Dossiê Bellatrix escrita por Ly Anne Black


Capítulo 3
Mestre e Êxtase


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a Priscila e Isabelle Mussa que comentaram nos últimos capítulos.



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A carruagem parou. E ela estava pronta para encarar Lord Voldemort.

– Que lugar é esse? – Bella sussurrou para Rodolphos, enquanto fixava o seu redor. Estava frio e um vento cortante mal permitia manterem os olhos abertos, mas pelos contornos de lápides e estátuas em mármore, supunha ser um cemitério trouxa. Suas botas afundavam em um chão lamacento.

– Fiquem próximos um dos outros, Milord não tardará a chegar...

Mal Rodolphos acabou de falar, uma figura alta e encapuzada aparatou perto deles. Alguns se encolheram, e, curiosamente, o vento frio parou de soprar... quanto mais a figura se aproximava, mais abafado e silencioso o cemitério se tornava, até parecer completamente... morto. Rodolphos se adiantou, e se curvou exageradamente diante do homem encapuzado.

– Milord – ele se levantou, um pouco trêmulo – Eu os trouxe como o senhor me ordenou...

– Lestrange, você me garante que ninguém sabe que estes alunos estão aqui? Ninguém os viu sair, nem foram informados... não há nenhum espião entre eles?

O jovem olhou para os alunos como se pudesse naquele breve momento perceber se um deles estava ali para traí-los.

– Tenho certeza que tudo correu perfeitamente bem, Milord, e que são todos confiáveis.

– Eu quero ter certeza de que você está ciente, então, Lestrange, que pagará qualquer erro com a sua própria vida?

– S-sim, Milord.

Lord Voldemort se aproximou do grupo e olhou o rosto de um a um sob seu capuz, que no entanto não deixava entrever sua própria feição. Os jovens se encolhiam sob aquele olhar como se estivessem sendo inspecionados no intimo de suas almas... Bella sentiu-se invadida, completamente exposta, e agüentou firme.

– Senhores, lhes dou a última chance de desistirem. Os que decidirem por ficar, a partir daqui, devem estar cientes de que, uma vez a serviço de Lord Voldemort, sempre com Lord Voldemort.

Bella olhou ao redor... ninguém se atreveu a mudar de ideia. Ou talvez estivessem tão ansiosos pela proximidade com o grande Lord negro que não conseguissem falar. Ela estava saboreando a voz daquele homem como nenhuma outra que já tivesse ouvido. Estava absolutamente encantada.

– Você – Lord Voldemort apontou com um dedo branco e anormalmente longo para um garoto entre eles. – Venha até aqui.

Ela se surpreendeu ao perceber que se tratava de Regulus; ela não tinha reparado na presença dele por todo o caminho. De alguma forma, seu primo parecia deslocado daquele lugar... a pele do rosto, branco leitosa, iluminada pela lua e os lábios arroxeados pelo frio. No entanto, o garoto andou com dignidade até a sombra negra de Voldemort.

– Como se chama, garoto?

– Regulus Black. – ele olhou de relance para Bellatrix.

– E o que pensa que esta fazendo aqui?

– Quero ser um comensal da morte, senhor.

Bellatrix deu razão a Voldemort quando este deu uma gargalhada carregada de sarcasmo. Regulus mal tinha passado dos quatorze anos e a sua voz ainda era rouca e infantil, e ele parecia mais com um dos anjos de mármore do cemitério do que um comensal da morte, com seus cabelos encaracolados e olhos azuis.

– Lestrange! – Voldemort virou-se para Rodolphos, que sobressaltou-se – Quando lhe disse que trouxesse-me jovens capazes de lutar, eu estava querendo acreditar que você não me traria crianças!

– Perdão Milord, mas acredito que Regulus Black, apesar da aparência, possa lhe ser útil... o garoto tem perspicácia.

– Ele vai precisar de mais do que isso para ser um de nós – O Lord negro voltou-se para Regulus, que a essa altura já não estava mais tão confiante – Pegue a sua varinha, moleque, e prove que merece estar aqui.

Regulus deixou a varinha cair, tal qual era o nervosismo. Bella se viu desejado que um milagre acontecesse e tornasse seu primo estúpido capaz de não decepcionar o Lord. Mas ela não acreditava muito nisso.

– Você conhece as maldições imperdoáveis, Black?

– S-sim. – Bellatrix viu gotas de suor brotando na testa alva de Regulus e encharcando seus cabelos negros, apesar do frio.

– Quero que aplique uma delas em Lestrange. – ele apontou para Rodolphos, que ergueu uma sobrancelha, incrédulo. – A que você quiser.

