As horas foram se passando. Arrumei as coisas. Minha primeira aventura de verdade, pensei. Mas que merda passa na minha cabeça ao aceitar ir junto? Eu poderia ficar, minha tia deu essa opção. Porém eu disse que queria ir.

Todos sabemos qual é o clã de cada, mais ou menos. Eu sabia o meu. Orvalhos violetas. Significado, meu grupo é quase extinto, meu clã não existe mais, apenas eu. Sou a unica dos olhos violetas. Terei meu descanço pelo resto do dia. A noite partiremos, ouvi minha própria voz na cabeça.

Fechei os olhos e mais uma vez estava com Ash. Ela respirava pesado. Nathan estava com ela na cama. Os dois completamente vestidos. Apenas dormindo juntos. Respirando juntos. Vejo minha “tataratarara...” avó. Ela da um selinho no seu adormecido amado. E me vê perto de sua mesa. Ash se levanta e vem até mim, devagar. Você só pode estar brincando comigo, penso, ela mesmo desarrumada é mais bonita que qualquer uma. Ela pegou um papél e me trouxe.

“Você deixou a minha alma sangrando no escuro, para que eu pudesse ser o rei, as regras que você ditou ainda não me foram ditas e eu perdi minha fé em tudo

As noites em que você podia lidar com suas intenções eram de ouro, mas as montanhas... elas vão se mover preciso saber que ainda posso fazer você ficar.”

Observei, era a caligrafia de Nathan. Algo tinha rolado com eles aquela noite obviamente. Minha tataratatara... avó olhou para mim e sorriu. Apontou com a cabeça para a varanda. Estando do lado de fora finalmente ouvi a voz dela.

– Eu disse a ele que eu precisava ir. – Ela tinha lagrimas nos olhos. – O principe colocou isso no meu quarto.

– Por que você precisa ir? – Pergunto me sentando e olhando para o céu escuro.

– Meu irmão me contou de você – Olhei em seus olhos, recentimente tão violetas quanto os meus. – Quero dizer, me contou mais. Ele foi a um oráculo, e me levou junto.

– Mas então...

– Irei com você – Ela colocou a mão no coração – Terei que deixar meu amado. Acredito que tu me farás voltar depois, certo?

– Vai comigo? Porque? Como? – Eu não sabia quem estava mais chocada, eu ou ela.

– O oráculo disse que está no meu destino, ir com uma de nós. Ela disse algo sobre moradias... E acredito ser você. Mike também acha.

– Você quis dizer acampamento?

– Eu irei para lá com você – Ash se levantou e limpou o vestido. Olhamos para o céu – Precisaráa de alguém com seu sangue lá, me foi dito. Para te ajudar...

– Então por que seu irmão não vem comigo? – Acho que a ofendi – Quero dizer, ele é mais forte, homem... Não é uma má idéia... Michael ele seria de grande ajuda, certo?

– Senhorita, Susanna? – Ouvi uma voz famíliar – Achei que não a veria mais, no entanto, depois de ir ao oráculo me senti feliz de novo.

Mike sorria.

– Mike, tenho que te dizer de novo que somos da mesma família? – Pergunto

– Mike? – Ash riu – Já estão com intimidades?

– Sim – Ele disse ao mesmo tempo em que eu disse “não”. – Não somos da mesma família, não tem como você saber. E mesmo se formos não há mal em casar com a você, afinal nossa linhagem continuaria limpa.

– Michael Hestings, temos o mesmo sobrenome, e os olhos quase identicos, somos da mesma família com certeza – Faço que sim com a cabeça apesar de saber que meus motivos para dizer isso não faziam muito sentido.

– Senhorita – Ele sorriu e me abraçou – Senti falta da sua teimosia.

– Claro que sentiu – Disse ironica – Quem não sentiria?

– Com licença, temos que ir, lembram? – Ashley disse em um sussurro – Acampamento?

– Vocês tem certeza disso? – Pergunto

– Ei, senhorita, está falando com a princesa e o principe, tudo o que fazemos é planejado – Disse o Mike.

– Terão que aprender muita coisa enquanto estiverem lá... – Balancei a cabeça. – Principalmente falar como a época exige. E, Michael, você pode ser meu tataratarara... avô ou tio de não sei de qual grau. Então pare de tentar ficar comigo!

– Ficar? – Ele me pergunta – Ah, sim, “dar em cima” como você disse da última vez. Eu me lembro bem dos dias que passei com você – Ele deu um suspiro – E enquanto não foi comprovado que somos parentes...

– Você é um Hestings! – Eu quase gritei – E sua irmã disse que você está ligado a Beatrice.

– Mais ou menos – Ele sorri – Minha mãe me abandonou na rua e os pais de Ash cuidaram de mim, eles acharam que não iriam conseguir ter filhos... Pouco depois Ash nasceu.

– Isso não explica seus olhos. – Encarei seus cachos castanhos, quase dourados.

– O conselheiro do rei, ele era um mago. – Ele me respondeu. – Ele ia colocar um feitiço em mim.

– E não colocou porque...?

