Dossiê Bellatrix escrita por Ly Anne Black


Capítulo 13
Rosa Negra


Notas iniciais do capítulo

Agradeçam à Larii por eu ter adiantado a postagem em um dia.
Josy, mais um parto pra você. ;)

Sim, este é o último, saboreiem cada pedacinho *.*



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Foi o tempo que dedicaste a tua rosa que fez dela tão importante.”
(Antoine de Saint-Exupéry - Le Petit Prince)

.

Olivia aparatou no porão dos McKinnon, que era onde eles tinham combinado de se reunir caso alguma coisa relacionada aos comensais da morte acontecesse. Ela ficou aliviada em encontrar Sirius lá, e correu para os braços dele.

Outras pessoas conhecidas estavam dentro do enorme espaço subterrâneo. Ela viu Remus, Peter e James, conversando com Marlene, os gêmeos McKinnon e - graças a Merlin - Lily. A ruiva se aproximou, claramente tinha superado o efeito das doses extras de Delírio Fumegante. Partes de seu bonito vestido estavam rasgadas nos braços, mas no geral ela parecia inteira.

Bruxos mais velhos estavam lá também, inclusive, para a surpresa de Olie, a Prof. McGonnagal. Pela sua roupa e a máscara sacudindo em uma das mãos, estivera na Masquerade quando tudo aconteceu. Ela ouviu alguém dizer que Prof. Dumbledore estava à caminho.

Sirius a puxou para um canto longe da confusão. Todos falavam alto e trocavam informações, tentando entender como a organização da festa permitira Comensais da Morte a subirem ao palco e tocarem uma música que era claramente feita com magia negra. Olivia sentia a cabeça latejar, apenas um rastro da dor horrorosa que a acometera quando a melodia penetrara em seus ouvidos.

– Onde você se meteu? Um minuto eu estava te vendo na plateia, e quando descemos tudo estava uma confusão e vocês duas sumiram!

Sirius parecia bem, a não ser pelo fato de que suas mãos tremiam. Ele estava assustado, e também zangado. Ainda usava as calças de couro, mas a máscara de cachorro tinha ido embora.

– Eu corri, eu apenas… a dor era terrível. E então, nós fomos tiradas dali, bem, eu fui tirada e levada para cima da colina.

– Você foi levada? Quem te levou? - os olhos dele cresceram em preocupação. Sirius a olhou de cima abaixo de novo procurando algum dano nela que tivesse passado desapercebido.

– Pela… - ela respirou fundo. Sabia que aquilo não ia ser bom. - Pela Bellatrix. Ela me sequestrou.

– Bella… Bellatrix? Você tem certeza? Tem certeza mesmo que era ela? Se a pessoa estava de máscara, como você pode…

O tom de dúvida a magoou, especialmente pela esperança oculta na voz dele, de que Olivia estivesse enganada.

– Eu tenho certeza que ela era, Sirius. - disse com mais frieza do que pretendera - Ela enganou a mim e Lily, fingiu ser outra pessoa e se infiltrou entre nós, usou outro nome e esperou a confusão se armar para me levar com ela! Ela… ela estava com eles! - acrescentou, com uma súbita certeza - ela estava agindo com os Comensais, o tempo inteiro!

Sirius estava rígido, e passou a mão sobre o cabelo, seu gesto típico de incerteza ou de confusão mental.

– O que ela queria com você?

Olivia deu de ombros.

– O que sua prima sempre quer? Ela me odeia por estar com você e quer me ver morta. E agora que ela é Comensal, tem todas as ferramentas para isso! - sua acusação terminou num tom um pouco histérico.

– Olie… calma ai. Você não tem certeza disso, ela nem estava no palco com eles, e ela nem… ela tinha a Marca? Você viu a coisa da cobra no braço dela?

– Eu não estava olhando para o braço dela, Sirius, ela tinha a varinha - a minha varinha– apontada para a minha cara! Qual é o seu problema? Sua prima homicida tentou me matar essa noite! Até pouco tempo atrás você concordava comigo que ela estava metida com eles. Pra que você acha que ela fugiu da escola?

Sirius se aproximou mais, a escondendo com o corpo, e falando aos sussurros.

– Nós dois sabemos porque Bella saiu da escola.

– Sim. Mas nós não sabemos porque ela não voltou!

Ele deu um suspiro e um soco frustrado na parede atrás da garota. Depois de um tempo seus olhos se abriram e ele parecia ao mesmo tempo com receio e com muita vontade de fazer uma pergunta. Olivia ficou esperando, sua raiva borbulhando perto da superfície, e um desafio nos olhos.

– Ela… como ela… está, digo, depois… depois do que ela foi fazer?

A garota chiou, um barulho parecido com o de um gato raivoso, e empurrou o namorado com as duas mãos, se livrando da sombra dele.

– Ela tentou me matar! Você é inacreditável! - gritou, para a sala toda ouvir, e saiu chispando para longe dele.

– BD -

Andrômeda não tinha podido dormir após deixar Bellatrix na Masquerade. Bastara pisar em casa para lhe ocorrer que péssima idéia fora deixar a irmã grávida naquele festa, à medida que as muitas coisas que ela podia aprontar vinham surgindo em sua cabeça. Ela queria muito, mas não conseguia, confiar completamente na “reabilitação” de Bella. Se comportar bem no seu cativeiro era uma coisa, mas desperdiçar uma chance completamente boa de escapar quando esta era esfregada em sua cara…

Não. Nem Bella faria algo tão imprudente, e certamente não em seu estágio de gravidez. Quem a acolheria com aquela barriga enorme? Não Rodolphos. Não seus pais. De forma alguma tia Walburga, e seu pior temor, Você-Sabe-Quem… nem pensar, certo? Aquilo era loucura.

