The Mistake Of Chris escrita por Realeza


Capítulo 2
Broken clock and Civil War


Notas iniciais do capítulo

*Relógio quebrado e Guerra Civil
Primeiro: eu realmente sei que esse capítulo tá meio curto, mas a tia Alasca explica bem rapidinho: o primeiro capítulo era bem maior, mas eu achei que o ia ficar muito grande e cansativo, então eu dividi, certo? mas precisava dividir de uma forma que fizesse sentido separadamente, entendem? Pois é, ai esse pedaço ficou meio curto. Aliás, vou tentar manter os capítulos todos com uma média de umas duas mil palavras, pode ser? Digam, por favor, o que vocês preferem.



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Abro a gaveta do criado mudo para pegar um lápis e anotar que não posso esquecer dizer a Steve que preciso de novos pares de meias, e tenho que desviar de um envelope branco. Pego o lápis e anoto em letras cursivas num bloquinho “Meias novas”. É suficientemente claro para que eu não me confunda. Deixo o papel em cima da escrivaninha, dou meia volta, e me sento na cama, conferindo o horário no relógio de madeira ao lado da porta. 15:40. Faltam dez minutos exatos para eu me encontrar com Callie na biblioteca. Acredito que nós vamos estudar filosofia. Eu espero mesmo que nós estudemos filosofia. É nossa forma de não enlouquecer aqui dentro.

Meus olhos vão diretamente de volta para a gavetinha branca do criado mudo, e pousam lá, relembrando no que toquei para achar o lápis. Fecho os olhos com força, o suficiente para me dar uma dor incomoda na cabeça, mas não consigo controlar. Torço para que quando abri-los novamente, seja a aula que tanto espero e não precise lutar contra minhas malditas palavras por uma hora. Mantenho os olhos fechados e respiro fundo, me acalmando lentamente. Abro-os, com calma, e miro o relógio, em busca que o ponteiro médio esteja sobre o número dez, mas me deparo com dois minutos passados desde a última vistoria.

Levanto rapidamente, alcanço o relógio com a ponta dos dedos, seguro-o com força um último instante antes de espatifa-lo no chão. O vidro se quebra em pedacinhos e voa pelo quarto. Por um segundo, os cristais minúsculos no chão se iluminam pela luz do sol que entra pela cortina entreaberta e criam algo belo, bonito o suficiente para que neste segundo eu me esqueça do porquê de ter feito isso. Apenas um segundo. Lembro-me de estar com raiva, pelo tempo não passar, por essa tarefa idiota, por essas cartas estúpidas, pelas minhas palavras destinadas a ninguém. Cinco cartas escritas para o grande nada. Tento fugir delas, me esconder em qualquer outra tarefa, mas sempre que olho para o móvel branco ao lado da minha cama, elas estão lá. E o tempo não colabora. Esse é sempre o problema, o tempo se recusa a passar, curar as coisas.

Pego uma fronha da almofada e coloco em uma das mãos, para recolher os cacos do vidro estilhaçado. Coloco-os cuidadosamente dentro de um saco plástico. Confiro se o relógio ainda funciona, e quando a resposta é sim, eu o recoloco na parede e me sento na cama. Faltam cinco minutos para a aula.

Abro a gaveta, pego os cinco envelopes brancos numerados no canto superior direito pela ordem em que foram escritos. Todos eles estão com um lacre de vela amarelado, denunciando que não foram lidos. Jeff que deu a ideia de lacrar minhas cartas dessa forma, ele diz que já que as cartas são tão impessoais, vazias de nós mesmos, devemos colocar um breve detalhe que lembre a nós que aquilo é sobre mim. O caso é que minhas palavras são tão vagas que parecem escritas por um estranho. Me tornei estranho para mim mesmo. Consigo ver em minha memória as últimas duas semanas e meia em que escrevi-as. Me sinto tão culpado que não estou sendo eu mesmo, que não estou me abrindo com ninguém. Sinto que estou me perdendo. Foco em minhas mãos, surpreendendo-me com os envelopes marcados com gotas de lágrimas.

Jogo-os de canto, e vou até o espelho que fica atrás da porta. Olho para meu reflexo. Estou vazio de mim mesmo.

***

Caminho até a biblioteca contando passos. Já passei na enfermaria e tomei meus remédios das quatro da tarde. Odeio o fato de fazer isso o tempo todo, mas é quase inevitável. 152, 153. Esbarro num paciente que eu não conheço, este que é mais alto que eu, moreno e com os cabelos raspados. Ele me lança um olhar ameaçador, e apenas murmuro um pedido de desculpas qualquer, torcendo para que ele volte a caminhar e simplesmente esqueça que eu existo. Por um segundo inteiro, tenho que conviver com a dúvida de que o cara vá vir socar meu rosto até quebrar meu nariz, fazendo um filete de sangue escorrer até meus lábios, ou se vai continuar caminhando com suas botas pretas de couro e solado grosso.

Quando o cara apenas segue o corredor, eu suspiro de alívio. Minhas mãos tremem ligeiramente enquanto seguro o corrimão com força e tento descer devagar, antes que meus joelhos falhem e eu termine na maldita enfermaria.

Passo pelas portas duplas da biblioteca e, com uma rápida vistoria no local, vejo que Callie ainda não chegou. Estudo com ela o tempo todo. É nossa maneira de não enlouquecer aqui dentro. Quer dizer, de não enlouquecer mais ainda.

Jeff, por algum motivo desconhecido, está na pequena varanda do lugar, sentado na mureta de concreto, e vou até lá quase que por instinto.

— Quer? ­— Ele me oferece, me esticando uma caneca térmica prateada e já cheia de arranhões. Jeff sempre veste a mesma jaqueta jeans de sempre, e me pergunto quando ele a lava. Se a lava, principalmente.

