The Mistake Of Chris escrita por Realeza


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoinhas! Bem, eu não tenho muito o que dizer agora. Essa é a verdade. Mas, vocês precisam saber que esse é o prólogo da história, é a primeira carta do Chris para a Hannah. No próximo capítulo, tem a parte de o Chris começar a escrever essa primeira carta. Enfim, é basicamente isso. E não tem muita regra quanto as cartas, ok? elas podem aparecer como um capítulo único, ou inclusas nos capítulos mesmo. Espero de coração que gostem, sério. E por favorzinho, comentem o que acharam quando finalizarem a leitura.



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Querida Hannah,

Talvez você não se lembre de mim, mas guardo em minha memória cada traço de seu rosto. Para refrescar sua memória, fui o cara que morou na casa de frente a sua durante dez anos. Chris. Espero que você tenha também me guardado na memória, já que certas coisas nunca são esquecidas, e eu gostaria de ser algo assim para você.

Talvez seus pais tenham te privado de saber do horror que fiz, seja lá qual esse for, já que nem é de meu conhecimento (os médicos chamam de amnésia pós traumática), que me fez parar num hospital de saúde mental e talvez você não me odeie como todo o resto do mundo, e se assim for, quero que receba minhas cartas. Só receber. Sem respostas.

Há duas semanas atrás eu e todos os demais pacientes entre 14 e 21 anos, que você se surpreenderia com a quantidade, recebemos a seguinte tarefa: escrever cartas onde nós nos abrimos, mas que nunca seriam lidas. Nem mesmo pelos médicos, eles prometeram. O objetivo é que deixemos nossas mágoas para trás, já que muitos se recusam a falar de verdade com um psicólogo ou, como eu, realmente não se lembram e estão bem assim. Eu escrevi as minhas cinco primeiras cartas, todas vagas, porque afinal quem se dedicaria a um trabalho que será esquecido para sempre dentro de alguma gaveta, com os selos de cera ainda intactos? Até que meu irmão, Steve, teve a ideia de eu escrever para alguém que eu considerasse realmente importante para mim. Acho que Steve pensou em si mesmo como receptor, mas de um jeito ou de outro, Steve guarda rancor de mim. Ele não se conforma com o que fiz e ainda assim não me lembrar. Pensei em você, Hannah. A garota de cabelos castanhos claros e sardas, e brilhantes olhos verdes. Sei que você não me odeia, pois é incapaz de tal ato.

Primeiro, quero te contar como é aqui. São no total cento e vinte e dois quartos em todos os três prédios. A praticidade do lugar impôs que no primeiro prédio, estão aqueles com leves distúrbios, com algum trauma que será logo curado e eles se vão. No segundo prédio, estão os que apresentam algum perigo a sociedade ou a si mesmos, ou seja, qualquer um que já tenha tentado suicídio ou é um sociopata. Os do terceiro prédio são os realmente loucos, posso ouvir alguns gritos deles pelo do quarto pela noite.

Sou do segundo prédio, caso isso me ajude a não parecer um maníaco.

Nós não temos quartos compartilhados, pois gera muito conflitos entre os companheiros. Aqui é proibido qualquer tipo de comunicação com o mundo exterior ou com pertencentes a outro prédio sem autorização de um médico ou de um familiar. Passo muito tempo lendo, Hannah. Também passo muito tempo imaginando como estão as coisas aí fora. Como estão as pessoas, principalmente. Queria saber se sua casa ainda é amarela e se você ainda dá banho no seu cão, Bob, todos os domingos que fazem sol.

Eu amo sua casa, Hannah. Desculpe se nunca tinha dito, mas amo. Talvez eu ame mais sua casa do que a minha. Adoro o fato de sua casa ser amarela, amarelo vibrante mesmo, e que na primavera, a árvore da frente se enche de flores cor de rosa. Meu Deus, parece que todos que moram lá estão sempre de bom humor e não há nenhum mal do mundo que pode mudar isso. Quando eu pensei nisso pelo primeira vez, pedi ao meu pai que pintasse nossa casa de amarelo também, para que acontecesse a mesma coisa conosco. Eu lembro de dizer “Ei, pai. Olha a casa amarela, parece que todo mundo é sempre feliz. Pai, nossa casa também poderia ser amarela, não é?” Pensando bem, ficaria ridículo duas casas da mesma cor uma de frente a outra, e eu duvido que isso deixasse minha família feliz. A resposta do meu pai veio em etapas, primeiro, um tapa forte do lado esquerdo do rosto, depois os insultos, e depois, os gritos. Ele dizia que não poderia gastar com bobagens de um garoto, que eu era um idiota e que a menor preocupação da vida dele era se eu estava feliz com a cor da nossa casa. Eu bati a cabeça na parede durante dez minutos questionando a Deus porque coisas ruins tinham que acontecer comigo. Aposto que você nunca agiu assim, não é, Hannah?