Quando três pessoas aparataram perto do chalé, o feitiço-alarme de intrusos disparou com um estardalhaço, lhe sacudindo de um cochilo na poltrona. Nimphadora começou a chorar lá em cima, mas Andy não correu para a filha, mas para fora, com a varinha em punho.

Ela identificou duas pessoas à distância - o cabelo loiro e longo da irmã mais velha era inconfundível, e a silhueta de Bella se tornara familiar o bastante, mas havia um homem com elas, e por um momento ela pensou que fosse o primo, Sirius Black. Ela sentiu um sopro de alívio muito estranho que não durou, porque a terceira pessoa se aproximou revelando seu rosto.

– Andy, nós tivemos que aparatar! Houve um ataque e a Bella está tendo contrações! E os aurores quase nos alcançaram!

Era muita informação de uma vez só. Ataque? Aurores? Contrações?

Bella gemeu, segurando a barriga. Narcissa a apoiou e olhou irritada para a irmã do meio:

– Andrômeda, alguma ajuda aqui?!

Ela correu para a dupla, entrando em seu “modo medibruxa”, como Bella chamava. Era quando ficava eficiente e muito prática e começava a fazer perguntas demais.

– Qual o intervalo entre as contrações? - perguntou para Bella, passando um de seus braços sobre o ombro e indicando que Regulus fizesse o mesmo do outro lado.

– Eu não sei! - Bella gemeu.

– Quanto tempo desde que a bolsa estourou?

– EU NÃO SEI! - dessa vez ela gritou. Ainda não era como um Cruciatus, mas estava evoluindo bem rápido. Além do mais, não era só a dor que a estava deixando irritada.

– Uns dez minutos - Regulus respondeu em seu lugar, enquanto eles entravam dentro do chalé e Andy acendia todas as luzes. Deram de cara com Ted descendo as escadas, também armado, mas ele abaixou a varinha quando viu Bellatrix. Mal percebeu Regulus ou mesmo Narcissa.

– Vou preparar o quarto - disse, dando meia volta e subindo novamente.

– Eu quero o sótão! - Bella arfou para ele, que parou no terceiro degrau e se virou, olhando duvidoso da garota até a esposa.

– Não, querida, haverá mais espaço no meu quarto, e mais ventilação…

– Não vou ter meu bebê no quarto de vocês! - ela exigiu, usando todo o seu fôlego para isso. - Não na cama de vocês, isso é apenas…

– Tudo bem - Ted decidiu antes que a cunhada começasse a xingá-los - no sótão será.

Andrômeda orientou Narcissa e Regulus a subirem Bella pelas escadas com um feitiço de levitação, com o máximo de cuidado. Eles por fim a deitaram em sua cama no sótão, e ela agarrou as barras da cabeceira com força, travando os dentes quando as contrações vinham.

– Ainda não está na hora - Cissa murmurou com preocupação, afastando o cabelo da caçula de seu rosto. - ainda faltam algumas semanas.

– Tente pôr qualquer senso nessa criatura, se você puder. - a garota grunhiu - ela não é das mais obedientes. Ela decidiu contra a minha vontade que ia viver, ela certamente decide a hora que quer sair…

Ao seu lado, o primo riu com vontade, e recebeu um olhar feio da parturiente. Isso fez com que sua presença fosse lembrada pela primogênita.

– Regulus, você precisa ir embora! Seus pais devem estar se perguntando onde você está, eles já devem saber do ataque dos comensais a essa altura! - a loira o advertiu. - vá para casa antes que se meta em problemas, você nem devia ter vindo para começo de conversa.

Ele cruzou seus braços com teimosia - Eu já estou metido em problemas, além disso, como eu iria daqui para casa? Eu não sei aparatar, você teria que me levar.

Narcissa deu um suspiro frustrado, reconhecendo que não poderia sair dali até Bella ter o bebê, e ela ter certeza de que ambos ficariam bem. Também estava em apuros, prometera a Lucius que iria desaparatar da festa direto para a Mansão assim que a Canção começasse e eles se encontrariam lá. Seu marido ficaria furioso quando descobrisse que desviara o caminho.

Bella deu outro grito horrível, estrangulando as barras de madeira de sua cama. Regulus se encolheu, e Cissa olhou para a irmã com preocupação.

– Alguma coisa deve estar errada… devia doer tanto? Isso parece… isso parece um cruciatos… só que sem a parte onde o feitiço pára… - ofegou, seu rosto completamente sem cor.

– Aguente firme, irmãzinha - disse Andrômeda, que voltara com uma bandeja de poções e lenços limpos de algodão. - Uma quantidade de dor é normal. Se afastem, preciso checar a dilatação e se o bebê está na posição certa.

Os outros dois lhe obedeceram, e Andy se sentou entre as pernas da irmã, afastando o vestido dourado de suas coxas.

– O que acontece se ele estiver na posição errada? - o mais novo perguntou num fio de voz enjoada, olhando para longe de onde a prima estava deitada para não ver o que Andy estava fazendo.

– Isso seria… - mas ela não completou. Seu silêncio foi cortado por mais um gemido de Bellatrix, que estava fazendo o seu melhor para não gritar. Ela queria, muito mesmo, descontar em alguém por toda aquela dor. Não a merecia, e podia pensar em pelo menos um culpado que não fazia ideia do que ela estava passando agora.

Seus músculos se contrariam dolorosamente mais uma vez, irradiando ardor por sua coluna, por seu ventre, por suas pernas.

– Isso não é bom - Andrômeda murmurou. - o bebê está virado - ela fez um circulo com a varinha sobre a sua barriga e observou o resultado do feitiço, algumas ondas cor de laranja flutuando no ar. - as contrações ainda não estão próximas o bastante.

– O que isso significa? Ainda não está na hora? - ela arfou, um pouco desesperada. Temera o momento do parto, mas agora que se convencera de que era a hora, estava com medo de saber que teria de esperar mais.

