Dossiê Bellatrix escrita por Ly Anne Black


Capítulo 12
Questão de Família


Notas iniciais do capítulo

A boa notícia é que não é o último, como eu tinha dito. Explico no final.

Feliz ano novo!



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I will wander till the end of time (Vagarei até o fim dos tempos)

Torn away from you (Dilacerada de você)

(Evanescence)

Quando Andrômeda entendeu aonde a irmã queria ir, seu rosto se franziu em preocupação.

– Bella, na sua condição… isso não é uma boa idéia. Não… não.

– Eu não estou pedindo, e você não é obrigada a ir. Agora, se puder me devolver a minha varinha, como prometido…

A mais velha mordeu o lábio, passando de preocupada a culpada. Bellatrix percebeu a hesitação da irmã e sua voz ficou muito perigosa.

– Andrômeda, minha varinha, o que você fez com ela?

A irmã olhou para qualquer lugar que não para Bella, querendo, mas sabendo que não podia, evitar aquela nova discussão. Ela encolheu os ombros.

– Eu meio que… não tenho a sua varinha aqui comigo agora.

– ONDE está? Como assim você não a tem? Você acabou de dizer que ia me entregar a varinha!

– Sim, eu não imaginei que você ia querer imediatamente! - Bella abriu a boca para protestar e Andy se apressou a completar - está com Narcissa! Nós achamos melhor que ela levasse, para o caso de você resolver ter uma, hum, vontade incontrolável de recuperá-la.

– Eu estou tendo uma agora! - ela avisou, fumegando. Andy assentiu rápido.

– Esse é exatamente o meu ponto.

– Inacreditável! - exclamou enraivecida, girando e subindo as escadas intempestivamente. Andy suspirou, seguindo a irmã.

– Bella, espera…!

– BD -

Bella rodopiou e rodopiou no salão de valsa, a saia do vestido ondulando ao redor de si como se estivesse viva. Na maior parte do tempo ela não ligava para aquelas coisas - festas, danças, longos, música, pares. Hoje ela se importava.

Hoje ela usava sua máscara. Prata, quartzo azul royal e renda. Se encaixava no seu rosto com suavidade, feita sob medida.

“Faz seus olhos parecerem maiores” - Sirius dissera antes de saírem de casa, tentando irritá-la.

Mas Bella abriu um grande sorriso. Nem seu primo poderia tirá-la do sério aquele dia. Ela piscou para ele, sem ligar se estava, nas palavras de sua mãe, “tendo comportamentos inadequados de flerte”:

“Você presta atenção demais em meus olhos”.

– BD -

– Eu já disse que não está aqui… Bella! - Andrômeda a encontrou arrancando todas as roupas das gavetas quando entrou no sótão. Será que a irmã estava louca? Será que pensava que esconderia a varinha dela ali dentro, bem ao seu alcance?

Mas Bella negou, bufando.

– Ao inferno com a varinha, Andrômeda. Preciso encontrar alguma coisa para vestir que não seja um completo desastre. - ela continuava jogando pelos ares as roupas que Narcissa lhe enviara nos últimos meses. Estava certa, não havia nada ali para a ocasião.

– Você pode parar com a bagunça? Eu tenho algo. Espere um minuto.


– BD -

– Você quase parece uma dama respeitável com esse vestido. Alguém precisa dar um prêmio a esse alfaiate, quem quer que ele seja, pela façanha impossível. - disse Sirius, escorregando um copo longo com coisa fumegante na direção dela, para o qual Bellatrix fez uma careta.

Ele não estava terrível, também. No momento em que pisou fora de casa, tirara as vestes escuras com punhos bordados e vestira a jaqueta de couro amarrotada de sempre. Se alguém merecia um prêmio, era Sirius por ficar elegante naquela combinação absurda de calças sociais e roupa de motoqueiro. Mas isso ela não lhe disse.

– Onde está o resto da trupe de perdedores com a qual você costuma andar? Não me diga que foram barrados na entrada? Entre Lupin vestido com trapos e o caos do cabelo de Potter, eu não me surpreenderia se eles fossem considerados como um atentado estético ao baile.

Sirius também parecia excepcionalmente bem humorado; seu sorriso nem fraquejou ao ouví-la criticar os asseclas. .

– Remus está doente, e James está tentando cumprir uma aposta e evitar ter que tirar suas calças no meio do salão. Peter, não que você tenha perguntado, está tendo um caso com a tenda de tortas caramelizadas. Resumindo: parece que pelo menos por agora, somos só eu e você, priminha.

– Correção: só você. - ela saltou do banco alto onde estivera sentada, ajeitando a saia do vestido para que caísse graciosa ao seu redor. - Vou dançar.

– Você nem sabe dançar.

Bella o ignorou, indo em direção à praça central. Centenas de casais rodopiavam, mascarados, sorrindo. Ela pensou que podia arranjar um par. Um monte de rapazes ali estavam loucos para dançar uma garota bonita e bem nascida. Mas quando virou para o lado, era Sirius quem estava lá.

Só podia ver o enorme sorriso convencido, inconfundível, mesmo com a máscara escondendo o resto do seu rosto. Ele lhe estendeu a mão.

– Sorte sua que hoje você tem a chance de aprender com o melhor.


– BD -

– Este vai servir. - Andrômeda lhe estendeu um tecido dobrado, para o qual Bella olhou com dúvida. Não seria sua primeira escolha (e nem última) para um vestido; era dourado e não tinha um corte bom. Ela gostava de roupas que marcavam a sua cintura, e que destacassem a curva de seus seios.

Não que eu tenha uma cintura, no momento. E eu certamente não preciso de mais destaque para esses seios enormes.

– Apenas experimente. - Andy a encorajou - eu usei quando estava grávida, para festa de natal da Escola de Medibruxos.

Relutante, a caçula pegou a peça, que deslizou pelos seus dedos como se fosse feita de água. Era um tecido frio e meio metálico, e havia magia nele pois, quando o vestiu, se ajustou em pontos certos do seu corpo, sem evidenciar sua barriga. Havia um efeito visual qualquer ali, que disfarçava a gravidez de forma bem eficiente.

– Feitiço Esbelto - Andy sorriu, olhando a expressão surpresa da outra - faz todo mundo prestar mais atenção ao seu rosto.

Bella se olhou no reflexo da janela, já que ela se recusara a ter um espelho em seu “quarto”. Dava pra ver que estava bom. Melhor do que imaginou que poderia ficar em um vestido de festa naquelas condições.

– DB -

A coisa fumegante no copo, Bella eventualmente descobriu, era Delírio Fumegante. E quanto mais delírio fumegante alguém bebe, maior sua vontade de dançar.

Suas pernas pegavam fogo, suas mãos suadas escorregavam, e seu cabelo escapara completamente do penteado, voando livre em torno de si quando ela rodava, e ela não queria parar.

Nem Sirius, que estava visivelmente bêbado. O rosto vermelho, sorrindo que nem um maníaco. A girando sem parar pelo salão. As pessoas desviavam deles como quem se afasta de uma locomotiva sem freio.

– Sirius, seu idiota, você vai me derrubar! - gritou, completamente tonta e vendo as cores do baile em borrões ao seu redor, sem conseguir soar exigente como gostaria.

O primo deu uma gargalhada.

– DB -

Elas estavam prontas. Só faltava o último - mais importante - detalhe da indumentária para aquela noite.

– Eu ainda tenho a minha, da primeira Masquerade, está guardada em algum lugar do porão. Posso te emprestar… - Andy ofereceu, mas Bella negou. Máscaras eram coisas muito pessoais.