Por um momento suspenso de tensão, a cena do pequeno Regulus apontando a varinha tremula para Rodolphos pareceu congelada. Estava claro que, por mais que não acreditassem na capacidade do garoto, temiam pelo que aconteceria – se ele errasse, ou se acertasse, as conseqüências seriam igualmente preocupantes. Bella mordeu o lábio inferior sem perceber.

– Vá em frente, Black. Ele não irá reagir.

Regulus abriu a boca. Respirou fundo o ar gélido da noite e tentou:

– Cruc... Crucis... Crucious!

Um lampejo vermelho saiu da varinha com impulso de um tiro, e Regulus caiu sentado como um boneco de pano, enquanto seu feitiço se desfazia no ar. Rodolphos riu, alguns outros jovens riram. Bellatrix estava com os olhos presos em Voldemort... mesmo por baixo do capuz que ocultava sua face, algo a fez perceber que o Lord Negro estava contrariado... ele se aproximou de Regulus com a varinha apontada diretamente para a testa do garoto, que apertou os olhos azuis com força.

– Moleque tolo! Pensa que pode vir aqui e desperdiçar o tempo do Lord Voldemort? Pois vou lhe mostrar o jeito mais simples de aprender uma maldição proibida! Cruccio!

Regulus gritou, se contorceu horrivelmente no chão como se estivesse em chamas, cravou as unhas nas palmas das mãos e bateu sucessivamente a cabeça na terra úmida, numa tentativa desesperada de se livrar da dor excruciante que tomava seu corpo. O coração de Bella batia acelerado, uma revolta pungente atribuía um amargor dentro da sua boca... ela não tinha nenhuma predileção especial por Regulus, mas ver um membro da família Black sendo submetido ainda lhe era perturbador.

Não o suficiente para intervir, obviamente.

O que não foi preciso, porque Voldemort finalizou a Maldição Cruciatos e deixou Regulus, semi-inconsciente, largado no chão.

– Eu acredito que o resto de vocês tenha entendido o nível que espero dos que estão aqui hoje. Não quero surpresas desagradáveis, como descobrir que tenho aqui um sangue ruim, um mestiço ou um defensor de trouxas imundo. Caso isso ocorra, não serei tão gentil como fui com o nosso amigo Black. – e cutucou Regulus nas costelas com a ponta do sapato. O garoto soltou um gemido, o que era bom – significava que ao menos, sobrevivera. – Então, quem pode me mostrar a que veio?

O silêncio recaiu sobre eles. Ninguém parecia confiante o suficiente para arriscar e depois ter um destino parecido com o de Regulus. Afinal, coragem era para grifinórios.

– Milord. – a voz de Bella ecoou pelo cemitério vazio, e não demonstrava sequer uma nota de insegurança – Estou disposta a mostrar a que vim. Se me permite...

Ela fez uma reverência como a que Rodolphos tinha feito. Levantou-se, fitando a face oculta do homem a sua frente.

– E quem é você?

– Bellatrix Black, senhor.

– Ora, ora! – Lord Voldemort pareceu demonstrar uma nota de reconhecimento em sua voz rascante – Trouxe sua queridinha, Rodolphos? Espero que tenha pensado bem antes de arriscar a fazê-lo.

– Perdão, Milord – Bella interviu – Mas não estou aqui porque Rodolphos quis. É do meu próprio desejo servir ao senhor.

– Já que assim pensa... estaria disposta a provar sua lealdade a mim, Black? A qualquer custo?

– A qualquer custo, Milorde. – confirmou com um sorriso convincente.

– Que ótimo sabê-lo... creio que, diferente do seu parente, realmente conheça as maldições imperdoáveis?

– Perfeitamente.

– E saiba executá-las com sucesso?

– Sem dúvidas, Milord.

– Então, a senhorita já sabe o que deve fazer.

Bella trocou um breve olhar com Rodolphos, mas a varinha já estava em punho e sua decisão, há muito tomada. Ela viu na face do noivo uma breve sombra de dúvida, e em seguida, medo. Ela deu um breve sorriso para ele e proferiu a maldição, e um raio vermelho o atingiu em cheio no peito. Seus joelhos cederam até atingir o chão, o cabelo em tom de terra caiu sobre o rosto, entretanto, incapaz de esconder a sua expressão de imensa dor. O homem contorceu-se e berrou diversas vezes, o único ruído no cemitério sombrio. Somente seus ofegares sofridos e a respiração suave de Bellatrix. A garota manteve a Crucciatos até quando pôde – mas começou a ficar tonta e teve que abaixar a varinha.

Voldemort não tinha percebido e estava intensamente satisfeito. Bella soube que causara uma boa primeira impressão. z

–BD-

– Bellatrix. Quero que saiba que não estou aborrecido com você pelo que fez.

