você se esquece do quanto você é dispensável para mim, Suzanna. – Harry deve notar que não gostei muiito do que escutei, pois logo em seguida o filho da puta riu. – Olha, Menina Inútil. Eu não quero estar aqui, eu não quero falar sobre meu passado, eu não quero falar sobre minhas missões, não quero falar sobre minha volta ao clã dos olhos de fogo, eu simplesmente não quero lhe contar da minha vida. Você tem que entender que só estou aqui por que já ouvi histórias sobre lá. Eu realmente quero chegar até o outro lado do labirinto. Não por você, mas por mim.

— Espera. Quê labirinto? Não era um túnel?

— Dentro do túnel há um labirinto, e você só chega ao outro lado caso passe por ele. Não sei como faremos tantas coisas carregando todas as armas que você roubou de mim. – Harry me olha com certa raiva, mas continua a explicação do que nos espera. Algo que eu não fazia idéia que esse homem sabia. — Não sei por que sou eu a te dizer disso tudo e não seu namorado. Assim, será algo muito difícil e poucos foram os que conseguiram. Normalmente, você tem de ser do meu clã, então não sei se o anél servirá para te camuflar.

— Tem algo que possa... Tem algo mortal lá dentro?

— Mortal e Imortal. – Harry ri e depois de um toque errado em sua perna grita de dor, abafando com um dos travesseiros. - Há alguns tipos de guardiões dentro do labirinto. Contudo, se não nos perdermos das pedras redondas conseguiremos chegar ao fim.

— Pedras redondas? O chão será de pedras e eu ainda terei que olhar para o chão para me guiar? – Fico um pouco indignada com o que escuto. Afinal, desde quando eu confio em Harry? E desde quando eu sou a Dorothy do Mágico de Oz?

— Quer saber, Gatora Inútil. Eu já vou dormir e lá no sofá. – Estranhei ele dizer isso, contudo tudo bem. – Você pode dormir na cama com seu namorado, vou avisá-lo.

Vejo o homem musculoso levantando da cama e sinto quando se apoia em minha perna. Por alguns segundos percebo seu olhar em mim, porém evito virar meu rosto para vê-lo passar pela porta.

— Eu não... Ele pode... Vou tentar... desculpa. – Escuto alguns fragmentos do que Harry diz, e por isso volto meus olhos em sua direção. Contudo, ele não está lá.

Deito e me viro para o lado. Pouco tempo se passa, estou sem relógio então suponho que menos de duas horas. Escuto a porta de madeira abrindo devagar. Sinto a cama se mover, mas não falo nada. Um braço passar por minha cintura, e alguém apoiando o rosto nos meus cabelos. Continuo calada. Fecho os olhos e durmo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.



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