Ela foi até a estufa (Andy em seus calcanhares) e colheu algumas rosas brancas da sua roseira. Sempre usava as luvas de jardinagem para manuseá-las, e esqueceu que estava sem elas desta vez. Inadvertidamente fechou os dedos em torno dos espinhos, que se enterraram como presas em seus dedos e palma.

– Sangue do inferno! - ela praguejou, jogando as flores na mesa de trabalho. A irmã se aproximou vendo aquele monte de sangue nos talos e pingando.

– Oh, querida, você está bem? Me deixe curar isso…
– Não. - Bella olhava impressionada para as rosas na mesa. Elas absorviam seu sangue e as pétalas foram se tingindo em um tom escuro, variando entre o bordô e o negro. Andrômeda percebeu aquilo e seus olhos cresceram em espanto.

– O que elas estão fazendo?

– Se nutrindo, eu acho. - observou, impressionada. As rosas pareciam mais saudáveis e brilhantes agora, numa textura de seda fascinante, no lugar da palidez anterior. Ela ia ter que investigar aquilo mais tarde, quando voltasse. - Me empreste sua varinha? Anda, Andy, é só um feitiço. - relutante, a mulher entregou a varinha. Bella se concentrou nas rosas e no modelo que tinha em mente. Aquilo seria fácil, fora a melhor em seu ano em Transfiguração. - Vera Verto!

Andrômeda vibrou quando as rosas se fundiram e se torceram dando forma a uma máscara que era ao mesmo tempo elegante e crua. Um dos lados era contornado por espinhos, e no outro as pétalas se conformavam em uma espiral negra na altura da têmpora. As aberturas para os olhos tinham o formato exato dos olhos de Bellatrix, oblíquos e largos.

Bella a colocou em seu rosto. O encaixe foi perfeito.

Andy admirou-se. Já vira máscaras menos caprichadas que aquelas serem vendidas em lojas de luxo no Beco Diagonal, e sabia que nenhuma fora feita a partir de algumas flores colhidas do pé e um feitiço do terceiro ano.

– Isso foi incrível, Bella.

– BD -

Regulus Black ajeitou sua gravata borboleta pela quinta vez. Ele não amava festas. E ele certamente não amava aquela festa.

Não pareça nervoso. - Narcissa lhe recomendou, repreensiva através de um sorriso falso. Era fácil para ela, que nunca parecia qualquer coisa não ser perfeitamente adequada. Devia haver um feitiço para se parecer daquela maneira. Ele bufou.

– Eu estou tentando. Droga, eu estou suando. Está calor aqui? Eu pareço um idiota com essa gravata.

– Você parece adorável. - ela disse rispidamente, o empurrando para que atravessassem a multidão de bruxos em Godric’s Hollow. A Masquerade era uma massiva, muito popular, incrivelmente frequentada comemoração de verão. Eles precisavam se mover efetivamente para alcançarem suas marcas, mas casualmente o bastante para não chamar atenção. Ao menos não tinham que cumprimentar outros bruxos - ninguém podia se reconhecer com as máscaras enfeitiçadas.

Não deviam precisar cumprimentar ninguém no caminho; era suposto que as máscaras enfeitiçadas não permitissem a ninguém se reconhecer. Mas, ao longo dos anos, Narcissa aprendera a identificar as famílias puro-sangue pelo padrão de suas máscaras; eram relíquias de família, afinal. Ela curvou a cabeça educadamente para uma senhora loira cuja máscara era feita de ouro e pérola - obviamente uma Greengrass, e respondeu o cumprimento de quatro jovens com máscaras de rosto inteiro trançadas em ferro e cobalto; Travers, sem sombra de dúvidas.

Ela mesma usava, pela primeira vez, sua relíquia Malfoy: uma delicada peça que pertencera à avó de Lucius. Cobria a lateral superior de seu rosto, fabricada com ouro branco e esmeraldas. Era discreta e graciosa e ressaltava seus traços. Regulus, por sua vez, herdara a antiga máscara de Sirius: metálica, com o fundo escuro e padrões espiralados em sua superfície. Ressaltava o contorno de seus maxilares, mais masculinos do que quando ela o tinha visto a última vez, em Hogwarts.

Eles mal tinham alcançado a lateral esquerda da praça quando Narcissa identificou um dos funcionários da organização do baile vindo apressado na direção dos dois. Seu estômago gelou, e ao seu lado Regulus deu um apertão na mão da prima.

– Será que eles sabem? Eu acho que eles sabem. Como eles podem saber? - murmurou desesperado.

– Fica frio Regulus - ela ralhou, e abrindo seu melhor sorriso prestativo, se virou para o bruxo todo vestido em dourado e de máscara vermelha simples. - Pois não, como posso ajudá-lo?

– A senhora é Narcissa Malfoy? - ele sussurrou parecendo nervoso. Provavelmente porque estava quebrando uma das principais regras da Masquerade. - Eu sinto muito por perguntar, em outra situação… mas eu tenho uma mensagem para Narcissa Malfoy.

– E qual seria essa mensagem? - perguntou educadamente. Mas já estava preparada para deslizar a varinha pela manga do vestido e azarar o bruxo se precisasse.

– É apenas… as suas irmãs, senhora. Elas pediram para avisar que estão lhe esperando no portão de entrada, e que é urgente.

– BD -

Narcissa era uma visão e tanto, Bella pensou com distração, observando a irmã atravessar os portões de entrada no vilarejo, num longo vestido esmeralda calda de seria ondulando em torno dos tornozelos. Para a sua surpresa, era Regulus, e não Lucius Malfoy, quem lhe acompanhava.

Ela não o reconheceu de imediato - estava bem mais alto do que se lembrava. Mas a voz era a mesma, quando exclamou “Bella!” em um tom maravilhado.

– Bellatrix! - Narcissa, que estava o contrário de maravilhada, avançou até elas e pegou a irmã pelos ombros - O que isso significa? Eu fui avisada que é urgente, há algo errado com o bebê?

– Cissa, eu sinto muito - foi Andy quem justificou. - Mas eu achei que se eu não alegasse urgência você não viria rápido.

– Então não tem urgência nenhuma? E porque você está usando esse vestido… e… - ela pousou os olhos com atenção na máscara de Bella - Que máscara é essa? O que está acontecendo?

– Bella quer ir para a festa. - ela disse em tom de desculpa. Narcissa arregalou os olhos para a irmã do meio.

– E você achou que isso essa uma boa idéia por qual razão? - abaixou o tom, severamente - Nós entramos num acordo de que Bellatrix não sairia de casa até ela não estar mais grávida, até onde eu me lembro!

– Bellatrix - Bella pigarreou, irritada por estar sendo discutida como se não estivesse presente - acredita que merece a palavra sobre… bem, sobre Bellatrix. Se a grande dona do mundo e do destino alheio puder permitir. - completou com ironia. Cissa se virou para ela, condescendente.

– Bella, por favor. Um pouco de bom senso aqui. Praticamente todo mundo que importa no mundo bruxo está nessa festa. Se você quer anunciar publicamente sua gravidez, pode muito bem mandar publicar no Profeta Diário!

– Ela está com a máscara. - Andy se adiantou. - ninguém vai reconhecê-la.

– Pelo amor de Merlin, porque você está concordando com essa loucura?! - Cissa exclamou, perdendo sua paciência. Andrômeda olhou de relance para Bella, mordeu seu lábio inferior e então suspirou.