– Porque eu já era deste clã, só não da mesma família. Mas esse mago apesar de meus pais adotivos mortos, ele ainda gosta de nos agradar, e como eu disse que eu estava ligado a Beatrice ele me fornesceu uma magia imprecionante, e usou em mim. – Ele puxou um pouco a camisa social dele e virou de costas. O simbolo estava lá, porém havia três traços nele. – Os traços significam que o feitiço está fazendo efeito. Quando em cima do laço estiver enfim apagado, o anél que te dei aparecerá aqui – Ele apontou - forte e reluzente, significando que não sou mais ligado a ela.

– Porque o anél que me deu? – Perguntei mexendo no anél no meu dedo.

– Por que é a fonte de poder do nosso clã. Não fui eu que escolhi a marca que ficará. Apesar de gostar de ser o anél, e você ainda o usar – Corei.

– O mago é o mais imprecionante de todos os tempos – Ash completou. – Então o Michael está certo, “tecnicamente”, ele não é do seu sangue, apesar de ser do seu clã... E do meu. Por isso preciso ir, com tudo, ele não me deixará ir sozinha.

– Não mesmo – Ele concordou

– Por isso é melhor irmos logo, antes que Nathan acorde.

– Acorde – Disse Mike segurando em minha mão e na de Ashley e os dois repetiram – Acorde.

Olhei-os mais um pouco. Ash estava de vestido, não deve ter tirado para dormir, Michael estava com uma roupa, parecia social. Eu ainda estava de pijama.

Com um certo esforço consegui voltar a mim e abri os olhos. Olhei em volta. Mike e Ash me olhavam. Com suas roupas antigas. Eu estava com meu pijama também. No entanto, estava no meu quarto e era dia. FUNCIONOU! Gritei a mim mesma.

Demorei um pouco para me mexer e pensar melhor. Logo lembrei que eles não sabiam de nada do século XXI. E nem a se vestir. E nem a falar.

– Sente-se Ash – Apontei para minha cama e fui ao meu armário. Peguei uma calça jeans e uma regata azul e joguei para cama. – Troque o vestido por isso ai. Vocês dois fiquem hoje durante o dia com meus livros, leiam, aprendam a falar como eu falo e por favor se controlem com o uso dos seus poderes.

Com relutancia ela concordou e eu apontei aonde era o banheiro e Ash foi. Peguei mais umas roupas e coloquei em uma mala rosa. Servirá nela? Me perguntei. Olhei e percebi uma coisa: fiquei sozinha com Mike. Ele sorriu e chegou perto de mim. Pegou minha mão e beijou-a.

– E o que posso vestir, minha dama? – Perguntou-me.

– Um amigo meu morava aqui comigo, podemos pegar algumas roupas que ele deixou aqui e fazer a mala de vocês. O mais rápido que conseguirmos, devemos estar atrasados. – Fui ao quarto de Logan com Mike me seguindo.

Sem fazer barulho escolhi algumas roupas do meu amigo e coloquei tudo dentro de uma mochila grande preta. Estava quase tudo pronto quando vi Ash passar em direção do meu quarto.

– Ash aqui – Chamei-a e Ashley entrou no quarto. Olhou para o irmão. Calça jeans escura e uma blusa branca.

– Adorei você moderno, Mike – Ela riu

– Já você está com muita pele aparecendo! Está quase nua! – Afirmou o outro.

– São só os braços de fora, minha nossa... Você não reclamou nenhuma vez das minhas roupas – Comentei

– Para mim não precisava usar roupas – Ele deu de ombros sem timides.

– Sim, ela precisa – Ouvi a voz do meu acorrentado e me virei – Com toda certeza, ela precisa usar roupa.

Depois de todas as apressentações e explicações, minha tia concordou em levarmos os únicos outros do meu clã. E que era uma surpressa muito grande ver três de nós reunidos. E que também era perigoso.

No dia seguinte, depois de bastante estudo dos meus parentes finalmente estavam prontos. Ok, muito pouco tempo para aprender. Eles não faziam idéia da História que perderam, nem que agora a química está muito avançada e outras coisas. Mas pelo menos as suas falas estam mais tranquilas de entender.

Fomos de carro até a costa da cidade. Quando avistei o navio senti uma enorme vontade de vomitar. Sentei no ponto mais alto do convés para ficar sozinha e não pensar em como o mar me faz ficar tonta. E que o barco poderia afundar a qualquer momento.

– Ei, princesa – A voz famíliar me chamou – Sabia que fica linda assim, na verdade, de qualquer jeito ficaria perfeita.

– Menos vomitando – Eu disse e olhei para o céu. – É muito longe? Até que ponto do oceano iremos?

– Não sei... Sua tia deu ordem específicas para o capitão. E ele não me dá nenhuma informação. – Diz Bernardo, com seus lindos olhos dourados. Com os olhos do Logan.

Me deitei aproveitando o vento. Fechando meus olhos me senti leve. Sem males. Sem nada errado. Dormi. Sem sonho, sem nada. Apenas sono.

Quando acordei ainda não dava para ver a ilha. Olhei para o horizonte e como em um piscar de olhos. A ilha apareceu bem grante na frente do navio. Esfreguei os olhos para ter certeza. “Mágica”. A palavra veio na minha mente. Deviamos ter passado por alguma proteção que o deixava invisivel. Me virei para os demais do grupo. Bernardo ao meu lado, me encarando. Sofia e Robert conversando em um dos lados. Mike e Ashley em outro. Todos bem confortáveis por fora, porém conseguia sentir a angustia de cada um.