– Está e não está. - a irmã lhe olhou feio e ela se apressou em explicar melhor - não passa de hoje, mas vamos ter de esperar mais dilatação. O que é bom, pois talvez nesse meio tempo o bebê vire para a posição normal. É improvável, mas precisamos torcer para que isso aconteça.

– Não há um feitiço para virar o bebê? - Narcissa perguntou, ansiosa. Claramente não havia muito espaço para uma mudança de posição na barriga esticada de Bella.

– Não, nenhum que não seja arriscado demais.

– E o que podemos fazer? - Regulus murmurou do seu canto, um tanto branco. Ele era o único que ainda usava sua máscara, não se lembrara de tirá-la diante de toda a a confusão, e o contraste entre a palidez e o metal era marcante.

– Bem… às vezes dizem… - Andy mordeu seu lábio inferior, incerta. Ela gostava de trabalhar com a magia empiricamente comprovada, e não com boatos e falácias de curandeiros - dizem que às vezes os bebês mágicos podem ser convencidos… a cooperarem. Com o parto, quero dizer.¹

Bella arregalou seus olhos, extremamente cética, do seu lugar da cama.

– Você tem que estar de brincadeira.

– BD -

– Como você se sente? - o rapaz perguntou cauteloso, se aproximando da cama. Estava com medo de Bella gritar com ele, porque ela tinha gritado um monte com as irmãs nas últimas horas de trabalho de parto, mas ela murmurou. Devia estar perdendo as forças. Estava muito pálida e suando muito frio.

– Terrível. Como se eu estivesse tentando fazer um ser humano de três quilos passar através da minha vagina.

Ele fez uma careta.

– Não precisa ser nojenta, sabe.

– É pura sinceridade - ela grunhiu - e um pouco de rancor mal direcionado também. - confessou. Havia um sorriso cortado no canto de sua boca, irônico. Irônico e dolorido.

– Eu também sinto raiva dele. - confessou Regulus, baixinho. Se Bella o ouviu, fingiu que não tinha. Ela choramingou com uma nova contração, uma vez que gritar tinha perdido a graça. Estavam naquilo há horas. Andrômeda vinha verificar sua dilatação, e lhe mandava não fazer força. Não enquanto o bebê estivesse na posição errada.

“Você pode tentar conversar com ele”, tinha sugerido Andy, quando se aproximou pela terceira vez. Ela não ficava no quarto, pois tinha que olhar Nimphadora. Ted saíra para trabalhar, após fazê-la prometer que não havia nada ali em que ele pudesse ajudar. Narcissa estava tão nervosa, andando de um lado para o outro, que Bella precisou expulsá-la do sótão para manter sua sanidade mental.

Regulus lhe trazia água, ou então tentara distraí-la com uma conversa mole sobre Hogwarts e seus problemas. Era uma ladainha terrivelmente boba, mas até que estava funcionando.

Agora até esse assunto tinha se esgotado. O sol estava ficando alto no céu.

Quatro horas de trabalho de parto. Fora tão rápido com Andrômeda, ela pensou desgostosa. Talvez estivesse pagando pelos seus pecados. Talvez o bebê estivesse se vingando pelas tentativas de aborto.

– Eu não acho que ele está - disse o primo mais novo, quando ela sugeriu aquilo em voz alta. - eu acho que está assustado de sair daí. Eu estaria, em seu lugar.

Ela bufou impaciente.

Não queria falar sobre os sentimentos do bebê. Queria que ele saísse, que aquilo acabasse, que as dores fossem embora. Os meses esperando, sob o teto trouxa de Tonks, a falta de sua varinha… nada disso se comparava àquelas últimas horas. Tortura nem chegava a descrever.

– Posso… posso tentar falar com ele? - sugeriu o garoto timidamente. Ela se virou com as sobrancelhas muito erguidas.

– É sério, isso?

– Bem… sim - ele deu de ombros, envergonhado. Ainda usava a máscara, e suas bochechas se tingiram de rosa debaixo dela. Quando quis tirá-la, lá por volta das cinco da manhã, Bella o tinha impedido com um gesto de sua mão. - Não custa tentar, custa?

Em outra ocasião, Bella teria caçoado dele por uma sugestão tão absurda, mas, existiam níveis e níveis de desespero. Resignada, se deitou melhor na cama, lhe dando espaço. Virou o rosto para o outro lado, decidida a não presenciar aquele momento constrangedor.

– Hum… olá, bebê. Você não… - ele respirou fundo. Estava muito compenetrado. - você não me conhece. Eu sou seu tio, Regulus. Muito prazer.

Bella soprou ar num muxoxo incrédulo. Regulus continuou com toda a sua dignidade.

– Eu sei que é cedo e você é pequeno ainda, mas você precisa sair. Precisa sair hoje. Está machucando a Bella… ela tem carregado você por um tempão. Ela está cansada. Além do mais, eu prometo, aqui fora é legal. Tem um monte de gente esperando para conhecer você.

Bella se viu mordendo o lábio inferior com força. Seus olhos arderam e pinicaram. Culpou os malditos hormônios, fazendo todo tipo de confusão com as suas reações.

– Aqui vai ser frio primeiro, mas depois vamos aquecer você. E você vai gostar de conhecer sua mãe - ele continuou suavemente - ela pode ser um pé no saco às vezes, mas ela te deixou ficar. Isso já é muita coisa, acredite.

– Eu não deixei… - Bella começou a protestar, mas se calou quando a mão de Regulus pousou em cima de sua barriga. Seus braços se contrariam para se erguerem e repudiarem o toque dele, mas ela não fez. Por algum motivo ela não o fez.