– Cissa, podemos conversar em particular por um minuto?

Elas trocaram um olhar enigmático e se afastaram, e Bella cruzou seus braços, impaciente. Estava um pouco frio ali fora, na borda da colina onde Godric’s Hollow se encontrava. Aproveitando-se da ausência da prima mais velha, Regulus achou seguro se aproximar. Ele ostentava um sorrisinho divertido.

– Então você continua grávida?

– É uma coisa que leva meses, você sabe. - rolou os olhos, sem ânimo para discutir. Não podia ouvir o que suas irmãs cochichavam, e sinceramente não se importava muito.

– Você faz falta em Hogwarts, você sabe. - ele comentou, como quem não quer nada. Mas ela conhecia aquele tom, era como o som de uma isca sendo lançada no mar. Resolveu pegá-la.

– É mesmo? Como, isso?

Regulus sorriu como se soubesse de um segredo, e havia algo em seus olhos que ela não se lembrava de ter visto antes. Malícia. Ao invés de responder, a analisou atentamente de cima a baixo, procurando alguma coisa.

– O que você está aprontando, Bella? - estreitou seus olhos, que eram mais cinza claro que azuis por detrás da máscara.

– O que te faz pensar que eu estou?

Ele deu uma risadinha de quem sabe das coisas.

– Você sempre está aprontando alguma.

Narcissa e Andrômeda voltaram para perto deles, a primeira claramente contrariada.

– Andrômeda pensa que você merece uma folga, já que tem se comportado bem esses últimos meses, Bella. - ela começou em tom de aviso - Eu vou te dar essa chance, mas se você sair um minuto das minhas vistas…

Bella no entanto se voltou para a outra irmã, confusa.

– Então você não vai ficar? - não que ela ligasse, mas Andrômeda parecera bem convencida a acompanhá-la quando estavam saindo de St. Catchpole.

– Narcissa me convenceu de que pode ficar de olho em você sozinha - disse a outra em tom de desculpas - além disso, tem a Dora… eu avisei para o Ted que estava saindo, mas não tenho certeza que ele me ouviu, ele tem um sono pesado de um ogro.

– Não é a única parte ogro dele. - ela pontuou. Atrás de si, ouviu Regulus rindo. Cissa rolou os olhos.

– Se isso é tudo, vamos voltar para a festa. Eu acompanho Bella até o chalé quando terminarmos aqui.

– Tudo bem - Andy se virou para a caçula, lhe olhando seriamente. Bella esperou mais uma recomendação ridícula como “comporte-se” ou “obedeça Narcissa”. Ao invés disso, a castanha sorriu - Divirta-se.

Bellatrix abriu seu melhor sorriso caçador. Se não estivesse tão escuro, talvez Andromeda tivesse captado um pouco da má intenção em seus olhos.

– Eu vou me esforçar, irmãzinha.

Look here she comes now
(Olhe, lá vem ela agora)

Bow down and stare in wonder
(Curve-se e olhe maravilhado)

Oh how we love you
(Oh, quanto nós a amamos)

No flaws when you're pretending
(Sem defeitos quando está fingindo)

– BD -

Sirius Black sabia que tinha sorte. Mais do que isso - ele era o bruxo mais sortudo do mundo. Tinha tudo que poderia desejar - uma namorada ótima, beleza invejável, amigos incríveis, a melhor festa mágica do mundo, e estava prestes a alcançar fama internacional.

A vida não podia ser nem um pouco mais perfeita.

Acabara de oferecer um brinde a tudo isso, e seus amigos estavam fazendo chacota do seu estado de espírito inflado e nada modesto.

– Eu não arriscaria ir tão longe com fama internacional - Lilian o advertiu, tentando ficar séria, mas já estava em seu quarto copo de hidromel, então não foi muito eficiente - a banda de vocês é no mínimo suportável.

Malfeito Feito não é “suportável”! - James defendeu - Malfeito Feito é Magnânima! Colossal! Inigualável!

– Cuidado ai, caubói - Remus lhe deu umas batidinhas de aviso nas costas - não vá engasgar com essas palavras grandes.

– Além do mais, a banda só tem o que, uma semana? E vocês só ensaiaram duas vezes. - disse Olivia com um sorriso divertido. - Então se algo que se pareça com música sair daqueles instrumentos, já estamos com sorte.

– Na verdade foi um ensaio só - Sirius corrigiu, estufando o peito, como se isso fosse motivo de orgulho - o segundo encontro foi mais uma concentração de energia musical para inspirar nossa apresentação.

– O que na realidade quer dizer que ficamos ouvindo discos velhos do Kiss a tarde toda - Remus murmurou, deixando em seguida o rosto cair nas mãos - isso vai ser um desastre.

O grupo se reunira em uma das mesas para quatro pessoas no interior do Twisted Trunk, embora estivessem em seis. Não dava para reclamar, era sorte terem achado um local para sentar e beber. A cidade estava excepcionalmente cheia para a Masquerade aquele ano, e para Sirius, isso era ótimo. Quanto mais gente, maior o público para o que ele considerava o seu grande lançamento no mundo da música, dali há algumas horas no show de talentos.

Ele tinha absoluta certeza do sucesso da banda. E dai que só tinham ensaiado uma vez? Ele era um baixista nato, e James não vazia vergonha no vocal. Remus tocava piano desde os seis anos de idade e, para todos os efeitos, a bateria faria o trabalho para Peter. Desde que ele pudesse manter o controle das baquetas e não furar um olho por tempo o suficiente…

– Eu acho que tem outro grupo de música essa noite. - Peter observou, nervoso com a competição - eu os vi quando fui fazer a nossa inscrição mais cedo.

– Aqueles cara com as máscaras estranhas? - James lembrou. - eu vi também. Mas eles não tem o nosso estilo.

– Como assim máscaras estranhas? - Remus perguntou curioso. Para ele, a maioria das máscaras ali se enquadravam na categoria… mais cedo, tinha visto um homem cuja máscara envolvia a parte superior de um galo empalhado.

– Máscaras meio malignas, sabe - Peter tentou explicar com gestos confusos na frente do seu rosto. - Cobrindo tudo, e com desenhos estranhos e bocas macabras.

– Assustar o oponente, movimento clássico. - Sirius deu de ombros, confiante - a nossa estratégia é bem melhor.

– Qual seria essa? Surdar os oponentes? - Lily debochou. Ela ficava cruel a partir do quinto copo.

– Seduzir, minha cara - James respondeu, lhe dando uma piscadela, indicando a si mesmo, ou mais especificamente, suas roupas.

Os marotos estavam usando, os quatro, vestes elegantes pretas, que incluíam calças de couro, máscaras igualmente feitas de couro preto, cada uma delas sob medida para o seu respectivo dono. Eram lisas, mas tinham formatos diferentes; a de Sirius tinha orelhas pontudas de cão, a de James uma galhada elegante, a de Remus orelhas de lobo e um focinho comprido, e a de Peter orelhas arredondadas e um focinho com bigodes. Eles as usavam - especialmente os três primeiros, com muita dignidade.

– Eu mal posso esperar para colocar minhas mãos nesse prêmio - Sirius confessou sorridente, seus olhos brilhando por detrás do couro. - a primeira coisa que eu vou fazer é nos dar de presente uma viagem de navio para o Brasil.