Lentamente amanhecia nos terrenos de Hogwarts. Não era a hora preferida da jovem – Bella preferia o anoitecer. Os outros jovens já estavam em seus quartos, recuperando as forças após seu primeiro encontro frente a frente com o Lord Negro, e ela estava ali, se sentindo fisicamente muito mal e sendo impedida por Rodolphos de se encontrar com sua cama.

– O que é covarde da sua parte, eu devo dizer. No seu lugar, eu teria reagido.

Ele a ignorou.

– Sei que fez aquilo para se provar capaz ao Lord. Sei que não o faria em outra circunstância.

– Acredite, eu o faria. – Ela disse, rindo divertidamente irônica. – Me diverti muito hoje a noite, Rodolphos.

– Não parece. Você está com uma cara péssima. Eu estou sinceramente preocupado com você, Trix, você parece doente...


Ela quase deixou escapar que realmente não estava se sentindo bem, mas segurou no último momento. Confessar aquilo só faria com que ele lhe enchesse mais o saco, e ela só queria que o seu noivo a deixasse em paz.

– Avise quando o Lord quiser me ver novamente. Diga-lhe que estou a postos para o que quer que deseje.

Ela já estava indo embora quando o rapaz lhe segurou pelo antebraço e a trouxe para perto.

– E sobre a data do nosso casamento?

– Não posso nem quero me casar com você no meio do ano letivo, não é uma pena? – disse cínica. – Só Merlin sabe como isso prejudicaria os meus estudos.

– Nos casaremos nas suas férias de verão.

– Veremos. – ela disse, só para se livrar mais rápido dele.

– Tenha um bom dia, Trix. – e encostou os lábios nos dela para um beijo rápido. Após isso, transformou-se numa raposa cor de vinho tinto e desapareceu entre as árvores da floresta proibida.

Ele mal tinha ido, Bella sentiu uma forte contração no estômago, e em seguida vomitou no chão uma massa marrom nojenta que fora, há muito tempo, uma parte do seu jantar. A garota praguejou e seguiu para o castelo, suando frio pelo caminho. Era estranho, ela não podia se lembrar da última vez que ficara doente.

–BD-

Narcissa deu notícias no começo de dezembro, junto com a neve. Os freqüentes "incidentes" a nascidos trouxas, sangues ruins e escória em geral já não tinham como serem considerados acasos. Mesmos os mais céticos precisavam admitir que vagarosa, mas inevitavelmente, aquele que se intitulava Lord Voldemort, e marcava seus ataques com serpentes e caveiras, iniciava uma nova era para o mundo mágico.

Bella leu a carta da irmã na mesa do café da manhã de uma terça feira que prometia as piores e mais entediantes aulas.

Querida Bella,

Apesar do seu ceticismo em relação ao meu casamento, eu devo lhe dizer que a minha vida na Mansão Malfoy tem sido confortável e tranquila. Eu não saio muito de casa, pois não é necessário: Lucius colocou um elfo à minha inteira disposição e ele faz todas as minhas vontades. Você deve vir à Princeton nos visitas nas férias. Há um lago nos fundos da propriedade e muito espaço para cavalgar.

Agora, a razão pela qual estou lhe escrevendo é para expressar uma preocupação. Eu recentemente encontrei o seu pretendente, Rodolphos Lestrange, e ele me confessou que foi vê-la em Hogsmeade e que você lhe deu a entender que não pretende se casar quando o nosso pai deseja. Na minha posição de irmã mais velha, eu devo lembrá-la das suas obrigações para com nossa família. Tenho certeza de que você falou a Rodolphos de forma leviana e não do coração, mas achei melhor escrever mesmo assim.

Não há nada de errado com formar alianças, Bella querida, e casar não é tão ruim, você vai ver. Talvez Rodolphos lhe dê seu próprio elfo, quem sabe? Eu ouvi dizer que a propriedade que ele herdou em Kent é enorme e bonita. Por favor não dê razões para aborrecer o nosso pai, ele já passou por decepções o suficiente com os nossos primos.

Planejo lhe visitar em breve, talvez na páscoa.

Saudades,

Narcissa.

A sonserina se dividiu entre a repulsa em imaginar sua irmã casada com Lucius Malfoy, e a irritação com a maneira que Narcissa lhe lembrara das suas ‘obrigações com a família’. Como se Bella fosse uma criança irresponsável que precisasse ser advertida sobre os seus passos! Ela não estava particularmente ansiosa por sua visita na páscoa.