– Você deixou sim. - ele insistiu com a voz firme - além do mais não é com você que estou falando. Como eu ia dizendo, bebê - prosseguiu, enfático - Hoje é o dia de sair e não tem mais jeito. Só que você precisa ajudar, ou vai machucar a Bella…

– Regulus…

Shiu. Você precisa dar uma volta inteira e ficar de cabeça para baixo. Eu sei, soa péssimo, mas será por pouco tempo.

Regulus…

Fique quieta Bella, - ele ralhou, de repente cheio de coragem - Se você puder dar essa cambalhota, eu prometo que não vai se arrepender… Bella, você pode parar de me interromper um minuto? - reclamou quando ela lhe cutucou insistentemente.

– Não! - exclamou, seus olhos cheios de um brilho estranho - eu acho que está funcionando.

– O que está func… oh! - arregalou os olhos, percebendo, no mesmo momento, o movimento sobre sua mão. - Uau! Isso é muito, muito bizarro! - ele não tirou a mão, extasiado com a sensação daquilo, do ser humano se movendo dentro da prima. - Eu fiz isso? Eu fiz mesmo?

– Vá chamar Andrômeda! Eu acho que ela está pronta agora. - disse, tremendo.

Não de raiva, Regulus percebeu. Não de medo.

Emoção.

– DB -

Estar pronta não significava estar com pressa, como Bellatrix logo descobriu.

– Empurre, Bella!

Ela quis dizer não, não, não vou empurrar nem mais um milímetro. Estava tão terrivelmente cansada, cada músculo do seu corpo doía e protestava quando ela fazia força. Alguém devia poder fazer aquele trabalho por ela. Do que adiantava serem bruxos e saberem tanto sobre a magia, quando num momento como um parto não havia nenhum feitiço para lhe poupar da dor e da exaustão?

– Só mais um pouquinho, por favor, Bella. - murmurou Regulus em sua cabeceira.

Cissa e Andrômeda insistiram para que ele saísse dali. Não era ambiente para um rapaz de quatorze anos, insistiram, e também argumentaram que ela se sentiria mais a vontade se ele não estivesse ali assistindo. Ele fora irredutível, e buscara apoio no olhar dela. “Deixe-o ficar”, ela disse por fim, com um suspiro de impaciência. Não era como se pudesse se sentir menos a vontade, pelo amor de Slytherin, com suas pernas abertas tentando expulsar um ser humano de dentro de si.

Além do mais, ter Regulus ao alcance da vista era estranhamente consolador. Ele era o único no quarto que parecia tão assustado quanto ela, e ele ainda usava a antiga máscara de Sirius em seu rosto.

– Empurre, Bella! - Andrômeda pediu novamente.

Ela empurrou, gritando e xingando e odiando cada pedaço da dor. Se ela soubesse que doía tanto… nunca teria feito sexo. Nunca teria deixado ele encostar um dedo nela. Filho de uma cadela dos infernos, ele sequer sabia que ela estava ali sendo aberta em dois para parir seu filho.

– Eu posso vê-lo, Bella, empurre!

Ela podia ler todo mundo no quarto - Narcissa ansiosa, perto da janela, observando, Andrômeda eficiente e compenetrada e Regulus, cujos olhos se ascenderam em expectativa ao ouvir aquilo.

“Tem um monte de gente aqui esperando para conhecer você”. Ela riu daquilo, apesar da dor e do seu corpo todo tremendo com o esforço. “Um monte” eram palavras fortes, mas havia no mínimo dois. Precisava confessar que estava curiosa. Bem, ela tinha o direito de estar. Depois de esperar tanto tempo. Aguentar tanta coisa por ela.

– Bella, força!

– Anda, prima, larga de ser molenga. - o primo murmurou ao seu lado, com um sorriso brincalhão no rosto.

O coração de Bella se apertou, doloroso e leve ao mesmo tempo. Ela travou os dentes e empurrou com toda, toda a sua força, a força que ela nem sabia que ainda tinha.

– Isso mesmo, querida, isso mesmo, agora…

Um choro agudo e claro inundou o quarto, abafando as palavras de Andrômeda e relaxando o corpo todo de Bellatrix. Logo ela, que sempre tinha odiado choro de criança, que ficava maluca quando Nimphadora acordava gritando no meio da noite… daquela vez soou feito música. A música da sua liberdade. Sem mais dor. Sem mais da culpa, e dos pesadelos, e da ansiedade, e dos desejos loucos por sorvete de creme com avelã na madrugada.

Ela acompanhou a irmã se mover pelo quarto, com o canto dos olhos, e limpar o recém nascido com alguns feitiços cuidadosos.

– É uma menina. - revelou, enrolando o bebê em um pano limpo e magicamente aquecido.

Bella rolou os olhos, de um jeito arrogante.

– Mas é claro que é.

– DB -

– Aquele cavalo medonho não sai da frente da porta da cozinha de jeito nenhum. - Andrômeda murmurou com assombro quando veio trazer o almoço de Bellatrix em uma bandeja.

O enorme cavalo selvagem que perseguira Bellatrix pelos terrenos de St. Catchpole nos últimos meses resolvera revelar sua presença para o público, e estava postado na entrada dos fundos do chalé há horas. Ele sequer se moveu do lugar quando Narcissa e Regulus passaram por ele para irem embora, e não deu qualquer importância aos feitiços que a primeira lançou para espantá-lo. Ele devia ser mágico, pois as azarações desviaram sem atingí-lo.

– Mordred é inofensivo. - ela comunicou sem dar muita importância ao fato, aceitando a comida. Estava faminta.

– Mordred? - a outra franziu, mas não obteve resposta. Ela desviou da cama e foi até o berço montado perto da janela, onde sua recém nascida sobrinha dormia. Usou a varinha para verificar seus sinais vitais, e concluiu que tudo estava em ordem. A pequena era prematura, mas era forte e tinha um peso bom. Só precisava ser aquecida e alimentada nos próximos dias e ficaria bem, o que era um alívio, diante de tudo que sofrera em sua gestação. - Por falar em nomes… como ela vai se chamar, você já escolheu?