Ou - Lily sorriu indulgente - você pode guardar esse dinheiro para o seu casamento. Se você ao menos soubesse o quanto está custando para contratar um buffet…

– Epa! - ele ergueu suas mãos no ar, com os olhos fechados, como se estivesse sentindo uma dor - eu acho que ouvi a palavra de novo? James, porque eu ouvi essa palavra de novo? Porque eu não paro mais de ouvir essa palavra?

– Lily está certa - o outro maroto riu da presepada do amigo - Não dá pra ignorar isso, Sirius, vai acabar acontecendo. Você já deu o primeiro passo, meu amigo. Você deu o anel.

– Você deu o anel, cara - Remus ecoou, divertindo-se com a expressão de profundo incomodo do amigo - Seu destino está traçado.

– Eu só tenho dezoito anos! - ele protestou - Parem de falar de casamento ao meu redor. Vocês dois - ele apontou para Lily e James teatralmente - são os loucos por aqui. Ninguém se casa com dezoito neste século. Olie sabe que isso é só um anel de compromisso, certo, Olie? - ele buscou o olhar da namorada, querendo confirmação. - Isso só significa que a gente está junto. Ninguém está falando aqui de destino, ou, ou, bodas, ou buffet, ou vestidos de um milhão e galeões e votos eternos…

Com sua licença - Olívia se levantou bruscamente da mesa, evitando o olhar dos amigos - eu vou buscar outra bebida.

Sirius se calou quando ela saiu.

– Você é um babaca. - Lily meneou a cabeça, desgostosa.

Ele piscou, confuso. - Eu disse alguma coisa errada?

James deixou sua cabeça desabar na mesa, a galhada atingindo as garrafas, que Remus se apressou em segurar. Peter estava tendo um acesso de riso e Lily fuzilava Sirius com seus olhos verdes de laser.

– Apenas vá consertar isso - ela rosnou para ele, indicando a direção onde a amiga tinha ido - ou não será apenas a sua dignidade que você vai perder essa noite. Não que eu ache que você ainda tenha alguma a essa altura… - ela murmurou depois que ele tinha saído.

Remus se inclinou para bater nas costas de Peter, que estava engasgando com um de seus bigodes de couro.

– BD -

Sirius se aproximou do balcão, desviando e pedindo licença para um monte de gente mascarada, até alcançar Olívia. Ela se destacava do resto das pessoas, em seu vestido creme rodado e a máscara que ele escolhera - dourada, com um corte felino, cobria dois terços de seu rosto e destacava os olhos azuis. Combinava com seus cachos dourados, naquele noite arrumados em espirais em torno dos ombros nus.

Ele estendeu a mão para lhe tocar o ombro esquerdo, mas ela fez um sutil movimento para livrar-se do toque dele.

– Mane? - chamou. Ela se virou impaciente.

– O que agora, Sirius? Não tá vendo que eu to tentando conseguir uma bebida aqui?

– Que bebida? Eu pego pra você.

– Eu posso fazer isso sozinha. - ela virou as costas e continuou tentando conseguir um espaço no balcão. Sirius rolou os olhos e se adiantou, esticando o braço sobre ela e chamando a atenção da garçonete, que imediatamente sorriu para ele ignorando a ordem da fila.

– Uma garrafa de Delírio Fumegante, princesa.

– É pra já, sexy. - a garçonete piscou para ele e foi buscar o pedido. Olivia se virou para o namorado, sem acreditar.

– Você acabou de flertar com a garçonete bem na minha frente, e no meio de uma briga?

– Achei que quebraria o gelo - ele deu uma piscadela.

Ela exasperou-se e arrancou a garrafa da mão da garçonete quando ela voltou, deixando Sirius lá para pagar o pedido. Ele a alcançou um minuto depois, decidindo mudar de tática - Mane, qual é, você sabe que eu não estava falando sério…

– Sobre o que? - ela se virou bruscamente, os olhos brilhando chateados - sobre seu horror a pensar num futuro comigo?

– Não é desse jeito. É só que… nós somos novos demais. Isso é loucura. James e Lily estão sendo precipitados, nós não precisamos pensar nisso até termos pelo menos uns trinta, pelo amor de Merlin. Você quer mesmo ser chamada de Senhora antes de ter sua primeira ruga? Ou seu primeiro cabelo branco? Que bem isso poderia fazer?

– Eu acho que você se arrependeu de ter me dado isso. - ela ergueu o anel que ganhara dele semanas atrás, em seu aniversário de namoro. - O que “anel de compromisso” quer dizer, de qualquer maneira? Que eu estou de molho até os trinta? Ou até você arranjar coisa melhor?

– Ninguém está de molho. Eu amo você. - ele se aproximou devagar, percebendo uma abertura da parte dela ao usar a palavra mágica com “a”. - Eu amo você. - repetiu, persuasivo. Olivia rolou os olhos. - Sirius Black ama você. Você percebe a grandiosidade disso? Não há necessidade de apressar nada. - ele reparou quando a expressão de zanga dela se derreteu no princípio de um sorriso relutante. Ele sorriu de volta, grande e predador, envolvendo o rosto dela com as mãos. - Eu não vou para lugar nenhum, bobinha.

Cheque mate. Olivia rolou os olhos, e sorriu boamente para aquele mascarado sexy de couro.

– Eu sei. Me desculpe. Não consigo me livrar dessa sensação de que vou acabar perdendo você.

– Você não corre esse risco. - prometeu, a beijando cuidadosamente por debaixo da máscara de leoa - como eu disse, não vou para lugar nenhum.

– A não ser para o palco, daqui a pouco - James se curvou, parara para abelhar a conversa à caminho do balcão de pedidos, e deu um peteleco na orelha de couro de Sirius - É quase hora do show.

Never was and never will be
(Ela nunca foi e nunca será)

You don't know how you've betrayed me
(Você não sabe como me traiu)


And somehow you've got everybody fooled

(De alguma forma, você faz todos de tolos)

– BD -

– Alguma coisa vai acontecer. - Bella observou astutamente. Seus olhos corriam pela multidão bem estreitos e atentos. Para Regulus, ela parecia um gavião observando uma ravina.

Narcissa ordenara que os dois ficassem na tenda Selwyn enquanto ela atendia um chamado de Lucius. Um chamado de Lucius, Bella observara bem. Pensou que ia ser difícil se livrar da irmã, mas não precisara mover um dedo e estava só com Regulus. O primo não parava de olhar ansioso para para os lados e ajeitar a gravata.

Ela era boa em ler sinais. Uma movimentação incomum. Um burburinho deslizando nas entrelinhas daquela festa… enquanto os incautos se divertiam, as sombras tinham planos. A possibilidade de alguma coisa acontecer estava lhe causando um frissom de excitação.

– Que? Não. - ele se apressou em negar com a cabeça - Nada vai acontecer. Só o que tem de acontecer. Você quer… você quer dançar?

– Terrível mentiroso. - ela cantarolou, achando graça. - Eles não te incluíram no plano? É claro que não. Olha só pra você, não consegue guardar um segredo nem se a sua vida depender disso.

– Eu não estou guardado segredo nenhum! - o menino protestou, sua mandíbula travada. Um elfo passou servindo bebidas, e Bella pegou um wisk de fogo. Ele o arrancou de sua mão num movimento rápido - Cissa falou para não te deixar beber. Faz mal para o bebê.

Bella rolou os olhos - Por que todo mundo acha que pode cuidar da minha vida agora? - Mas não fez caso. Tinha pego o copo só para ocupar as mãos. O primo, por sua vez, virou o conteúdo da taça de uma vez, os olhos lacrimejando. Ela riu dele. - O que está deixando todo mundo tão ocupado? E onde está todo mundo?