O tempo até a próxima ida a Hogsmeade se arrastou, principalmente porque era quando veria Rodolphos e saberia sobre próximas atividades dos comensais da morte. No dia marcado Bella acordou indisposta e recusou o café da manhã, tardando-se o máximo entre as cobertas, mesmo que sua pele estivesse tão sensível que o próprio tecido parecia agredi-la. Tudo estava sendo incomodo – o sacudir rude da carruagem, o ar gelado e pesado de se respirar, o peso das roupas de inverno, a gola arranhando a pele fina do seu pescoço.

– Você está passando mal, Black? – uma sonserina, que não era importante o suficiente para Bella saber o nome, perguntou. Bella lhe deu um olhar desprezo que ela reservava especialmente para quem se metia em sua vida sem ser requisitado, fazendo a garota recuar.

O povoado estava vazio naquele feriado, pois grande dos alunos de Hogwarts tinham optado por suas camas quentes ou seus salões comunais confortáveis a encarar a grossa cortina de neve. Bellatrix fez um esforço, mas por mais que forçasse seu caminho através da neve fofa no chão, o caminho até o bar Três Vassouras parecia se alongar, inalcançável. Pela segunda vez ela parou para respirar fundo, sentindo-se tonta. Odiava aquela traição do seu corpo, que vinha acontecendo com mais freqüência nos últimos dias. Talvez tivesse mesmo que ir à enfermaria, afinal de contas.

– Bellatrix! – uma voz dos confins da sua infância cortou a nevasca suave – Bella, há quanto tempo.

Ela se virou querendo não acreditar no que sabia que veria, mas foi inevitável divisar a irmã do meio vindo em sua direção, os cabelos castanho-escuros sendo sacudidos pelo vento. Mas que diabos Andrômeda estava fazendo ali? Alucinação era a única explicação. Uma má alucinação.

– Eu estou realmente doente. – sibilou para si mesma. Infortunadamente, Andrômeda estava perto o bastante para ouvi-la.

– Está doente?

– Não fale como, traidora imunda. – Bella grunhiu. Porque não conseguia raciocinar direito?

– Vamos lá, irmãzinha – Andrômeda a pegou pelo braço – você pode fazer melhor que isso. Onde está toda aquela petulância asquerosa que tanto admiro?

– Me solta... você está me machucando. Seu eu tiver que azarar você, Androm... – suas palavras morreram. Sua garganta estava trancando.

Andie podia ver que havia algo errado. Segurou o rosto da irmã entre as mãos, os olhos dela rolavam nas orbitas, e Bella estava tão quente...

– O que você tem? Bella! – a sacudiu com força. Tudo que Bella fez foi deixar-se sacudir, caindo de joelhos na neve. Fraca, incapaz de protestar e afastar a irmã de si. Incapaz de respirar... até sentir... dor...

– Sirius! SIRIUS! Me ajude aqui, é a Bella, ela está tendo algum tipo de... Bellatrix, acorde!

Sirius, que observava a cena de longe e com pouca nitidez devido à nevasca, seguiu a voz da prima, encontrando Andrômeda a segurar uma Bellatriz inerte no chão. Aquilo estava se revolvendo dentro dele, um monstro inquieto que mordeu seus joelhos, que o abaixou ao lado de Bellatrix e o fez tomá-la nos braços, sacudi-la, perguntar o que estava acontecendo e receber uma negativa confusa...

– Vamos levá-la daqui... Andie, calma, ela vai ficar bem.

–BD-

Andrômeda ajeitou um lugar na neve colocando a capa de Sirius por cima e ele deitou ali Bellatrix. Estavam no final da vila, um beco um pouco afastado das lojas e debaixo de uma velha árvore que resistira ao inverno e mantinha uma copa volumosa. Andrômeda fez um gesto para Sirius se afastar e tirou do rosto da irmã seu cabelo sujo de neve. Lábios e pálpebras roxas, mas a jovem ainda respirava.

Enervate! – Andrômeda sibilou e os olhos grandes de Bella piscaram, depois se espremeram e suas mãos enluvadas apertaram a própria barriga.

– O que está acontecendo aqui? – Bella imediatamente alcançou a própria varinha ao ver Andrômeda a fitando. Sirius tinha se distanciado, mas também não escapou do olhar da prima. – Você está me seqüestrando, Andrômeda?

– Você desmaiou no meio da rua.

– E como isso explica porque eu estou em um beco com você e o traidor do sangue? – ela se apoiou no tronco da árvore para se levantar, com mais um gemido.

– Que besteira andou fazendo, Bellatrix? – Sirius se pronunciou, a expressão suspeita – Seja o que for, está matando você, sua garota tola.

Bella o ignorou totalmente. Era a esperança de fazer com que o ardor de esganá-lo passasse.