Bella assentiu.

– Rose.

Andy parou a meio caminho de arrumar alguns frascos de poções que Bella tomara mais cedo, para repor o sangue que perdera e deixá-la mais forte.

– Rose não é um nome de estrela. - disse com estranhamento.

Bella meramente deu de ombros. - Ela não é uma estrela, é? Não é como se o seu nome fosse para a árvore genealógica.

– Bella! - a irmã protestou - ela irá, se seu noivo registrá-la… você lembra do que conversamos, não lembra? Podemos planejar o seu casamento e certamente convencer Rodolphos a guardar esse segredo, aquele homem faria qualquer coisa por você.

Mas ela não estava ouvindo, apenas negando com a cabeça, uma expressão decidida no rosto.

– Essa garota não será uma Lestrange, se é isso que está sugerindo.

Muitíssimo preocupada com os rumos que o pensamento da irmã mais nova estavam tomando, Andy veio se sentar na beira da cama, e procurou os olhos de Bella, de uma forma quase suplicante.

– O que você está pensando em fazer? Rodolphos tem que registrar a menina. A família dele não vai aceitar o casamento se souber que você ficou grávida de outro homem! A não ser que você esteja pensando… - os olhos dela se arregalaram - há, Bella, você não está querendo ir procurar o Sirius e fazê-lo assumir, está?

A sugestão feriu Bella com a intensidade de uma facada, mas ela aguentou firme e não esboçou reação, continuou mordiscando suas frutas em pedaços.

– Eu quero dizer, se você estiver mesmo… - Andy pareceu repensar - quero dizer, ele tem a obrigação. Você pode exigir isso. Seria uma confusão, é claro, um escândalo na família, e se você tem esperanças de que fazendo isso ele repense sobre vocês dois…

Ela espetou um pedaço de melão com tanta força que o garfo entortou.

– Não existe “nós dois” - disse, a voz baixa e modulada - Pare de falar absurdos.

Andrômeda ficou assistindo a irmã comer, uma espécie de piedade em seus olhos que eram uma agonia para Bella, e muito difícil de ser ignorada. A comida tinha perdido o gosto, e ela afastou o prato de si com irritação.

– Você ainda gosta dele, não é? - disse Andrômeda, por fim. - Você acha que se ele conhecesse o bebê, então talvez ele…

– Chega! - ela exclamou, com coisa demais borbulhando dentro de si para continuar calada - eu não acho nada e eu não espero nada e eu não sinto nada! E eu não quero ouvir mais uma palavra sobre Sirius Black, mais nenhuma vez na minha vida, e nem sobre a participação dele nisso - ela apontou na direção do berço - ou sobre qualquer outra relação sanguínea ou não que ele tenha comigo! Basta é basta, Andrômeda, e eu não vou aturar qualquer menção à esse homem na minha presença! Estamos entendidas?!

Ela suspirou, assentindo.

– É claro, eu entendo, Bella.

– Ótimo! - resmungou, soltando ar raivosamente pelo nariz.

O bebê estava choramingando no berço, e Andy levantou para pegá-la e trazê-la até a cama.

– Ela está com fome. Você poderia…

Não. - Bella rangeu entre seus dentes, cruzando os braços. Tinha tentado amamentar a filha mais cedo, mas ou ela não tinha leite o suficiente, ou não era bom o suficiente, e de qualquer forma, fora extremamente frustrante. Ela levantou os olhos para a irmã - você pode fazer isso de novo.

– Eu não vou poder fazer sempre.

Bella deu de ombros teimosamente, e, resignada, a outra Black amamentou sua sobrinha pela segunda vez naquele dia. Sabia que estava sendo errada, que deveria insistir mais para que Bella o fizesse, mas a irmã parecia tão frágil, tão cansada e chateada. Talvez com o tempo ela pudesse se acostumar com a ideia, e então seu leite viesse com mais facilidade.

A garota ficou observando o bebê sugar o leite, perdida em pensamentos, até Andy voltar a falar.

– Você sabe que pode decidir o que quer fazer a partir de agora, certo, Bella?

– O que isso quer dizer? - ela levantou seu rosto. Seu tom não era nem desafiador, nem arrogante, nem debochado. Era um pouco confuso, apenas.

– Se você decidir por algo completamente diferente dos planos anteriores… se não quiser se casar com algum puro-sangue arrogante, ou mesmo… se aquelas coisas loucas de limpar o mundo da magia já não fazem tanto sentido para você… você pode, sabe. Apenas fazer algo diferente da sua vida. Eu estaria ao seu lado. Aposto que com um pouco de argumentação, Narcissa também ajudaria. Ou talvez não, mas não importa.

– Algo diferente? - ela repetiu com ceticismo.

– Sim. Ficar com a sua filha. Ser livre disso tudo.

Bella teve uma visão de si mesmo morando naquele chalé com a irmã e o cunhado, ficando gorda e fazendo sobremesa na cozinha enquanto sua filha corria do lado de fora com a prima sangue-ruim, as duas sujas de terra e jogando algum jogo trouxa horroroso. Ela fez uma careta que era sorriso e esgar de horror ao mesmo tempo.

– Você está tentando me converter, Andrômeda?

Não, o que? Eu apenas…

– Se você acha que é isso que eu quero, você não entendeu nada.

Alguém bateu na porta, impedindo aquela conversa de continuar e talvez se tornar perigosa. Ted entrou, usando o macacão de trabalho, e com um sorriso enorme no rosto - completamente alheio ao clima tensa do quarto.

– Olhe para você, toda maternal olhando sua filha ser amamentada pela tia - ele caçoou, se aproximando e preenchendo o cômodo com o cheiro de pó de serra e seiva de árvore. Por sua reação tranquila àquele fato, a esposa devia ter conversado mais cedo com ele sobre estar dando de mamar à bebê - como se sente?