– Todo mundo está aqui - resmungou, indicando ao redor deles com um gesto amplo. Havia um monte de gente na tenda, isso era certo. Um monte de mulheres puro-sangue fazendo grupinhos e fofocando, um monte de casais mais velhos dançando. Mas algo estava claramente faltando.

– Não. Lucius… Rodolphos… Rabastan. Os gemeos Carrow. Os Nott e Ivan Parkinson…

– Bella, por favor - Regulus se moveu todo impaciente - estão todos mascarados, eles estão por ai, você não pode esperar reconhecê-los. Se fosse assim, qual seria o propósito de um baile de máscaras?

– Você tem razão, estou sendo boba. - concordou, com um aceno suave - vamos dançar. Mas não aqui, na pista principal.

– Mas Cissa nos fez prometer…

Ela já tinha se levantado e estava indo em direção à praça central. Regulus praguejou em nome de Slytherin e se apressou em seguir a prima, perguntando-se porque de repente estava sendo obrigado a agir como babá da prima dois anos mais velha que ele, ao invés de ter um papel importante entre os Comensais da Morte.

– BD -

“Senhoras e senhores, essa é a nossa última música antes do show de talentos. Última chamada para os competidores que ainda não estão na Tenda de Concentração. E agora com vocês mais uma da nossa diva Celestina Warbeck, Under Your Spell!”

Bella já estava na pista de dança há duas músicas, o suficiente não só para observar o que queria, mas para destruir os seus pés - visto que o primo caçula era um terrível dançarino. Com o começo da música lenta, ela o avisou que precisava de uma bebida.

– Certo, vamos voltar para a tenda. - ele disse aliviado.


– Só tem bebida alcoólica da tenda. Eu quero uma cerveja amanteigada.

– Mas só tem cerveja amanteigada na tenda das crianças! Isso é do outro lado da praça. - ele choramingou. Teriam de atravessar o mundo de gente que levantara e se juntara em pares para aproveitar a última música antes do show; chegar lá levaria séculos.

– Eu sei. E meus pés estão me matando. Eu te encontro na barraca.

Ele suspirou desanimado - Você nunca vai me encontrar na barraca, vai?

Bella gargalhou, apertando uma bochecha dele.

– Anda, bebê, some da minha frente. Se te perguntarem, é só dizer que a sua prima grávida e desarmada lhe deu um perdido. Considerando o nível de confiança que estão lhe atribuindo, ninguém vai ficar muito surpreso.

Regulus fez uma careta de desistência. - Cissa vai me matar…

Mas Bella não estava mais à vista para escutar seus lamentos.

Never was and never will be
(Ela nunca foi e nunca será)

You don't know how you've betrayed me
(Você não sabe como me traiu)

And somehow you've got everybody fooled
(De alguma forma, você faz todos de tolo)


Bellatrix cruzou com quatro jovens em máscaras de couro na porta do Twisted Trunk, e se encolheu para lhes dar passagem. Não os reconheceria separados, mas juntos era óbvio quem eram - o cabelo de Potter, o porte de Sirius, a elegância desavisada de Lupin, o passo desajeitado de Pettigrew. Qualquer pessoa que tivesse convivido com os Marotos por anos a fio em Hogwarts poderia identíficá-los num relance, com ou sem máscaras.

Quando eles passaram, ela prendeu a respiração, e precisou cravar os dedos bem fundo em suas palmas para evitar de pular em cima dele. Depois observou seguirem em direção à tenda de Concentração. Era ótimo que eles tinham planos, porque isso facilitava os seus planos. Sem grande dificuldade, identificou o cabelo chamativo de Evans no meio da multidão do bar. Estava usando a máscara de veludo e penas que Bella a vira retirar de uma sacola há alguns dias.

Ao seu lado, estava a sonsa da Loren. Exatamente quem ela estava procurando.

– DB -

As meninas bebiam Delírio Fumegante direto do gargalo e gargalhavam de alguma coisa muito engraçada sobre a qual já não se lembravam. Deixar os pensamentos agradavelmente confusos era um dos méritos da bebida em questão.

– Vamos pegar um lugar bom na praça para assistir os meninos assim que essa música acabar - Olie sugeriu com os olhos brilhando de animação - eu nunca vou me perdoar se não tirar uma foto de Sirius no palco com aquela calça de couro.

– Eu aposto vinte nucles que eles vão pagar o mico do século - a ruiva postulou, catando o troco da conta do pub e espalhando na mesma. - depois dessa apresentação nós vamos ter que apagar a mente de todo mundo nessa festa se eu ainda quiser ter um casamento digno.

– Sirius tem razão - Olie soprou a franja, batendo a mão na mesa - você só fala de casamento agora.

– Casamento. Casamento. Casamento. Casamento - a ruiva repetiu bobamente, e elas começaram a rir de novo. Uma estranha se aproximou da mesa, parecendo educadamente intrigada.

– Desculpe, eu estava passando e não pude deixar de ouvir. Uma de vocês vai se casar?

– Nós duas vamos - disse Olivia num arroubo de empolgação - ela tem um anel de rubi. Eu tenho um anel de compromissoooo.

A outra observou com ceticismo o anel que ela mostrava em sua mão direita. Lily piscou tentando focalizar o que para ela eram duas estranhas, e não uma.

– Eu gosto da sua máscara. Quem foi que fez?

– Eu que fiz. - a outra garota disse.

A ruiva balançou a cabeça em aprovação. No geral ela gostava de flores. Que garota não gosta de flores? Estava pensando em rosas para a decoração do casamento. Era clássico e elegante. Mas não estava pensando em rosas negras, talvez brancas ou champagnes…

– Lily tem razão. - Olivia se dera conta da máscara da desconhecida, era surpreendentemente viva, como se estivesse fresca. Espinhos e pétalas. Delicada e perigosa. - É bem bonita. Como você se chama?

– Olie! - Lily deu um tampinha de advertência na amiga - não seja mal educada! A gente não pergunta nomes na Masquerade!

– Tudo bem - a estranha sorriu, complacente - eu sou Rose.

– Como a sua máscara - a ruiva concluiu brilhantemente. Bella assentiu.

– Eu gosto de redundâncias.

Just what we all need
(justamente o que todos nós precisamos)
More lies about a world that
(Mais mentiras sobre um mundo que)

Never was and never will be
(Nunca foi e nunca será)

Have you no shame don't you see me
(Você não tem vergonha, não me vê)

You know you've got everybody fooled
(Você sabe que fez todos de tolos)


– DB -

Uma fina linha de aurora no horizonte indicava o começo do novo dia, e ainda havia música. Os bruxos não iam parar até o sol estar alto no céu, mas Bellatrix estava exausta. A festa perdera o sentindo quando ela se desencontrara de Sirius, o resto da noite fora preenchido com Delírio Fumegante, danças enfadonhas com mascarados e uma ou outra torta caramelizada.

Estava indo encontrar uma carruagem, decida em voltar para casa sem as irmãs mesmo, quando alguém cruzou seu caminho.

– Você está se rendendo! - Sirius zombou, como sempre surgindo do nada quando ela menos o queria.

– Está tarde, Sirius. - resmungou, sem parar de andar.

– Você está irritada. - ele observou com a perspicácia de um trasgo montanhês. Bella revirou os olhos, o primo não era nenhum gênio depois de tanta bebida. Literalmente exalava álcool pelos poros; Bella poderia bebê-lo.

Diabos, ela queria bebê-lo. Até a última gota.