Acho que você também não tem Dias Ruins. Não estou dizendo que todos os momentos de sua vida, sem qualquer única exceção, sejam bons, mas você não deve ter o que eu chamo de Dias Ruins. Você tem problemas, é claro, mas não como as pessoas daqui. Não como eu.

Nos meus dias ruins, que acontecem três ou quatro vezes ao mês, são dias em que qualquer coisa me deixa mal, realmente mal. O suficiente para voltar a bater a cabeça na parede, ou bater em mim mesmo com qualquer coisa que encontrar. Eu normalmente escolho as minhas coxas como alvo, pois assim não será visível para o resto das pessoas. Nos meus Dias Ruins, eu choro até não conseguir mais chorar, e depois fico deitado até o dia seguinte.

E tem os remédios, que vem e voltam em carrinhos pelas enfermeiras.

Diferente de muitas pessoas aqui, eu não questiono a existência de Deus. Sei que ele existe e, para falar a verdade, até tenho certa fé Nele, dentro do possível para alguém como eu. Sei que o que fiz é tão ruim a ponto de estar aqui, e que isso é uma punição mundana e celestial, e que Deus me dá Dias Ruins para me lembrar que devido ao meu erro, eu nunca mais posso ser feliz. Não completamente feliz.

Eu não converso com muita gente aqui dentro. Têm o Sr. Hughes, que tem 64 anos e doença de Pick. Ele morrerá em mais seis anos, no máximo. A doença só permite que ele viva dez anos após o diagnóstico. O caso é que eu não falo realmente com o cara, ele já apresenta algumas dificuldades de comunicação. Em vez disso, assistimos a filmes antigos em preto e branco num aparelho de vídeo cassete que ele tem em seu quarto, além de ouvirmos discos tão velhos quanto ele. Apesar da doença, ele é do tipo de velho simpático, então meio que acredito que ele me acolheu como um neto. O cara que eu mais falo aqui dentro é o Jeff. Ele é mais velho, tem 19. Diferente de mim, ele lembra com detalhes o que fez para estar aqui, e bem, ele matou os pais. Tecnicamente falando, Jeff seria um perigo para todos nós, mas sua ficha médica não diz isso. Não que ele não se sinta culpado por isso, mas isso apenas não o afeta mais. Jeff diz que isso ficou unicamente no passado, e ficar remoendo seus erros diariamente é uma perca de tempo e desperdício de oxigênio. O presente dele é esse hospital, e o futuro é alugar um apartamento pequeno onde ele possa morar com a namorada.

Eu gostaria de ser como Jeff, assim, desapegado das coisas. Sou apegado demais a tudo o que tenho, tive, vivo e vivi. Sou apegado demais a tudo o que fiz. E de novo, quero mais do que tudo saber o que fiz. Deus, como eu quero. Talvez um dia o Senhor escute minha orações e torne meus dias menos infelizes me devolvendo a memória, talvez a culpa e todo este castigo passe a fazer algum sentido.

Hannah, você já sentiu culpa? Culpa séria, do tipo quando você sabe que mesmo que pedir desculpas e ficar sem mesada, ou sem poder sair por um mês não vai fazer a menor diferença? Culpa que você sabe que nunca será perdoado, e que ninguém voltará a te amar como antes do seu erro, se é que alguém ainda te amará? Sei que o que fiz é totalmente imperdoável, e isso não vai mudar, mesmo que Steve diga mil vezes que todos já esqueceram disso, e que eu posso me curar e sair daqui, ter uma vida normal.

O caso é que Steve realmente acha que eu posso ser curado. Ele acredita de corpo e alma que isso comigo é uma coisa passageira, que amanhã eu vou acordar como antes, e poderemos ter um recomeço em outro estado, outra cidade, sei lá. Mesmo que eu me lembre, que eu me arrependa, isso vai ser um fantasma que vai estar sempre comigo. Não importa em quantos estados diferentes eu morar, isso vai me seguir, vou passar o resto dos meus dias com o fantasma ao lado, e sempre que me esquecer por um segundo de sua presença, os dez segundos depois ele vai me aterrorizar. Não posso fugir do que fiz. Lembrando ou não, isso faz parte de mim.

Ah, esqueci de comentar que pedirei para Steve entregar pessoalmente essa primeira carta. Quero que ele te veja por mim, enquanto eu mesmo não puder te ver.

Com amor,

Chris.


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Notas finais do capítulo

Sei que essa primeira postagem é meio para o nada, mas postar a história me faz persistir nela, tipo, não abandona-la.Mas se houver alguém que leu isso, que está me ouvindo neste segundo (lendo?), se manifeste, pessoinha.