– Sirius tem razão. Você está pálida e desmaiando, você nunca foi boa em cuidar de si própria, está se envolvendo com essas coisas e vai acabar se machucando.

Bellatrix a analisou de cima a baixo. A irmã era pouco mais baixa que ela, tinha o mesmo formato do rosto, fino e aristocrático, o mesmo nariz reto, mas era a única das irmãs Black que possuía máculas na pele – meia dúzia de sardas salpicadas pelo nariz. Andrômeda ganhara mais peso do que Bella se lembrava da ultima vez que a tinha visto – por fim, observou seu abdome proeminente, arredondado. Uma onda de náusea a fez contorcer o rosto.

– Andrômeda, você está grávida do sangue-ruim? Oh, por Slytherin, isso é tão repulsivo.

– Não fale assim com ela, Bellatrix. É você a repulsiva por aqui. – Sirius se aproximou por trás, tomando as dores da prima predileta – Pensa que não sabemos com que tipo de coisas anda se envolvendo? Existem boatos, sabia?

– Eu estou fazendo o que precisa ser feito – Bella disse com orgulho, estreitando seus olhos – Enquanto vocês estão por ai manchando o nome da família e trazendo vergonha para nossa árvore genealógica, eu devo dizer. Eu estou provando que mereço carregar o sobrenome Black, isso é tudo.

– Sua versão de merecimento é tão deturpada– Sirius trancou os nervos, poucas vezes uma das duas já o tinham visto daquela maneira. Havia um tipo de faísca perigosa em seu olhar, e ele agarrara o pulso de Bellatrix com força, os dedos longos fazendo pressão sobre a pele fina – mas nós dois sabemos que você não passa de uma garota mimada e impulsiva que está tentando chamar atenção. Burra. Você-sabe-quem nunca vai aceitar você.

Bella deu uma gargalhada sádica, arrancando o braço da mão dele num movimento só.

– Você deveria ser o último a duvidar da minha capacidade de atrair atenção. – disse ferozmente. Antes que Sirius conseguisse rebater, ela se levantou e empurrou a irmã do seu caminho, indo embora sem olhar para trás.

–BD-

– Você está muito atrasada, Bellatrix. – foi a primeira coisa de Rodolphos lhe disse quando sentou na mesa afastada do pub minutos depois. Ela gostaria que ele parecesse mais irritado, mas Rodolphos só estava constatando, indiferente.

– Algumas questões pelo caminho.

– Deveria se aquecer melhor, seus lábios estão meio roxos. – ele comentou, oferecendo sua capa para ela.

– Vamos pular sua comovente preocupação com a minha saúde mais uma vez. Me dê o que você tem para mim, eu sigo pro meu lado, você para o seu, nada de conversa fiada.

– Não dessa vez, Trix. – ele a surpreendeu, cruzando os braços e estreitando os olhos, os olhos de lince, enquanto se recostava perigosamente na cadeira – Hoje, eu quero mais que isso.

Ela riu da atuação dele, aquele riso que o lembrava o quanto ela o achava patético. Rodolphos não lhe deu a mínima importância. Ela suspirou. Não precisava de mais aquilo num dia que já não vinha sendo maravilhoso.

– Que quer, meu caríssimo noivo? – ela reuniu toda a paciência que nem supunha ainda haver dentro de si. – Um afago? Uma declaração de amor? Quem sabe um osso, eu jogo e você pega...

– Um beijo, Bellatriz. É o que eu quero.

– Um beijo? – ela repetiu, cética – quando foi que você chegou ao esse estágio deplorável de necessidade sem que eu percebesse?

Rodolphos fez um movimento muito rápido com as mãos, onde passou a direita pela nuca de Bellatrix e entrelaçou os dedos em seus fios de cabelo, com força, trazendo o rosto da garota vir bem perto do seu. Ele a olhava ferozmente. O cheiro de almíscar invadiu os sentidos sensibilizados de Bella como algo tóxico. O calor do hálito do rapaz em seu rosto parecia ainda mais tóxico quando ele falou.

– Veja isso por outro ângulo. Eu não preciso pedir para ter sua boca. Nem para ter seu corpo. Em pouco tempo eles serão direitos meus. Enquanto isso, posso ter qualquer outra boca e corpo, basta eu escolher a garota e ela é minha. E não estou lhe implorando esse beijo. Estou exigindo. Eu estou fazendo com que você se humilhe e submeta a mim em troca de uma informação que só eu posso lhe dar. Uma informação pela qual você faria qualquer coisa.

A respiração de Bella acelerou-se com a proximidade inesperada dele. O toque imprevisto e dominante em seu cabelo. O sangue corria mais quente nas veias desde aquilo.