– Uma última dança. - ele saltou na frente dela, a impedindo de atravessar os portões e sair definitivamente da festa.

Eu não quero mais dançar com você, idiota.

Sirius sorriu mais ainda, malicioso como o demônio que era. Lia tudo nos olhos dela.

– Então me conte, minha cara Bella. O que você quer fazer comigo?


– BD -

Malfeito Feito subiu no palco. Um monte de mulheres gritaram só por causa das calças de couro. Bella, que não queria perder Evans e Loren de vista, precisou se enfiar no meio da multidão animada acumulada perto do palco, tarefa difícil com uma barriga de oito meses. Como as pessoas não podiam perceber que ela estava grávida por causa do Feitiço Esbelto, a inserção ficava mais difícil.

Talvez fosse uma coisa boa não estar com sua varinha.

Lá em cima, Potter estava se achando, enquanto fingia tocar um solo arrasador em uma guitarra enfeitiçada. Instrumentos trouxas encantados, ela rolou os olhos. Ali perto Evans pulava enlouquecida, pisando em seis anos de compostura e em todo o respeito que Bella tivera por ela um dia.

Potter começou a cantar.

Load up on wands; bring your friends
(Carreguem suas varinhas, traga seus amigos)

It's fun to lose and to pretend
(É divertido perder e fingir)

We're over-bored and self-assured
(Estamos entediados e autoconfiantes)

Oh, no, I know a dirty word
(Oh, não, eu sei um palavrão)

Ela parecia a única com senso o suficiente para ter alguma vergonha alheia; o resto da festa estava gostando. Ela nunca tinha ouvido aquela música - mas muita gente conhecia e estava cantando junto. Coisa de trouxas, com certeza.

E ai havia Sirius.

Hello, hello, hello, how low
(Olá, olá, olá, que baixaria)


Hello, hello, hello, how low
Hello, hello, hello, how low
Hello, hello, hello

Estava tentando não olhar para o lado dele do palco com todas as forças. Imaginando o que tia Walburga ia pensar se visse o seu filho num palco com uma máscara com orelhas, tocando música de sangue ruim. Esfregando o sobrenome Black na lama.

Foi quando seu primo veio dividir o microfone com o Potter, para cantar a parte acelerada da música. Ele pulava e vibrava, carregado de energia. O dono do palco. O dono do mundo todo, o cabelo grande sacudindo em torno dele feito uma bandeira de rebeldia.

With the lux out, it's less dangerous
(Com o lux apagado é menos perigoso)

Here we are now; entertain us
(Aqui estamos agora, entretenha-nos)

I feel stupid and contagious
(Eu me sinto estúpido e contagioso)

Here we are now, entertain us
(Aqui estamos agora, entretenha-nos)

A rat, an canine
(Um rato, um canino)

A deer, a lupine
(Um veado, um lupino)

Yeah, yey

Ela se sobressaltou quando a sua barriga se movimentou. Por um minuto tinha se esquecido de tudo, até que estava grávida. O bebê, que no último mês se movia pouco por causa do espaço reduzido, aparentemente resolvera manifestar sua opinião sobre a música.

Sobre a estúpida banda do seu pai.

Bella nem teve ânsias dessa vez. A coisa era toda muito surreal. A batida alta e frenética da bateria de Pettigrew, da guitarra de Potter, não a deixava pensar direito.

Não podia tirar seus olhos de Sirius.

I’m worse at what I do best
(Eu sou o pior no que faço de melhor)

And for this gift I feel blessed
(E por essa dádiva eu me sinto abençoado)

Our little group has always been
(Nosso pequeno grupo sempre foi)

And always will until the end
(E sempre será até o fim)

Na tenda Selwyn, Narcissa assistia Malfeito Feito se apresentar com uma perfeita expressão de desinteresse, os braços cruzados e só uma sobrancelha levantada. Só quem a conhecesse muito bem podia ver, através da fortaleza fria, o brilho de divertimento no fundo dos olhos.

Regulus deu uma cutucada cautelosa na prima mais velha, incerto se ainda era alvo da sua irritação. Recebera uma bronca por perder Bella de vista, mas tinha sido aplicada de forma quase automática. Ela também estava tensa com os planos da noite, o suficiente para distraí-la de Bellatrix.

– Até que eles não são ruins, né. - Regulus comentou baixinho, querendo distraí-la.

Cissa rolou os olhos, como se dar uma opinião sobre aquilo fosse pessoalmente ofensivo. Mas havia a sombra de um sorriso no canto da sua boca, e ao invés de responder, ela deu um empurrão de leve no ombro dele.

– Vá achar Bella, acho que posso vê-la perto do palco. É melhor tirá-la do caminho, só para garantir… eles são os próximos.

A rat, an canine
(Um rato, um canino)

A deer, a lupine
(um veado, um lupino)

A denial, a denial, a denial, a denial, a denial
(Uma negação, uma negação, uma negação, uma negação, uma negação)

Eles terminaram a música com um monte de gritaria e pulos empolgados dos bruxos mascarados lá embaixo. Todo mundo estava louco.

Até quem não tinha nascido ainda. Bella pousou a mão na barriga, sem conseguir respirar direito.

Lá de cima, Potter veio se inclinar perto do palco e estender a mão para um monte de meninas se esticando até ele, como se ele já fosse uma estrela do rock. Sirius ergueu o baixo como um troféu, ainda quicando. Ele procurou na multidão por olhos familiares e jogou um beijo.

Loren pegou seu beijo no ar e o colou no decote do seu vestido creme insosso.

Assistindo a cena, Bella soube que não tinha outro jeito de terminar aquela noite. Ela já estava perto das garotas outra vez quando o apresentador do show de talentos veio anunciar o próximo grupo.

– Eles foram inacreditáveis! - Lily ofegou, o rosto da cor dos cabelos. Definitivamente nenhuma dignidade ali. - Você viu o Jamie com aquela guitarra? Quase dava para acreditar que ele estava tocando o instrumento e não o contrário.

– Eu pensei que Remus ia entrar em combustão espontânea naquela hora que Sirius fez ele cantar o refrão junto - Olivia riu - ah, Rose, você tinha sumido! O que achou?

Ela forçou um sorriso - Eles tocaram bem.

– Se você quiser uma volta nos bastidores - Olivia piscou para ela - pelo menos o baterista e o tecladista estão solteiros.

“Parece que a competição será acirrada essa noite, camaradas! Com vocês o segundo grupo deste show, os misteriosos… os enigmáticos… Mooooossssmordree!”

Bella torceu o pescoço tão rápido na direção do palco que ouviu um estalo. Não podia ter ouvido o que achara que ouvira.

Cerca de treze homens estavam entrando no palco agora, silenciosos, vestidos de negro da cabeça aos pés, e com capuzes. Eles usavam máscaras de rosto inteiro que eram diferentes, mas que claramente faziam parte de um mesmo conjunto. Tinham formato oval e padrões celtas desenhados em verde, dourado, prata e azul. Os buracos eram estreitos, lançando seus olhos nas sombras. As aberturas para as bocas lembravam grades ou costuras.

Eles se distribuíram num padrão pelo palco, e tinham o absoluto silencio da plateia quando sacaram instrumentos compridos que pareciam violinos. Mas estes não eram tocados com paletas, mas com varinhas. Música mágica, Bella percebeu. Os homens ergueram os braços todos ao mesmo tempo.

Como se houvesse um maestro invisível. Ou como se eles fossem marionetes.