Bella fez uma careta para ele, esperando que aquilo transmitisse não só a sua resposta, mas a sua insatisfação com a sua presença ali no quarto.

– Foi o que eu pensei - ele riu. - Andy, amor, Nimphadora também está com fome, acha que ainda tem algo ai para ela?

Andrômeda deixou a recém nascida adormecida no berço e saiu do quarto, murmurando um “fique de olho nela” para o marido. Ele piscou de volta e lhe deu um beijo. Bella rolou os olhos para o excesso de cuidado e para a cumplicidade adocicada do casal.

– Eu trouxe algo para você - ele disse quando Andy saiu. Estendeu para ela um embrulho mal feito com papel pardo de pão. - Imaginei que agora que não está mais em apuros, pelo menos não carregando um apuro na barriga, vai poder dar o fora daqui.

– Acredite, Tonks, ninguém espera mais esse momento do que eu - disse, ácida, arrancando o pacote dele e rasgando o embrulho.

– É algo para levar com você.

– Uma maçaneta. - ela girou o “presente” nas mãos com incredulidade. Será que aquela era a idéia dele para uma piada? Não tinha muita graça. Era uma peça de madeira bem polida com formato de rosa, caprichada, mas nada engraçada e ela não podia imaginar o que faria com aquilo. Ela não tinha uma casa, e certamente não tinha uma porta.

– Uma maçaneta sumidoura. Eu mesmo a fiz. - explicou, orgulhoso - Funciona com um raciocínio parecido com um armário sumidouro, mas ao invés de colocar algo dentro para transportar, ela transporta algo ligado a ela. Como um cômodo.

– Um cômodo? - ela repetiu sem entender, e começando a perder a paciência.

– Sim. Que é o seu presente, no caso. Estou te dando a estufa. Com essa maçaneta, você pode ter acesso a ela de onde estiver.

Bella olhou para a peça de madeira de novo, um pouco impressionada. Ele sorriu, satisfeito por causar uma reação nela.

– Eu pensei que você gostaria de levar consigo, e nós não precisamos dela, realmente. Até onde eu sei, se não fosse você, ninguém nunca teria sequer aberto aquele lugar.

Ela sorriu, um lado de seus lábios se erguendo mais do que outro.

– Eu sei que sempre fiz questão de enfatizar que você é um inútil, Ted Tonks. Mas talvez - eu não apostaria nisso, mas talvez ainda haja salvação para você.

– BD -

Se tinha algo que Bellatrix odiava mais que choro de bebê e hormônios de gravidez eram juízes de cerimônia. Eles se achavam os grandes sacerdotes donos do mundo com seus narizes empinados e varinhas duas vezes mais longas que o normal (aquilo tinha que ser ostentação, ninguém precisava de uma varinha tão longa).

O que estava na propriedade dos Tonks aquela tarde não podia medir mais de um metro e meio, mas se comportava como se tivesse o dobro desse tamanho.

– Alguém pode tirar o cavalo daqui? Eu não vou batizar ninguém com esse animal presente.

Bella rolou os olhos. Sabia que o cavalo não ia a lugar nenhum, ele vigiara cada passo seu desde o nascimento do bebê. Ele rondava o lado de fora da casa e estava lá toda vez que ela passava por uma janela. E no primeiro banho de sol da criança, Andrômeda congelara de pânico quando o animal se aproximara e só se dera satisfeito depois de cheirar bastante o pacotinho enrolado em seus braços.

– E os padrinhos? Onde estão os padrinhos? Eu não tenho o dia todo, pela graça de Morgana, onde está o respeito pelo tempo precioso do alto escalão do Juizado Bruxo?

– Tem certeza que quer fazer isso isso? Não há pressa, você sabe. - Andromeda disse toda chateada ao seu lado. Ela estava com um humor horroroso desde que descobrira que não ia ser a madrinha da filha de Bella. Ted, por sua vez, não pareceu surpreso, na verdade, ele suspirou aliviado quando achou que ela não estava olhando. - Você tem cinco meses para batizá-la. O de Nimphadora não será até a próxima semana.

– Eu não tenho cinco meses - ela murmurou de volta. Não parava de olhar impaciente ao redor, zangada com a demora. Mordred, o cavalo, estava parado há alguns metros como se fosse um guarda-costas, seus olhos completamente pretos bem atentos à movimentação estranha. Nos braços de Bella, a menininha dormia silenciosamente.

Era muito silenciosa, no geral. Bella agradecia por isso, apesar de a irmã ter explicado que era comum em bebês prematuros não chorarem muito, o que provavelmente mudaria com o tempo. A bebê só tinha três dias de vida, mas ganhava peso com facilidade e estava cada vez mais ativa.

– Oh, graças a Merlin - Andromeda exclamou. Narcissa acabara de aparatar e se aproximava apressada do grupo, uma capa de viagem grafite ondulando às suas costas.

Não era a única coisa que ondulava atrás dela; Bella franziu para o seu acompanhante, tentando descobrir de quem se tratava.

– Desculpe, Bella, houve uma emergência que me atrasou um pouco. Estamos prontos para começar?

– Onde está Lucius? - ela perguntou com azedume. Não era como se estivesse amando a ideia de ele ser padrinho da sua filha, mas já que não tinha uma opção melhor, pelo menos que ele chegasse na hora.

– Bem - a mulher disse um pouco sem graça - ele não vem.

– Ele o que? - ela esbravejou. Como aquele verme se atrevia?

– O Lord… - ela explicou mais baixo - alguma coisa sobre uma missão de última hora.

– Eu não acredito que o Lord o impediu! Ele não veio porque não quis, porque ele é um imbecil e precisava estragar isso para mim!