– É a esse ponto que você terá de se rebaixar para ouvir o que eu posso lhe falar.

Bella sorriu com o canto dos lábios.

Assim está melhor, noivo.

Ela inclinou levemente a cabeça, encaixando sua boca entreaberta no par de lábios finos de Lestrange. Pulsavam como a batida de um coração, quiseram os dela como poderiam querer um vinho ou uma droga, se tornaram parte de uma coreografia única e nova para ambos.

Quando se afastaram, ninguém os olhava – ninguém os percebera ali, fazendo uma coisa tão incomum simplesmente por se tratar de um par incomum... Rodolphos tinha sido hostil com seus lábios, que latejavam, mas isso não a incomodou. Ela curtiu a sensação com os olhos cerrados. Ele a encarava com suas pupilas dilatadas, tornando seus olhos mais escuros.

– Minha informação agora, Rolph. Já te dei um motivo para não dormir essa noite. Me dê o meu.

–BD-

Bellatrix estava alheia às conversas dos seus colegas de casa no café da manhã. Ela não só estava sem apetite como a idéia de comer parecia repulsiva. Seus órgãos internos protestavam quando via uma travessa ou prato cheio, quando sentia no ar o cheiro de qualquer coisa comestível.

Sua hipótese era de que alguém a tinha azarado ou colocado veneno em sua comida. Estava decidida a revirar a biblioteca aquela tarde, até a achar a poção adequada para voltar ao seu estado normal. O Lord precisava da sua saúde, vitalidade e disposição.

Um barulho incomum à mesa a indicou que o Profeta Diário daquela manhã tinha finalmente chegado. Ela saboreou os burburinhos que vieram a seguir, o medo... invariavelmente alguns olharam acusadores para a mesa dos sonserinos e Bella se aprumou, sem querer reprimir um leve sorriso que surgia no canto dos seus lábios. Os ecos da madrugada anterior ainda estavam vívidos...

A capa negra de Voldemort ondulava ao sabor de uma ventania fria. Meia dúzia de comensais olhavam a mesma paisagem, um vilarejo pequeno cujas luzes apagadas indicavam moradores adormecidos. Bellatrix estava ao lado d’Ele e pode ver o esgar cruel que tomou seu rosto quando proferiu as ordens daquele encontro.

– Tragam abaixo tudo que puderem. Façam o céu desse lugar merecer a Marca. Vamos lembrá-los de qual é o seu lugar.

Deixaram o vilarejo em chamas ao saírem. Cada casa, cada árvore, todos os estabelecimentos destruídos, e os moradores, longe de impedi-los, só foram libertados do forte feitiço do sono do Lorde quando já não se podia evitar o desastre. Afastados, puderam assistir o desespero doce dos sangues-ruins que viam seus patrimônios virarem pó. Que tentavam salvar uma coisa ou outra, lutavam para que as chamas altas não os alcançassem. A fumaça não foi capaz de esconder o brilho da Marca Negra que Voldemort conjurou no céu, para garantir que soubessem que aquilo era um mérito atribuído a ele.

Alguns dos comensais presentes tinham a sensação de dever cumprido, comemoravam uns com os outros com exclamações de empolgação. Aquela era a primeira ação deles, mas viriam outras. Os que se destacassem estariam aptos a um dia fazer parte do círculo intimo de Voldemort e receber a Marca Negra em sua pele. Bella ansiava tanto por esse momento que podia sentir a pele formigar. Seus olhos cruzaram brevemente os de Voldemort e ela fez uma sutil reverência com a cabeça... jurava, no entanto, ter visto ali indícios de aquela noite ela não o decepcionara.

– Silêncio AGORA! – berrou a professora McGonnagal, como uma última tentativa de calar sua turma amedrontada. A notícia de que um povoado de bruxos meio-sangue fora atacado e destruído na noite anterior era a prova irrefutável de que "Aquele-Bruxo-das-Trevas" estava fora do controle do Ministério por completo. Também o fato de ter reunido seguidores era alarmante, e começava a instalar a desconfiança entre os alunos.

– Professora – uma grifinória de cabelo crespo ergueu a mão – Qual o significado daquela horrível... marca no céu do vilarejo de Petesburg?

A professora McGonnagal visivelmente queria fugir do assunto que estava tumultuando a sua aula, mas todas as cabeças se viraram para a sua resposta.

– Não faço idéia, Srta, Clarwel. Caso não tenha percebido não estudamos símbolos em Transfiguração, logo...

– Engraçado – um dos grifinórios do fundo da sala comentou alto – sempre achei que tivesse alguma coisa com a cobra da Sonserina, são bem parecidas.