Um lamento triste e agudo chorou de seus instrumentos, e era como um corte através do coração. Mas de um jeito bom. Um gancho lá no fundo da alma e adiante. Eles moveram seu braço da varinha de novo, de um jeito fluido e sincronizado, e um segundo lamento de sobrepôs, e um terceiro, um ecoando sobre o outro como se fossem camadas de uma onda.

As notas compridas eletrizavam a magia no ar, moldavam-na em outra coisa. Uma coisa terrível e maravilhosa. O sussurro de uma verdade, um corte e um vazamento… Bella fechou os olhos para apreciar a melodia, sentindo-se arrepiada. O som fluía através dela, elogiando sua existência em seu ouvido, poderia ouví-la para sempre…

Alguém gritou.

Ela abriu os olhos e percebeu que era Loren. “Mas eu nem fiz nada com ela”, foi a primeira coisa que passou em sua cabeça, quando assistia a garota se curvar agoniada com as mãos pressionadas contra a cabeça.

Ela não era a única. Aqui e ali algumas pessoas começaram a gritar como se estivessem sendo torturadas. Os músicos sobre o palco foram ficando mais empolgados, aumentando o ritmo da melodia até que ela deixava de ser um sussurro para se transformar em uma sinfonia intensa. Os mascarados se curvavam sobre os instrumentos, a outra mão brandindo a varinha energicamente no ar, provocando paz em uma parte do público, agonia em outra.

– ALGUÉM PARE ESSA MUSICA! - um homem gritou lá do fundo. Um monte de crianças estavam chorando agora. Um monte de adultos. Um monte de gente. Lilian tinha se curvado para ajudar Loren mas agora ela também estava gritando.

Bella entendeu quando ergueu os olhos. Seu peito se encheu de compreensão e de outra coisa.

Deferência. Orgulho.

Mosmordre.

A Marca Negra se formava no alto bem acima do palco; a gigante cobra ondulando em torno da caveira no ritmo da melodia. Várias pessoas começaram a apontar pra ela. A maioria já a conhecia, e seus olhos se arregalavam em terror. Um alarme soou em algum lugar - estavam sob ataque.

Não, Bella quis dizer (se não estivesse maravilhada fitando a Marca, sem conseguir piscar). Vocês não precisam correr, só a escória. Só os sangue ruins estão sentindo dor… só eles precisam se colocar em seu lugar e sumir do nosso meio, parar de invadir a nossa celebração.

– A gente precisa sair daqui, Rose! - Lily Evans gritou, ao mesmo tempo que alguém esbarrou em Bella e ela quase caiu sobre Olivia. O pânico se instalara na multidão, que começara a correr para os portões, se atropelando. Alguém ainda tentava tirar Mosmordre do palco, mas a música persistia.

A música mais linda que Bella já ouvira na vida. Agora ela podia quase ver o maestro invisível. O Mestre.

– Vamos achar um lugar seguro! - Loren choramingou, ainda segurando sua cabeça como se ela fosse explodir, os olhos muito vermelhos e inchados.

Bella voltou a si, percebendo que sem querer, lhe fora dada a oportunidade perfeita para levar seu plano adiante. Ela assentiu para as duas.

– Eu sei de um lugar onde podemos ir, me sigam.

– DB -

– Então me conte, minha cara Bella. O que quer fazer comigo?

Ela o analisou com irritação, que era seu estado constante ao redor do primo. Irritada com sua gravata torta, com seu cabelo sem corte, com seus olhos cinza chumbo tempestade-sobre-o-oceano.

– Eu quero um lugar onde eu possa acabar com você e depois enterrar o que restar num buraco fundo, um lugar onde eles nunca vão achar seus restos.

Sirius alargou o sorriso grande, malicioso, empolgado até. Ele lia as entrelinhas de Bella. Lia ela toda.

– Eu sei de um lugar onde podemos ir. Me siga.

Without the mask where will you hide
(Sem a máscara onde você vai se esconder?)

Can't find yourself lost in your lie
(Não poderá se encontrar perdida na própria mentira)

Bella corria através da multidão puxando Olivia Loren por uma mão. Era fácil para ela, sendo uma das poucas pessoas cuja música não estava afetando. Grande parte dos mascarados corriam às cegas tentando se afastar da melodia que torturava seus cérebros imundos. Loren era uma delas. Se deixando guiar pela estranha.

Elas se perderam de Lily a certa altura, o que estava perfeitamente dentro dos planos de Bella. Ela tentava proteger sua barriga enquanto abria caminho pelas pessoas, mas mais de uma vez foi atingida por alguém desesperado no caminho. Eventualmente ela começou a sentir a barriga se contrair, e achou que talvez estivesse estressado o bebê.

Ora, ele podia aguentar um pouco de estresse. Pelo bem do futuro deles. Podia se acalmar quando voltassem para casa.

– Precisamos achar os meninos! Sirius e os outros! - Olivia gritou para ela quando atravessaram a saída do vilarejo, não a principal, mas a da Rua Segunda. Ninguém tinha corrido por ali, porque era subida, e não descida. Bella sabia que estariam isoladas quando chegassem ao topo.

– Só mais um pouco - ela ofegou, segurando a barriga com a mão que não estava puxando Loren. - Lá em cima estaremos fora do alcance.

“Fora do alcance da música”, Olivia pensaria. Mas Bella estava pensando em “fora do alcance de todo mundo”.

Só elas duas, para resolverem aquilo de uma vez. Finalmente chegaram ao topo, e Bella estava completamente sem ar com a escalada. Ela se curvou sobre si fazendo horríveis barulhos de falta de ar, e Loren pousou uma mão sobre seu ombro.

– Você está bem, Rose? A música também te afetou?

– Não, é claro que não. - respirou fundo. Mandou o bebê ficar quieto, não era hora de roubar a cena. - A música só afeta os sangue ruins.

– Os… os sangue… os mestiços, você quer dizer? - ela olhou confusa na direção da cidade, e para a garota de novo - aquela era a Marca dele, não era? A do… Você Sabe Quem.

– Sim. Aquele era o aviso d’Ele. - disse com reverência - Informando que vocês, escória, não tem mais espaço no nosso mundo. Vocês devem se retirar. E que se vocês insistirem em ficar, vocês vão sofrer.

Os olhos da garota se arregalaram como pires, e ela se afastou para trás inconscientemente. - Quem… quem é você? Você é um d-deles?

Bella sorriu e arrancou sua máscara. Ela se sentiu preenchida de uma satisfação pulsante

quando viu mais do que desprezo no rosto de Loren.

Medo. Bella adorava que sentissem medo dela.

– Você! Acho melhor você ficar longe de mim… - avisou, apalpando um ponto nas dobras do vestido.

– Está procurando isso? - retirou do seu decote a varinha da outra. Tinha sido ridiculamente fácil roubá-la no meio da correria. Na verdade, Loren era uma oponente quase enfadonha, apenas se Bella não a odiasse tanto…

– Bellatrix, eu sei que você está com raiva - Olivia estendeu as mãos, com as palmas expostas para Bella, recuando mais um pouco. Olhando de um lado para o outro, e finalmente percebendo que fora atraída para uma emboscada.

– Eu não estou com raiva. - disse a Black tranquilamente. Ter uma varinha mudava tudo. Ela se sentia ótima. Enorme. Olivia ali na sua frente era só um inseto.

– Eu entendo se você estiver. Na sua situação… toda a coisa com Sirius… mas que quero que você saiba… eu não tive culpa nisso. Eu disse a ele para assumir o bebê. Era o certo… a se fazer. Dai você não teria que… você sabe. - olhou brevemente na direção da barriga de Bella, mas o feitiço repeliu seu olhar.