Acho que talvez seja melhor assim - ela argumentou, tentando ser positiva e evitar os humores da irmã - não precisamos dele, uma madrinha vai lhe bastar. - com isso olhou para o bebê nos braços de Bella, afetuosamente.

O juiz de cerimônia pensava diferente sobre aquilo.

– Um batizado se faz com uma madrinha e um padrinho. Essa é a coisa mais absurda que eu já ouvi - disse, pessoalmente ofendido com a sugestão - Vocês ofendem a memória das gerações nobres que vieram antes de vocês. Ora, quem já se viu, tamanho sacrilégio! Uma criança precisa ter ambos os padrinhos! Um homem e uma mulher para tomarem seus cuidados se o pai e a mãe faltar… e ainda mais esta que já não tem um pai…!

Cissa segurou Bella antes que ela pulasse sobre o homem, com bebê e tudo.

– Talvez se adiarmos o batizado por alguns dias, podemos convencê-lo…

– Não! - ela resistiu - não vamos adiar.

– Ou então você pode considerar o Ted… - Andrômeda começou, mas a irmã lhe lançou um olhar tão gelado que a voz dela morreu.

– Meu tempos está se esgotando, ladies. - o juiz ameaçou, olhando em um pomposo relógio de bolso que era do tamanho de sua mão.

Narcissa vagou seus olhos ao redor, procurando a solução. Eles pousaram no homem que acompanhava, e que permanecera afastado de toda a discussão com os braços firmemente cruzados. Ela apertou seus lábios, odiando a ideia antes mesmo de colocá-la para fora.

– Talvez podemos usar ele… só para preencher o espaço.

– Ele? - Bella olhou de forma duvidosa para o seu acompanhante. Era jovem e familiar, e ela sentiu uma repulsa gratuita por ele, por seu nariz longo e adunco e a postura enfadada e arrogante.

– O Lord o enviou para vir comigo - Cissa disse num murmuro que só Bella ouviu - ele não quis me revelar o porquê.

Ela olhou com interesse renovado para o rapaz, e o reconheceu finalmente, entendendo porque aquilo tinha sido difícil. Estava acostumada a vê-lo se arrastando pelas masmorras comunais da sonserina, sendo antisocial, com a cara enfiada em caldeirões, isso quando não estava entrando em brigas com Sirius e sua trupe. Achá-lo sob o sol de verão tinha sido uma violenta retirada de contexto.

Severus Snape.

– Milord o enviou? - ela disse com um pouco de asco - Ele é um comensal?

– Um dos novos. Acabou de receber a Marca. Mas parece que tem a Sua confiança.

Bella chamou Snape para perto. Ele veio de má vontade, torcendo seu desproporcional nariz em desagrado.

– Porque Milord o enviou aqui? - ela exigiu, o olhando bem nos olhos fundos. Ele se empinou.

– É particular. Não posso falar na frente de suas irmãs.

Bella entregou a bebê para Narcissa e fez um sinal para ela se afastar, e a loira saiu de má vontade e foi distrair Andrômeda, que estava tentando entender o porque de tanto cochicho. O juiz continuava chiando, ameaçando ir embora.

– Desembucha, Snape.

– Se eu fosse você trataria com mais respeito um enviado do Lord Negro, Black. Ele pode perder a paciência com você se souber que está sendo insolente e ingrata.

Ela fez um gesto de impaciência, cruzando os braços. Ele lhe olhou de cima abaixo como se analisasse o quanto ela merecia receber o recado que ele trouxera.

– Milord me enviou para verificar se você ainda pretende cumprir com o seu acordo.

Ela olhou preocupada para os lados, com medo de as irmãs terem ouvido.

– Fale baixo! É claro, é claro que sim.

– Muito bem. Nesse caso, você deve partir usando a chave de portal que ele lhe enviou, o mais rápido possível. Ele vai estar esperando você no seu destino.

– Chave de portal? Ele não me mandou nenhuma… - mas Bella se interrompeu, seus olhos se arregalando por um momento. É claro que ele tinha lhe enviado. Há meses. Ela disfarçou a surpresa rapidamente, sem querer parecer tola na frente do comensal. - Certo. O que mais? E sobre a minha filha?

– Ele disse que você deve garantir uma criação sob os dogmas de sangue-puro e nobreza bruxa até que o momento dela chegue.

– Ele falou alguma coisa sobre roubar o padrinho no dia do batismo?

Snape torceu sua boca, desagradavelmente.

– Eu acho que isso foi um dos motivos pelos quais ele me enviou aqui. - estava claro que Snape não estava mais feliz do que ela mesma com a perspectiva.

– Como eu poderia confiar em você?

– Você não pode - ele retrucou, um brilho prazeroso no fundo de seus olhos de besouro - mas você não tem opção, tem, Black?

– Minha opção é confiar em meu Lord. - ela decidiu, com dignidade. Então ela avisou ao muito irritado juiz que eles estavam prontos, e assistiu a cerimônia com um sentimento conflitante na boca do estômago.

Cissa segurava a bebê sob uma fonte magicamente conjurada, que vertia água cristalina. O juiz proferia os encantamentos que reconheciam-na como um membro da comunidade bruxa, e que a ligavam magicamente aos seus padrinhos. Narcissa e Snape seguraram seu corpinho sobre a água e ela não chorou quando foi lavada e envolvida em magia. Espirais douradas e vermelhas rodearam os três - para sempre ligados por uma promessa mágica muito antiga e elementar.

– Qual o nome completo da criança? - o juiz pediu no final da cerimônia, com uma placa diante de si, onde ele gravaria as informações dela e as arquivaria no Ministério da Magia.

– Bervely Rose Black - Bella respondeu, a voz firme. Tanto Cissa quanto Andrômeda lhe olharam com surpresa, mas ela não lhes deu atenção.