Todos começaram a falar ao mesmo tempo novamente, sonserinos alteando a voz para defender o brasão de sua casa e grifinórios acusatórios deixando claro seu antagonismo aos colegas. Bella bufou, impaciente. Tinha a impressão de que todo aquele barulho estava sugando o ar da sala, tornando sua respiração sofrível. McGonnagal, no entanto, ergueu a varinha, que deu um alto estampido restabelecendo o silencio. Estava aborrecidíssima.

– Potter, eu não admito esse tipo de comparação de mau gosto da minha sala de aula! Quero que se retire!

– Acho que vou ter que me retirar também, professora – Sirius levantou, desafiador – já que concordo plenamente com a colocação de James.

O moreno deu uma olhada significativa para o terceiro maroto, Peter Pettigrew, que demorou a entender, então seus olhinhos apertados se arregalaram e ele se ergueu da cadeira, concordando com os amigos. McGonnagal tinha uma coloração purpúrea no rosto.

– Então FORA da minha sala, podem aguardar a detenção na sala do diretor! Mais alguém quer dar sua opinião impertinente e sair daqui? Não? Ótimo, pretendo começar minha aula então.

Bella, que por estar avançada em Transfiguração fora autorizada a assistir aulas com o sétimo ano, acompanhou com os olhos a saída dos marotos. Sirius ostentava uma expressão pedante no rosto. Os maxilares travados, o contorno firme do queixo, mechas do cabelo longo tocando o rosto ao caminhar. Quando desviou a atenção do primo, percebeu que sua namorada grifinória a observava com irritação. Levantou as sobrancelhas para ela, um desafio silencioso para que dissesse qualquer coisa.

Olívia a alcançou no caminho para o salão principal, agarrando seu antebraço e puxando Bella para o canto do corredor. Suas bochechas salpicadas de sardas mostravam uma vermelhidão atípica.

– Eu sei que você está envolvida com isso, Black. Eu posso sentir. Basta uma prova e vão pegar você.

– Eu vou me preocupar em deixar provas espalhadas por ai, ao seu alcance. Dê uma olhada debaixo do seu travesseiro hoje à noite.

– Estou falando sério. Ninguém acredita em mim, mas eu tenho certeza do seu envolvimento. Você-Sabe-Quem tem contatos dentro de Hogwarts e você é a que mais se encaixa no perfil de uma cúmplice de assassinatos de inocentes.

Bella deu um grande e satisfeito sorriso.

– Assim você me faz corar, Loren. Não sabia que me tinha tão em alta conta.

– Você é nojenta, Bellatrix. Fique longe dos meus amigos. Fique longe... – as bochechas de Olívia estava cada vez mais quentes.

– Do seu namorado? Não seja tão insegura, Loren. Eu tenho pena de você. Mas não é pra menos. Quem confiaria em Black? Admiro a sua persistência.

Bella a deixou sozinha, sabendo que a enleara com seu comentário.

–BD-

A primavera estava atrasada. As flores estavam demorando a se abrir, o frio persistia, o sol tímido brilhava pouco atrás de nuvens brancas espessas. Gostaria de poder visitar uma das estufas, mas desde que perdera o cargo de monitora muitos dos privilégios de Bella tinham também encontrado o seu fim.

Gostar daquela estação era o que Sirius, cerca de três, talvez quatro anos atrás, acusara ser seu grande paradoxo. Não se combinavam, ele dissera. Ela era sombria e seca e as flores precisavam de calor e luz. Flores tinham toda a cor exuberante, e Bella era feita de tons de cinza. Isso a fizera sorrir na ocasião. Agora enquadrava a lembrança no rol das coisas que não deveria lembrar. Ela o dissera, um dia teria sua própria estufa, suas próprias flores, e ele veria, mas Sirius só tinha soprado em descrença, fazendo pouco dela.

A despeito do frio persistente, Bella sentara na margem do lago, numa das pedras baixas, sem sapatos, sem meias, canelas nuas e os pés submersos na água gelada. Já não os sentia, a não ser pela dormência incomoda que subia pelos tornozelos, e a qual não lhe incomodava. Porque as lembranças da noite anterior lhe faziam aquecida. A certeza de ter visto admiração e reconhecimento num par de olhos vermelhos como brasas fazia com que seu sangue fervesse mais eficientemente do que a brisa que vinha dos vales era capaz de esfriá-la.

A morena não reparou a aproximação do quartanista até ele parar bem ao seu lado.

– Feliz Imbolc¹, Bella. – uma voz familiar lhe falou, e ela virou-se rápido... mas era Regulus. Na verdade eles começavam a ficar com a voz muito parecida.