– Não, não, não. - Bella fez um aceno com a varinha, como se afastasse um mosquito irritante - Você entendeu tudo errado. TUDO errado. - Olivia tremeu um pouco, seu olho crescendo mais. - Eu não te trouxe aqui pra falar de mim e Sirius. Isso não tem nada haver comigo e Sirius.

– Ah, não? - ela piscou, fingindo surpresa. Ganhando tempo. Olhando para um lado e para o outro. Procurando a saída da mira da prima psicopata do seu namorado. - Então você não está aborrecida porque o Sirius escolheu ficar comigo ao invés de ficar com você?

Saíram fagulhas vermelhas da varinhas que Bella estava segurando, bem como um chispado de eletricidade. Mas tudo que ela fez foi sorrir indolente.

– Eu estou tão acima disso, Loren. Eu não poderia me importar menos com o que Sirius escolheu.

– Que… que ótimo. - ela murmurou. - Qual é… qual é o problema, então?


Foi a coisa errada para se perguntar. Não que Bella não fosse chegar lá eventualmente, mas aquela sangue-ruim estava forçando a barra… apressando as coisas. Andando até ela, Bella apontou a varinha pra seu peito. Loren tentou se afastar e tropeçou, caindo de joelhos. Tão perdedora, Bella suspirou. Tornando tudo tão fácil. Agora tinha a varinha de Loren apontada para a sua testa.

– O problema é você, Loren. - disse com a voz suave, quase doce, escorregando a varinha pela fronte da outra. - não me leve a mal, mas você tem de entender que eu não posso deixar você ir por ai, impune, fazendo estrago. Veja bem, eu quero que o Sirius se exploda, pelo babaca que ele é. Isso é outra história. Mas ai tem você. Uma sangue ruim nojenta. Perfeitamente insossa. A garota mais desinteressante que já pisou sobre a terra. E por algum motivo Sirius acha que está apaixonado por você.

– Você é uma louca - disse a outra, arriscando muito, sob a mira da varinha. - desequilibrada.

– Sim, tanto faz. Até ai tudo bem. Meu primo vem chafurdando com a escória há bastante tempo, já. Falha de caráter, influência ruim, chame do que quiser. Ele é só um adolescente rebelde querendo chamar atenção. Mas ai vem você. O que você é, Loren? Perto do Sirius. Ele é um Black. Ele tem sangue dos primeiros magos, dos ancestrais de magia pura. Sangue nobre. E você, uma coisinha de nada, a sujeira na sola da bota de Merlin, de repente acha que pode obrigá-lo a se casar com você.

Olivia cresceu em ultraje. Mesmo sabendo que estava rendida, e na mira, e que Bella adorava uma maldição imperdoável. Ela não podia manter sua boca calada, podia?

– Eu não tenho que obrigá-lo a nada! Sirius está comigo porque quer. Por que ele me ama!

– Ele não pode querer ficar com algo como você. Você faz qualquer idéia de como isso arrastaria o nome da família na lama? Casamento é um contrato mágico sem volta, Loren. Nada pessoal, se você não tivesse se metido nessa, eu ficaria feliz em te ver queimar na pira junto com o resto dos sangue ruins quando a justiça do Lorde se realizar. Mas você resolveu mexer com minha família…

– Sirius não é sua família! Ele não quer nem nunca quis ser parte dessa coisa horrível que vocês são!

– Pobre coisinha desavisada, você é. Sirius não pode escolher sobre isso. Você podia. - Bella deu um suspiro trágico, fingindo que não estava gostando de ver Olivia se desesperar. Ela estava amando. Lambeu seu lábio, o mordendo em seguida. - Você entende agora, não é, Loren, porque eu tenho que te tirar do caminho? É uma questão de família.

Houve aquele momento em suspenso enquanto Bella tomava um fôlego, e se perguntava, será que a varinha de Loren resistiria em machucar sua própria dona? Se isso acontecesse, Bella teria de usar de outros artifícios. Não se importava de meter a mão na massa, ela até estava ansiosa por isso.

– Bella! Pela graça de Merlin, ai está você!

Regulus subia correndo até o topo da colina, parando assim que leu a situação como um todo. Ele olhou de Loren ajoelhada na grama, para a prima armada contra ela, e sua sensação foi de quase resignação.

É claro que Bella tinha sumido para admoestar alguém. Era a cara dela.

– Bella, a gente tem que ir! Os aurores estão começando a chegar, vão cercar a vila!

– Mas eu preciso dar um jeito em Loren - indicou a outra com a cabeça. - É só um segundo.

– Não temos um segundo! Não temos nem meio segundo! Hei… você está bem? Você está pálida.

Loren olhou com mais atenção para Bella, já que estava numa posição melhor para analisá-la. A luz era pouca, mas dava para ver que Bellatrix estava suando frio.

– Você não parece bem, mesmo.

– Bella! - Regulus choramingou. Ao longe dava para ouvir os estouros dos aurores aparatando e lançando feitiços de cerco. Bellatrix deu um longo suspiro irritado e pressionou mais a varinha de Loren contra ela.

– Você pode pensar sobre essa nossa conversa no caminho de casa, Loren. Mas fique avisada - se você insistir nessa ideia de não se afastar do meu primo, eu vou ter que te achar e matar você.

Bella abaixou a varinha. Sem acreditar na sua sorte, Olivia levantou sacolejando de tão tremula, e com os olhos do tamanho de pires, arrancou sua varinha da mão da outra e desaparatou com um pop.

Regulus correu a distancia que faltava até a prima, parecendo ainda mais incrédulo do que a sangue-ruim que acabara de ter a vida poupada.

– Você a deixou escapar? Simples assim? Desde quando Bellatrix Black dá uma segunda chance?

– Ah, Regulus, não me enche. - arfou. Agora que o nível de adrenalina não estava mais no ápice, ela sentia as contrações. O suor frio. Uma coisa quente escorrendo pelas suas pernas. - Eu tenho coisas mais urgentes para me preocupar agora.

– Tipo o que? - espantou-se. O que podia ser mais importante para Bella do que livrar o mundo dos sangue ruins?

A prima se apoiou nele, apertando tanto seu ombro que quase esmagou a articulação.

– Tipo em trabalho de parto. - ela rosnou - Parece que a sua sobrinha está querendo nascer.

(Continua...)


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Notas finais do capítulo

Música do começo do capítulo: My Heart is Broken, Evanescence
Música do decorrer do capítulo: Everybody’s Fool - Evanescence
Música que Malfeito Feito canta: Smells Like Teen Spirit - Nirvana (Adaptada)



Capítulo bem musical, hein! Eu sei que tinha dito que era o último, mas eu fui avisada que capítulos com mais de 10.000 palavras podem ser cansativos, e não quero cansar vocês ;) Então ainda tem o próximo, que será um capítulo ou epílogo a depender do quão grande ficar. Isso é bom, certo? Desculpem as falsas expectativas, mas eu me empolguei com a Masquerade (acho que vocês perceberam, pelos Marotos em calças de couro). 



A formatação está um caos, ajeito depois (no momento estou roubando wifi de uma pizzaria para cumprir essa postagem o.o). Não conseguir tirar as bolinhas demoníacas do caminho.

Eu quero saber o que acharam, vocês são meus leitores lindos e ainda não aprendi Legimência, então caprichem nos comentários ;)

Feliz 2015!!



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