– Eu declaro Bervely Rose Black, filha de Bellatrix Black e com pai desconhecido, membro desta comunidade mágica diante do Winzegamot, cidadã de direito de todos os privilégios concedidos aos indivíduos mágicos, tendo comprovadas cinco gerações de sangue puro em sua família materna, sendo portanto bruxa de sangue puro para este Conselho. Seus padrinhos aqui declaram guardar por sua educação, segurança e sustento na ausência de sua mãe, até a sua maioridade, aos dezessete anos.

Narcissa e Snape - este último com a expressão inescrutável - assinaram a tábula com um floreio de suas varinhas, dando fim a cerimônia. Quando o homenzinho foi embora, Cissa puxou Bella para um canto com a desculpa de lhe devolver o bebê.

– Você só vai precisar ficar aqui mais alguns dias. Vou tentar entrar em contato com Rodolphos, e podemos dar seguimento ao nosso plano. Só um pouco mais de paciência. Você está se saindo bem.

Bella não lhe respondeu nada sobre aquilo. Ela sacudiu a bebê que choramingava em seu colo.

– Você prometeu cuidar dela na minha ausência.

– Sim, mas você não vai precisar se ausentar. Não muito, só para o casamento e para a lua de mel.

– Você prometeu, não se esqueça disso.

– Claro, querida. - Narcissa repetiu, lhe afagando o ombro. Achou que a irmã ainda estava um pouco confusa com o parto e tudo. - Vá descansar. Tudo vai se ajeitar.

Bellatrix puxou Snape pela sua capa de morcego quando ele estava indo embora. Ela colocou o máximo de ameaça que podia em sua voz.

– Não importa o que aconteceu aqui hoje, não encoste na minha filha. Nunca. Esse batizado foi uma farsa no que se refere a você. Eu caço e acabo com você se tentar encostar nela.

Ele rolou os olhos, entediado.

– Não tenho qualquer interesse na bastarda, Black. Só cumprindo ordens.

Ela assentiu, estreitando os olhos para ele. Snape era um enigma, mas não tinha tempo para desvendá-lo. Era quase fim da tarde, precisava se apressar. O sol ia se pôr em poucas horas. O cavalo as seguiu, a ela e a Bervely, até a porta do chalé, e ainda estava lá fora olhando para a janela, quando ela chegou no sótão e colocou a bebê no berço.

– BD -

Era noite, a casa adormecera, e Bella decidiu que não levaria nada.

Não levaria seus vestidos de grávida, amplos e horrorosos em tons pasteis. Nem levaria os velhos pertences que recolhera em Hogwarts - livros escolares, penas, tinteiros, pergaminhos, o uniforme da sonserina. Nada daquilo lhe serviria aonde estava indo.

Ela vestiu um jeans gasto de Andrômeda e um suéter antigo, que ganhara da mãe há vários natais, quando ela ainda enviava presentes. Fora feito com linha mágica italiana, e ainda conservava os feitiços de aquecimento originais, além do mais vestia bem disfarçava os quilos a mais que a gravidez lhe rendera.

Ela pegou uma mochila e guardou lá dentro sua varinha, que Cissa devolvera naquele dia antes de ir embora, “como um voto de confiança”. Também guardou a maçaneta de madeira, e sua máscara, a que fizera a partir das rosas no dia da Masquerade. Ainda estava bonita e fresca. Os espinhos continuavam afiados de um lado, as pétalas sedosas do outro.

Pegou a carta que escrevera mais cedo, e enviou pela coruja de Andrômeda, imaginando o que seu destinatário pensaria quando a recebesse. Bella torceria para não ser odiada, mas isso era ser otimista. Não combinava com ela.

Se aproximou do berço onde Bervely dormia muito calmamente, sua respiração compassada, o pequeno peito subindo e descendo visivelmente a cada fôlego. Se permitiu olhá-la, realmente olhá-la, ao invés de passar os olhos por ela. Seu cabelo uma penugem suave, e os cílios longos, e a cor rosada. Ela não se parecia com nada agora, mas Bella sabia como se pareceria quando crescesse. Os olhos eram azulados por ora, mas se tornariam cinza-chumbo-tempestade.

Ela abriu a boca, para falar alguma coisa, mas fechou, se sentindo estúpida. Só pessoas como Regulus achavam que fazia sentido falar com recém, ou-nem, nascidos. Ao invés disso, mudando de ideia, tirou a máscara da mochila e colocou ao lado dela no berço.

“Isso não é um abandono”, pensou consigo mesma. “Eu volto”.

Bella deixou o quarto, deixou o chalé e andou até Mordred, o cavalo, que a aguardava obediente na noite. Ela nem precisou de cela para montá-lo dessa vez, e acariciou seu pelo brilhante.

– Me leve até ele - murmurou.

O cavalo se afastou da zona de apartação proibida, em direção ao rio Ottery. Ela nem olhou para trás, só para frente. Suas mãos tremeram um pouco segurando a crina e a varinha, mas ela respirou fundo até encher seus pulmões e as mãos ficaram firmes.

“Esse é o momento em que você não olha para trás”, ela pensou consigo mesma. “Você segue o chamado das trevas.”

Mordred não trotou, ele só sumiu.

Bella sumiu junto com ele rumo à sua próxima aventura.

(Fim)


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Notas finais do capítulo

¹Eu sei que é muito improvável um bebê mudar de posição durante o trabalho de parto, mas essa é uma gravidez mágica, então tenham fé. 



Intrigados com Snape sendo padrinho da Bervely? Com Voldie ter enviado uma chave de portal/guarda costas para a Bella durante a gravidez? Gostaram do parto? Querem apertar Regulus até ele explodir de tão fofo que ele é? Me respondam o que acharam do desfecho em seus comentários!



Leiam o epílogo e as notas finais MUITO importantes depois dele. 





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