— Desde quando você toma café pela tarde? — pergunto, e ele me dá um sorriso malicioso, e um tapa na cabeça, me fazendo oscilar para frente.

— Não é café, seu pobre ingênuo. — Jeff toma um gole e me oferece novamente. — É vinho.

Afasto a caneca de mim, devolvendo-a para Jeff. Eu e bebidas alcoólicas não combinamos nem um pouco. Elas não podem se juntar aos meus remédios, ou vão anular o efeito destes. “E você vai voltar a ficar mal, Chris. Você não quer isso, não é?” Ouço a voz da Dra. Lee na minha mente, a conversa que tivemos a tempo ainda martelando em minha mente.

Callie atravessa as mesmas portas pelas quais passei a pouco. Ela é suficientemente alta, tem 18 anos, com um corpo bonito, e poderia ser modelo ou algo do tipo se não estivesse aqui. Percebo, enquanto ela se aproxima de uma das mesas, que tem até mesmo o andar de modelo. E está, esse é o problema. Ela foi internada por estar em depressão, e estar se automutilando. Callie mostra o tempo todo que só precisa de atenção, e mostra isso ficando com qualquer garoto minimamente são, e fumando. Como ela consegue os cigarros é uma dúvida para mim, mesmo estando aqui a um ano, mas provavelmente é do mesmo lugar que Jeff tira seu vinho. Ela e ele chegaram aqui no mesmo período, a dois anos, e Jeff diz que o progresso dela é lento, mas notável, já que no começo ela fazia sexo com qualquer cara que aparecesse, até com enfermeiros e guardas se eles quisessem, até que a irmã a visitou, e, independentemente do que ela tenha falado, surgiu algum efeito na garota.

Depois que senta e distribui os livros que trazia sobre a mesa, acena para que me junte a ela, completando com um sorriso. Ela é linda pra caramba. Faço um sinal de que já vou.

Jeff olha para mim com um outro sorriso malicioso nos lábios. Balanço a cabeça como quando não entendo, e ele se posiciona bem na minha frente.

— É só difícil de acreditar que vocês nunca ficaram. — Ele diz, e dá de ombros.

— Somos amigos, eu acho. Ela quer companhia e gosta de aprender. Não é nada além disso. — respondo, enquanto folheio o caderno que já tinha em mãos em busca da página onde parei as anotações, querendo ir sentar com Callie imediatamente.

— Nunca rolou nem um beijo? Nada?

— Não. Nunca. Ela não me vê assim.

— Ela vê todo mundo assim, Chris. Você devia ter visto ela antes, cara. Callie deve ser ninfomaníaca. — Jeff sai da minha frente e faz um gesto exagerado para que eu vá até ela. Odeio quando ele fala assim de Callie, como se ela fizesse algum mal a alguém que não fosse ela própria.

— Olá, bonitinho! — Ela anuncia, completando com um meio sorriso. Eu e Callie somos amigos, eu acho. Na verdade, faz um tempo que não tenho amigos, então é meio difícil definir um. Puxo a cadeira a sua frente e me sento. Seus cabelos loiros estão presos num rabo de cavalo, e algumas mechas caem sobre a regata laranja que ela usa. — O que acha de Guerra de Secessão pra hoje? Eu já separei os conteúdos, mas pode escolher outra coisa se preferir.

— O que você quiser. — digo, e gesticulo com as mãos, completando com um leve sorriso. Callie é o tipo de pessoa pra qual você gosta de sorrir, só para vê-la sorrir de volta. E é isso o que ela faz. Demorou para que eu me acostumasse com o fato de que sim, Callie é simpática, linda e inteligente pra caramba. Pelo menos aqui dentro, é claro. Não acho que gostaria de conhecer a Callie de antes.

Talvez esse seja um dos motivos para eu ser considerado estranho no colégio, por gostar de estudar. “Ei Chris! Ninguém liga pra essa merda, só você. Cara, você precisa de tratamento, não é normal alguém curtir história!”. A voz Justin Cross entra na minha mente antes que eu possa controlar. Ele gritou comigo quando explicava Guerra de Secessão para Ellie a mais de um ano. Exatamente o mesmo conteúdo que Callie escolheu pra hoje. Bato a mão na cabeça instantaneamente, fazendo a voz sessar, e atraindo a atenção da garota a minha frente no mesmo momento.

— Você tá bem, Chris? — Sua expressão transborda preocupação, e me sinto culpado. Digo que sim, que não foi nada, sorrio algumas vezes para tranquiliza-la, e em pouco tempo estamos tão imersos no conteúdo que acho que Callie nem se lembra mais do meu leve surto.

Quando terminamos, nós dois exibimos orgulhosos expressões de satisfação. Volto para o quarto contando passos novamente, e tomo um cuidado extra de não esbarar em ninguém.

No quarto, vejo os mesmos envelopes ainda jogados sobre a cama. Ouço meu coração batendo mais alto, meus dedos ficando tensos e deixando a caneta cair no chão de assoalho. Pego-os e jogo-os de volta dentro da gaveta, batendo com força. Deito na cama, jogando o caderno no chão. Volto a respirar fundo, tentando me acalmar.


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Notas finais do capítulo

Vamos papear pelos comentários, meus amores. Deixem ai embaixo suas opiniões sobre o que acham que pode acontecer, o que levou o Chris até o hospital, o que pode acontecer com a Callie ou com o Jeff. Lembrando que eu ainda estou escrevendo a história, então vocês podem acabar me dando alguma nova ideia.
Prometo de dedo mindinho que respondo os comentários sendo a melhor autora evermente (no sentido simpatia, né queridos), mas deixem apenas alguma coisinha pra mim, ok?