– Não enche. – a jovem voltou a fitar a superfície do lago.

– Te trouxe um ovo de chocolate, a mamãe mandou dois para mim. – ele estendeu o embrulho que estava adornado com as simbólicas prímulas brancas.

– O que te faz pensar que eu quero seus doces?

Regulus sentou-se ao lado da prima antes que ela resolvesse mandá-lo embora. No verão anterior livrara-se dos cachos tênues que as pontas do seu cabelo insistiam em fazer. Agora já não passava das orelhas, e a franja negra alcançava os olhos mais azuis da família. A temperatura baixa deixava seus lábios vermelhos, como naquele momento.

– Eu vi você saindo do salão comunal ontem à noite – o garoto confidenciou enquanto desembalava o ovo – você foi se encontrar com Rodolphos, não foi? E com o resto deles e Você-Sabe-Quem.

– Lord Voldemort – ela corrigiu automaticamente, em voz baixa.

– Porque ele não chamou o resto de nós, Bella?

Ela riu, só então olhando para o primo.

– Eu sou especial, ele confia em mim. Não que isso seja da sua conta?

O cheiro do chocolate se espalhou no ar ao alcance de Bella mais intensamente do que ela imaginou que poderia acontecer. Ela, que nunca tivera especial afeição por doces, sentiu a boca encher-se de saliva.

– Não é da minha conta, mas você não tem ninguém além de mim para lhe ouvir contar vantagem. – ele argumentou com astúcia – você está louca pra dizer, anda...

– E você se acha muito esperto! – disse, arrancando o chocolate das mãos do garoto, que agora a olhava de um jeito estranho. Ela não lhe deu importância. – Ele me deu uma sangue-ruim ontem. Uma só para mim, para me treinar. Eu a torturei por horas. – completou cheia de contentamento.

– Você a matou? – Regulus sussurrou, com os olhos arregalados, um misto de temor e admiração. Já tinha esquecido do chocolate, que a prima continuava a devorar.

– O que acha que comensais da morte fazem com os sangue-ruins, piqueniques?

O garoto ficou calado, a olhando, sem ter bem o que responder, pois sabia que o que quer que falasse acabaria demonstrando sua fraqueza. Bella meneou a cabeça em desaprovação, acabando com os resquícios de chocolate em seus dedos.

– Reg, desista de ser comensal antes que Voldemort descubra que você é um covarde. Ele não vai perdoar quando você falhar, e se você um dia resolver poupar a vida de um sangue-ruim, será com a sua que vai pagar. Isso não é como a escola, onde você perde pontos e ganha uma detenção. Esse trabalho não serve para você.

– Se for assim, também não está lhe fazendo bem – o garoto disse em defesa, se levantando – você não parece bem, sabe. Eu sei o que você tem, Bella. – ela ergueu uma sobrancelha em questionamento – ser comensal está enlouquecendo você.


Após a saída do garoto, Bella ainda ria do comentário.

De fato ela experimentara um tipo de insanidade na noite anterior. Nenhuma magia poderia se comparar em poder ao que tivera, nenhum feitiço ou maldição se igualaria a ter o controle sobre uma vida. E Voldemort lhe proporcionara aquilo. Ele a fizera finalmente compreender porque seu destino era servi-lo, porque ela facilmente se viciaria naquela forma de domínio que ela podia ter quando estava com ele.

O Lord tinha consciência da ambição que a jovem possuía e estava disposto a alimentá-la. Na verdade, parecia satisfeito de fazê-lo e então assistir enquanto a aprendiz se divertia. Admirado. Então, ela tinha o orgulho de Lord Voldemort para si.

E ainda estava inundada pelo êxtase de causar dor, ouvir os gritos, gritos que provocava, os gritos eram a grande recompensa... E Ele a elogiara.

Lord Voldemort admirava sua frieza e perícia, e sobretudo seu prazer na tortura, na sua capacidade de manipulação através da agonia. Ele lhe prometera mais. Ela mal podia esperar por mais uma dose, por mais um serviço ao mestre, o homem que a convencera de que merecia a sua devoção e respeito.

(Continua...)


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Notas finais do capítulo

¹Imbolc ou Imbolg é um festejo pagão que ocorre entre os dias 1/2 de janeiro no hemisfério norte, e significa 'dentro do ventre', fazendo alusão ao nascimento, ao fim da gestação e à chegada da vida, trazida pela luz do sol de verão. O coloquei como sendo homenageado pelas famílias bruxas mais tradicionais da Europa, os Black não podiam ficar de fora ;) O ovo de chocolate representa o útero da Grande Deusa, se encaixa mais nessa festividade do que na Páscoa.



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